Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A verdade liberta

 

Autor do Livro:

Alice Miller

 

Editora, ano de publicação:

Martins Fontes, 2004

 

Relação dos capítulos

Parte I: Infância, um manancial despercebido

  1. Remédios em vez de conhecimento
  2. Como se lida com a realidade da infância na psicoterapia
  3. Castigos corporais e “missões” políticas
  4. Bombas-relógio no cérebro
  5. O silêncio da igreja
  6. Os primórdios da vida – o enteado dos biógrafos

Parte II: Como surge a cegueira emocional

  1. Por que de repente surge a raiva
  2. Bloqueios de pensamento

 

Parte III: Frestas na história pessoal

  1. Crescendo com auxílio de conversas
  2. Sem testemunhas conhecedoras (o calvário de um analista)
  3. O poder de cura da verdade

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Parte 1: Infância, um manancial despercebido

1. Remédios em vez de conhecimento

Ao adulto que se nega a olhar seus sintomas físicos como uma mensagem de um corpo que sofre em função de traumas passados, resta apenas buscar a companhia de medicamentos e procurar sentir-se seguros com estes. Mas para muitos sintomas e muitas doenças, apenas uma confrontação realista com o passado pode permitir uma cura.

2. Como se lida com a realidade da infância na psicoterapia

Nem toda psicoterapia utiliza a infância do cliente como parte do processo terapêutico, muitas vezes, por considerar isso uma perda de tempo e um jeito para que o cliente fique se vitimizando, ao encontrar culpados na sua história de vida. No entanto, o que ocorre é justamente o contrário: ao conhecer sua verdadeira história e se confrontar com os traumas e abusos de sua infância, o adulto tem, muitas vezes, a primeira chance de poder deixar de ser uma vítima de uma história ameaçadora. Isso porque, na infância era indefeso, e quando adulto, tinha força e tamanho, mas sua história triste foi esquecida, e o seu passado, mesmo influenciando-o, foi negado e justificado.

3. Castigos corporais e “missões” políticas

Muitas pessoas, entre estas, pais, professores, líderes; apóiam o uso de uma certa violência para educar as crianças, como tapas, puxões, entre outros. O que essas pessoas desconhecem, é que eles mesmos foram educados com violência e aprenderam a ignorar a dor dos tapas e a aceitar essa política como correta. Uma bela forma de se vingarem das surras que receberam em silêncio! Outro fato, é que a surra apenas ensina a criança a ter medo, a ignorar suas dores e a não mais senti-las. A formação da sensibilidade fica interrompida, e mais um ciclo de pessoas insensíveis e cruéis é formada.

4. Bombas-relógio no cérebro

Uma forma de libertar a pessoa (como um presidiário) da sua compulsão a destruição, sua e/ou dos outros, seria permitir a esta pessoa acessar a sua infância e poder reviver as violências que sofreu para que possa realmente viver a sua dor, e não precisar mais revivê-la nas suas vítimas. Em suma, o indivíduo necessita se dar conta que está passando adiante sua experiência e que precisa tomar consciência dela a fim de não viver mais uma vida dupla.

5. O silêncio da igreja

Quando a igreja é questionada sobre a sua posição sobre a origem da violência e como se posiciona sobre o efeito destruidor de uma educação violenta tem no desenvolvimento infantil, o que se escuta é o silêncio. Quem sabe porque a igreja possui seus alicerces no poder e não no amor, na submissão e não na emancipação.

6. Os primórdios da vida – o enteado dos biógrafos

Falar ou descrever uma infância não necessariamente liberta uma pessoa dos seus traumas. A menos que haja uma aproximação real com os fatos reais dessa infância, para que possa ocorrer uma identificação dos antigos padrões de comportamentos dos pais, aí sim, a pessoa tem a possibilidade de não mais repetir atos destrutivos cegamente. O adulto pode então descobrir a origem do mal na sua vida, e enxergar toda a crueldade que sofreu, que sentiu muita dor, e que não teve culpa nesses acontecimentos.

Parte II: como surge a cegueira emocional

1. por que de repente surge a raiva

Como entrar em contato com cenas de violência, principalmente com os próprios filhos, pode gerar, de repente, sensações fortes e estranhas no corpo de desconforto, e como tais momentos podem colaborar para que a cegueira emocional seja reversível.

2. bloqueios de pensamento

Os traumas vividos na infância, além de causar as dores e as lembranças dolorosas, causam também bloqueios de pensamento, que impedem o adulto de analisar de forma correta as suas vivências do seu passado, criando incoerências que não são percebidas pela sua  cognição, justamente devido a esses bloqueios de pensamento.

Parte III: frestas na história pessoal

1. Crescendo com auxílio de conversas

Ao adulto, há a possibilidade de conseguir se libertar das suas compulsões sádicas destrutivas quando consegue fazer bom uso de uma testemunha conhecedora, que através de uma conversa franca e profunda, permite ao adulto confrontar os abusos que sofreu e viver a dor que sentiu como a raiva que teve quando passou por tais situações. Nesse ponto, quem sabe, essa pessoa poderá parar de achar que tais situações eram bobagens e irá também parar de reproduzir que as surras que recebeu o ajudaram a crescer melhor. As surras nunca são pedagógicas e sempre passam a mensagem para a criança de medo.

2. Sem testemunhas conhecedoras (o calvário de um analista)

Quando uma pessoa adulta se dispõe a buscar as respostas que faltam do seu passado, e ao invés de encontrar tais respostas, encontra apenas teorias, que buscam unicamente provar a verdade de um teórico e não a verdade da pessoa adulta que teve as sua vivências, por mais horas de terapia que essa pessoa tenha feito, continuará sozinha, sem suas respostas e a mercê dos seus pesadelos, pois não encontrou na figura do seu terapeuta uma testemunha conhecedora.

3. O poder de cura da verdade

Para as mais fortes emoções que possam assolar a vida de uma pessoa, a pregação pura de substituir as emoções negativas pelas positivas, será inócua, enquanto a origem dessas emoções não for descoberta. O que uma pessoa sente nada mais é do que o resultado direto das suas vivências. Poder examinar essas vivências de perto, sem preconceitos ou qualquer outro tipo de negação, possibilita uma busca verdadeira e abre caminho para uma cura.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Os escritos desse livro convidam o leitor a buscar a sua verdade sobre a sua vida e a encarar os fatos reais de suas vivências, sendo elas agradáveis ou não. Ao invés de buscar paliativos, a autora propõe que cada um possa realizar uma conversa franca consigo mesmo, e se perguntar, de como eventos passados podem estar influenciando eventos do presente. O objetivo, com certeza, é a libertação; claro, através da verdade. Foi uma bela leitura, página após página, até a última palavra.

 

Nome do autor da resenha e data: Ricardo Luiz de bom Maria 17/08/09.