Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A Magia da Mudança

 

Autor do Livro:

Dalmo Silveira de Souza e Solange Maria Rosset

 

Editora, ano de publicação:

Editora Sol  -  Curitiba / 2006

 

Relação dos capítulos

Introdução
Capítulo 1: Deméter e Perséfone: o vínculo como condição básica
Capítulo 2: Afrodite: a transformação do amor em compaixão
Capítulo 3: Atená: a integração do espírito com a força bruta
Capítulo 4: Hefesto: a magia de atar e desatar os nós
Capítulo 5: Posídon: a potência de sacudir a terra
Capítulo 6: Ares: a ousadia de integrar luz e sombra
Capítulo 7: Hera: o envolvimento nas parcerias
Capítulo 8: Apolo: o movimento que não se acomoda
Capítulo 9: Zeus: a coragem de acessar o poder do Todo
Capítulo 10: Dionísio: da energia do desejo à ação da vontade
Capítulo 11: Ártemis: a responsabilidade da livre escolha
Capítulo 12: Héstia e Hermes: o espaço da persistência e da mudança

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Introdução

A Terapia Relacional Sistêmica trabalha com foco no padrão de funcionamento do cliente, ajudando-o a se conscientizar das suas formas repetitivas de funcionar, a se responsabilizar por seus desejos e escolhas e a fazer as novas aprendizagens que, por razões diversas, não foram possíveis serem efetivadas no processo de desenvolvimento ou que se tornaram necessárias no momento atual. O processo terapêutico é caracterizado por movimentos que promovem a mudança. Através de doze mitos gregos estes movimentos terapêuticos são ilustrados ao longo do livro.

Capítulo 1: Deméter e Perséfone: o vínculo como condição básica

O mito de Deméter e Perséfone ilustra a condição de estabelecer vínculos. O primeiro vínculo na vida de um indivíduo é o que se forma na relação mãe e filho. Posteriormente, ele deve ser capaz de vincular-se consigo mesmo e desenvolver novas relações a partir do seu ser interno. O mito de Demeter e Perséfone traz a idéia de que o vínculo é sacrifício e perdão.

No processo terapêutico as seguintes aprendizagens relacionam-se à questão dos vínculos: aprender a ficar sozinho, conhecer seus próprios desejos e sentimentos, ser continente das suas emoções e das suas dificuldades são condições básicas para conseguir estar totalmente na relação com o outro. O sacrifício e o perdão são ingredientes importantes que determinam a qualidade das relações e pressupõem ser capacidade de fazer concessões e aceitar os erros do outro.

Capítulo 2: Afrodite: a transformação do amor em compaixão

Afrodite é o símbolo das forças da fecundidade, da beleza feminina que irradia encanto e harmonia. No entanto, esta deusa também é ciumenta, fútil, traiçoeira, preguiçosa e vingativa. Afrodite sentiu ciúmes de Psique e, irada, determinou que ela fosse amada  pelo mais horrendo dos seres. Sua infelicidade despertou a compaixão e o conselho da Torre. Este mito foi incluído para abordar o movimento da compaixão, capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir o que ele esta vivendo. A compaixão está fundamentada no amor e no respeito às diferenças. No processo terapêutico, a compaixão é o caminho do encontro com o outro.

Capítulo 3: Atená: a integração do espírito com a força bruta

Atená é a deusa da inteligência, da razão, do equilíbrio, do espírito criativo presente nas artes, na filosofia, na literatura e na música. Ela representa a luz do conhecimento que permite lutar e ter garra para viver num mundo hostil e integrar o espírito com a força bruta.

Adquirir novos conhecimentos favorece o processo de diferenciação que possibilita ao indivíduo ser mais hábil, sábio e feliz. Desenvolver a intuição, percepção, energia, proteção e defesa também são essenciais para se viver bem. Ter consciência das suas lutas internas e das suas ambivalências fortalece  e prepara o indivíduo para lidar com os inevitáveis confrontos externos. A integração entre o espírito e a força bruta é fundamental no processo de evolução do ser humano e para alcançá-la é necessário garra e esforço.

Capítulo 4: Hefesto: a magia de atar e desatar os nós

Hefesto é o deus que simboliza o fogo nascido das águas celestes e representa a ambivalência. As três tarefas realizada por Hefesto trazem à tona a magia: o conhecimento, juntar o que é do homem e acreditar no processo de vida.

No processo terapêutico é necessário lançar mão da magia para conseguir viver o real e abandonar as idealizações. Magia é acreditar no imaterial, no fato de que as coisas podem acontecer, é ter encantamento com pessoas, situações ou coisas. A grande magia é acreditar no processo da vida.

Importantes aprendizagens a serem realizadas na vida são pertencer e separar-se, rejeitar e aceitar a rejeição, lidar com as frustrações, aceitar os limites da realidade e fazer bom uso dela.

Capítulo 5: Posídon: a potência de sacudir a terra

Posídon representa a força primordial da natureza, a riqueza que sai da terra. O mito expressa o poder que está na terra, mas precisa das emoções (as águas) como uma potência que ativa e movimenta.

Uma pessoa potente é uma pessoa competente e com auto-estima elevada. O poder possibilita estar no mundo e responder a ele com o que se tem de mais útil e eficiente para o benefício de todos. É importante no processo de desenvolvimento que o indivíduo conheça sua verdadeira potência, do que realmente é capaz, mas também reconheça o que ainda precisa desenvolver. Desta forma poderá construir uma elevada auto-estima.

A partir da tomada de consciência do seu poder e das formas que o usa, o indivíduo desenvolve responsabilidade sobre suas escolhas e seus atos relacionais.

Capítulo 6: Ares: a ousadia de integrar luz e sombra

Ares é o deus que representa os instintos agressivos que podem ser guiados pela consciência. É o senhor da guerra, da desgraça, da violência, da destruição, é o flagelo dos homens, o bebedor de sangue.

Ele se deitava a noite, às escondidas, com Afrodite  mas foi descoberto por Helio o deus do sol e teve que fugir para Trácia. Depois foi transformado em galo que anuncia o nascer do dia, o surgimento da luz.

Este mito expressa a existência dos opostos, que é representado pelo movimento da luz e da sombra. A luz se refere às energias relacionadas ao processo de vida, a sombra é o desconhecido que por assim ser, dá medo e angustia. A não consciência da sombra que existe dentro de cada um de nós leva às compulsões e nos limita.

O processo terapêutico ao trazer à consciência a existência dos opostos e ao lançar luz sobre as sombras, possibilita a integração da personalidade, afasta as ações compulsivas dos indivíduos e abre caminho para as escolhas responsáveis.

Capítulo 7: Hera: envolvimento nas parcerias

Hera é a deusa protetora das esposas, do amor legítimo. É o símbolo da fidelidade e da parceria conjugal. Hera é cuidadora mas ela usa a força de desafiar para ensinar os heróis. Ela também cuida de si e de seu território.

Este mito traz a metáfora da parceria que promove o envolvimento e a entrega na relação com o outro. Na vida e no processo terapêutico três aprendizagens são importantes para o desenvolvimento de parcerias saudáveis: permitir ser cuidado, cuidar de, e cuidar-se. As características essenciais para uma boa parceria são respeito, disponibilidade, aceitação, paciência, clareza de seus próprios desejos, persistência nos objetivos, firmeza de idéias, assertividade nas opiniões.

Capítulo 8: Apolo: o movimento que não se acomoda

Apolo é um deus que promove o equilíbrio e a harmonia dos desejos, direcionando as pulsões humanas para a espiritualização, no sentido da consciência. Representa o que não se acomoda e está em eterno movimento. Segundo o mito, ele foi atingido pela flecha de amor de Eros e se apaixonou por Dafne que o rejeitava. Ao fugir ela foi transformada por seu pai em um loureiro que Apolo abraçou declarando seu amor eterno. A partir de então, manteve para sempre em sua fronte e cabelos as folhas de louro em homenagem a Dafne. Este mito nos ensina a não nos acomodarmos, a não colocarmos as coisas ruins da nossa vida debaixo do tapete e criarmos álibes. Mostra que  a vida esta em constante movimento  e que, as vezes, é  necessário desorganizarmos a estrutura que criamos na nossa vida para nos envolvermos no processo de crescimento.  Para que este ocorra é preciso a aprendizagem da organização, a criação de estruturas que ordenem o caos da realidade, o uso da criatividade nos processos de transformação, a capacidade de suportar a desorganização para não se manter na acomodação e a busca da espiritualização que humaniza ao invés de criar álibes. Estas são aprendizagens importantes de um processo terapêutico.

Capítulo 9: Zeus: a coragem de acessar o poder do Todo

Zeus é a divindade suprema, o reorganizador do mundo exterior e interior. Como chefe da família patriarcal ele promove a disciplina, a justiça e a paz. Ele tanto representa a energia que mobiliza a mudança e transformação, quanto a autoridade que priva e dá limite, organiza. Simboliza a não submissão a uma realidade que limita e castra e a busca por uma sabedoria que transforma e dá  uma nova forma ao mundo, que transcende.

A metáfora deste mito estimula a expansão da personalidade, a descoberta do potencial e de todas as suas possibilidades, o acesso ao poder do Todo através da aprendizagem. Esta ocorre num processo interno mas mediatizada pelas relações. Estar aberto para aprender implica ter humildade para admitir que nunca estamos prontos e aceitação do novo. A aprendizagem ocorre em etapas que devem ser respeitadas e num ritmo próprio a cada individuo. Realiza um movimento de busca do novo e de retorno ao conhecido para integração destes dois aspectos.

Capítulo 10: Dionisio: da energia do desejo a ação da vontade

Dionisio é um deus pleno. Ele passou por três gestações que representam os três movimentos mais importantes para a nossa formação: o primordial da terra, o humano e o celeste. Este mito nos ensina que o desejo expressa energia, enquanto a vontade  é a ação para esta energia se manifestar. Para que uma mudança verdadeiramente ocorra é  preciso haver a vontade, mobilizada pela razão, impulsionando a novas condutas. Desejo e vontade são complementares: o desejo motiva e a vontade promove ações para a realização do desejo e a promoção da mudança. No entanto, alguns fatores fazem parte  de um processo de mudança: ter foco que direcione as ações e fazer escolhas, o que implica em lidar com frustrações, perdas e desprendimento.

Dionisio é também a evocação de nossa corporeidade. Todas as nossas relações são mediatizadas pelo nosso corpo. O contato e a separação, movimentos básicos da interação, ocorrem através do corpo. A percepção corporal e a relação que o individuo tem com o seu corpo define sua habilidade nos movimentos de contato e separação.

Capítulo 11: Artemis: a responsabilidade da livre escolha

Como irmã gêmea de Apolo, Artemis simboliza a integração e a harmonia alcançadas ao final do processo de individualização. Ela não desfruta de prazeres sexuais e personifica a total independência do espírito feminino. O mito de Artemis simboliza o viver com liberdade e responsabilidade, com ética e respeito pelas próprias escolhas e as dos outros, sem se utilizar de  álibes  para se defender de questionamentos e manter-se no controle.

Capítulo 12: Hestia e Hermes: o espaço da persistência e da mudança

Hestia é a deusa da lareira, do fogo sagrado dentro da casa, o símbolo do lar. Ela mantém-se  imóvel, solitária, silenciosa e sedentária no Olimpo. E cultuada como o próprio fogo dentro das casas que esta presente em todo ciclo da vida, do nascimento `a morte. Como arquétipo representa a totalidade alicerçada numa profunda experiência subjetiva.

Hermes, ao contrario de Hestia, representa o movimento, a passagem e a transição. Ambos, no entanto, estão próximos aos homens. Hermes esta junto `a porta para proteger contra os ladrões e Hestia, como o fogo sagrado ao redor do qual tudo acontece, está no centro da casa.

Hestia e Hermes evocam o movimento de persistência e mudança, processos intimamente interligados. Suportar a permanência de uma situação, conter a angustia que surge em determinados momentos é também condição para se fazer mudanças efetivas e eficazes. Para ser saudável é necessário que estes dois pólos, permanência e mudança, estejam num movimento dinâmico entre si. Cada novo ciclo de aprendizagem e mudança necessita de etapas vencidas, de aprendizagens e maturidades anteriores estabelecidas, bem como do desprendimento do que não é mais necessário para se lançar na nova etapa.

Passos da mudança: enxergar a situação, ter o desejo de mudar, ter vontade de mudar e finalmente treinar até que o novo comportamento faça parte do novo funcionamento.

Epilogo: o processo de autodescoberta, de aprendizagens e mudanças ocorre de forma solitária. A solidão é condição básica do ser humano mas as formas de lidar com ela variam desde mecanismos utilizados para fugir dela, até a aceitação de sua existência, sendo capaz de administrá-la, conviver com suas dores e tirar o melhor que ela pode oferecer.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

De forma criativa os autores ilustram, através dos mitos apresentados, os movimentos necessários ao desenvolvimento e crescimento pessoal, seja no processo natural da vida ou através da psicoterapia. Trata-se de uma leitura muito agradável e ao mesmo tempo profunda, pois nos leva a refletir sobre temas vitais que envolvem o nosso ser e estar neste mundo e na vida.  E’ um livro que nos inspira a investir no processo de mudança, pautada na nossa liberdade de escolha e calcada na responsabilidade por nossas decisões. A indicação que os autores dão de filmes, leituras e musicas como facilitadores dos movimentos terapêuticos nos estimulam a expandir as reflexoes para além dos limites do livro, a continuarmos numa busca de autodescoberta e enriquecimento criativo.

 

Nome do autor da resenha e data: Rosilane de Almeida Moraes  ,  Outubro/2010.