Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A essencial arte de parar

 

Autor do Livro:

David J. Kundtz

 

Editora, ano de publicação:

Sextante, 1999 (2 a edição)

 

Relação dos capítulos

Parte I - Parando à velocidade da luz

Capítulos:

  1. Enfrentando a Montanha do Demais
  2. Por que Não Adianta Comprimir e Cortar
  3. Não Fazer Nada
  4. Um Trem Rápido no Trilho Rápido
  5. Parando à velocidade da Luz
  6. Vivendo com um Propósito: da Rotina à Escolha
  7. Parando antes de Tudo
  8. A Contemplação Contemporânea
  9. Descobrindo as Pausas entre as Notas
  10. Parado: Desperto e Recordando
  11. Pare e Vá em Frente

Parte II - Os Três Modos de Parar

  1. Pausas Breves, Escalas de Viagem e Paradas Gerais
  2. Pausas Breves: Essência do Processo de Parar
  3. A Respiração é uma Inspiração
  4. Pausas Breves num Mundo em Torvelinho
  5. Escalas de Viagem: Mais Coisas Boas
  6. Esse É o seu Corpo Falando
  7. Desculpas, Desculpas!
  8. Os Divisores de Água e as Marés da Vida
  9. As Paradas Gerais São Boas para Você
  10. Crescendo "Como o Milho durante a Noite"
  11. Descobrindo e Libertando a Sua Verdade
  12. A Espiritualidade Cotidiana

Parte III - Os Frutos de Parar

  1. Os Benefícios de Parar
  2. O Fruto da Atenção
  3. O Fruto do Relaxamento
  4. O Fruto da Solidão
  5. O Fruto da Abertura
  6. O Fruto dos Limites
  7. O Fruto de Abraçar a Sua Sombra
  8. O Fruto do Propósito

Parte IV - Explorando os Benefícios de Parar

  1. Descendo até as Raízes
  2. Quando a Sociedade Diz "Não"
  3. Tenho Medo!
  4. Vendo o Inimigo
  5. Tomando Posse do Seu Medo
  6. Um Alívio Revelador
  7. O Pensamento Indispensável do Médico
  8. Contando a Deus
  9. Uma Ajuda para Obter Ajuda
  10. Sim, mas...

Parte V - Descobrindo a Sua Maneira de Parar

  1. "Parando num Bosque num Fim de Tarde com Neve"
  2. Permissão Concedida para Simplesmente Ser
  3. A Trilha para o Seu Bosque de Parada
  4. Parando enquanto se Vai Daqui para Ali
  5. Parando em Movimento
  6. Os Jovens, os Velhos e os Violentos
  7. Parar É se Importar e Cuidar
  8. Confie em Você Mesmo

 

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

I Parte: Parando à velocidade da luz

1 o capítulo: "Enfrentando a Montanha do Demais"

O autor cita neste capítulo o exemplo de uma cliente sua, que se queixava de não conseguir lidar com tudo, que existiam coisas demais. Explica que o problema do "demais", atualmente, faz parte da vida de todos nós. As prioridades da vida perdem-se pelo excesso de compromissos: a quantidade de atividades se avoluma, mas não há aumento de tempo e energia disponíveis. Apresenta o exemplo de um monte de pedras que vai aumentando, até, em determinado momento, transformar-se em montanha. Esta requer estratégias diferentes de escalada, por ser uma realidade nova. Assim é com o "demais": os velhos métodos não funcionam, e nos tornamos estressados pelo ritmo acelerado que a vida tomou.

Novos métodos e técnicas são necessários. Para isso, pode-se aprender a parar, aprender a não fazer nada em alguns momentos.

2 o capítulo:

Kundtz explica que os métodos usados no passado para lidar com o "demais" - comprimir ou cortar coisas - atualmente não funcionam mais. Relata que em seus workshops o que mais ouve é: "sentimos como se estivéssemos sendo levados de roldão pela vida, sem realmente vivê-la".

3 o capítulo:

À definição formulada para parar , o autor chegou pela própria experiência: "Parar é ficar sem fazer nada o máximo possível, por um período definido de tempo (de um segundo a um mês), com o propósito de se tornar mais totalmente desperto e saber quem você é."

Não fazer nada não deve ser confundido com uma falta total de atividade. Não fazer nada é permitir que a vida de cada um aconteça. Parar permite que escolhamos a direção desejada, aquilo que é melhor para nós, que sigamos em frente. Leva-nos a recordar nossos valores e identidade, e o que é realmente importante para nós.

A calma decorrente do "parar" beneficia qualquer um e é algo simples: pode-se parar em qualquer lugar e hora.

4 o capítulo:

O processo de parar é muito diferente de desacelerar. Kundtz cita um trecho da obra de Rechtschaffen para definir o "engate": "processo inconsciente que governa a forma como ritmos diversos entram em sincronia uns com os outros". Pêndulos não sincronizados de dois relógios em pouco tempo entram em sincronia e o mesmo processo se dá com partículas atômicas, marés e com os seres humanos. É desta forma que, mesmo sem o desejar, entramos na velocidade.

5 o capítulo:

O processo de parar, segundo Kundtz, "ocorre no contexto de um mundo muito rápido que não espera por ninguém, de tal forma que, se você não puder acompanhá-lo, irá ficar para trás". Parar várias vezes durante um dia muito agitado permite que se chegue ao final do dia em forma, ao invés de exausto e deprimido.

6 o capítulo:

Antigamente o ritmo natural da vida permitia um equilíbrio entre o trabalho calmo e o ativo. Um dos exemplos que o autor cita é o uso da caneta tinteiro: acabada a tinta, um banqueiro seca com cuidado o que já escreveu e segue toda uma série de procedimentos até poder continuar a escrever. Durante este período de tempo, ele está fazendo uma parada breve.

Estamos hoje muito distantes deste ritmo, que permitia momentos de parada, recordação, percepção e contemplação. O objetivo de parar é criar espaço para estes momentos, mas a finalidade principal é viver intencionalmente consciente.

7 o capítulo:

Acompanhando pacientes terminais, Kundtz ouviu muitas vezes frases como - "Se pelo menos eu soubesse", ou, "se alguém me tivesse dito...", significando que estas pessoas teriam vivido de modo bem diferente, conforme a verdade que só percebiam no momento final. Sentiam tristeza profunda. Kundtz pergunta-se o que seria necessário para evitar esta tristeza, e reflete que a resposta só poderá ser encontrada em momento de calma, "permitindo que se ouçam verdades difíceis, e num ritmo que permita que sejam absorvidas".

8 o capítulo:

O parar é denominado pelo autor como "contemplação contemporânea", indicado para indivíduos que procuram uma forma simples, porém eficaz de lidar com uma vida muito atarefada. São feitas várias considerações sobre a meditação.

Neste capítulo também é explicado que o fracasso de muitos projetos bem intencionados deve-se ao fato de serem iniciados a partir de uma posição atarefada, distraída e dispersa em excesso.

O excesso de tarefas, distração e dispersão também inviabilizam a imaginação, sem a qual não há sonhos, nem a realização deles. O parar também aumenta nossa receptividade e a obtenção de êxito naquilo que queremos adotar ou praticar.

9 O capítulo:

Kundtz justifica a constante citação de poetas (principalmente no início de cada capítulo) por estarem estes sempre olhando para a vida e consequentemente, vendo e descobrindo coisas diferentes. Cita Rilke, que disse de si ser "a pausa entre duas notas". Kundtz prossegue lembrando que é nas pausas que reside a arte de viver.

10 o capítulo:

Traz o exemplo de dois viajantes diante de uma encruzilhada. Um deles está parado, atento e sem pressa, escolhendo no momento certo a estrada para seguir viagem. O outro vem afobado, disperso, perdendo coisas pelo caminho, incapaz de perceber qual a orientação correta e toma o lado mais próximo. O autor observa que com freqüência adotamos o modelo do segundo viajante. Lembra também que o parar nos ajuda a reconhecer quem somos e o que pretendemos, os motivos que nos levaram a fazer o que estamos fazendo, a fim de avaliar se queremos continuar nesta direção.

É citado o poeta Robert Bly, que falava de uma bolsa que arrastamos, contendo partes nossas de uso esquecido - nossa inocência, espontaneidade e jovialidade. A parada permite recuperá-las. Despertar e recordar são os elementos essenciais de parar.

11 o capítulo:

Parar é dar tempo e condições suficientes para lembrarmos as perguntas importantes de nossa vida, e as respostas que a elas estamos dando neste momento. "Aproveite o dia" (Carpe diem) sugere aproveitar o momento presente, as chances que surgem.

Para Kundtz, correr atrás dos sonhos, como sugere o "Carpe diem", requer que se saiba qual é o sonho. Antes de aproveitar algo, busca e arriscar é melhor saber o que se está querendo, para assim poder tirar o proveito que realmente se quer.

II Parte: Os três modos de Parar

12 o capítulo:

Há três níveis de parada, de acordo com sua duração: Pausas Breves, Escalas de Viagem e Paradas Gerais.

Pausa Breve : é não fazer nada apenas durante poucos segundos ou minutos. "Destinam-se a aproveitar os momentos vazios - por exemplo, quando se pára num sinal de trânsito".

As Escalas de Viagem são paradas que duram entre uma hora a vários dias.

Paradas Gerais ocorrem poucas vezes para a maioria das pessoas. Duram de uma semana a um mês ou mais.

Seja qual for o tipo de parada, quanto mais freqüentes forem e quanto maior a duração do tempo, maior a duração dos efeitos. O objetivo é ajudar a lembrar que tudo que se tem é o "agora".

13 o capítulo:

De acordo com o autor, as pausas breves constituem toda a base do processo de parar. A grande vantagem destas pausas é poderem ser incorporadas ao dia a dia com "um mínimo de trabalho e um máximo de eficácia".

O processo é simples: pára-se o que se está fazendo, sentado ou de pé, respira-se fundo, com olhos abertos ou fechados, e se focaliza a atenção no mundo interno, recordando o que for preciso. A recordação pode ser a lembrança de uma crença, um fato motivador, uma oração pedindo força ou paz, etc.

Esta pausa tem uma parte física (ficar parado e respirar) e uma espiritual (lembrar de aspectos ou situações que tragam bem estar). Uma respiração profunda e deliberada e um momento de recordação silenciosa constituem a essência da pausa breve.

14 o capítulo:

Este capítulo trata da respiração. Kundtz narra a experiência pela qual passou durante um exercício de respiração. Explica que "respirar conscientemente significa respirar profunda e deliberadamente (...) é começar a respiração lá no fundo da barriga e ir levando até o peito". O autor explica como aprender a fazê-lo e quais os benefícios que esta respiração traz: coloca-nos em contato com o momento presente, relaxa os órgãos internos pela massagem que promove, aumenta a percepção que se tem de si próprio, proporcionando expansão física e espiritual.

15 o capítulo:

A respiração é a "pedra de toque" das pausas breves. São citadas várias situações nas quais se pode fazer as pausas breves: no banheiro, num intervalo programado, caminhando de uma tarefa para outra, numa situação tensa, quando a gente se sente empacado, indo e voltando do trabalho.

As pausas breves podem ser intensificadas pelo acréscimo de diálogos consigo mesmo, ou declarações simples e curtas no início ou fim da pausa.

16 o capítulo:

Trata das Escalas de Viagem. Fazer este tipo de parada é "cair fora durante algum tempo e com isso sentir-se renovado e pronto para seguir adiante". As escalas de viagem exigem uma forte motivação para serem feitas, de modo que é importante lembrar os objetivos, manter as coisas importantes em primeiro lugar. Kundtz sugere que se tire umas férias fazendo este tipo de parada - podem ser as melhores de nossa vida.

17 o capítulo:

São apresentados vários depoimentos de pessoas que passaram por este tipo de parada, e os benefícios que experimentaram. A forma desta parada foi escolhida de maneira diferente por cada um que relatou sua experiência.

18 o capítulo:

Este capítulo aborda a questão da doença: "A doença é freqüentemente o modo que o corpo tem de falar conosco e nos obrigar a parar quando nossas mentes e corações estão excessivamente sobrecarregados". No entanto, a parada por motivo de doença é ineficaz e ineficiente, porque a mente não está receptiva, e dificilmente se prende ou valoriza algo nestas condições.

19 o capítulo:

Falando das Escalas de Viagem, Kundtz observa que a "incorporação consciente das Escalas de Viagem nas nossas vidas não é tarefa fácil". Várias desculpas são usadas, mas provavelmente o que mais provoca a resistência é o medo de si próprio - de descobrir problemas, de se encontrar consigo próprio. Estes medos são naturais, e serão abordados mais adiante.

A Escala de Viagem é "como uma expressão de amor e carinho consigo mesmo (...) um ato de generosidade para quem convive com você e para com o mundo em geral".

20 o capítulo:

A parada Geral, que requer um período maior, acontece poucas vezes durante a vida. Geralmente "marca uma transição ou decisão significativa na vida de alguém".

O autor fala de sua experiência pessoal, em um momento de crise profunda: decidir abandonar o sacerdócio. Explica que "durante as grandes transições, a influência do espiritual tem uma força enorme, quase magnética, porque essas mudanças maiores sempre dizem respeito a nossos valores e significados de vida".

21 o capítulo:

Escrevendo que as Paradas Gerais "nos oferecem um tempo produtivo para chegarmos a uma alternativa sadia", o autor apresenta vários relatos de outras pessoas que fizeram este tipo de parada.

22 o capítulo:

Para explicar como funcionam os três tipos de parada é usada a metáfora do computador e da minuciosa investigação interna que ele usa. O processo que se dá na parada não precisa ser consciente: basta "abrir um pouco de espaço e tempo ao seu redor, e sua mente e alma resolverão o problema". É citada a experiência que H.P. Thoreau teve ao fazer uma parada geral.

23 o capítulo:

Neste capítulo Kundtz diz que Parar "funciona porque permite e facilita o surgimento da verdade", a verdade pessoal de cada um. Aquilo que se encontra na parada é exclusivamente pessoal. É importante saber que "é na busca que se encontra o nosso valor. A finalidade de parar é servir a esta busca".

24 o capítulo:

"Parar é essencialmente um processo espiritual". A definição dada para espiritualidade é baseada na descrição do teólogo D. Griffin e em uma idéia do psicólogo James Hillmann: "A espiritualidade são os significados e valores últimos segundo os quais vivemos nossa vida em suas dimensões".

Os significados e valores que influenciam a forma de viver o dia-a-dia são constituídos pela espiritualidade. O aspecto importante da espiritualidade é se "...está nos levando ou não à integração, ao conhecimento e à plenitude dentro do que somos chamados a ser". Parar oportuniza identificar nosso desejo profundo, e ouvir a nossa própria sabedoria.

III Parte: Os frutos de Parar

25 o capítulo:

São citados os sete benefícios mais importantes que o parar propicia, propondo-se o autor a falar dos mesmos em capítulos posteriores.

26 o capítulo:

É destacada a importância da atenção para nos mantermos ligados àquilo que é importante para nós. As distrações são, para Kundtz, o que nos desvia a atenção do essencial. Podemos estar tão sobrecarregados que acabamos por seguir rotinas e envolvidos em atividades que fazem com que o tempo para nós fique perdido. Kundtz observa que bens materiais podem trazer alegria, mas é importante mantê-los na dimensão devida.

27 o capítulo:

Kundtz lembra que "nossos corpos foram feitos para lutar ou fugir ante uma agressão, e os hormônios estão correndo nas nossas veias com esta missão". Geralmente a energia provocada pelo estresse acaba voltando-se para o próprio indivíduo, que se irrita ou acaba desenvolvendo vários sintomas. Daí a importância de aprender a relaxar, o que o autor considera crucial para nosso bem estar físico e emocional.

28 o capítulo:

A citação de um pensamento de M. Friedman e R. Rosenman dá início a este capítulo: "Ao contrário da busca de coisas que valha a pena ter, a busca de coisas que valha a pena ser geralmente exige longos períodos de solidão". A solidão é considerada aqui como uma necessidade humana básica. "Períodos de tempo a sós são essenciais para uma vida equilibrada (...) e um dos objetivos é ficar à vontade em sua própria companhia".

29 o capítulo:

Parar propicia abertura, "que é a capacidade de receber os frutos que o mundo tem para oferecer. A abertura inclui a disposição para aprender, (...) e é o que permite uma escuta acolhedora", bem como, a capacidade de receber. "A pessoa se enriquece ao ser capaz de receber o que está disponível".

É ressaltado que, antes de escutar os outros, é preciso escutar-se a si próprio.

30 o capítulo:

Este capítulo trata da questão dos limites, os quais Kundtz considera um assunto psicológico complexo. Limites emocionais fortes, mas flexíveis, permitem viver com sucesso em comunidade. Comunidades só se tornam harmoniosas quando são estabelecidos limites claros.

Só quando percebemos a posição dos nossos limites é que somos capazes de fazer escolhas em relação a eles. Tanto a percepção dos limites, como a dos nossos sentimentos, é facilitada pelos três tipos de parada.

31 o capítulo:

A sombra (na concepção de C. G. Jung) vem a ser a parte amedrontadora de nossa consciência. Quando negada ou evitada, a sombra nos domina de forma perversa, podendo causar grande mal. Através do parar é possível estabelecer gradualmente contato com nossa sombra.

Abrigamos conosco tanto o bem como o mal e reconhecer isso permite-nos passar para a maturidade, saindo da inocência que nos leva a fingir não reconhecer o mal quando estamos face a face com ele. Sobre a sombra, Kundtz escreve que "se tivéssemos a coragem de abraçar nossas sombras assustadoras, estaríamos dando um passo gigantesco para curar nossas dores mais profundas e duradouras".

32 o capítulo:

A concepção de um propósito é outra conseqüência do parar: descobrir o nosso papel individual na vida, encontrar nossa vocação. "Ter um propósito é saber que há algo muito além de nós (...). A sensação de termos um propósito traz equilíbrio para nossa condição humana. (...) É reconhecer que você está destinado a ser algo que só você pode ser".

Não se trata de realizar apenas nossos desejos e anseios pessoais, o que pode nos tornar egoístas. A busca da identificação do propósito e a resposta a ele dada nos levam a elevar o olhar para um poder transcendente (para muitos, Deus), para descobrir serviços, ajuda, alegria, diversão, qualquer coisa que só nós podemos realizar. Ligado a questões mais profundas, o propósito é descoberto principalmente em paradas mais longas, como as Escalas de Viagem e as Paradas Gerais.

IV Parte: Explorando os desafios de Parar

33 o capítulo:

Kundtz explica que parar está ligado às nossas raízes, àquilo que é fundamental e nos leva às nossas origens, às profundezas de nossa alma. Faz analogia com uma árvore, que tem uma massa de ramificações aproximadamente igual acima e abaixo do solo. As raízes são essenciais, pois "fornecem o equilíbrio para os galhos da vida, mais ativos, externos e aparentes".

Apresentando inúmeros benefícios, o parar quase não é empregado, pois, além de apresentar aspectos desconhecidos e temidos de nós mesmos, a sociedade sugere que parar faz mal. Esta quarta parte do livro tem por objetivo ajudar-nos a sentir capacidade e competência "para lidar com os desafios que você pode encontrar ao Parar".

34 o capítulo:

São apresentadas várias idéias relacionadas à rejeição pela sociedade do Parar: o processo requer mais horas de trabalho; a busca do prazer leva ao inferno; quanto mais rápido, melhor; sempre o dinheiro é o objetivo final; etc. Só percebemos que são mentiras quando paramos para pensar a respeito.

35 o capítulo:

Discorrendo sobre o medo, a autor ressalta que, mesmo parecendo paradoxal, ao irmos de encontro aos nossos medos, libertamo-nos deles. Para sair do medo devemos entrar nele, o que envolve: observar, identificar, contar (relatar a história do medo para outra pessoa).

36 o capítulo:

Quando o corpo pára, a mente permanece correndo. Esta agitação da mente funciona como um disfarce para não encararmos nossos medos. Observar a tagarelice interna que ocorre "nos permite um certo controle sobre ela. (...) Aquietar a tagarelice interna é um dos objetivos do Parar".

São apresentadas várias sugestões para observar e identificar estes pensamentos: perceber se têm a forma de imagens, palavras e frases, ou a voz de alguém conhecido, se ocorre mais em determinadas ocasiões, se têm a forma de "ciclos de preocupações", qual é o conteúdo. Não se trata de julgar a tagarelice, mas apenas observar e identificar. Esta observação e identificação é valiosa e eficaz, pois faz estes pensamentos começarem a perder a força, além de serem também um meio de criar uma Pausa Breve.

Quando estes pensamentos se acalmam um pouco, podemos identificar melhor os nossos medos, reconhecer sua existência sem reprimi-los. Também é possível que não se encontre medo nenhum, exceto o medo do próprio medo.

37 o capítulo:

A próxima etapa é nomear os medos, que para Kundtz consiste em "qualquer processo em que você fale com ou sobre sua tagarelice interna e seus medos ocultos". Nomear "nos dá poder sobre o objeto nomeado", enfraquecendo o poder do medo. Também faz com que nos apropriemos dos nossos medos, aceitando-os como nossos.

Dar nomes aos medos que temos no corpo é uma forma eficaz de dar nomes durante as paradas. O corpo pode apresentar os medos através da dor, tensão, rigidez ou desconforto.

38 o capítulo:

Compartilhar os medos com outra pessoa é algo que traz alívio. "Antes de compartilhar seu medo com outra pessoa, é como se você estivesse sozinho em casa e ouvisse alguém mexendo na porta da frente. O apoio que um amigo lhe dá é como uma voz familiar à porta: 'Não tenha medo. Sou eu, pode abrir' ".

39 o capítulo:

Um pensamento de Carl Jung dá início a este capítulo: "A coisa mais aterrorizante é se aceitar completamente". Jung só conseguiu falar de um pensamento que o perturbou quando jovem muitos anos mais tarde, com sua mulher.

Partindo do relato de Jung, Kundtz identifica os três passos para lidar com os desafios do processo de parar: observar, identificar e falar com alguém sobre o assunto.

40 o capítulo:

A coragem para lidar com nossos medos pode ser alcançada pela oração. A oração pode assumir várias formas, como, por exemplo, apenas colocar-se em contato com Deus. Uma paroquiana disse a Kundtz: "...eu fico sentada na frente de Deus, e a gente fica olhando um para o outro". Há muitos artigos, médicos e científicos inclusive, sobre benefícios e efeitos da oração.

41 o capítulo:

Kundtz revela que, às vezes, é preciso ajuda exterior para que uma pessoa resolva algumas dificuldades, e oferece algumas sugestões sobre terapia:

  • •  a terapia pode ser rápida (3 a 15 sessões, com uma sessão semanal)

    •  pode-se "obter ajuda competente a preços razoáveis".

    •  não precisa ser necessariamente um terapeuta profissional: pode ser alguém com experiência e sabedoria que possa proporcionar encorajamento com regularidade.

    •  Não é preciso sentir constrangimento por buscar terapia.

  • A maior parte dos atendimentos dirige-se a pessoas sem problemas profundos, mas que estão vivendo algum momento de crise. A hora de buscar ajuda é quando se sente que não se consegue mais lidar com os medos.

    42 o capítulo:

    São apresentadas várias objeções possíveis para Parar, bem como, argumentos mostrando que Parar vale a pena.

    V parte: Descobrindo sua maneira de Parar

    43 o capítulo:

    "Esta última parte irá ajudá-lo a descobrir como Parar se encaixará nas suas rotinas diárias, mensais e anuais".

    Kundtz alerta que a escolha é do leitor: continuar sobrecarregado pelas suas atividades, sem distinguir o que para ele é realmente importante - ou aprender a parar, adquirindo nova e melhor qualidade de vida.

    44 o capítulo:

    Neste capítulo o autor explica que muitas pessoas sentem-se culpadas por parar e que por isso, ele dá permissão expressa para qualquer um que deseje e possa parar. Cita também dois poetas que também concedem esta permissão. Alerta para o risco de a pessoa perder sua identidade própria em nome de sua profissão.

    45 o capítulo:

    São oferecidas sugestões para incorporar o processo de parar ao cotidiano: fazer uma lista de coisas que atraem a própria atenção ou que dêem prazer. Leitura de textos favoritos, escrever, observar a beleza em todas as suas formas, o toque (contatos sensoriais), sons, perfumes, sacramentais (coisas que nos colocam em contato com o divino ou objetos que simbolizem coisas importantes), rituais, espaços e lugares, animais, estações do ano, o tempo e os movimentos da terra.

    46 o capítulo:

    As paradas ocorrem mais facilmente na transição de uma atividade para outra. Kundtz explica neste capítulo como isto pode ser feito.

    47 o capítulo:

    Muitas pessoas têm dificuldade para ficar quietas. O autor pensa que é difícil manter a calma e a atenção quando se está em movimentos rápidos. A sugestão é que atividades que requerem grande dispêndio de energia sejam iniciadas com uma pausa breve, e que seja feita outra pausa no final destas atividades.

    48 o capítulo:

    Neste capítulo fala-se na flexibilidade do processo de parar, e que para três grupos existem desafios especiais para parar: os jovens, os velhos e os violentos. O autor se detém apontando caraterísticas para cada um destes grupos.

    Crianças e adolescentes precisam parar tanto quanto os adultos. Os adultos podem ajudar criando tempo, lugares e oportunidades de parada para os jovens. Quanto aos idosos, Kundtz os considera como "verdadeiros profissionais de parada", e sugere aos adultos que se dediquem ao processo de parar, para a obtenção de uma velhice provavelmente doce e tranqüila. Em relação aos violentos, Kundtz se diz horrorizado com os programas cheios de violência humana. Para que haja uma mudança no padrão e no hábito de violência é preciso uma conversão, e para isso, parar é uma condição necessária, para que possa ocorrer uma mudança de visão e de propósito. É preciso ficar imóvel o suficiente e por tempo também suficiente, para recusar o que está sendo imposto e descobrir que existe um caminho diferente ou melhor.

    49 o capítulo:

    O objetivo do parar "é conhecer e tomar posse das questões mais íntimas e pessoais que se encontram no coração e na alma de cada um de nós", o que nos ajuda a enxergar nossos propósitos e nos permite "saber quem somos e o que e quem são importantes para nós". Quando se persiste por algum tempo com as paradas, elas atingem "questões mais amplas que afetam o mundo".

    Kundtz cita o naturalista B. Mc Kibben que postula duas perguntas essenciais para os dias de hoje: no mundo da informática e da comunicação imediata, "como posso ouvir meu coração?'. A outra pergunta diz respeito à sociedade de consumo: "Quanto é suficiente?" A persistência em parar talvez permita que sejamos capazes de respondê-las.

    50 o capítulo:

    Outra conseqüência importante do processo de parar é que permite "reunir na sua consciência todas as maravilhosas histórias de sua vida (...) que o levarão às suas verdades". Nossas histórias nos levam às nossas raízes, e, desta forma, a uma melhor compreensão de nossas vidas. O autor indaga: "...afinal de contas, o que é um ser humano sem história?" Afirma que o hábito de parar nos ajuda a nos convencermos de nossa sanidade. "Parar é baseado na crença de que você é uma pessoa ótima e que só será capaz de descobrir mis sobre a sua própria verdade se arranjar tempo para parar".

     

    Apreciação pessoal sobre o livro

    Quando se pensa a respeito da importância do processo de mudança na Terapia Relacional Sistêmica, percebe-se que este livro aponta para uma questão muito importante: para mudar alguma coisa é preciso parar, observar e refletir. É preciso que se perceba a necessidade de mudança, e isto dificilmente ocorre sem que haja alguma forma de parada, para que aconteça a percepção desta necessidade.

     

    Nome do autor da resenha e data: Zilda Langer. Janeiro/2003.