Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A menina e a fonte mágica

 

Autor do Livro:

Luana Herek e Giulia Herek Rossi

 

Editora, ano de publicação:

Sol / Curitiba 2004

 

Relação dos capítulos

A obra é dividida em duas partes:

A primeira é estória de uma menina que no decorrer do livro trava um dialogo com uma fada que lhe ensina como lidar com os seus sentimentos.

Na segunda parte a autora reserva um espaço para os adultos, onde explica de forma clara a importância dos adultos identificarem seus sentimentos e de expressá-los de forma adequada, para auxiliar as crianças a fazerem o mesmo.

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Primeira Parte

É um livro infantil que conta à estória de uma menina que descobriu tesouros, muitos tesouros dentro dela. Seu nome é Mimi, é alegre e carinhosa, muito sapeca e sempre inventa coisas diferentes. Também é geniosa e quer as coisas do seu jeito.

Mimi é muito legal e sempre defende suas amigas de tudo, até que isto começou a lhe criar problemas. Quando achava que algo não estava certo, falava e se não fosse ouvida, berrava. Os adultos então começaram a ficarem bravos com ela. Ao defender as amigas ela levava a bronca sozinha.

Quanto mais as pessoas brigavam com ela mais ela ficava com raiva. Até que uma noite quando estava dormindo em seu quarto, apareceu uma fada, baixinha e vestia uma roupa azul com estrelinhas amarelas e uma varinha dourada.

A partir daí a fada começou a freqüentar o quarto de Mimi e a lhe ensinar coisas muito importantes sobre os seus sentimentos .Disse para Mimi que ajudar as suas amigas a colocava em confusão e a deixa com raiava. A fada explicou que a raiva é um sentimento normal, mas que as pessoas acham feio, que elas às vezes ficam frustradas, tristes, magoadas, sentindo-se rejeitada, e sentir raiva é um jeito que se tem para se defender. Acham que ficar bravos é a única maneira de resolver um problema. A fada terminou o primeiro encontro pedindo à menina que fizesse uma lista sobre o que a deixava com raiva, pois voltaria no dia seguinte para continuar a conversa. Mimi ficou pensando que conversar com a fada era como conversar com um psicólogo, pois vamos procurá-lo para pensar sobe nossa vida, para descobrir o quê e como podemos fazer diferente. Mimi pensou que a fada poderia ajudá-la a descobrir como fazer as coisas darem certo.

Ao lembrar da conversa com a fada, pensou: será que existem outros jeitos de pedir o que eu quero para as pessoas? Ao pensar sobre isto, algo nela mudou. Então a noite como combinado à fada voltou e Mimi perguntou seu nome: Cristal. A fada quis saber sobre a lista que havia pedido no dia anterior e explicou que todas as pessoas sentem raiva, até mesmo ela que é fada, mas cada pessoa mostra sua raiva de forma diferente. Mimi estava ansiosa pois já havia dado o primeiro passo que era reconhecer que sentir raiva é uma coisa normal. E descobriu que quanto mais sabemos que sentimos raiva e por quê, fica mais fácil colocá-la para fora, sem machucar as pessoas ou a gente mesma. Cristal tirou de seu chapéu dourado uma receita, chamada feitiços para raiva que mostrava como lidar com a raiva de forma funcional.

A fada Cristal continuava indo ao quarto de Mimi, e elas conversavam sobre coisas que aconteciam na escola, em casa, com os amigos. Mimi foi mudando aos poucos; ela não brigava mais, ficou conversadeira e alguns colegas ficaram espantados com a sua mudança. Num dia lindo, foi ao aniversário da sua melhor amiga, Mimi estava muito feliz, até que suas amigas a isolaram.

Quando chegou da festa estava brava e brigando. Sua mãe, sentou-se no sofá e chamou-a para conversar. Mimi falou que justamente agora que havia parado de brigar, as amigas não queriam mais brincar com ela, sua mãe a consolou e disse que poderia fazer novas amizades.

Segundo a fada quando começamos a mudar, os outros criticam, estranham pois não sabem o que fazer, então fazem tudo para voltar a ser como antes. Nas semanas seguintes, Mimi fez um monte de novos amigos. A fada lhe mostrou que depois que se passa por uma situação difícil e aprende coisas novas que fazem a gente mudar, aí pode se ajudar outras pessoas. Muitas coisas tinham mudado, as amigas de Mimi começaram a se aproximar novamente e a ver quantas coisas boas podiam aprender com ela. A menina colocou em prática muitos dos conselhos dados pela fada, além de tentar coisas novas como andar de cavalo, nadar. Na última noite antes da volta para escola, Mimi teve sua última conversa com Cristal, onde colocou para a menina que ela já estava preparada para retornar as aulas, pois tinha aprendido muitas coisas novas e poderia agora ajudar ainda mais os seus amigos, havia se tornado uma pessoa especial.

Segunda Parte

A autora decidiu escrever motivada pela dificuldade que as pessoas de forma em geral tem em tornar os sentimentos conscientes, e de lidar com eles de forma funcional, o que inviabiliza o desenvolvimento emocional das crianças que estão por perto destes adultos. Conta que em um determinado momento sua filha lhe mostrou que não agia de acordo com o que falava, isto a fez repensar sobre sua postura e de como as relações com os filhos podem ajudar aos pais a mudarem e a crescerem, desde que estejam abertos a inúmeras possibilidades.

A obra não tem como objetivo mostrar o que é o certo, e sim que sirva de espaço para que o leitor possa refletir sobre suas emoções, de como elas os atingem e ajudar as crianças ao redor a fazerem o mesmo. Quando não seé consciente de sua forma de agir e pensar, pouco se tem possibilidade de escolha. Acredita que as pessoas estão presas a conceitos antigos de causa e efeito, pela busca de culpados para os acontecimentos. Quando uma criança age de forma agressiva, as pessoas tendem a serem parciais, punindo quem bate e socorrendo quem apanha. É muito importante que os adultos que lidam com crianças, busquem ampliar sua visão da situação, tentando ter uma visão mais sistêmica dos acontecimentos. Afirma que não existem bandidos tão poucos mocinhos, que todos os envolvidos em uma determinada situação são responsáveis e parte dela. Acredita que as crianças têm dificuldades em aprender a serem diretas com os seus sentimentos, porque os adultos também não o são. Para ela a raivaé a emoção mais difícil para as crianças. Segundo outros autores, a raiva é um sentimento honesto e normal, o que confunde é a visão que as pessoas tem sobre ela, que é feio sentir raiva. A raiva pode ser funcional e útil, pode ainda denunciar que algo não esta bem ou servir como um instrumento em algumas situações. Pode ser usada como um escudo para facilitar a expressão de outros sentimentos difíceis dos quais não se tem consciência, tais como: frustração, medo, tristeza e rejeição.

A raiva está presente em todas as pessoas,  sejam elas crianças ou adultos, mas se manifesta de forma diferente em cada uma delas,  algumas vezes a própria pessoa não percebe este sentimento, o que as levam a chamarem a atenção sendo teimosas, outras mostram sua raiva na competição, há ainda as que desqualificam a si mesma ou aos outros. Ao aceitar os sentimentos que deixam a pessoa com raiva, fica mais fácil expressá-la de forma adequada, sem se machucar ou magoar o outro. Salienta a  importância de aprender novas formas de lidar com os sentimentos.

Propõe instrumentalizar a criança, para que ela possa através de métodos seguros expressar seus sentimentos. Para isto existe uma grande variedade de exercícios, alguns citados na estória, que ajudam a criança a reconhecer seus sentimentos e desta forma facilitar sua assimilação. Afirma ainda que os rótulos que são colocados nas crianças são perigosos e não rotular só é possível se tiver atitude de não culpabilização da criança, e acima de tudo mostrar a elas que sempre que se faz escolhas se tem que assumir as responsabilidades e as conseqüências. Ressalta a importância de se aprender a respeitar as diferenças, ampliando horizonte com outros pontos de vista. Aceitar o diferente como algo que vai enriquecer os relacionamentos, significa também aceitar suas crianças da maneira que são e não da forma com que foram idealizadas ao planejá-las. Inclui aceitar a possibilidade de elas manifestarem sentimentos de raiva por nós, sem castigá-las por pensarem assim, isso não significa que elas não gostem de nós.

A autora finaliza propondo que na medida em que as pessoas aprendam a gerenciar suas experiências e ampliar sua percepção, estarão ajudando as crianças a lidarem melhor com os seus sentimentos. Assegura que não existe uma atitude funcional para cada situação e sim vários arranjos criativos para lidar com a mesma situação. Lembra que sempre é possível fazer bom uso de uma situação, mesmo que sejam difíceis, transformando-as num aprendizado.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Uma obra indispensável para profissionais que trabalham com crianças, no trabalho com famílias e para as pessoas em geral. Pois possibilita ao leitor, seja ele criança ou adulto,  entrar em contato com seus sentimentos, e através de uma linguagem simples e clara, avaliar as várias possibilidades de administrá-los adequadamente.

A autora teve muita sensibilidade e habilidade ao trazer conceitos sistêmicos e adaptá-los a linguagem infantil. Conceitos importantes como o de não existir certo ou errado, de que existem sempre várias maneiras de se ver uma determinada situação, ou mesmo de transformar situações difíceis em aprendizagem.

Através da relação entre a menina e fada deixou uma linda mensagem, de que se deve respeitar as individualidades de cada um e de que mudar exige coragem, trabalho e determinação; mas vale a pena.

 

Nome do autor da resenha e data: Ednara / Junho - 2005.