Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Família é Deus

 

Autor do Livro:

Moisés Groisman

 

Editora, ano de publicação:

Eldorado / Rio de Janeiro - 2000

 

Relação dos capítulos

Capítulo I - Hoje é Ontem

Capítulo II - Vozes do Passado

Capítulo III - Assim estava escrito

Capítulo IV - Raízes Familiares

Capítulo V - O passado é o presente

Capítulo VI- Laços Familiares

Capitulo VII - Duas Árvores

Capitulo VIII - O Fim É O Principio

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Cap.1

O autor introduz dizendo que o livro tem como meta demonstrar que a família é a força maior que comanda a nossa vida, fazendo um paralelo entre a família de um paciente e a família do psicoterapeuta que o está atendendo.

Que convivemos dia-a-dia com nossa família e assim absorvemos, queiramos ou não, os hábitos, costumes, gesto, leis, comportamentos, enfim, a cultura daquela família. Mas o fato estranho é que esquecemos disso, ou seja: nascemos, crescemos e morremos em alguma forma de família. Talvez por medo de descobrir o quanto dependemos e somo influenciados neste movimento relacional entre nós e ela, com marcas que guiarão nossa conduta pelo resto da vida.

E então apresenta os personagens principais da história do livro. São eles: Adriano Martins, 45 anos, psicólogo, terapeuta familiar. Ele é casado há 20 anos com Lígia, 45 anos, arquiteta. Eles têm um casal de filhos: Mariana, 18 anos, pré-vestibulanda e Pedro, 16 anos, estudante 2ª série do 2º grau.

É uma segunda-feira e enquanto Adriano aguarda seu 1º cliente ele recorda-se do dia que casou com Lígia. De como era a relação com sua mãe, e de quanto ela e seu pai já não vivem como casados há tempos, mas por serem tradicionais não se separam. Aí toca a campainha e ele desperta: é o novo cliente.

Adriano sempre tem diante de um 1º encontro uma mistura de emoções. Por um lado, uma reação ao novo, querendo permanecer no conhecido, no familiar. Por outro lado, um desafio; penetrar no desconhecido, numa nova história e numa nova relação. E tem dúvidas quanto ao trabalho. O cliente procura uma solução simples e rápida para o seu problema, enquanto ele vai tornar complexa a sua vida ao procurar demonstrar que ele não é autônomo, mas alguém que faz parte de uma trama intrincada de relações familiares, que ajuda a movimentar essa rede e é movimentada por ela. E ao mesmo tempo pode propor soluções que dependerão de uma ação objetiva de sua parte. Desse choque de interesses é que surgirá a possibilidade de evolução no processo terapêutico.

Quanto ao cliente, ele se chama Tomaz, 46 anos. Procura terapia, pois sua esposa o expulsou de casa ao saber que ele tem uma filha com outra e que o caso com essa outra existe há 2 anos. Ele tem dúvida quanto ao que fazer, pois diz não conseguir viver sem as duas.

O terapeuta, após ouvir isso diz ser importante saber que o que está acontecendo resulta de duas vertentes básica. Uma do presente, fruto de uma crise conjugal, que já vinha se arrastando há algum tempo e onde, tanto um quanto o outro, foram umedecendo suas diferenças e reclamações. E uma do passado, representado pelas marcas da história familiar, gravadas na personalidade, que se manifestam no presente e nas relações que se estabelecem.

Tomaz diz não querer entender isso, que é um homem prático e quer uma resposta.

Adriano se posiciona, que é assim que trabalha.

Tomaz diz que não era isso que queria, mas vai pagar pra ver.

Então entre outras coisas Adriano diz que não é o hoje que importa e sim o que ficou marcado no corpo, na mente, no sangue: as experiências que se viveu com a família desde o nascimento até a adolescência. Em cada um de nós elas ficam impressas, como marcas de um carimbo, mas invisíveis. Marcas que vão determinar direções nas escolhas amorosas, profissionais e sociais.

Tomaz não acredita, mas começam a conversar e se descobre que Tomaz trocou sua família pela da esposa.

Tomaz se irrita e Adriano propõe nove sessões onde ele fará uma pergunta a cada sessão com o objetivo de descobrir indicadores que o levarão a respostas mais consistentes quanto ao que veio procurar.

Ele aceita e faz a 1ª pergunta: "Será que a minha mulher vai aceitar a existência do meu outro filho?".

Adriano propõe um exercício denominado Hoje é Ontem.

No exercício veio a tona que sua mãe descobriu que seu pai tivera um filho com outra. E que nunca foram apresentados, nem considerava o outro seu irmão. Só o conheceu quando da doença do pai. Junto veio a lembrança de sua mãe cobrando de seu pai terem o canto deles, saírem da casa da sogra, pois ela se metia em tudo.

Após Adriano pede que Tomaz coloque as fotografias que tinha com ele em seqüência e explica a relação que fez entre elas durante a técnica: há um tema comum que é o da exclusão. Na 1ª fotografia você é excluído do colégio por sua mãe; na cena 1 sua mãe se sente excluída pela sogra e pelo marido, na cena 2 sua mãe é excluída pelo marido e pelo "trabalho" dele, na cena 3 sua mãe é excluída pelo marido, amante e filho, na cena 4, você e sua mulher transando na lua-de-mel acreditando que suas famílias estavam de fora, excluídas; na última fotografia você se colocando excluído; e na cena final você sendo excluído da sua família nuclear, por sua mulher, ao mesmo tempo que você os exclui ao ter uma amante e um filho.

E Tomaz não entende qual é a resposta.

O terapeuta resume: "Acredito que sua expectativa é de que sua mulher se comporte da mesma forma que sua mãe aqui em relação ao seu pai. Vocês voltariam a morar juntos esquecer do outro filho e os seus filhos um novo irmão, passariam a ter um casamento de aparências como os seus pais".

Tomaz diz que ele está doido.

O autor complementa dizendo que o hoje é ontem com outro cenário, outra roupagem, outros personagens, só que a essência é a mesma.

Que todos acreditamos que quando nascemos está se iniciando uma nova história. É um ledo engano. Quando nascemos entramos numa história familiar que está sendo escrita há várias gerações e vamos acrescentar alguns capítulos. Que não nascemos para o mundo e sim para a família. Dela conseguiremos sair para o mundo em algum grau ou não.

Ao ser questionado por Tomaz quanto a outras gerações influenciarem, Adriano responde: "Minha religião chama-se família, na medida em que acredito que ela comanda os nossos movimentos, nossas decisões e direções seja à favor ou contra ela".

E confessa que o jeito de Tomaz se comportar provoca um aspecto complexo da própria história familiar.

Tomaz, por outro lado, reage dizendo que não sabia que o terapeuta tinha sentimentos, que reagia ao cliente, achava que ele era um profissional, um técnico.

Adriano completa "Não só tenho sentimentos como também nasci numa família, tenho minhas marcas e uma história familiar, e a diferença entre nós é que conheço muitos dos fantasmas familiares e procuro identificá-los para não me deixar dominar".

Encerra a sessão dizendo que a mensagem é procurar descobrir o que de hoje na vida familiar é semelhante ao seu ontem na família de origem.

Adriano, ao ficar sozinho conta mais da dor de sua história com Lígia e a família dela. Inclusive os jantares que sua sogra prepara as segundas-feiras mandando sempre por fax o cardápio para a noite.

 

Cap.2

Tomaz inicia a sessão relatando que não passou bem. Que ficou mais confuso e ansioso com essa história de meter a família no meio, e não se conforma com a idéia de que eles influenciam. Para ele tudo está estranho. Que ao assistir um filme tem a impressão que os dois personagens estavam falando com ele. Uma voz dizia "não deixe sua família, que é o mais importante que temos". E pergunta à Adriano se ouvir essas vozes é norma ou anormal, se ele está enlouquecendo.

O que o terapeuta responde estar mais interessado no que elas representam diante do contexto e não em dar-lhe um diagnóstico. E propõe o exercício Vozes do passado.

A 2ª pergunta de Tomaz é "Vou continuar casado ou não?".

Com o exercício descobrem que a avó não morreu para ele.

Tomaz não entende e não aceita, então Adriano faz perguntas como se fosse a avó e aí ele entende.

O autor esclarece: "Desde que nascemos vamos acumulando, através das relações familiares, vozes dos membros mais significativos de nossa família que regerão nossa vida. Quanto mais invisíveis forem, maior a sua força e o seu comando".

Adriano propõe então que Tomaz se despeça de sua avó através de uma boneca e explica que quando alguém morre, o corpo é enterrado no cemitério, mas as lembranças, a história de quem morreu permanece na família. No caso dele, pela proximidade com sua avó, talvez como substituto do seu pai junto a ela, ele foi eleito e aceitou o papel de carrega-la e evitar que ela morresse para si, para o pai enquanto vivo e para suas irmãs.

Tomaz reage com espanto. Acha impressionante a capacidade do terapeuta de tirar uma história da cabeça de um alfinete.

Adriano continua relatando que o importante é reconhecer e identificar as vozes familiares para poder negociar ou reagir para não ser comandado por elas. Que está oferecendo uma oportunidade para iniciar um processo de libertação do comando da voz de avó e deixar de ser seu túmulo. Esclarece: "dentro do tema despedida, você pode falar ou fazer o que você quiser. Só procure ver na boneca sua avó".

Aí surgem muitas coisas que Tomaz diz, mas finalmente se despede. E depois indaga sobre a resposta a sua pergunta inicial.

Adriano arrisca o prognóstico que após esse ritual existem possibilidades dele abandonar a idéia de encontrar uma mulher ideal e, com isto, tentar manter o casamento. Encerra que a lição do dia é continuar descobrindo as vozes familiares dele e o quanto elas interferem na vida dele.

Ao final deste capítulo fica a pergunta: Quais serão as vozes que influenciaram Adriano a tornar-se terapeuta de família?

 

Cap.3

Tomaz continua sem saber o que fazer em relação à mulher e a Sandra (amante). Também que não consegue reconhecer o filho como seu, pois não nasceu dentro da família.

O terapeuta diz a Tomaz para diminuir o peso dos 50% de responsabilidade de tê-lo concebido, que pode e deve dividi-lo com a família da qual veio.

E Tomaz reafirma que considera sua família a que construiu com a esposa, que a de origem ficou para trás.

"O nascimento do seu filho, que precipitou sua separação, já estava escrito".

"Que absurdo! Você pirou de vez! Que fatalismo! Onde fica o tal do livre arbítrio? Não é possível que tudo seja família".

"Existe uma relação tênue entre o seu desejo e os da sua família".

Após este diálogo Adriano sugere a pergunta do dia já que Tomaz diz não ter idéia: Será que eu, Tomaz, vou reconhecer o filho que tive com Sandra como meu, de forma objetiva ou subjetiva? E o exercício proposto chama-se Assim Estava Escrito.

Durante o exercício vieram várias cenas e fatos como a perda da aliança antes de entrar na Igreja, as músicas escolhidas pelos dois para entrarem na Igreja.

Adriano, ao amarrar todos os fatos e cenas conclui que para Tomaz já estava escrito na sua história familiar a possibilidade dele repetir fatos semelhantes aos realizados pelo avô. E a lição de hoje é: "nossa família, nossas experiências familiares traçam o nosso destino".

E Tomaz indaga o que pode fazer para melhorar o seu destino.

A resposta de Adriano, é que ele procure conectar as situações presentes da sua vida com as do passado e tente descobrir quais são as marcas familiares que estão provocando a repetição no presente de eventos semelhantes aos do passado.

Preferível sentir o peso e a força da família do que ignorar e ser comandado por ela.

Ao final do terapeuta pede que Tomaz convide sua mãe e os irmãos para virem na próxima sessão.

Como Tomaz viu mil impossibilidades delas virem, Adriano propôs dar mais tempo para observar a reação de sua mãe e de suas irmãs convidando-as, sem os maridos, para um almoço na casa de sua mãe e filmar.

Após o encerramento da sessão, Adriano conversa com Lígia ao telefone sobre o jantar que ela irá preparar para eles e critíca que esses jantares de dieta não a agradam, que só come bem as segundas-feiras quando a sogra prepara. A sogra por sua vez envia o fax antecipando o cardápio do jantar de segunda.

No casamento de Adriano com Lígia, aparecem indícios de crise. Será como anda o sexo entre eles? Quando existe reclamação da comida é porque o sexo não está apetitoso.

Será que estava escrito na história familiar de Adriano que ele teria que manter o casamento e a família a todo preço e a todo custo?

 

Cap.4

O momento da refeição propicia a reunião e representa como a família está estruturada. Se segue ou reage à tradição das famílias dos pais, por exemplo: se tem horário para comer, quem senta à mesa, qual o tipo de comida, etc.

Com essa intenção Adriano propôs a filmagem do almoço.

Tomaz conta na sessão que fizeram o almoço e foi filmado. Alguns dados interessantes:

- A mãe de Tomaz aprendeu a cozinhar com seu avô (pai dela) que o mesmo herdou esse dom da mãe dele.(bisavó de Tomaz) E que ela foi a única filha a quem ele ensinou.

- Depois do pai de Tomaz passar a exagerar na bebida a mãe dele se irritou um dia e quebrou todas as garrafas de bebida. A partir daí bebida alcoólica não entrou mais na casa.

Tomaz diz que o encontro deu a impressão que o tempo não passou, e que mesmo sem saber a intenção de Adriano ao prescrever isso um resultado já trouxe: a realização do encontro.

Durante o encontro vários conselhos de uma irmã e da mãe para que Tomaz pense nos filhos, volte para a família, que casamento é assim mesmo.

Ao que Tomaz responde que prefere acabar sozinho do que se conformar com um casamento assim.

Interessante como a família é de suma importância para o nosso desenvolvimento e ao mesmo tempo nos pressiona a manter uma tradição, o status que cria-se um conflito dramático: decidir pela cabeça da família ou pela nossa.

E a lição de hoje é: "As raízes familiares, estarão presentes hoje e no futuro influenciando o nosso comportamento".

Ao encerrar a sessão Adriano vê uma foto de uma viagem deles dois mais a sogra, e recebe o fax do cardápio e tudo isso levando ele a questionar mais ainda seu casamento.

 

Cap.5

Nesta sessão Tomaz trouxe a mãe e uma irmã. E durante a conversa Tomaz e a irmã descobrem que o pai e a mãe eram primos.

Adriano explica que pais e filhos podem estar repetindo condutas familiares que estão atreladas a segredos não revelados de gerações anteriores. A utilização do segredo como uma forma de união da família pode paradoxalmente levá-la a desunião, quando um dia ele vir à tona.

Tomaz se irrita e sai do consultório.

Adriano estimula a mãe a ir buscá-lo e ela aceita, quando ele volta conta o seu segredo: teve um filho com outra mulher, fora do casamento.

Após o espanto principalmente da mãe, a irmã fica querendo saber mais do meio irmão deles, pois este fato remeteu ao outro.

A mãe esquiva-se o quanto pode até Adriano ponderar que essa é uma questão que diz respeito só aos filhos, pois quer queiram ou não, os filhos têm mais um irmão por parte de pai.

E incentiva-os a telefonarem para ele na mesma hora. É o que fazem marcando um encontro para o domingo.

Tomaz concluiu então que irá apresentar o filho para os seus irmãos, os outros filhos, sozinho, pois não quer fazer como os pais: excluí-lo de conhecer a outra família.

Adriano fala de como o conceito tradicional de família - pai, mãe e filhos, é bastante enraizado em todos nós, desafiando os novos tempos, com todas as modificações que a família vem sofrendo na sua organização.

E Tomaz pergunta qual a lição de hoje?

"Não adianta fugir do passado. Ele esta sendo atualizado continuamente no presente. Procure conectar o que está acontecendo no presente com o passado familiar, que encontrará resposta a alguma situação problemática que esteja vivendo".

Adriano resolve então, após a sessão cancelar o jantar que a sogra preparava todas as segundas-feiras. Alguma coisa muito séria aconteceu na química familiar de Adriano que o levou a abrir mão de um dos grandes interesses de sua vida.

 

Cap.6

Tomaz traz os filhos Rodrigo, Paula e o caçula Rafael que foi apresentado como irmão nesta hora.

Em princípio Paula reage não querendo deixar de ser a caçula, mas depois ficou mais receptível até achando o irmão engraçadinho.

E Rodrigo resistiu até o final, mesmo quando colocaram Rafael no seu colo.

No decorrer da sessão fica evidenciado as "parcerias" entre Tomaz e a filha e Rodrigo e a mãe, fazendo assim com que Adriano falasse que não devemos confiar cegamente em ninguém, mesmo na nossa própria família. Que não podemos esquecer que todos somos de carne e osso e que existe, entre todos as pessoas, inclusive no interior da família, uma eterna competição que inclui alianças em que procuramos excluir um terceiro. É a trama familiar, a realidade. É o que torna viver em família uma aventura complexa e fascinante.

Em um certo momento Rodrigo pergunta para Adriano porque ele acha que o pai tem filho com outra mulher.

Adriano responde que a credita que foi devido às experiências que trouxe da família dele e que foram estimuladas no presente, no casamento com a mãe dele, no qual cada um participou com 50% da responsabilidade. E acrescenta que será um longo período de adaptação de todos eles, a essa nova realidade inclusive para os pais. Tomaz, não decidiu ainda sua situação conjugal, se reconstrói a família com a existência de mais um filho ou se forma uma família uni parental, ele e os filhos.

Rodrigo diz não se convencer disso tudo e não desculpar o pai. Antes de saírem, Adriano tirou uma foto deles quatro, ou seja, da nova família e pediu que Tomaz coloque esta fotografia em um porta retrato na sala do apartamento onde está morando.

E a lição de hoje, Pergunta Tomaz. Adriano responde: "O seu comportamento influenciará o dos seus dois filhos".

Nesta noite Adriano convidou Lígia para jantarem em um restaurante para discutir a relação dos dois.

O autor propõe imaginarmos a conversa que Adriano e Lígia tiveram no jantar. Ele interrogando sobre a rotina e como os dois então se comportando... Ela, dizendo que é otimista, que as coisas podem demorar e que faria bem uma viagem.

 

Cap.7

Nessa seção comparece Ângela, a esposa ou ex-esposa de Tomaz conforme o pedido de Adriana.

A primeira questão discutida é os apelidos pelos quais um chama o outro (Ambos no Diminutivo) dando a impressão de que não saíram da infância.

A questão seguinte foi a tentativa de Adriano mostrar a Ângela que ela teve 50% de responsabilidade do que aconteceu: as traições e o filho. Que a infidelidade é a forma inconsciente encontrada pelo casal de trazer a tona uma crise que estava oculta.

Ela reage dizendo que não tem nada a haver e que não é a culpada da situação, que é uma ofensa o que ele está dizendo.

Adriano complementa: - Você não é culpada. O termo culpa conduz a uma leitura estática da situação. Se alguém é culpado de alguma coisa, tudo recai sobre essa pessoa e ela se transforma no carrasco que produziu uma vítima, que é inocente, prefiro colocar cada um dos envolvidos com 50% de responsabilidade no que ocorreu.

Ângela discorda afirmando não ter tido nenhuma participação objetiva, ao que Adriano rebate com a colocação que a posição passiva não deixa de ser uma ação que se reflete na relação.

Então Adriano propõe que contem como foi o começo do namoro sabendo que a forma como se dá o primeiro encontro marcará a relação do casal, e é a chave para se entender o que ocorre no presente.

À medida que vão contando Adriano vai amarando os fatos aos significados. Exemplo: Ângela disse quando conheceu Tomaz estava na dúvida se terminava o namoro com o outro ou não e que quando Tomaz soube, obrigou a telefonar acabando o namoro, que ele praticamente decidiu por ela.

Adriano explica que é comum procurarmos encontrar no marido ou na esposa, quem vai assumir a responsabilidade de algum ato em nome dos dois,

Tomaz percebe algo importante e se coloca: - Sempre considerei Ângela muito compreensiva e, pode ser, que eu achasse que ela aceitaria tudo o que eu fizesse.

O jogo de casal era esse: ela aceitaria qualquer coisa que Tomaz fizesse.

Ângela então pede que parem de falar do outro filho, Pois se sente mal, inclusive que não tem nada a ver, que a história é de Tomaz.

Adriano diz que se os dois não conseguirem fazer uma reflexão sobre o que, na atitude de cada um, favoreceu a separação e o nascimento do filho, não há possibilidade de reconciliação.

E propõe um exercício denominado Duas Árvores, com a seguinte instrução: - Cada um irá olhar para o espaço em torno do outro procurando enxergar quais são as pessoas da família, vivas ou mortas e as que estão ao redor.

E após cada um dizer, Adriano conclui que se resolverem recomeçar o casamento sugere que saiam da casa da vila e mudem para o novo apartamento, onde deveriam comprar uma cama para o casal e desfazerem-se das camas de solteiro de cada um.

A lição do dia ficou sendo: "Um dos problemas dos casais é que cada um dos parceiros se ilude e imagina que, casando está adquirindo um carro zero quilometro, esquecendo- se de que ele ou ela já possui uma quilometragem adquirida com sua respectiva família, onde nasceu e se desenvolveu".

E quanto à vida de Adriano, apesar de ele fazer algumas críticas a Lígia, pouco consegue abordar suas insatisfações no casamento.

Será que eles têm vergonha de deixar de ser "O Casal Vinte", para se tornar um casal comum.

 

Cap.8

Tomaz inicia a sessão contando do espanto de Ângela quanto ao jeito que Adriano tem como terapeuta.

Adriano por sua vez, esclarece que existe varias formas de encaminhar a mesma questão. Que irá depender da escolha teórica a qual o terapeuta é filiado ou se identifica, e, principalmente, da sua história familiar, que influencia sua escolha teórica e sua forma de intervenção.

E prossegue "nenhum profissional de qualquer especialidade é meramente um técnico. Todo o conhecimento é veiculado por um ser humano que faz o seu primeiro grande treinamento na sua família. No caso do TF os clientes vão provocar todos os dias lembranças, emoções que o terapeuta viveu com a sua família de origem e com a que constitui". Então dá um exemplo pessoal diante do qual Tomaz interroga, do que adianta ter todo o conhecimento sobre família e ainda errar.

Adriano responde que ninguém consegue apagar as marcas de sua família, mas que conhecê-las possibilita descobrir o que nos estimula no outro a agir de um jeito ou de outro no presente atualizando o passado e preparando nosso futuro.

Quanto a Rafael, Tomaz conta que está bem, que tem saído com ele sozinho. A Sandra fez o DNA o que confirmou a paternidade, e às vezes ainda transam.

Quanto a Ângela eles têm saído algumas vezes, mas ele insiste em apagar o Rafael da vida dele, e que isso ele não fará. Inclusive após ela ver o retrato que foi tirado com Adriano, ela jogou no chão e disse não querer vê-lo mais.

Enfim, Tomaz concluiu que continua indeciso pois cada uma o completa de uma forma. E pergunta ao terapeuta se ele é contra ter um caso fora do casamento.

Adriano discorre: "A infidelidade não é uma questão moral - ser a favor ou contra - é uma questão ética, se considerarmos que existe a necessidade num casal de honestidade, sinceridade e intimidade. Na medida em que existem segredos, há quebra de um contrato implícito entre as partes, onde se comprometeram a enfrentar os prazeres e os desprazeres do relacionamento".

Tomaz diz que as explicações são muito filosóficas, quando chegar à hora, irá se decidir por uma, por outra, ou por nenhuma das duas.

Explica Adriano: "Ao permanecer com Ângela e Sandra você não esta inteiramente com nenhuma das duas. É a reprodução no presente de um problema familiar não resolvido no passado. Como os seus pais não conseguiram estabelecer uma fronteira, um limite entre a família deles e a dos seus avós paternos, você acabou ficando entre a sua mãe e a sua avó as duas grandes mulheres de sua vida"

Ninguém consegue se libertar da família original.

O que conseguimos são graus de libertação maiores, menores ou nenhum grau, é um processo lento que dura toda a nossa vida.

Dessa compreensão Adriano diz ter tido a idéia do exercício "O Fim e o Princípio" que propõe que ele faça.

Tomaz pergunta contrariado do que adianta saber seu fim, se o principio é o fim.

Adriano esclarece que ele se enganou que o fim é o principio. Que assim ele se tornará consciente do que está procurando para seu futuro e assim tentará modificar o rumo de sua vida, preparando um fim mais confortável para si.

E pede que Tomaz diga uma preocupação, uma questão que esteja lhe intrigando.

E a pergunta de Tomaz é: "Vou continuar casado com Ângela?".

Adriano diz que é uma pergunta complexa e que tentará apontar alguns caminhos no final dos exercícios e que ele o seguirá, modificará, ou não aceitará nenhum deles.

Então fizeram e após o término Adriano explica como compreende: - "No princípio, você entre duas avós; na cena intermediária, entre várias mulheres, e na cena final entre duas mulheres, há uma continuidade entre estas cenas, o que demonstra que existe uma grande possibilidade de você terminar sua vida pulando de uma família para outra".

Tomaz fala então: - "Admitindo que possam acontecer suas previsões de pai de santo, o que eu poderia fazer para mudar esse futuro diabólico?".

Tomaz propõe dois remédios, um para cada um, ambos envolvendo se despedir. E depois que ele realizar as tarefas telefona para marcar a última sessão. Ele não está tirando a avó da vida dele nem os demais personagens da família, pois eles estão carimbados no corpo de forma definitiva o objetivo é ele perceber, ficar alerta e consciente das influências maiores e menores que a família exerce sobre a sua vida.

É necessário nos despedir dos familiares e de seus substitutos sempre, a fim de nos desligarmos um pouco mais do passado, para livrarmos o presente e ter um futuro diferente dos antepassados.

Por fim, Tomaz pergunta: - "Qual a lição de hoje professor?". A resposta de Adriano é - "Ninguém consegue fugir de sua historia familiar".

E se despedem com Adriano convidando que ele venha para a ultima sessão.

Adriano ao chegar em casa teve uma surpresa, Todos saíram e a sogra o esperava toda arrumada e com o jantar preparado para eles dois.

Durante o jantar a sogra, Dona Cecília, pergunta sobre o casamento dele com a filha, fala que o jantar a faz lembrar do falecido marido Alfredinho e os belos momentos que tiveram juntos, e outras coisas.

Após a sobremesa o convido para dançar e durante a dança ela pede que ele a abrace e a beije. Diante disso Adriano saiu de casa, primeiramente dormindo no consultório e depois num apart hotel.

Um mês depois da última sessão de Tomaz, Adriano recebe, um pacote com uma fita cassete e duas cartas, uma delas para ele. É Tomaz agradecendo por tudo e reconhecendo que entendeu a mensagem de que a família influencia a vida de todos. Que agora percebe em várias situações, o hoje tem muito do ontem. Que a descoberta das raízes foi importante pois, se sente ligado a uma história e à uma árvore. Enfim, que foi uma experiência marcante tê-lo encontrado neste momento da sua vida.

E outra carta é para sua avó. Onde diz que irá romper com Sandra e procurar reformular o casamento com Ângela, se ela concordar, e pela 1ª vez, com uma proposta sincera, sem mentiras, nem segredos. E se não conseguir, se separará e viverá sozinho até quando agüentar. Quanto ao Rafael, promete dar toda assistência e aproximá-lo dos irmãos e ser um pai mais presente.

E assim se despede da avó.

O autor interroga ao leitor quanto a um possível protesto por não haver um final Feliz. Afinal ficam as perguntas: como será o desenrolar da integração de Rafael com os irmãos? * Como Tomaz e Ângela vão absolver a sombra de Rafael no casamento? * Será que Tomaz não retornará ao círculo vicioso entre Sandra e Ângela?

Por fim, Adriano escreveu duas cartas. Uma para Lígia explicando o que houve com ele e a sogra, e dizendo que por enquanto não vai decidir nada, que eles tem muito a conversar. E outra para sua avó, se despedindo e prometendo que não deixará de procurá-la, nem aos pais, irmãos, e o restante da família, seja em Lígia ou em outra mulher só que agora alerta de que não conseguirá preencher o vácuo de sua ausência e dos demais personagens da família.

"Qual é a lição de hoje, professor ?".

Os terapeutas também têm família.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Este livro traz certamente grandes pressupostos da Terapia familiar. Por um lado parecendo determinista e exagerado. Tudo tem a ver com família, e por outro apontando que é tomando consciência das semelhanças entre as histórias passadas e presentes é que se tem a possibilidade de modificá-las.

Em algum momento da leitura precisei chorar por sentir que é isso mesmo, a família determina e rege os caminhos que achamos escolher. Lembro-me de que a 1ª vez que tive contato com a terapia familiar sistêmica, fiquei interessado em conhecer mais, mas afirmei que da minha família de origem, não teria o que falar, "tudo era perfeito"

Ao entrar em processo terapêutico e remexer um pouco disto não consigo deixar de dizer "feliz a ignorância" E começo a entender porque eu escolhi ser Terapeuta familiar.

Hoje, percebo que por um lado, uma parte das pessoas não tem idéia disso tudo que o livro aborda, vão repetindo padrões familiares e se acham felizes. Mas por outro, vejo também a satisfação de clientes e pessoas que descobrem as repetições e fazem suas escolhas mais conscientes e felizes

Parece que é assim o mundo: uma grande família. Com pessoas diferentes, jeitos diferentes, num contínuo movimento de saber e não saber, fazer e se omitir, dar e tirar liberdade, escolher e ser escolhido, com amor e ódio, etc, etc, etc, mas vivendo no mesmo espaço e dependendo uns dos outros.

 

Nome do autor da resenha e data: Gianne Cláudia Gemeli Wiltgen / Agosto - 2002.