Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A arte cavalheiresca do arqueiro Zen

 

Autor do Livro:

Eugen Herrigel

 

Editora, ano de publicação:

Pensamento / 1993

 

Relação dos capítulos

Dividido em partes

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Prefácio

O autor, filósofo alemão, viveu 6 anos no Japão e se dedicou ao tiro com arco para poder compreender o Zen. Nos transmite sua experiência de uma maneira luminosa, e pela limpidez do seu estilo, os ocidentais não têm dificuldade em penetrar na essência dessa experiência oriental. Mestre, discípulo, arco, flecha, alvo: são as personagens que seguem no livro. Para melhor compreensão a lógica do pensamento ocidental deve ser posta de lado. A relação causa-efeito desprezada, a separação sujeito-objeto, ignorada e o tédio, ridicularizado. A paixão pela vida, enaltecida. A cerimônia desse encontro é presidida pelo príncipe Sidarta, que perdeu a sua vida para despertar como Buda, o símbolo da compaixão, aquele que nos mostrou o caminho do meio, como o único capaz de vencer os sofrimentos que marcam a banalidade do cotidiano. O livro trata do Zen como os mestres gostam de abordá-lo: uma experiência direta, imediata, não filtrada pelo intelecto. Quando o arqueiro Zen dispara a flecha, ele atinge a si próprio. Nesse momento mágico, ele se ilumina.  O que surpreende na prática do tiro com arco é que não tem como objetivo resultados práticos, nem o aprimoramento do prazer estético, mas exercitar a consciência, com a finalidade de fazê-la atingir a realidade última (nirvana). A meta do arqueiro não é apenas atingir o alvo; a espada não é empunhada para derrotar o adversário; mas harmonizar o consciente com o inconsciente. Para ser um autêntico arqueiro, o domínio técnico é insuficiente, arqueiro e alvo deixam de ser entidades opostas, mas uma única e mesma realidade. O estado de não-consciência só é possível alcançar se o arqueiro estiver desprendido de si próprio, sem desprezar a habilidade e o preparo técnico que se chama satóri, significando intuição especial, que é a transcendência dos limites do ego. Do ponto de vista lógico, é a percepção da síntese da afirmação e da negação.

Parte 1

Neste capítulo o tiro com arco é respeitado e considerado pelos japoneses como um poder espiritual vindo de exercícios nos quais o espiritual se harmoniza com o alvo.  O atirador aponta para si mesmo e talvez em si mesmo consiga acertar. A Doutrina Magna do tiro com arco trata de uma questão de vida e morte, na medida em que é uma luta do arqueiro consigo mesmo. Para melhor entendimento o autor relata sua estada no Japão, instruído por um dos mais eminentes mestres daquela arte, os obstáculos que teve que vencer e as inibições que foi obrigado a superar, antes de conseguir penetrar no espírito da Doutrina Magna. Fala de si mesmo porque não vê outra possibilidade de atingir sua meta. Abstém-se de descrever o ambiente de seu aprendizado e de esboçar a figura de seu mestre, independente do fascínio que ele ainda exerce sobre o autor. Descreverá a arte do tiro com arco, tarefa muitas vezes mais difícil do que sua própria aprendizagem, levando o leitor até o ponto em que se vislumbram os remotos horizontes por trás dos quais o Zen respira.

Parte 2

O autor aqui explica porque se dedicou ao estudo do Zen e porque se propôs a aprender a arte dos arqueiros, pois quando universitário gostava de estudar o misticismo. Na abundante literatura não encontrou o que buscava e desanimado concluiu que só quem verdadeiramente se isola é capaz de aprender o que significa isolamento, único caminho que o levaria ao misticismo, e logo após ter sido designado professor-adjunto na História da Filosofia, alegrou-se em conhecer o Japão e entrar em relação com o budismo.  Já lhe era sabido que neste país existia uma prática viva do Zen e, o mais importante, mestres possuidores de uma assombrosa experiência na arte de orientação espiritual. O primeiro mestre recusou seu pedido, por já ter ensinado a um estrangeiro, com resultados desagradáveis. Somente quando lhe foi assegurado que não pretendia aprender a arte para divertir-se, mas para penetrar na Doutrina Magna, ele o aceitou e à sua mulher, como alunos (era costume no Japão iniciar também as mulheres nesta arte). Assim iniciou um árduo e intenso aprendizado...

Parte 3

Orientado que o caminho que conduz à arte sem arte é áspero, conheceu os arcos japoneses, sua elasticidade, nobreza de forma... Aprendeu a atitude solene, vibrando a corda, extraindo um som ao mesmo tempo grave e agudo, que jamais se esquece, tão irresistível é a maneira como ele chega ao coração. O autor foi aprendendo com seu mestre como manejar o arco e entendeu que o importante era sua respiração, adequada, ritmada para que tivesse bons resultados em sua prática. Aos poucos e cada vez com maior freqüência, conseguiu melhora de seus resultados, tendo sucesso através da sua nova maneira de respirar...

Parte 4

Após um ano de exercícios, foi capaz de estirar o arco de forma espiritual, compreendendo como a técnica de defesa pessoal prostra ao adversário sem despender nenhuma força, apenas recuando aos seus esforços. Aprendeu que a “arte genuína não conhece nem fim, nem intenção”. Diante disto, ao formular perguntas ao mestre, compreendeu que tinha que “aprender a esperar” e para isto “desprender-se de si mesmo, deixando para trás tudo o que tem e o que é, de maneira que dele nada reste, a não ser a tensão sem nenhuma intenção”.

Parte 5

Através dos contínuos treinos, o autor também aprendeu que não deve antecipar com o pensamento o que só a experiência pode ensinar. Em suas aprendizagens, a primeira foi o relaxamento corporal, sem o qual não é possível estirar-se o arco adequadamente. Mas, para que o tiro ocorra corretamente, o relaxamento físico tem que estar entrelaçado com o relaxamento psico-espiritual com a finalidade de liberar o espírito; que o corpo deve estar o mais relaxado possível e concentrado na respiração, pois a única coisa que sabemos e sentimos é que respiramos. Esse agradável estado de recolhimento, em que não se pensa nada de definido, deseja ou espera, que não aponta em nenhuma direção determinada é o que o mestre chama de espiritual. Aprendeu também que o aluno japonês traz três coisas consigo: 1. uma boa educação, 2. um profundo amor pela arte escolhida e 3. uma veneração incondicional pelo mestre e, ainda que, submetendo-se ao duro aprendizado com resignação para descobrir, com o passar dos anos, que o domínio perfeito da arte, longe de oprimir, libera.

Parte 6

Neste capítulo é abordado que dia a dia ficava cada vez mais fácil levar o aprendizado adiante, sendo que a única coisa que mantém o discípulo animado é a fé no mestre. Nesta etapa a limitação do aluno atinge a maturidade, conduzindo-o a compartilhar com o mestre o domínio artístico. Até onde o discípulo chegará não preocupa o mestre, ele apenas lhe ensina o caminho, deixando-o percorrê-lo por si mesmo, sem a companhia de ninguém. A fim de que o aluno supere a prova da solidão, o mestre se separa dele, deixando-o cordialmente a prosseguir mais longe do que ele e a se “elevar acima dos ombros do mestre”. 

Parte 7

Com o passar do tempo o autor já conseguia distinguir os tiros frustrados dos bem-sucedidos. O mestre lhe ensinava que quem o experimenta, melhor fará se ignorá-lo. Somente uma firme serenidade é capaz de fazer com que ele volte sempre.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Um livro que através da clareza de estilo ajuda o leitor do Ocidente a “penetrar na essência dessa experiência oriental, até agora tão pouco acessível aos ocidentais. Leva-nos a aprender a importância do relaxamento, da tolerância, do constante treino para nosso desenvolvimento interior, o qual nos possibilita a harmonia com o mundo exterior, permitindo-nos uma viver mais sereno e com qualidade.

 

Nome do autor da resenha e data: Mara Cristina Moro Daldin - Assistente Social – Março / 2006.