Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A cama na varanda

 

Autor do Livro:

Regina Navarro Lins

 

Editora, ano de publicação:

Rocco - Rio de Janeiro/1997

 

Relação dos capítulos

- Primeira parte: O passado distante

- Segunda parte: Amor

- Terceira parte: Casamento

- Quarta parte: Sexo

- Conclusão da autora

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Cap.1 - O Passado distante

No primeiro capítulo, a autora faz uma retrospectiva da história desde a Idade da Pedra, onde estão os primeiros registros escritos, até o estabelecimento do patriarcado como estrutura social; sempre enfocando o relacionamento entre homem e mulher, religião e cultura.

A Idade da Pedra subdivide-se em: Paleolítico (de 5000000 a 10000 a.C) e Neolítico. Os primeiros homo sapiens viviam provavelmente em árvores, devido à presença de animais selvagens, e se alimentavam de frutos, raízes e da caça.

Desconheciam o vínculo entre sexo e procriação; a fertilidade era característica exclusiva da mulher e era ela que detinha o poder da vida e da morte. Devido a esta associação, o feminino ocupava um lugar primordial na religião. Foram encontradas estatuetas e pinturas com formas femininas referentes ao culto à deusa-mãe.

No ano 10000 a.C o gelo começou a recuar para o Norte, modificando o clima e a vegetação. Surgiram no Oriente campos naturais de trigo. Os homens mudam-se para perto das plantações, surgindo as primeiras aldeias. A idéia de casal não existia, todas as mulheres pertenciam a todos os homens e vice-versa.

Não tendo mais de arriscar a vida como caçador, os valores viris do homem foram enaltecidos, daí a ausência de deuses. A deusa-mãe relacionada à natureza (agricultura) reinou absoluta até o inicio da Idade do Bronze. Os valores da vida predominavam e venciam o fascínio da morte.

A organização social era igualitária: homens e mulheres trabalhavam juntos, em parcerias iguais, em prol do bem comum. Foram mais de quinze mil anos de paz, em que homens e mulheres viviam em harmonia consigo mesmo e com a natureza.

A convivência com os animais domesticados, que eram incorporados na agricultura, fez com que o homem percebesse a contribuição do macho para a procriação. A partir daí houve uma ruptura na história da humanidade. A relação entre homem e mulher foi transformada, assim como a relação entre arte e religião. O homem descobriu seu papel imprescindível num terreno onde sua potência até então havia sido negada. O homem foi desenvolvendo um comportamento autoritário e arrogante.

Entre 4400 e 2900 a.C começaram a surgir as primeiras invasões de povos que eram compostos de homens, com religiões dominadas por deuses masculinos. A organização social com desenvolvimento estável e de parceria foi esmagada por um sistema onde poder, domínio e força física faziam parte de sua essência.

Com o aumento de riquezas, o homem se tornou mais importante do que a mulher. A filiação passou a ser masculina e para garantir a paternidade do filho, o qual herdará suas riquezas, instalou-se um controle da fecundidade da mulher. A mulher passa a ser propriedade do homem e mercadoria preciosa, fornecedora de futura mão-de-obra nas colônias agrícolas.

A liberdade sexual da mulher sofre restrições. Já a do homem não, pois, era ele quem tinha o sêmen e, como os animais, poderiam engravidar várias fêmeas e ter um harém, se desejassem.

Assim como a organização social, a religião também passou por um processo de transição gradual. O culto da fecundidade da Terra-Mãe é definitivamente substituído pelo do herói-guerreiro.

O homem não participa da procriação junto com a mulher, o sêmen é o causador da fecundação. Como nos mitos da criação do mundo, a figura masculina do pai ganha uma importância exacerbada. Além de criar o filho, torna-se também o criador da mulher.

O estabelecimento do patriarcado, organização social baseada no poder do pai, levou cerca de dois mil e quinhentos anos (desde 3100 até 600 a.C). E dividiu a humanidade em duas metades: superior/inferior, dominador/dominado, homem/mulher.

A obsessão para proteger a herança e garantir a legitimidade do filho tornou a esposa sempre suspeita, o que requer vigilância absoluta. Surgindo assim os confinamentos, cintos de castidade e até extirpação do clitóris para limitar as pulsões eróticas. Punir severamente ou mesmo matar as mulheres adúlteras era considerado simplesmente o exercício de um direito.

O antagonismo entre os sexos impede uma amizade e um companheirismo verdadeiro, fazendo a relação entre homem e mulher se deteriorar.

O patriarcado é um sistema muito bem-sucedido. A mente humana foi remodelada, a cultura dominada pelo homem, autoritária e violenta, acabou sendo vista como normal e adequada, como característica de todos os sistemas humanos. A lembrança de organizações sociais diferentes foi suprimida. O patriarcado recebeu dois apoios fundamentais: a religião e a ciência. Aristóteles provou que a mulher era inferior ao homem, dizendo que a semente masculina é ativa, que produzirá um menino saudável, e a semente da mulher só produziria o "desvio do modelo".

Até hoje pessoas subordinadas ajudam a estimular a subordinação. Idéias novas são geralmente desqualificadas e modificações no costume são rejeitadas, inclusive pelas mulheres. Mesmo oprimidas, clamam por valores conservadores.

A religião judaica cristã, religião dos patriarcas caracterizada pelo culto ao Deus-Pai, tem muito poder e influência nas pessoas até hoje.

A concepção de bom e mau e o temor do juízo final fizeram com que a vida se direcionasse para a salvação em um mundo extraterreno. Na medida que Deus perde a forma humana e se torna invisível, desenvolve-se a idéia da superioridade da alma sobre o corpo. Assim, o afastamento da sexualidade é elevado ao ideal de perfeição. A restrição à liberdade sexual é instituída.

O cristianismo foi muito severo com as mulheres. Determinou com firmeza que o sexo feminino é inferior ao masculino. Segundo o mito do Jardim do Éden, Eva é a única responsável por todos os males, pois teria sido sua fraqueza que provocou a expulsão do Paraíso. Para a religião cristã, a mulher representava a porta do Inferno e deveria envergonhar-se da própria idéia de ser mulher.

Em 1183, são criados os tribunais da Inquisição. A Inquisição considerava o apetite sexual demoníaco. Qualquer moça atraente é suspeita de bruxaria e de ter relações sexuais com Satã.

A Igreja desenvolveu horror ao sexo e o celibato era considerado superioridade. Desta forma, o casamento foi visto como fraqueza humana e o sexo não era considerado parte do mesmo. O sexo só tinha uma única finalidade: a procriação. Foram feitas regras e normas detalhadas para o casamento e ao sexo.

 

Cap.2 - Amor

O amor cortês foi a primeira manifestação do amor como hoje conhecemos, uma relação pessoal. Do amor fazem parte aventura e liberdade e não as obrigações e as dívidas e, por ser um dom livre concedido, não cabia ao casamento, que era um contrato comercial sem espaço para considerações pessoais. Era consenso no século XII que no casamento poderia haver estima, mas nunca amor; porque o amor sensual, o desejo, o impulso do corpo é a perturbação, a desordem.

O amor cortês surgiu no regime Feudal. Era o amor entre o cavaleiro e a dama. A virtude era o atributo que isentava esse amor de toda carnalidade. Os trovadores nunca cantavam o amor consumado. A maioria rejeitava claramente todo desejo de possuir suas damas. Exaltava o amor infeliz, eternamente insatisfeito.

Os cavaleiros eram jovens, filhos da nobreza, à maioria deles era vetada a vida conjugal e a herança. Serviam ao senhor feudal e sua obrigação era proteger a fortaleza. Nesta época multiplicou-se o número de jovens solteiros e celibatários. Assim, o amor cortês surgiu como uma reação contra a anarquia dos costumes feudais.

O código do amor cavaleiresco foi apresentado como um dos privilégios do homem cortês. O amor delicado era um jogo educativo. Contribuía para manter a ordem, domesticando a juventude. Incentivava a repressão dos impulsos. O homem era testado para assegurar que seria capaz de sofrer por amor, e que este não tinha caráter sexual. O dever de um bom vassalo era servir e isso o amor cortês ensinava bem.

"Servindo à sua esposa, era o amor do príncipe que os jovens queriam ganhar, esforçando-se, dobrando-se, curvando-se. Assim como sustentavam a moral do casamento, as regras do amor delicado vinham reforçar as regras da moral vassálica".

Em época relativamente recente, após a Revolução Francesa e a industrialização, surgiu a idéia de que o casamento deve ser o resultado do amor romântico. Hoje, quase todas as pessoas misturam romance com sexo e casamento, como se fosse natural, sem ter idéia de que é uma inovação revolucionária.

O principal conceito que não se modificou é a crença que o "amor verdadeiro" deve ser uma adoração religiosa mútua irresistível, que nos faça sentir que todo o céu e a terra nos são desvelados através desse amor. Mas ao contrário de nossos antepassados, tentamos trazer essa adoração para nossas vidas pessoais, misturando-a com sexo, casamento e a rotina da vida.

O mito do amor romântico

Apaixonar-se pela paixão, amar, estar amando não são casos raros. Na nossa cultura quase todas as pessoas (principalmente as mulheres) estão aprisionadas pelo mito do amor romântico e pela idéia de que só é possível haver felicidade se existir um grande amor. Mesmo tendo vários interesses na vida e parecendo feliz, a mulher, quando está sozinha, pergunta se essa felicidade é real.

O amor romântico é construído entorno da projeção e da idealização sobre a imagem ao invés da realidade. A pessoa amada não é percebida com clareza, mas sim através de uma névoa que distorce o real. Para manter esta névoa após algum tempo de relação, as pessoas evitam qualquer intimidade real, calando-se sobre os pensamentos e sentimentos mais íntimos, como inclusive, mantendo um afastamento físico. Até algum tempo atrás, as mães, sabendo disso, diziam para suas filhas para evitar qualquer tipo de intimidade física antes do casamento, pois caso contrário, o rapaz perderia o interesse por elas.

Acredita-se que o mapa amoroso é construído entre os cinco e oito anos de idade e são determinados pelos relacionamentos com a família, amigos e por experiências e oportunidades. Algumas características de temperamento das pessoas que nos rodeiam atraem ou nos perturbam. Pouco a pouco, estas memórias começam a formar um padrão mental, um modelo subliminar do que nos agrada e nos desagrada. Assim, nos apaixonamos por uma imagem construída sobre um determinado aspecto da pessoa do qual temos uma forte necessidade.

Acreditar que o amor romântico é o amor verdadeiro gera muita infelicidade e frustração, impedindo a experiência de uma relação amorosa autêntica. Quando ocorre o desencanto, quando percebemos que o outro é um ser humano - e não a personificação de nossas fantasias - nos ressentimos e reagimos como se tivesse ocorrido uma desgraça.

O mito do amor romântico não passa de uma mentira, porque mente sobre as mulheres, os homens e sobre o amor. Além de omitir sobre o conflito e a discórdia, a base sobre a qual se constrói o mito é a estereotipagem sexual do homem "verdadeiro" e da mulher "verdadeira", é uma mentira.

A autora acredita que uma das causas da depressão em mulheres casadas (maior índice de depressão), é a submissão à outra pessoa que seja dominadora; viver pelo bem da outra pessoa dominadora ou para obter aprovação e gratificação dessa pessoa; dependência; viver tendo o amor romântico como objetivo dominante.

Invenção da maternidade

Com a industrialização nasce o capitalismo, na segunda metade do século XVIII, e junto às fabricas formam-se aglomerados urbanos. As mulheres são incentivadas a permanecer em casa, dedicando-se ao marido e aos filhos. Acentua-se o afastamento do grupo familiar da sociedade e ocorre a formação da família nuclear. A família burguesa traz nova ideologia: o amor materno e o amor romântico.

Antes do século XVIII, o amor não era um valor familiar ou social. As relações familiares eram dominadas pelo medo.

Santo Agostinho via a criança como ser imperfeito, símbolo da força do mal, esmagada pelo peso do pecado original. Acreditou-se que a natureza da criança era tão corrompida, que o trabalho de recuperação era sujeitos a penas, como, por exemplo, ameaças, varas e palmatória. A amamentação era vista como nojenta, ridícula e pecadora.

As crianças (de 0 a 4 ou 5 anos) eram cuidadas e amamentadas na casa das amas de leite. As amas eram mal nutridas, sofriam de sífilis e por vezes sarnentas ou portadoras de escorbuto. Os bebês ficavam imobilizados por faixas com o mínimo de higiene. A morte dos filhos não gerava sofrimento, era vista como um acidente corriqueiro.

No final do século XVIII houve uma revolução da mentalidade, em que a imagem da mãe, seu papel e sua importância modificaram-se radicalmente. A construção do amor materno não foi motivada por uma questão humanitária, mas por razão de nova ordem econômica que surgia nas sociedades industrializadas. Temendo o despovoamento, a criança adquire um novo valor por representar uma riqueza econômica e garantir o poderio militar.

A mãe se torna a grande responsável por tudo que acontece com o filho. Sua educação, seu lazer, estudos, sexualidade, enfim, sua felicidade ou desgraça (o sentimento de culpa surge com intensidade). Sua função é ser a dona-de-casa dedicada e sofredora, a patroa. O pai é o único responsável pelo bem-estar material. Para que esse sistema funcione bem, é inaugurado o amor romântico.

No amor romântico, os elementos do amor sublime predominam sobre o ardor sexual. São as qualidades de caráter que distinguem uma pessoa como especial. Até pouco tempo atrás, acrescentava-se que o casamento era para sempre. Um casamento eficaz, embora gerando muita infelicidade, era sustentado por uma divisão de trabalho entre os sexos. O marido dominava o trabalho remunerado e a mulher o trabalho doméstico. O confinamento da sexualidade feminina ao casamento era importante como símbolo da mulher respeitável. O homem, por sua vez, separava amor romântico, o conforto do ambiente doméstico e o prazer sexual, da sexualidade da amante ou prostituta.

Mulher feminina: O novo papel da mulher, a mãe idealizada, originou uma nova concepção de feminilidade. Os pilares de sua nova feminilidade são: a pureza, a piedade religiosa e a submissão.

Construindo a mulher feminina: A primeira coisa que se quer saber quando nasce um bebê é se é menina ou menino. O papel social que ele deverá desempenhar está claramente definido.

As meninas são mais carregadas no colo. Com os meninos os pais brincam mais violentamente, resultando em uma maior agressividade nos meninos. Os meninos não brincam de panelinha nem de boneca, porque é coisa de menina (depois ninguém entende por que os homens não ajudam no trabalho doméstico). Espera-se que as meninas sejam gentis, meigas, delicadas, fechem as pernas ao sentar e não falem palavrão.

Ao contrário do homem, que é estimulado a ser independente desde quando nasce, a mulher não é criada para defender-se e cuidar de si própria. Quando adolescente continua sendo treinada para a dependência, não deve sair sozinha, tem horários mais controlados. O principal objetivo continua sendo o casamento como a substituta fonte de segurança. O movimento de emancipação e as exigências práticas da vida não permitem que a mulher se esconda sob a proteção do pai ou marido. A liberdade assusta. Foi ensinada a acreditar que, por ser mulher, não é capaz de viver por conta própria, que é frágil, com necessidade de proteção.

Tanto mulheres inseguras e frágeis, quanto a que sabe de sua competência mas representa o papel feminino para agradar ao homem, são mulheres dependentes.

A mulher feminina pode ser autônoma? Não. A mulher considerada feminina é uma mulher estereotipada. Autonomia implica ser você mesma, em sua totalidade, sem negar ou repudiar aspectos de sua personalidade para se submeter às exigências sociais.

Na nossa cultura patriarcal, a mulher feminina renuncia a partes do seu Eu, na tentativa de corresponder ao que dela se espera. O mesmo ocorre com o homem masculino. Suas características são: força, coragem, ousadia, desafio, etc. Homens e mulheres podem ser fortes e fracos, corajosos e medrosos, agressivos e dóceis, dependendo do momento e das características que predominam em cada um, independente do sexo. Os conceitos de feminino e masculino são prejudiciais a ambos os sexos por despotencializar as pessoas, aprisionando-as a estereótipos.

Homem masculino: O homem sempre deve estar atento e mostrar que é homem. Deve ter atitudes, comportamentos e desejos masculinos. Qualquer variação no jeito de falar, andar ou mesmo sentir, e sua virilidade é questionada.

Construindo o homem masculino: O menino nasce de uma mulher, que cuida e lhe dá carinho. Ele sente-se gratificado na condição de bebê, totalmente dependente dela. No início da vida conhece o prazer dessa dependência passiva, mas durante toda a sua existência terá que lutar contra o desejo de retornar a essa condição. Para tornar-se homem é preciso se diferenciar da mãe, reprimindo profundamente o forte vínculo, junto com o prazer da passividade. Para ser considerado masculino o menino deve rejeitar e se opor a tudo que é feminino. O processo de construção da masculinidade implica fazer com que o menino transforme sua primitiva identidade feminina em uma identidade masculina secundária.

Pela atividade sexual que desempenha, o homem toma consciência de sua identidade e virilidade. É considerado homem quando seu pênis fica ereto e 'come' uma mulher. E isso deve acontecer o mais cedo possível. De maneira explícita ou não, é pressionado pelos amigos ou pelo próprio pai.

O super-macho é um homem duro e solitário, porque não precisa de ninguém, viril a toda prova. Uma besta sexual com as mulheres, mas que não se liga a nenhuma delas. Um mutilador de afetos.

A ruptura precoce do menino com a mãe na tentativa de se adequar ao modelo imposto é frustrante. Perseguir o ideal masculino gera conflitos e tensões, tornando imprescindível usar uma máscara de onipotência e independência. Desde cedo aprende que deve rejeitar uma parte de si. O desejo de ser cuidado, acalentado, dependente é recalcado. Sentimentos de ternura, generosidade, preocupação com os outros são reprimidos para diferenciá-lo da mãe. Na vida adulta os homens escondem a necessidade que têm das mulheres mostrando-se auto-suficientes e desprezando-as. Convencem-se de que elas é que precisam deles, da sua proteção. Mas na verdade eles negam suas dependências e sentem-se mais fortes e poderosos. Talvez isso explique por que existem tantos homens que resistam ao casamento, optando por uma vida livre, e quando se casam tornam-se submissos, dependentes e dominados pela mulher.

O homem masculino e o homem dependente não são autônomos. Autonomia implica não se submeter às exigências sociais, de modo a rejeitar características da própria personalidade. O homem autônomo só começa a ter possibilidade de surgir nesse momento, em que o patriarcado decai.

 

Cap.3 - Casamento

Dentro do útero o indivíduo desconhece a fome, o frio, a falta de aconchego. Mas nasce. É tomado por um profundo sentimento de falta e desamparo. Sem retorno ao estágio anterior, isso o acompanhará por toda a vida.

Ao nascer ele é introduzido num mundo com padrões de comportamento claramente estabelecidos. Iniciando, assim, o processo de socialização. Os desejos espontâneos são gradualmente substituídos pelos que se aprende a desejar e o indivíduo passa a se comportar e agir de acordo com a expectativa social. As singularidades não mais existem. O condicionamento cultural impõe como única forma de atenuar o desamparo uma relação amorosa fixa e estável: o casamento. Tenta-se reaver o paraíso simbiótico que se tinha no útero da mãe. Ilusão que dura pouco, pois não se sustenta na realidade de uma vida a dois, cotidiana.

Amor conjugal:

Na Idade Média o casamento era considerado algo muito sério para que dele fizesse parte o amor. No século XII, havia se tornado para os senhores feudais um simples meio de enriquecimento. A indissolubilidade foi imposta a partir do século XII pela a Igreja. A partir do século XVIII, o amor no casamento passou a ser uma possibilidade e no século XX tornou-se indispensável e tão valorizado que é difícil imaginá-lo como inovação revolucionária recente.

Na primeira metade do século XX, com a revolução industrial, casar significava formar um lar e se situar socialmente. Os valores familiares eram centrais nessa sociedade, os indivíduos eram de fato julgados em função do êxito de sua família e do papel que desempenhavam nesse êxito.

Na década de 40 mudanças começaram a ocorrer. A valorização do amor conjugal sob todos os seus aspectos, principalmente o sexual, era uma novidade. Para que os filhos sejam bem criados, precisavam não só do amor dos pais, mas também o amor entre os pais. O amor passa a ser o fundamento do casamento.

Da mesma forma como antes era inadmissível casar por amor, hoje há uma crítica severa a quem se casa sem amor. Suspeita-se logo de interesses escusos e oportunismo.

Algumas décadas atrás, um casal perfeito era a mulher respeitável e o homem provedor. Hoje os anseios são bem diferentes e as expectativas em relação ao casamento tornaram-se difíceis e até impossíveis de serem satisfeitas. As pessoas escolhem seus parceiros por amor e esperam que esse amor e o desejo sexual que o acompanha sejam recíprocos e para a vida toda.

Imagina-se que no casamento será alcançada uma complementação total, que as duas pessoas se transformaram em uma só, que nada mais faltará. Para isto, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro.

Numa relação estável, é comum que as pessoas se afastem dos amigos e abram mão de atividades que anteriormente proporcionavam grandes prazeres. O ideal do par amoroso é estar sempre junto, completando-se em tudo. Este comportamento pode atenuar por um tempo o temor do desamparo. Mas, para que essa situação seja mantida, são feitas muitas concessões e a conseqüência inevitável é um acúmulo de frustrações que torna a relação no casamento sufocante.

"O casal aniquila a pessoa humana, numa confusão alienante: o eu desaparece, absorvido, afogado pelo nós".

Na busca de estabilidade e segurança afetiva, qualquer preço é pago para evitar tensões que decorram de uma vida autônoma. Quanto mais concessões são feitas, mais hostilidade vai surgindo em relação ao outro.

Muitas vezes, a grande expectativa depositada no casamento supera o limite da capacidade de conceder, fazendo a pessoa não optar pelo fim do casamento. Em outros casos, a dependência emocional ou financeira que se tem do outro pode levar a uma atitude de resignação e acomodação.

Sexo no casamento :

A maioria das mulheres, depois de algum tempo de casamento, faz sexo sem nenhuma vontade. A dependência emocional ou econômica são limitadoras e podem conduzir a uma vida sexual pobre e medíocre.

A atração sexual acaba por vários motivos: rotina, falta de mistério, brigas e inclusive pela obrigação de fidelidade. Observa-se, no casamento ou em qualquer relação estável, a diminuição do desejo sexual e o aumento da ternura e companheirismo entre os parceiros. Não são raros casais que vivem sem sexo, utilizando formas variadas para manter o casamento. Nestes casos, as relações extraconjugais podem ajudar.

Todas as pessoas são afetadas por estímulos sexuais novos vindo de outras pessoas que não os parceiros fixos. Esses estímulos existem e não podem ser eliminados. A ideologia monogâmica induz ao recalque desses desejos, levando muitas pessoas a afirmar conceitos estereotipados, "quando se ama só se sente desejo pela pessoa amada". Isso está muito longe da realidade. A verdade é que todos os casais se controlam mesmo quando amam.

O prazer sexual no casamento diminui na razão direta do aumento do desejo por outras pessoas. Muitos evitam a realização dos seus desejos pelo temor de perder a estabilidade na relação ou para evitar que o parceiro faça o mesmo.

O enfraquecimento do desejo sexual deixa de ser passageiro e se torna permanente se os parceiros não perceberem a tensão ou o ódio recíproco, e também se rejeitarem como absurdo os desejos sexuais sentidos por outras pessoas. Só é possível encontrar uma saída discutindo-se esses fatos com franqueza e sem preconceitos. É condição essencial reconhecer como natural o interesse sexual por outras pessoas.

Crise do casamento

Há um número crescente de famílias com apenas um genitor. A diferença básica é que anteriormente o individuo era incorporado à família; sua vida pessoal confundia-se com sua vida familiar ou então subordinava-se a ela. Hoje, exceto na maternidade, a família não é senão a reunião dos indivíduos que a compõem nesse momento; cada indivíduo tem sua própria vida privada e espera que essa seja favorecida por uma família do tipo informal.

A auto-realização das potencialidades individuais passa a ter outra importância, colocando a vida conjugal em novos termos. Acredita-se cada vezes menos que a união de duas pessoas deva exigir sacrifícios. Observa-se uma tendência a não se desejar mais pagar qualquer preço apenas para ter alguém ao lado. É necessário que o outro enriqueça a relação, acrescente algo novo, possibilite o crescimento individual.

O casamento torna-se um pesado fardo, pois dificulta a realização do projeto existencial com suas metas individuais e independentes até das relações pessoais mais íntimas. Surgem conflitos na tentativa de harmonizar a aspiração de individuação com uma vida a dois, mas homens e mulheres estão cada vez menos dispostos a sacrificar seus projetos pessoais.

Ciúmes:

O bebê quando nasce busca paz, aconchego e proteção através do contato físico com outra pessoa, visando atenuar o desamparo. Quando fica sozinho, entra em pânico e chora até que alguém o pegue no colo. É a primeira manifestação de amor do bebê. À medida que vai crescendo e ampliando seu universo, a necessidade constante da mãe vai diminuindo. Mesmo assim a criança se vê freqüentemente ameaçada de perder esse amor, sem o qual perde o referencial na vida. Mostra-se controladora, possessiva e ciumenta, desejando a mãe só para si.

Quando surge uma relação amorosa, o indivíduo passa de uma dependência para outra. Agora é através da pessoa amada que tenta satisfazer todas as necessidades infantis.

A dependência entre um casal é encarada por todos com naturalidade, porque se confunde com o amor.

O receio de ser abandonado ou trocado leva a se exigir do parceiro que não tenha interesse, nem ache graça em nada fora da vida a dois, longe da pessoa amada. Nesse caso, o desejo de uma vida livre fica em segundo plano.

Se a dependência infantil que tinha da mãe tiver sido bem elaborada, o indivíduo provavelmente será menos ciumento. A questão do ciúme está ligada à imagem que se faz de si próprio. Não sendo boa a impressão, há sempre o temor de ser abandonado ou trocado.

Quem é amado sente-se valorizado, com mais qualidades e menos desamparado. Portanto, quanto mais intenso o sentimento de inferioridade, maior será a insegurança e mais forte o ciúme.

Fidelidade:

Desde a infância foi ensinado à mulher que ela deveria ter relações sexuais apenas com um homem. Isso fez com que se sentisse culpada ao perceber seu desejo sexual por alguém que não fosse o marido. Encontrou-se essa culpa levada ao extremo no relato de algumas mulheres de mais de 60 anos. Com a emancipação feminina as coisas começaram a mudar. A proporção de mulheres casadas há mais de cinco anos que têm encontros sexuais extraconjugais é, hoje em dia, virtualmente a mesma que a dos homens.

Quando num casamento não há dependência econômica ou emocional, quando as duas pessoas se sentem livres e têm consciência de que a relação só vai existir enquanto for satisfatória do ponto de vista sexual e afetivo, um episódio extraconjugal pode ocasionar dois resultados: é apenas passageiro e não rivaliza com a relação estável, que sai até reforçada - a pessoa não se sente coagida à obrigatoriedade de ter um único parceiro - ou a nova relação se torna mais intensa e mais prazerosa que a anterior e rompe-se com a antiga.

As restrições que muitos têm o hábito de se impor por causa do outro ameaçam bem mais uma relação do que uma "infidelidade". Reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. O parceiro que teve excessiva consideração tende a se sentir credor de uma gratidão especial, a considerar-se vítima, a tornar-se intolerante.

As pessoas sem preconceitos e tabus sexuais sabem que a fidelidade não é natural e sim uma exigência externa. O laço conjugal, juridicamente fixado e inalterável, é, no plano biológico, uma ficção. Se os casais deixassem de associar fidelidade à sexualidade seria positivo ao casamento, na medida em que a mudança periódica de parceiros provoca, a cada vez, um aumento do desejo sexual.

Separação

Da mesma forma que a criança se desespera na ausência da mãe, o adulto quando perde o objeto amado é invadido por uma sensação de falta e de solidão. Surgem medos variados, como o de decepcionar os parentes e os amigos, fazer os filhos sofrerem, ficar sozinhos, ter problemas financeiros, e o mais ameaçador: o de nunca mais ser amado. Embora o casamento não seja o único meio de atenuar o desamparo humano, é o que a sociedade mais privilegia. Quando um projeto amoroso fracassa, a pessoa perde seu referencial na vida e a pergunta que se faz sem conseguir uma resposta é: quem sou eu?

Além de todas as questões emocionais que envolvem a separação, a interferência de vínculos econômicos contribui para dificultá-la. Sem dúvida, é grande o número de mulheres que se vêem forçadas a permanecer casadas e com esforço cumprir suas obrigações sexuais com o marido em troca de casa, comida e algum conforto. Não conseguem se separar por serem dependentes.

A idéia de felicidade através do amor no casamento influi na intensidade da dor da separação. Como o amor romântico é construído em cima de projeções, o parceiro, imagina-se, preenchia uma falta. E na separação ele deixa um espaço vazio, leva com ele o que fazia parte também do outro.

O cônjuge rejeitado não é o único a sofrer. A dor de desfazer a fantasia do par leva à constante tentação de restabelecer o antigo vínculo.

Como vivemos numa época em que cada um busca desenvolver ao máximo suas possibilidades pessoais e sua individualidade, a dor da separação é bem menor de que há trinta anos. Não cabe mais chorar tanto um casamento perdido porque ainda se tem a si mesmo como objeto a ser realizado e vivido.

Após uma separação o alívio é maior do que o sofrimento. Se na relação que acabou já não havia mais desejo; se há a perspectiva de uma vida social interessante, pelo círculo de amizades; se existe liberdade sexual para novas experiências e se estar só não é sinônimo de se sentir desamparado.

O casamento é necessário?

A vida a dois numa relação estável torna-se cada vez mais difícil de suportar diante das transformações e apelos da sociedade. O que ele proporciona hoje é um modo de vida repressivo e insatisfatório.

Antigamente não formar um par era associado à 'não ter uma família', até então único meio de não se viver na mais profunda solidão. Tudo isso causava tanto medo (para muita gente ainda causa) que era preferível se contentar com uma relação morna do que arriscar morar sozinho.

Entretanto, de algumas décadas para cá, vem diminuindo a disposição para o sacrifício.

Hoje, os que vivem só têm respeito social e são até abjeto de inveja da maioria dos casados que, por temerem novas formas de viver, suportam casamentos que lhes restringem a liberdade e lhes impõem sacrifícios.

Nesse momento em que o sistema patriarcal começa a ser questionado as formas de relacionamento afetivo-sexual tradicionais abrem-se para infinitas possibilidades.

Torna-se quase impossível encontrar alguém que acredite hoje em amor e casamento eternos. A tendência ao casamento monogâmico seqüencial é, onde em tese, o casal viveria junto enquanto a relação fosse satisfatória para ambos. Findo esse período, cada um partiria em busca de outro parceiro.

Vários relatos que foram feitos por pessoas que não desejam uma relação fixa com um único parceiro, foram encontrados dois fatores comuns: a importância que dão às relações de amizade - consideram-nas as verdadeiras relações de amor - e a liberdade sexual.

Buscar atenuar o desamparo do nascimento é fundamental, mas essa busca pode se manifestar de várias formas e não apenas numa relação entre um homem e uma mulher. A amizade é a forma de se viver o amor de forma intensa. Os amigos fornecem não apenas diversão e variedade; em suas multifacetadas entradas e saídas de nossas vidas, são o campo no qual podemos dar maior expressão àquilo que somos como indivíduo.

Na nossa sociedade, é difundida a idéia de que não se pode misturar amizade e sexo. A responsável por isso é a corrente vinculação falsa entre amor romântico e sexo. Amor e sexo são impulsos totalmente independentes e pode haver prazer sexual pleno totalmente desvinculado das aspirações românticas.

O sexo com amigos só vai ser frustrante e prejudicar a amizade se uma das partes tiver alguma expectativa romântica que a outra não corresponda.

Para que a maneira mais tradicional e aceita de se viver o amor (a relação estável entre duas pessoas) não se torne a repetição do fracasso que assistimos hoje, é fundamental que as pessoas tenham prazer na convivência, sem que dependam umas das outras. Para que seja prazerosa, terá que garantir os direitos de cada pessoa: direito de locomoção, de opinião, de querer ficar só, de ter outros anseios sexuais, de cultivar amigos em separado, direito de falar de si e também de se calar. A possessividade e o ciúme não entram nesse tipo de vínculo, já que o motivo da relação é o prazer de estar junto.

A multiplicidade de opções da vida amorosa pode levar a escolhas difíceis de harmonizar com o social, mas nem por isso menos enriquecedoras.

 

Cap.4 - Sexo

O sexo sempre teve destaque na história da humanidade. Em cada época e local, teve um significado. Sexo como sinônimo de pecado surgiu com o patriarcado e conseqüentemente a repressão sexual era a única saída.

A repressão sexual deslocou do plano da natureza, algo meramente biológico e natural, para o plano da sociedade, cultura e história. Modificou seu sentido, sua função e regulação. As proibições externas são interiorizadas pelas pessoas e são vividas sob a forma de vergonha e culpa.

Estas modificações acarretaram em conseqüências desastrosas. Para Reich as enfermidades psíquicas são conseqüências do caos sexual da sociedade, já que a saúde mental depende da potência orgástica (entrega e vivencia do clímax de excitação no ato sexual). Assim, homem alienou-se a si mesmo da vida e cresceu hostil a ela. Sua estrutura de caráter foi encouraçada, contraindo sua própria natureza interior, e desenvolvendo a base do isolamento, do anseio místico e da miséria sexual.

James W. Prescott comprovou algumas teses de Reich, e afirma que uma personalidade orientada para o prazer raramente exibe condutas violentas ou agressivas e que uma personalidade violenta tem pouca capacidade para tolerar, experimentar ou gozar atividades sensualmente prazerosas.

Então para que tanta repressão sexual?

Uma explicação é que quanto mais o individuo vai ampliando sua vida sexual, mais coragem ganha para fazer outras coisas, questionar outros valores. Começa a viver com mais vontade e decisão. Pode começar a se tornar perigoso. "Não deve ser à toa nem por acaso que as forças repressoras de todas as épocas se voltaram tão sistemática e precisamente contra a sexualidade humana".

Transformações ocorridas no século XX, fizeram que homens e mulheres não acreditassem conscientemente que o ato sexual seja tamanho pecado, mas no inconsciente os antigos tabus ainda persistem.

Tanto os valores da Igreja Cristã, como do patriarcado, estão relacionados com a baixa qualidade do sexo na nossa cultura. Na sociedade ocidental o sexo é na maioria das vezes praticado como uma ação mecânica, rotineira, desprovida de emoção, com o único objetivo de atingir o orgasmo o mais rápido possível. Resultando em um desempenho sexual bastante ansioso, podendo leva a um bloqueio emocional e a vários tipos de disfunções.

Hoje com o questionamento de valores passados, começa a despontar novas formas de viver a sexualidade. Cada vez um número maior de pessoas busca o prazer através de relações sexuais mais livres, respeitando o próprio desejo e o modo mais satisfatório para os envolvidos.

Prostituição

Na antiguidade a prostituição era uma instituição sagrada, chegando a ser exercida em templos. A origem desses costumes foi uma tentativa de garantir a fertilidade da terra e das mulheres como um favor dos deuses.

Com o cristianismo, os templos foram fechados e a prostituição passou a ser comercializada com fins lucrativos para aqueles que faziam das mulheres suas escravas. A prostituição estava em toda a parte.

A prostituição passou a ser vista como um mal necessário, permitiam que os homens aliviassem suas necessidades sexuais evitando proximidade com a esposa e filhas respeitáveis e diminuía os estupros e homossexualismo.

Com a liberação dos anos 60 supunha-se que a prostituição estivesse com os dias contados. Pelo contrario que se esperava, houve um aumento e sofisticação destes locais e as garotas de programa passaram de sofredoras e mal cuidadas para jovens, bonitas, bem vestidas.

Independente do que façam sexualmente com suas esposas ou namoradas, os homens continuam a procurar relações com prostitutas. Porquê? As mulheres, atualmente, exigem cada vez mais seu direito ao prazer sexual. O homem se sente avaliado, julgado no seu desempenho e na sua competência nessa área. Vai para o ato sexual temendo decepcionar ou não corresponder o que a mulher espera. Qualquer falha pode abalar sua virilidade, além de se sentir cobrado no seu comportamento antes, durante e depois do sexo. Com as prostitutas os homens se sentem livre para fazer o que desejam, o dinheiro o livra de qualquer cobrança. Mesmo sendo um prazer individual, as regras não deixam dúvidas e ninguém está sendo enganado.

Quem são as garotas de programas? São mulheres que praticam ato sexual por dinheiro. Então, muitas mulheres casadas e respeitadas se prostituem para o próprio marido. A única diferença entre as que se vendem para a prostituição e as que se vendem para o casamento é o preço e o tempo do contrato.

Quando a mulher tornou-se um objeto que podia ser comprado, trocado ou repudiado e a relação opressor/oprimido foi instalada, a mulher usou a única arma que tinha para se defender: o seu corpo. Controlando a satisfação das exigências sexuais masculinas, conseguia obter em troca vantagens, assim como jóias, vestidos, etc.

Homossexualismo

Na Grécia clássica os termos homossexual e heterossexual eram desconhecidos. Para eles todo indivíduo poderia ter preferência por rapazes ou moças, dependendo da idade e das circunstâncias. A homossexualidade era uma prática necessária dos ritos de passagem da juventude cívica. A efebia - relação homossexual grega básica - se dava entre um homem mais velho e um mais jovem. Com o objetivo de educar, treinar e proteger o jovem. Ambos desenvolviam uma paixão mútua, mas deveriam saber dominar essa paixão.

Com o cristianismo a homossexualidade foi passível de pena de morte. Qualquer prática sexual que não levasse a procriação era cruelmente punida. Acreditava-se que por causa destas atividades (violação contra a natureza) ocorriam fomes, terremotos e pestes.

Em 1869 é criado o termo homossexual e foi incorporada ao campo da medicina. O homossexualismo deixa de ser uma perversidade que é preciso condenar e passa a ser uma doença que se deve compreender e tratar.

As causas do homossexualismo

O homossexualismo é muito comum na natureza. É tão comum em outras espécies, que a homossexualidade humana chega a ser notável, não por sua prevalência, mas por sua raridade.

Sabe-se muito pouco sobre as causas da homossexualidade. Pesquisas revelam que as relações com pessoas do mesmo sexo não foram criadas por uma forma particular de organização social, mas seria antes uma forma fundamental de sexualidade, que se exprime em todas as culturas.

São várias as hipóteses da origem da homossexualidade. Para Freud, o ser humano é biologicamente bissexual. A orientação sexual - homo ou hetero - seria determinada na infância. A forma como é vivida a relação amorosa da criança com a mãe, na fase do complexo de Édipo, determina o bloqueamento ou estimulação da orientação sexual.

Outros autores não aceitam a idéia da homossexualidade universal e partem para hipóteses que a homossexualidade é devida a anomalia endócrina, genética ou fatores físicos de algumas pessoas.

Com o surgimento do anticoncepcional ocorreu uma dissociação entre o ato sexual e a reprodução, revolucionando os valores e normas relativos à sexualidade. Assim um alto nível de prazer sem a menor possibilidade de reprodução - como a homossexualidade - foi beneficiada socialmente. Os homossexuais puderam então sair da clandestinidade. A prática foi aceita, mas não extinguida de preconceitos.

O Movimento Gay nasce disposto a mostrar que o heterossexual não é a única forma de sexualidade normal. No primeiro momento reivindicam o direito à diferença, após algum tempo, lutam pela indiferença. Anseiam serem olhados como seres humanos.

Os machos heterossexuais que perseguem o ideal masculino da nossa cultura, portanto prisioneiros da ideologia patriarcal, utilizam-se dos homossexuais como contraste psicológico para a afirmação de sua masculinidade.

O homem homossexual é aquele que tem atração por outro homem, não significando que deseje ser mulher. A orientação afetivo-sexual é algo interno da pessoa e não depende de uma escolha pessoal. A escolha é se a pessoa vai esconder ou exteriorizar sua orientação. Pode acontecer de a pressão social ser tão forte que ele renuncie à realização dos seus desejos e passe toda a vida insatisfeito e em desespero.

Geralmente é na adolescência que a orientação afetivo-sexual começa a ser percebida. É comum o adolescente não compartilhar os mesmo interesses de seu grupo de amigos, senta-se diferente, mas não entende muito bem o que está acontecendo. Com este conflito interno, ele confunde amizade, amor e desejo sexual. Aceitar-se como homossexual é para a maioria um processo difícil, cheio de dúvidas e medos.

A pessoa homossexual só se estabilizará psicológica e emocionalmente quando aceitar esses sentimentos e esse modo de vida para si mesmo. Quando tiver claro para si que são formas de amor e vida ainda condenados e abominados pela sociedade. Com isso, ele não mais incorporará para si o que pensa a sociedade a seu respeito.

A maioria dos heterossexuais acredita que os gays são facilmente identificados por características físicas, modo de se vestir e se comportar. Na verdade a maioria dos homossexuais não pode ser identificada por sinais externos. Observa-se, no século XX, que os homossexuais se dividem entre uma maioria que se esforça para esconder a sua sexualidade e uma minoria que exibe uma feminilidade caricata.

O Movimento Gay contribuiu para livrar muitos homossexuais da culpa, mas não acabou com o estereótipo. Nas grandes cidades, surgiram também gays que substituíram a feminilidade ostensiva por uma expressão da sexualidade teatralmente masculina (barbas, músculos, etc).

O homossexual que realmente se aceita não representa a bicha louca nem o hipermacho. Situa-se fora dos estereótipos sexuais criados pelo patriarcado. Assim como não é comum encontrar homens e mulheres autônomas, é provável que a proporção de homossexuais livres de estereótipos se compare à dos heterossexuais.

O hipermacho e a bicha louca são vitimas de uma imitação alienada dos estereótipos heterossexuais masculino e feminino. Entretanto, os mais mutilados são os homossexuais que interiorizam a rejeição dos heterossexuais. São os homófobos, os que odeiam os homossexuais e, portanto, odeiam a si mesmos.

A autora coloca que a provável razão da persistência de hostilidade dos homens heterossexuais seja o temor secreto dos próprios desejos homosexuais. A homofobia serve para o heterossexual deixar claro para os outros que ele não é homossexual.

Nas sociedades patriarcal a homossexualidade feminina sempre foi mais tolerada. Causa mais curiosidade entre os homens do que aversão.

Socialmente existe maior liberdade para as mulheres se tocarem, se beijarem, se aconchegarem, manifestando carinho umas pelas outras. Deixando a relação amorosa entre elas menos aparente.

Pesquisas mostram que o relacionamento entre mulheres lésbicas é diferente de dois homens gays. As lésbicas constituem relacionamentos mais estáveis e duradouros e não sentem necessidade de reproduzir o padrão de relacionamento heterossexual, onde um tem poder sobre o outro. Entre elas existe a possibilidade de viver uma relação em que duas pessoas são iguais, fora dos estereótipos patriarcais de gênero.

Foi observado que as relações sexuais entre lésbicas tendem a ser mais demoradas, envolvendo maior sensibilidade do corpo todo, já que o orgasmo não marca automaticamente o final da sensação sexual. Uma proporção menor de lésbicas do que de mulheres heterossexuais têm casos fora de seus relacionamentos principais e em geral quando se separam ficam amigas de ex-amantes.

Virgindade

A perda da virgindade é para o rapaz um ganho, simboliza a sua capacidade masculina. Para as meninas, ao contrário, a preocupação com a escolha do momento e das circunstâncias certas retarda a iniciação sexual que para elas ainda está relacionada à narrativa romântica.

As atitudes em relação à virgindade variam bastante em cada cultura. Nas sociedades patriarcais, o controle da sexualidade feminina tinha como propósito a garantia de que o filho daquela união seria produto de ambos os parceiros, além disso, uma virgem era mercadoria valiosa. Mas em todas as culturas a virgindade feminina é mais digna de nota e mais importante que a masculina. Desse modo, o prazer sexual feminino é mais rigorosamente policiado e mais facilmente controlado.

A repressão da sexualidade feminina sempre teve a intenção de bloquear o sexo até o casamento, na medida em que sexo e reprodução estavam intimamente ligados.

Hoje se observa um crescente número de moças que não casam virgens. Mas a virgindade não perdeu tanto sua importância como se possa pensar.

Mesmo as mães que se consideram liberadas e viveram as transformações da década de 70, não tendo inclusive casado virgens, passam muitas vezes preconceitos moralizantes quanto ao sexo através de um discurso dúbio.

Orgasmo

Orgasmo é o prazer físico mais intenso que um ser humano pode experimentar e foi durante longos séculos privado para as mulheres.

Até meados do século XIX, quando o amor não fazia parte do casamento, havia uma regra para a vida do casal. Caso um do dois cônjuges recusasse o ato sexual, recorria-se ao confessor que censurava e podia negar a absolvição e a comunhão.

Na era vitoriana, há cem anos, a falta de desejo sexual era um importante aspecto da feminilidade.

Mais tarde, o orgasmo feminino foi admitido com muita cautela. A mulher que gozava sem amor era tida como ninfomaníaca, ao passo que o homem casado que freqüentava os bordéis era considerado normal.

No século XX, estudos sobre a sexualidade humana como os de W. Reich, elevaram a sexologia a um ramo legítimo das ciências humanas.

A resposta sexual - orgasmo

Masters e Johnson dividiram em quatro fases distintas as reações fisiológicas aos estímulos sexuais:

- Fase de excitação: desenvolve-se a partir de qualquer fonte de estímulo físico ou psíquico. Se o estímulo estiver sujeito a objeções físicas ou psicológicas, ou se for interrompido, a fase de excitação pode prolongar-se muito ou interromper-se.

Os estímulos que provocam excitação chegam a certas regiões do cérebro ocasionando diversas reações corpóreas neurológicas, musculares, endócrinas e vasodilatadoras. Assim, os órgãos genitais passam do estado de repouso para o de excitação.

Os homens excitam-se principalmente com estímulos visuais e a mulher com estímulos táteis. Além dessa diferença, a mulher se excita em geral mais lentamente do que o homem.

- Fase de Platô: nesta fase a excitação sexual é intensificada e atinge o nível máximo. O coração bate mais rápido e a respiração mais intensa. Para a mulher é importante que essa fase se prolongue, permitindo que o sangue irrigue adequadamente toda a cavidade pélvica propiciando um orgasmo satisfatório. No homem, o corpo cavernoso e o corpo esponjoso já estão cheios de sangue, fazendo com que a ereção seja total.

Há uma diferença de tempo entre o período de excitação do homem e da mulher. Ela precisa do triplo de sangue para encher a cavidade pélvica onde está seu genital e garantir uma excitação constante e uma lubrificação adequada. O tempo varia de mulher para mulher, mas geralmente nunca é menor do que quinze ou vinte minutos.

A duração desta fase depende da combinação entre a eficiência dos estímulos utilizados e a necessidade pessoal de cada um para chegar à excitação máxima. Se os estímulos forem inadequados ou suprimidos, não haverá orgasmo e da fase de platô passa-se direto - mas vagarosamente - para a fase final de resolução.

Orgasmo: é experimentado de forma subjetiva pelas pessoas. É uma fase de muito menor duração que as anteriores, mas de altíssimo nível de prazer. O orgasmo consiste-se de contrações rítmicas e involuntárias dos músculos do aparelho genital. Geralmente o orgasmo masculino ocorre simultaneamente à ejaculação, embora possa existir independente dela. As sensações produzidas são de intenso alívio, como se libertar bruscamente de uma carga de tensão acumulada durante certo tempo.

Resolução: a partir do ponto culminante do orgasmo o individuo é envolvido por uma sensação de plenitude e bem-estar.

A mulher pode entrar nesta fase após um único orgasmo ou após vários consecutivos. E também pode retornar a uma nova experiência orgástica a qualquer momento, desde que submetida a novos estímulos. No homem, geralmente existe um período refratário que varia de duração. Sua capacidade fisiológica para responder à nova estimulação após a ejaculação é muito mais vagarosa.

Estudos comprovaram que a capacidade para o orgasmo é uma resposta aprendida, que uma determinada cultura pode ou não ajudar as pessoas a desenvolverem.

Em 1980, foram apresentados no congresso nacional da Sociedade para o Estudo Científico do Sexo, resultados de estudos onde foi demonstrado que os orgasmos femininos não implicam necessariamente o clitóris e também que o orgasmo clitoriano não é imaturo, como dizia Freud. No mesmo congresso, tomou-se conhecimento pela primeira vez do trabalho de John Perry e Beverly Whipple sobre o ponto G e a ejaculação feminina.

O ponto G localiza-se na parede anterior da vagina, a cerca de cinco centímetros da entrada. O ponto foi encontrado em todas as mulheres por eles examinadas. Quando adequadamente estimulado, o ponto G intumesce e leva muitas mulheres ao orgasmo. No momento do orgasmo, muitas mulheres ejaculam pela uretra um líquido quimicamente semelhante ao sêmen masculino, mas sem conter espermatozóides.

A maioria dos ginecologistas desconhece o ponto G e o ignoram, porque durante um exame ginecológico essa área é apalpada e não estimulada. Em seu estado de repouso, é relativamente difícil de ser localizada.

Para descobrir se o ponto G existe em todas as mulheres, foram examinadas quatrocentas que se ofereceram como objeto de estudo. O ponto foi encontrado em todas elas.

Algumas mulheres relatam sensações orgásticas durante o parto. É possível que o ponto G seja estimulado durante a passagem do bebê pelo canal vaginal.

Orgasmos múltiplos sempre fora vistos como um mito e privilégio de algumas mulheres. Mas, toda mulher pode ter essa aptidão, para isso ela deverá conhecer sua sexualidade, ganhar autonomia livrando-se de tabus e preconceitos. O homem também tem grandes responsabilidades para o prazer da mulher. É necessário que ele conheça o corpo feminino e as partes mais sensíveis de sua parceira. Para que a mulher tenha orgasmos múltiplos o movimento do pênis deve ser lento, variando a trajetória de forma a tocar toda a parede do canal vaginal e não interrompa seu movimento após o primeiro orgasmo da mulher. A mulher, muitas vezes, por não conhecer seu próprio corpo, após o primeiro gozo solicita ao parceiro que para que encerre a excitação, alegando estar muito sensível e confundindo com desprazer outro orgasmo que se aproxima.

O homem também pode ser multiorgástico, isto é, ter dois ou mais orgasmo consecutivos sem passar pelo período refratário. Para conseguir continuar a ereção após o primeiro orgasmo é necessário que ele aprenda ter orgasmos completos sem ejacular. Não havendo ejaculação, não há período refratário e não há perda de ereção. O orgasmo múltiplo masculino é aprendido através do controle do músculo pulbococcígeo. É este músculo que na ejaculação se contrai, levando o sêmen através do pênis para ser expelido. O orgasmo e a ejaculação são controlados por centros superiores cerebrais distintos.

Dificuldades Sexuais

As disfunções sexuais podem ser localizadas nas fases do desejo, da excitação, ou do orgasmo da resposta sexual.

Fase do Desejo

Inibição do desejo sexual: Em alguns casos a falta do desejo faz com que o indivíduo nunca busque qualquer situação sexual. Mas, ele pode ter relações sexuais e ter orgasmo. As causas dessa disfunção podem ser: educação extremamente repressora, que leva na maioria das vezes a mulher a sentir vergonha e culpa em relação ao sexo; pela própria rotina da vida conjugal ou devido a mágoas e ressentimento; e causas orgânicas como doenças hormonais, doenças pélvicas infecciosas, alcoolismo, diabetes, uso de anorexígenos, antidepressivos, e outras drogas. Para um bom encaminhamento as causas devem ser cuidadosamente investigadas.

Excesso de desejo sexual ou hipererosia: A insaciedade sexual nas mulheres denomina-se ninfomania e nos homens satirismo ou satiríase e caracteriza-se pela busca infindáveis de parceiros(as) como objetos de obter satisfação sexual, porém raramente conseguido. As causas desse distúrbio são psicológicas, como tensões emocionais, baixa auto-estima, necessidade patológica de se sentir aceita pela figura do sexo oposto, negação do homossexualismo ou necessidade de provar que não é frígida.

Fase de Excitação

Disfunção sexual geral: A mulher sente pouco ou nenhum prazer com a estimulação sexual. Pode até ter orgasmo, mas o contato físico lhe é desagradável; quer que termine logo. Anteriormente denominava-se frigidez. As mulheres que sofrem dessa disfunção podem ser divididas em dois grupos: disfunção primária, quando a mulher nunca experimentou o prazer sexual com nenhum parceiro, em qualquer situação; disfunção situacional ocorre quando a mulher não sente prazer com o marido, mas com outro homem tem prazer sexual. Se for uma situação primária, independente da situação, é indicada uma terapia sexual. No caso da disfunção situacional o casal deve avaliar a própria relação. Podem ocorrer nessa fase o vaginismo e a dispareunia, problemas relacionados à disfunção sexual geral.

Vaginismo e dispareunia: Os órgãos genitais da mulher com vaginismo são anatomicamente normais, mas a contração involuntária da musculatura da entrada da vagina e os músculos do ânus impedem totalmente a introdução do pênis. Se ao tentar a penetração a mulher sentir fortes dores trata-se de dispareunia. A mulher pode chegar ao orgasmo com a estimulação do clitóris. O fator psíquico está sempre presente nessas disfunções até, quando a afecção tem origem orgânica como, tricomonas, fibroma, quisto de ovário, infecção do aparelho genital.

Disfunção erétil (impotência): É a incapacidade do homem para realizar a relação sexual de modo satisfatório, apresentando dificuldades em obter ou manter a ereção rígida do pênis. Nossa sociedade associa virilidade com ereção do pênis, além de impor ao homem estar sempre pronto para o sexo e nunca falhar. O problema da impotência é que ela não pode ser escondida, diferente da mulher frigida que pode fingir um orgasmo. A falta do que ele acredita ser a própria essência da sua virilidade faz desmoronar sua auto-imagem, afetando sua vida psíquica. O pavor de novo fracasso pode criar um circulo vicioso. Quanto mais o homem fica ansioso e preocupado com o seu desempenho maior a contração dos vasos sanguíneos e menor o fluxo de sangue para o pênis. Existem duas categorias clínicas, impotência primária, nunca ter tido ereção com uma mulher, embora consegui-la com a masturbação ou espontaneamente em outras situações. Impotência secundaria, ser potente durante algum tempo, até o desenvolvimento da disfunção erétil. As causa da impotência podem ser de origem orgânica: endócrinas, vasculares, neurológicas, urológicos, farmacológicas. Ou de origem psicológicas: medo do fracasso, ansiedade, sentimentos de culpa, preocupações, traumas infantis, etc.

Fase de orgasmo

Falta de orgasmo: a impossibilidade total ou parcial de atingir o orgasmo denomina-se anorgasmia e é mais freqüente em mulheres. As causa orgânicas (neurológicas, endocrinológicas ou ginicológicas) são muito raras. A maioria das causas é psicológica. Paradoxalmente as formas mais severas (nunca ter experimentado o orgasmo) de inibição orgástica são mais facilmente influenciadas pela terapia do sexo do que as benignas. É muito freqüente nas mulheres anorgásmicas o medo de perder o controle sobre as sensações e o comportamento. O medo de se entregar, mesmo sem perceber, faz com que a excitação não atinja a fase de platô, excitação necessária para desencadear o orgasmo. Às vezes, o homem tem uma certa parcela de culpa por sua parceira não chegar ao orgasmo. Por desconhecimento ou ansiedade inicia a penetração quando a mulher não esta suficientemente excitada e lubrificada. Estudos relatam que o melhor jeito para a mulher conhecer o seu corpo e aprender a gozar é através da masturbação.

Ejaculação precoce: essa é a mais comum das disfunções sexuais masculina. Nela, o homem é incapaz de exercer controle sobre seu reflexo ejaculatório. Por alguma razão o homem que tem esta disfunção nunca aprendeu a focalizar sua atenção nas sensações que anunciam o orgasmo e por isso não adquiriu o controle voluntário adequado. No tratamento da ejaculação precoce há exercícios que devem ser feitos com a colaboração da parceira, como o da técnica de compressão e outros que o homem faz sozinho durante a masturbação. No método 'pare-reinicie', o homem se estimula até sentir que se aproxima o ponto de inevitabilidade ejaculatória. Pára, então, o estímulo e permite que a excitação prossiga. Isso é repetido duas ou três vezes até, por fim, ejacular.

Ejaculação retardada: é a inibição específica do reflexo ejaculatório. O homem responde aos estímulos sexuais com sensações eróticas e ereção firme. Embora queira o alívio orgástico, é incapaz de ejacular. O grau de gravidade varia de uma inibição ocasional, até ao ponto, de uma inibição de tal ordem, que o homem nunca experimentou um orgasmo. Entretanto, com freqüência ejaculam sem dificuldade com a estimulação manual ou oral pela parceira, só atingem o orgasmo se retirarem o pênis do canal vaginal e se masturbarem.

Práticas sexuais

A autora aborda comportamentos sexuais assumidos por homens e mulheres, mas que, por não levarem à procriação, já foram objeto de severas punições e até hoje são vistos com preconceitos e tabus. As mais comuns são a masturbação, o sexo oral e o sexo anal.

Masturbação

A masturbação foi condenada por milênios e puída com a morte. Durante muito tempo se acreditava que a masturbação causava ataques epiléticos, loucura, reumatismo, impotência, acne, asma, etc. No século XVIII, eram colocados nos meninos um perverso anel de metal com quatro pregos voltados para dentro, para evitar a ereção. Nas meninas eram colocados cintos constritivos ou eram feitas clitoridectomias. Até hoje alguns adolescentes não tem certeza que não sofrerão nenhum tipo de prejuízo com a masturbação, já que a idéia do pecado ainda está presente, provocando culpa e medo.

Com a influência das teorias de Freud sobre a sexualidade infantil, começaram a considerar a masturbação na infância e na adolescência normal.

Hoje a masturbação na infância e na adolescência é vista pelos sexólogos como uma prática fundamental para a satisfação sexual na vida adulta, por permitir um autoconhecimento do corpo, do prazer e das emoções.

Sexo oral

O sexo oral é a atividade heterossexual mais praticada antes da cópula. Entretanto, muitas pessoas evitam essa prática sexual ou a utilizam, sentindo-se ansiosas e constrangidas, apenas para agradar o parceiro. Além dos preconceitos morais, existe também a idéia de que o sexo oral-genital não seria uma atividade higiênica.

Só é possível um casal desenvolver uma sexualidade realmente satisfatória se houver uma comunicação franca. O sexo é um aprendizado e alguns comportamentos, como o sexo oral, exigem além de descontração, um grau de orientação e informação entre os parceiros para que os dois possam estimular e serem estimulados de forma prazerosa.

Sexo anal

Apesar de toda a condenação das atividades sexuais que não levam a fecundação, o sexo anal sempre foi praticado.

Independente da penetração, a estimulação anal é muito excitante para homens e mulheres. O fato de um homem sentir prazer em ser estimulado no ânus ou de desejar fazer sexo anal com uma mulher freqüentemente não significa tendências homossexuais. O que define o homossexualismo é o desejo sexual por alguém do mesmo sexo e não a área do corpo que proporciona prazer.

O sexo anal, assim como tantas outras práticas sexuais, só se justifica se for prazeroso para ambos os parceiros e não por obrigação ou para agradar o outro.

 

Cap.5 - Conclusão da autora

O patriarcado dividiu a humanidade em duas partes - homens e mulheres -, opondo uma à outra, definindo claramente os papéis de cada uma e aprisionando ambas. Com a ajuda de algumas idéias e dogmas da igreja e da filosofia, a subordinação da mulher passou a ser vista como natural, universal, inquestionável, imutável. O patriarcado se estabeleceu como ideologia e realidade.

O patriarcado é um sistema histórico e, portanto, pode terminar também por um processo histórico. Os seres humanos, devido às suas mentes superiores, podem transformar rapidamente padrões de comportamentos.

Após esse longo período de submissão sexual e econômica, as duas metades da humanidade despertaram. Desencadeou-se um processo de questionamento da premissa maior da sociedade patriarcal.

O movimento ecológico ganha força. A conquista da natureza - tanto tempo considerado uma virtude do homem - deixa de ser admirada. E preservá-la passa a ser a nova ordem. As escolas passaram a ser mistas e todas as profissões tornaram-se acessíveis às mulheres. O controle da fecundidade da mulher e a divisão de tarefas - pilares do patriarcado - são coisas do passado. Surge um novo pai que alimenta, troca fraudas e passeiam sozinhos com seus filhos.

O fim do patriarcado traz nova reflexão sobre o relacionamento entre homens e mulheres, o amor, o casamento e a sexualidade. Nossas convicções íntimas mais arraigadas são abaladas, projetando-nos num vazio. Os modelos do passado não respondem mais aos nossos anseios e nos deparamos com uma realidade ameaçadora, por não encontrarmos modelos em que nos apoiar, em tempo algum, em nenhum lugar.

Essa pode ser a grande saída para o ser humano. Percebendo as próprias singularidades e não tendo mais que se adaptar a modelos impostos de fora, abre-se um espaço, onde novas formas de viver, assim como novas sensações, podem ser experimentadas.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

A autora enfatiza, no seu livro, como o sistema cultural influencia e é influenciado pela religião; e como estes sistemas direcionam e moldam os valores, regras, formas, entre outros fatores dos sistemas familiares e individuais. A cultura está tão intrínseca na essência de algumas pessoas que elas não distinguem o que desejam realmente; são marionetes de forças externas.

O mais interessante que consegui perceber, é que as regras e as estratégias, que talvez fossem funcionais no início do patriarcado e da sociedade industrial, hoje perderam sua funcionalidade, são disfuncionais. As repetições destes modelos impostos - destes mitos -, hoje causam angústias e sintomas sociais, familiares e individuais.

Nos dias atuais, a felicidade individual, a busca de uma 'missão' aqui na Terra e a responsabilidade de cada pessoa por sua trajetória, está sobreposta ao conceito, ao julgamento que a sociedade faz de nós.

Regina Navarro é realista e fria em escrever seu livro. Confesso, que de inicio, para mim - uma pessoa apaixonada e presa ao mito do amor romântico - foi muito difícil ler e olhar sob os olhos da autora, principalmente os capítulos que falam sobre o amor e o casamento. Mas agora, depois de ler, reler e refletir; aceito e concordo que o amor acaba, que o desejo por outras pessoas existe e que o casamento tem que durar até quando for satisfatório para ambas as partes. Mas, com certeza, se valer a pena, existem variadas estratégias para reacender este amor.

 

Nome do autor da resenha e data: Beatriz K. Goulart / Out - 2002.