Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
A terapia familiar |
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Autor do Livro: |
Maurizio Andolfi |
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Editora, ano de publicação: |
Editorial Veja - 1981 |
Relação dos capítulos
Cap.1- A família como sistema de interação
Cap.2- A formação do sistema terapêutico
Cap.3- Redefinição em terapia familiar
Cap.4- Espaço e ação na terapia
familiar
Cap.5- A prescrição
Cap.6- As crianças e o jogo na terapia
familiar
Cap.7- Exemplos de terapia familiar estrutural
Apanhado resumido sobre cada capítulo (o que consta, conteúdo)
Cap.1
A família como sistema de interação
(Pressuposto Metodológicos do diagnóstico ao estudo do comportamento,
escolha de uma intervenção).
O autor começa colocando a família
como um sistema de interação que, numa perspectiva sistêmica,
obedece às mesmas formulações e princípios válidos
dos sistemas em geral.
Família como um sistema aberto formado
por muitas unidades no conjunto por regras de comportamento e por funções
dinâmicas, em constante interação entre elas e em intercâmbio
com o exterior. Família é um sistema, sendo essencial a exploração
das relações interpessoais e das normas que regulam a vida dos
grupos significativos a que o indivíduo pertence para uma compreensão
do comportamento dos membros e para formação de intervenções
eficazes.
Três aspectos da teoria sistêmica
são aplicados à família para entendimento da intervenção
interativa.
a) Família como sistema em constante transformação
com o fim de assegurar continuidade e crescimento psicossocial aos membros que
a compõem, desenvolvidos através de funções: tendência
homeostática e capacidade de transformação, isto é,
ocorre retroação negativa para manutenção da homeostasia
ou retroação positiva em direção à mudança.
b) Família como sistema ativo auto-regulado
por regras desenvolvíveis e modificáveis no tempo através
de tentativas e erros que permitam aos membros experimentar o que é e
o que não é permitido na relação.
c) Família como sistema aberto em interação
com outros sistemas ( escola, bairro, comunidade profissional e outras).
Na visão sistêmica passa-se do diagnóstico
ao estudo sistêmico do comportamento perturbado. Ocorre a redefinição
num enfoque sistêmico de muitos conceitos ( como contrato, personalidade
e caráter ) e pressupostos terapêuticos tradicionais em relação
ao diagnóstico, mudança, intervenção, etc.
A mudança de paradigma mecanicista causal
e linear para outro holístico e circular.
Do significado individual intrínseco parte
para o estudo dos acontecimentos e das pessoas em função da dinâmica
interativa. O terapeuta ao invés de explicar, participa num processo
ativo de observação dos membros da família.
O objeto da terapia deixa de ser o indivíduo
"doente ".
A redefinição da relação
cliente-terapeuta de que a responsabilidade de curador não cabe exclusivamente
ao terapeuta, mas que as partes estão empenhadas num esforço comum.
Os estudiosos dos problemas familiares dividem-se
em três categorias, conforme Auerwald:
1) Aqueles cuja maneira de valorizar um problema
segue um modelo linear causal tradicional.
2) Aqueles que desenvolveram ou se voltaram para
um modelo ecológico.
3) Aqueles que estão em transição
da 1 para a 2.
Apresenta o caso família Bianchi para ilustrar
a escolha de uma intervenção. E ressalta a importância de
conhecer o contexto sócio-cultural e específico em que vive a
família.
Cap.2
A formação do sistema terapêutico
(A equipe terapêutica e a primeira sessão).
A equipe terapêutica. O setting terapêutico.
Relação terapeuta - supervisor e a diferença com a co-terapia
(designar um membro da família para atuar como co-terapeuta temporário).
Primeira sessão, precedida pela pré-sessão
- o primeiro telefonema. As referências são versões do problema,
não o problema. Informa ao terapeuta aspectos transacionais de importância
inquestionável.
1) O estágio social - família é
recebida e colocada à vontade. Ocorre a apresentação da
equipe, do setting, dos membros da família, o terapeuta faz uso da adequação
da linguagem, estilo pessoal e experiência, busca o entendimento das regras
da família com que está e busca comunicar ao grupo que cada um
é igualmente importante, que está interessado neles como pessoas
e não porque estão em dificuldades, faz observação
do modo como a família se apresenta principalmente quanto ao grau de
concordância entre comunicação verbal e não verbal.
Explora as relações dentro e entre
subsistemas, relações entre pais e filhos; relações
entre os pais; relações entre os filhos; relações
entre os membros da família e o terapeuta.
2) Estágio de focalização
do problema - a maneira de obter informações sobre o problema
onde o autor sugere algumas vias diferentes através das perguntas. "Qual
é o problema de vocês?" dirigida a toda família, ou
a cada um dos membros "Qual é problema para você?" ou
"O que é que espera ao vir aqui?" ou "Que mudanças
gostaria de ver na sua família?".
Maneiras incorretas do obter informação:
a) não deve fazer interpretações
ou comentários para ajudar a ver o problema de forma diferente da que
foi apresentada.
b) não dar conselhos pedagógicos.
c) não deve envolver-se nas respostas emocionais
da família ao problema.
Maneiras corretas de obter informações
e ativar mudanças:
a) encorajar cada membro da família a expressar
a sua opinião sobre o problema, de forma que o terapeuta possa observar
o nível de autonomia e de respeito de cada membro da família.
Evitar que falem pelos outros ou o uso de "nós" inapropriado.
b) Se alguém interrompe, o terapeuta deve
tomar nota do que a outra pessoa dizia e para quem se dirigia quando ocorreu
a interrupção e impedir futuras interrupções.
c) O terapeuta deve encorajar os membros da família
a falar acerca do seu problema em termos concretos, circunscritos, não
aceitando definições ou descrições abstratas ou
gerais.
Neste meio de tempo o terapeuta observa concordância
entre comportamento e conteúdo verbal. Observa onde está o problema.
Na criança ou na situação que a rodeia? Buscando pensar
o discurso e o comportamento num enfoque "relacional". O terapeuta
busca definir o mapa da família para depois definir um plano terapêutico.
3) Estágio interativo - é solicitado
aos familiares para falarem entre eles.
Num primeiro momento, como figura mais central
e responsável, o terapeuta assegura a cada um espaço para auto-expressão,
sendo que no segundo momento - estágio interativo - ele se propõe
a:
a) ativar comunicações diretas entre
membros da família sobre o problema e outras questões relacionadas,
assumindo posição menos central.
b) Receber informações ulteriores
sobre a estrutura da família e suas regras transacionais. Observa o nível
de interação relacional familiar, coleta e seleciona informações
verbais mais marcantes, constrói hipóteses sobre as seqüências
comunicativas funcionais e disfuncionais que ocorrem na sessão.
c) Preparar o caminho para definição
de um objetivo terapêutico.
Finalmente apresenta o caso de Sandro: onde está
a epilepsia? Indicando os elementos relacionais dos subsistemas familiares percebidos
durante a sessão.
4) O contrato terapêutico
Pressupõe a definição de
um objetivo, a formulação clara, circunstanciada e concreta do
comprometimento de cada um pela mudança. Pode se acordar para um número
específico de sessões de acordo com o primeiro objetivo terapêutico,
avaliáveis no final do período e que podem gerar uma recontratação
terapêutica com outros objetivos e tempos diferentes.
O autor coloca que nem sempre é fácil
definir o contrato terapêutico ou planejar a terapia breve, sobretudo
em famílias caracterizadas por transações esquizofrênicas
onde predomina a desqualificação ou em família anoréxica
e em geral, núcleos familiares considerados por Minuchin como pólos
opostos - famílias aglutinadas, caracterizadas por limites rígidos
e impenetráveis e a famílias dispersas, caracterizadas por limites
inexistentes ou lassos.
Há um trabalho terapêutico que precede
o contrato, até que a família aceite que é protagonista
da mudança e o terapeuta (antes visto como protagonista) um observador
participante.
Conforme o caso, ao formular o contrato, o terapeuta
deve também decidir onde intervir (ambulatório, domicílio,
escola ou outra instituição), em casa da família por razões
estratégicas, estas não devem ter o caráter de rotina,
pois o terapeuta interferirá com a autonomia da família.
Cap.3
Redefinição em terapia familiar
(Redefinição da relação terapêutica, Redefinição
do contexto e Redefinição do problema).
Fala do modelo médico de doença,
com a abordagem psiquiátrica de terapia centrada no indivíduo
e a delegação de responsabilidades num especialista, do estereótipo
da relação entre as pessoas que tem o poder de curar porque estão
sãs e as pessoas que têm direito a serem tratadas porque estão
doentes. Sobre as atitudes do terapeuta, como colhe e dá informações,
a escolha das intervenções e finalmente o espaço que caracteriza
a diferença entre os papéis e funções dos participantes,
definindo uma distância segura entre eles (pessoa sã e doente).
Numa perspectiva sistêmica, há que
redefinir a relação terapêutica a fim de que a família
assuma o controle de seus problemas de interação, à medida
que estes se clarificam com a ajuda do terapeuta. Também faz-se necessário
responder algumas questões: como intervir, onde, com quem, em resposta
a que necessidades e com que objetivos? Dá a necessidade de redefinir
a terapia não como uma intervenção centrada num indivíduo
"doente", mas como um ato de participação e crescimento
num grupo com uma história.
Isto significa uma mudança no poder do
terapeuta, baseado na sua capacidade de se questionar e à sua vontade
de correr o risco de se expor, baseado na sua capacidade de se envolver ativamente
nas contradições, papéis e estereótipos sociais
que atuam sobre a família e a equipe terapêutica.
O contexto - que é a atmosfera afetiva e o espaço físico
em que a terapia se desenvolve pode mudar Ele deve permitir à família
redescobrir áreas e relações não expressas, de forma
que o doente identificado possa abandonar seu papel e a família tornar-se
no seu próprio terapeuta.
Este contexto que exigirá redefinição
pode ser de:
a) expectativa e exemplo disto podem ser uma situação
freqüente em que toda atitude da família reside na esperança
de que o terapeuta forneça uma solução, porque se delega
ao especialista a tarefa de mudar o que está no doente identificado ou
ensinar a família a comportar-se com ele.
b) Contexto judicial - em que a família
mais ou menos pede explicitamente ao terapeuta para fazer uma apreciação
favorável para os pais que se sentem ameaçados pelo comportamento
"anormal" de uma de suas crianças.
c) Contexto protetor - ambiente permeado por proteção
e compreensão do comportamento da pessoa
d) Contexto de loucura - são situações
imprevisíveis, dramáticas ou comportamento que parece manifestamente
anormal.
A redefinição do problema é
o foco principal do progresso terapêutico. Significa mudar o enquadramento
conceptual e/ou emocional em relação ao qual uma situação
é sentida e colocá-la noutra moldura que satisfaça os fatos
da mesma situação concreta tão bem ou melhor e assim mude
todo o seu significado, libertando o doente identificado do seu papel de bode
expiatório e a família de culpada, permitindo que esta descubra
as suas próprias capacidades auto - terapêuticas.
Uma das formas de redefinição -
positiva elimina os aspectos redutores e depreciativos da visão que a
família tem de perturbação.
Outra forma consiste em ampliar o problema, agudizar
a percepção que a família tem dele nas sessões.
O espaço terapêutico pode ser usado como uma caixa de ressonância
dos conflitos, expectativas e tensões interpessoais que até então
não tinham sido reconhecidas ou ficado ocultas atrás da fachada
de patologia num dos membros da família.
A redefinição não chama atenção
para coisa alguma, ensina um novo jogo, fazendo assim com que o velho pareça
inútil.
Cap.4
Espaço e ação na
terapia familiar (Comunicação não verbal, Significado do
espaço e Técnicas de ação: escultura)
O conteúdo do capítulo discorre
particularmente sobre o processo de comunicação não verbal,
onde em toda situação de interação, todo comportamento
tem valor de mensagem, i. é, é comunicação, donde
se conclui que, por mais que se tente, não se pode não comunicar
(Watzlawick, Beavin e Jackson).
Para que ocorra comunicação, deve
haver um transmissor, um receptor e uma mensagem. A mensagem é composta
de conteúdo, geralmente expresso pela linguagem e a forma, expressa numa
modalidade não verbal, e que fornece informação respeitante
à relação entre os que comunicam, e em relação
ao contexto.
A comunicação analógica ou
não verbal inclui movimentos corporais: toques, gesticulação,
expressão facial, direção do olhar, o tom de voz, a seqüência,
ritmo e cadência de palavras, assim como a utilização do
espaço pessoal e interpessoal.
No momento, há duas maneiras de interpretar
a comunicação não verbal:
- abordagem psicológica segundo a qual
a comunicação analógica é vista como expressão
de emoções,
- abordagem da comunicação que estuda
e interpreta os comportamentos posturais, o contato físico e o movimento
em relação com o seu contexto social, i é, a coesão
e as regras que regulam as relações dentro do grupo.
A distinção entre forma verbal e
não verbal tem uma grande importância na pragmática da comunicação
humana. Diferem quanto:
a) relação com o objeto a que a
comunicação se refere.
b) Capacidade de transmitir informações
sobre os objetos.
c) Clareza ou ambigüidade.
d) Utilização prevalente em sub
- culturas particulares e grupos etários diversos.
A incongruência entre forma e conteúdo
acontece quando as pessoas fazem muitas vezes afirmações que definem
a relação de uma certa maneira, enquanto ao mesmo tempo contradizem
esta definição por outro comportamento que o nega. Sempre que
as pessoas comunicam umas com as outras, transmitem informações
acerca do conteúdo, mas também acerca da relação.
Se todos os conteúdos das mensagens fossem
sempre comentados congruentemente, todas as relações seriam claramente
definidas.
O significado do espaço.
É uma expressão do nosso modo de
viver e de ser. Ele define um território individual, um local para si
próprio, onde possa encontrar-se e ao mesmo tempo estabelecer relações
com os outros.
Hall propõe uma classificação
em termos de distância íntima ou proximidade:
a) distância íntima, i é,
uma distância próxima que pressupõe um contato físico
o qual tem um valor pragmático notável de reforço da intimidade
da relação espacial (mãe segurando filho) .
b) distância pessoal, uma distância
mais ou menos próxima, donde é eventualmente possível tocar
outra pessoa, estendendo o braço se for o caso, mas onde são mais
claramente definidos os limites de um espaço pessoal próprio (contato
entre dois amigos).
c) Distância social, aquela em que o único
contato direto é de tipo visual. Não necessariamente indica relação
impessoal, o espaço age como uma defesa potencial em relação
a eventuais intrusões do exterior (falar de negócios).
d) Distância pública, aquela que
se utiliza nas relações formais, uma distância de segurança
(conferencista em conferência).
Scheffen a respeito do significado comunicativo da linguagem corporal distinguiu
três modalidades de posição:
a) posição inclusiva e não
inclusiva é o modo como os outros membros de um grupo incluem ou excluem
uma outra pessoa
b) posição face a face ou orientação
paralela do corpo
c) posição de congruência
ou incongruência.
Espaço e movimento na terapia familiar.
Na terapia relacional, o contato físico,
movimento, ação e a presença de outros provocam simultaneamente
associações, significados e comportamentos num dado contexto.
Contato físico e utilização do espaço e do movimento
representam instrumentos operacionais indispensáveis a um terapeuta familiar,
para observar seqüências comunicativas funcionais e disfuncionais,
limites pessoais e interpessoais, vontade de mudança, etc.
A escultura de família é uma das
técnicas não verbais mais ativas usadas. Propõe-se recriar
simbolicamente, através de uma representação tridimensional
das relações entre os membros da família. Utiliza todos
os sistemas - espaço, tempo, energia; desta forma relações,
sentimentos, mudanças podem ser representados e experimentados simultaneamente.
Cap.5
A prescrição (A diretividade
na terapia familiar, Classificação das prescrições,
Prescrições reestruturantes, Prescrições paradoxais
e Prescrições metafóricas).
A terapia familiar, como todas as outras terapias
estratégicas, é inegavelmente diretiva, se bem que diferente da
que é comum nas terapias psicodinâmicas. O terapeuta está
ativamente envolvido com a família na criação de um ambiente
dinâmico, no estabelecimento de objetivos a atingir, na planificação
das intervenções, na avaliação das respostas do
grupo às suas diretivas, modificando-as se necessário, no favorecimento
da autonomia da família no final do processo terapêutico.
A primeira expressão de diretividade está
implícita no simples ato de reunir toda a família, ou de envolver
o núcleo familiar numa operação que requer um confronto
direto e uma tomada de consciência comum. Ou pedir aos membros do grupo
um comportamento ativo para resolver um problema dentro ou fora do sistema familiar,
e rejeitar as tentativas de delegar a responsabilidade para o "especialista"
. O terapeuta, pela forma como utiliza o espaço e o movimento e prescreve
nas sessões, está claramente comunicando que é a pessoa
que conduz o processo terapêutico. Sua função diretiva ainda
é ressaltada pelas consultas com o supervisor, durante as sessões.
Classificação das prescrições
Dar diretivas no decurso da terapia é uma
forma de intervenção estratégica que serve a várias
finalidades como: promover mudança, isto é, ativar novos padrões
transacionais que não necessitem da criação e manutenção
de bodes expiatórios. Cria um ambiente terapêutico, estabelecendo
clima de cooperação e respeito às regras. Dada como trabalho
de casa, amplifica o processo terapêutico, para além do horário
semanal para o âmbito da atividade quotidiana. A família pode experimentar
novas modalidades de comunicação: se tem bons resultados através
da terapia, sente-se mais capaz de funcionar automaticamente, até não
ter necessidade de apoio terapêutico. Induz-se o grupo a viver uma situação
relacional operativa, reduzindo a probabilidade da família utilizar a
defesa verbal e racional.
1. Prescrições reestruturantes
Considera-se reestruturação um processo
em que os habituais padrões transacionais da família são
modificados, usando elementos presentes no sistema. O sistema muda, apesar de
os elementos que o constituem serem os mesmos.
a) contrasistêmicas (usadas para contrastar
diretamente a homeostase do sistema familiar).
b) do contexto (usadas para estabelecer ou manter
um contexto terapêutico).
c) De deslocamento (usadas para deslocar artificialmente
o problema do doente identificado para outro membro da família, ou para
uma nova sintomatologia).
d) De reestruturação sistêmica
(usadas para reestruturar padrões de interação pré
- existentes, utilizando elementos do sistema).
e) De reforço (usadas para reforçar
tendências que são já ativas no sistema familiar, e que
são capazes de promover mudança).
f) De utilização do sistema ( prescrições
de ataque e de aliança).
2. Prescrições paradoxais
Pode-se definir como paradoxal uma situação
em que uma afirmação é verdadeira se, e só se, é
falsa. Acontece este tipo de situação quando são transmitidas
simultaneamente duas mensagens que são pragmaticamente incompatíveis
entre elas.
A utilização do paradoxo terapêutico
é motivada pelo fato de que muitas famílias pedem ajuda, mas ao
mesmo tempo parecem rejeitar todas as ofertas de auxílio. O terapeuta
pode responder ao pedido paradoxal da família com contraparadoxo conforme
abaixo:
a) do sintoma (usada para prescrever o comportamento
perturbado e representa uma resposta ao paradoxo "ajuda-me a mudar sem
mudar nada").
b) De regras (usadas para solicitar a participação
de toda a família, através da prescrição de regras
"peculiares "ao sistema familiar).
3. Prescrições metafóricas
A linguagem metafórica é um meio
de transmitir e de receber mensagens de um indivíduo, de um grupo, de
uma família. Um terapeuta inter-relacional deve habituar-se a falar e
a escutar de forma metafórica. Falar e escutar metaforicamente permite-nos
enviar e receber mensagens múltiplas a diferentes níveis de abstração.
O terapeuta pode utilizar ativamente a metáfora
de várias maneiras. Pode falar metaforicamente, ou pode ativar a família
utilizando uma abordagem metafórica, particularmente pela proposição
de prescrições metafóricas. Falar metaforicamente é
um meio de obter informação, talvez difícil de outras formas,
de grupos familiares que são particularmente rígidos e defensivos.
É possível discutir um tema metaforicamente, escolhendo um tópico
que seja semelhante à situação problema, evitando contudo
tornar explícita a correlação entre as duas. Em certos
casos, a comunicação metafórica promove mudança
através da tomada de consciência, às vezes de forma dramática.
O autor ilustra com dois exemplos de casais com
dificuldades no âmbito sexual, onde utilizou as metáforas de contexto
alimentar a o tema de pintura do quarto de dormir.
Outra forma de comunicar por metáforas
consiste em atribuir-se a um objeto conotações emocionais que
são apropriadas para uma pessoa ou para uma relação interpessoal.
As prescrições metafóricas
funcionam bem com pessoas relutantes em seguir prescrições.
Cap.6
As crianças e o jogo na terapia
familiar
A criança no contexto de família
vista como um sistema de relações, muitas vezes é o melhor
indicador da situação afetiva da família, num dado momento.
No entanto, a presença de crianças, na terapia familiar tem muito
a ver com as características pessoais do terapeuta, sua aceitação
e tolerância, bem como sua experiência, pois não é
fácil interagir apropriadamente com um grupo familiar, devido à
diferença de idades, interesses de seus componentes, às variadas
necessidades às quais o terapeuta deverá ser capaz de responder
adequadamente, adaptando-se a diferentes linguagens, comportamentos e padrões
transacionais. Freqüentemente, o medo de perder o controle de uma situação
imprevisível leva o terapeuta a excluir as crianças, justificando
racionalmente sua decisão ao admitir que, uma vez resolvido o problema
conjugal, o comportamento sintomático da criança desaparecerá
automaticamente.
O terapeuta que inclui crianças na terapia
familiar, deve criar um ambiente onde a criança se sinta à vontade
e que propicie a comunicação entre adultos e crianças,
considerando estas como pessoas com individualidade própria.
Desta maneira, o jogo tem sido utilizado como meio de facilitar a participação
das crianças na terapia familiar e também pode ser usado com adultos,
quer pelo seu significado metafórico, quer como parte de prescrição
ou como estratégia mais ampla e articulada, voltada à mudança
nas regras do sistema familiar.
O jogo também pode servir para redefinir
o contexto terapêutico; permitir que o terapeuta seja aceito no interior
do grupo familiar; serve como meio de obter informações sobre
o sistema familiar, especialmente no que diz respeito à permeabilidade
do sistema, sobre a rigidez de ligações diádicas pais-filhos
e sobre a maior ou menor rigidez dos sub-sistemas; também permite observar
a rigidez da identificação de um dos membros da família
como "doente" assim como as relações entre gerações.
Também é utilizado como modalidade
reestruturante pela sua grande simplicidade e relação direta.
Todo jogo implica em regras assim como os sistemas vivos. Desta forma, ele explicitará
as limitações e inutilidade de certos tipos de relacionamento,
estimulará os participantes a procurarem novas modalidades transacionais
e uma melhor distribuição dos papéis e funções
familiares. Também evidencia a natureza contraditória de certas
mensagens, em que o nível digital contrasta com o analógico, levando
à busca de padrões de relação mais saudáveis
e verdadeiros.
Cap.7
Exemplos de terapia familiar estrutural
O problema da autonomia - o caso de Luciano
O sistema familiar apresenta-se como um tríade
rígida, um tipo de estrutura familiar em que existem problemas crônicos
em relação às fronteiras de gerações, onde
a regra é uma utilização rígida de um filho nos
conflitos conjugais. No caso desta família o mecanismo preferido da tríade
rígida seria o desvio dos conflitos conjugais e a utilização
rígida de Luciano.
O quadro sintomático é caracterizado
por ansiedade marcada, expressa numa instabilidade psicomotora generalizada
e atividade destrutiva; agressividade, predominante sobre objetos; traços
hipocondríacos e fóbicos (recusa de se deslocar em carros, sair
sozinho, etc ); idéias de auto-referência em relação
a colegas e familiares. Ele apresenta um comportamento exibicionista, agressividade
verbal, linguagem obscena alternando com comportamentos insinuantes e sedutores.
Coloca-se freqüentemente no centro dos acontecimentos, muitas vezes com
compensações mitômanas. Tende a subtrair-se a situações
ansiógenas pelo riso, mutismo ou agressividade verbal. A capacidade de
assumir um papel ativo fora de casa contrasta com um comportamento de dominação
da família, que chega a paralisar qualquer possibilidade de interação
dos pais, apesar de pedir continuamente ajuda. A vida familiar está organizada
à volta do seu medo de ficar sozinho, que o força a dormir com
a mãe, enquanto o pai dorme na sala de estar, sendo evidente a contradição
entre o pedido de autonomia de Luciano e as suas fortes necessidades de dependência.
Uma família com uma criança ecoprética
- o caso de Andy
A família negra é constituída
pela mãe e quatro crianças. Os pais são separados, o pai
mantém pouco contato com as crianças e a mãe trabalha muito
para dar a eles um vida com dignidade. As crianças aprendem a ser auto-suficientes
e a assumir muitas responsabilidades, quando a mãe está no trabalho.
O autor desenvolve a terapia familiar no significado
metafórico da ecoprese de Andy, cuja função seria de sinal
de alarme de um mal-estar profundo em que a família sentia, a diversos
níveis, desde há muito tempo, mas com o qual não se confrontava
diretamente. O trabalho terapêutico concentrou-se não na encoprese,
mas em encontrar um novo padrão de relações familiares,
mais desejável as necessidades de todos os membros.
Apreciação pessoal sobre o livro
Identifico-me com o autor, que me parece muito hábil no uso das palavras para descrever situações relacionadas às pessoas. Parece-me muito sensível na percepção, além de muito criativo no trato das questões de conflitos. A linguagem abordada, a forma de apresentação combinando teoria e aplicação prática foi bastante agradável para mim. Leitura fácil, gostosa, fluída. Aprendi muito especialmente com o tópico da redefinição terapêutica e a prescrição, assunto que considero dos mais difíceis.
Nome do autor da resenha e data: Cléia Mara Perez - 01/2000.