Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A terapia familiar

 

Autor do Livro:

Maurizio Andolfi

 

Editora, ano de publicação:

Editorial Veja - 1981

 

Relação dos capítulos

     Cap.1- A família como sistema de interação
     Cap.2- A formação do sistema terapêutico
     Cap.3- Redefinição em terapia familiar
     Cap.4- Espaço e ação na terapia familiar
     Cap.5- A prescrição
     Cap.6- As crianças e o jogo na terapia familiar
     Cap.7- Exemplos de terapia familiar estrutural


Apanhado resumido sobre cada capítulo (o que consta, conteúdo)

     Cap.1

     A família como sistema de interação (Pressuposto Metodológicos do diagnóstico ao estudo do comportamento, escolha de uma intervenção).
     O autor começa colocando a família como um sistema de interação que, numa perspectiva sistêmica, obedece às mesmas formulações e princípios válidos dos sistemas em geral.
     Família como um sistema aberto formado por muitas unidades no conjunto por regras de comportamento e por funções dinâmicas, em constante interação entre elas e em intercâmbio com o exterior. Família é um sistema, sendo essencial a exploração das relações interpessoais e das normas que regulam a vida dos grupos significativos a que o indivíduo pertence para uma compreensão do comportamento dos membros e para formação de intervenções eficazes.
     Três aspectos da teoria sistêmica são aplicados à família para entendimento da intervenção interativa.
     a) Família como sistema em constante transformação com o fim de assegurar continuidade e crescimento psicossocial aos membros que a compõem, desenvolvidos através de funções: tendência homeostática e capacidade de transformação, isto é, ocorre retroação negativa para manutenção da homeostasia ou retroação positiva em direção à mudança.
     b) Família como sistema ativo auto-regulado por regras desenvolvíveis e modificáveis no tempo através de tentativas e erros que permitam aos membros experimentar o que é e o que não é permitido na relação.
     c) Família como sistema aberto em interação com outros sistemas ( escola, bairro, comunidade profissional e outras).
     Na visão sistêmica passa-se do diagnóstico ao estudo sistêmico do comportamento perturbado. Ocorre a redefinição num enfoque sistêmico de muitos conceitos ( como contrato, personalidade e caráter ) e pressupostos terapêuticos tradicionais em relação ao diagnóstico, mudança, intervenção, etc.
     A mudança de paradigma mecanicista causal e linear para outro holístico e circular.
     Do significado individual intrínseco parte para o estudo dos acontecimentos e das pessoas em função da dinâmica interativa. O terapeuta ao invés de explicar, participa num processo ativo de observação dos membros da família.
     O objeto da terapia deixa de ser o indivíduo "doente ".
     A redefinição da relação cliente-terapeuta de que a responsabilidade de curador não cabe exclusivamente ao terapeuta, mas que as partes estão empenhadas num esforço comum.
     Os estudiosos dos problemas familiares dividem-se em três categorias, conforme Auerwald:
     1) Aqueles cuja maneira de valorizar um problema segue um modelo linear causal tradicional.
     2) Aqueles que desenvolveram ou se voltaram para um modelo ecológico.
     3) Aqueles que estão em transição da 1 para a 2.
     Apresenta o caso família Bianchi para ilustrar a escolha de uma intervenção. E ressalta a importância de conhecer o contexto sócio-cultural e específico em que vive a família.

 

     Cap.2

     A formação do sistema terapêutico (A equipe terapêutica e a primeira sessão).
     A equipe terapêutica. O setting terapêutico. Relação terapeuta - supervisor e a diferença com a co-terapia (designar um membro da família para atuar como co-terapeuta temporário).
     Primeira sessão, precedida pela pré-sessão - o primeiro telefonema. As referências são versões do problema, não o problema. Informa ao terapeuta aspectos transacionais de importância inquestionável.
     1) O estágio social - família é recebida e colocada à vontade. Ocorre a apresentação da equipe, do setting, dos membros da família, o terapeuta faz uso da adequação da linguagem, estilo pessoal e experiência, busca o entendimento das regras da família com que está e busca comunicar ao grupo que cada um é igualmente importante, que está interessado neles como pessoas e não porque estão em dificuldades, faz observação do modo como a família se apresenta principalmente quanto ao grau de concordância entre comunicação verbal e não verbal.
     Explora as relações dentro e entre subsistemas, relações entre pais e filhos; relações entre os pais; relações entre os filhos; relações entre os membros da família e o terapeuta.
     2) Estágio de focalização do problema - a maneira de obter informações sobre o problema onde o autor sugere algumas vias diferentes através das perguntas. "Qual é o problema de vocês?" dirigida a toda família, ou a cada um dos membros "Qual é problema para você?" ou "O que é que espera ao vir aqui?" ou "Que mudanças gostaria de ver na sua família?".
     Maneiras incorretas do obter informação:
     a) não deve fazer interpretações ou comentários para ajudar a ver o problema de forma diferente da que foi apresentada.
     b) não dar conselhos pedagógicos.
     c) não deve envolver-se nas respostas emocionais da família ao problema.
     Maneiras corretas de obter informações e ativar mudanças:
     a) encorajar cada membro da família a expressar a sua opinião sobre o problema, de forma que o terapeuta possa observar o nível de autonomia e de respeito de cada membro da família. Evitar que falem pelos outros ou o uso de "nós" inapropriado.
     b) Se alguém interrompe, o terapeuta deve tomar nota do que a outra pessoa dizia e para quem se dirigia quando ocorreu a interrupção e impedir futuras interrupções.
     c) O terapeuta deve encorajar os membros da família a falar acerca do seu problema em termos concretos, circunscritos, não aceitando definições ou descrições abstratas ou gerais.
     Neste meio de tempo o terapeuta observa concordância entre comportamento e conteúdo verbal. Observa onde está o problema. Na criança ou na situação que a rodeia? Buscando pensar o discurso e o comportamento num enfoque "relacional". O terapeuta busca definir o mapa da família para depois definir um plano terapêutico.
     3) Estágio interativo - é solicitado aos familiares para falarem entre eles.
     Num primeiro momento, como figura mais central e responsável, o terapeuta assegura a cada um espaço para auto-expressão, sendo que no segundo momento - estágio interativo - ele se propõe a:
     a) ativar comunicações diretas entre membros da família sobre o problema e outras questões relacionadas, assumindo posição menos central.
     b) Receber informações ulteriores sobre a estrutura da família e suas regras transacionais. Observa o nível de interação relacional familiar, coleta e seleciona informações verbais mais marcantes, constrói hipóteses sobre as seqüências comunicativas funcionais e disfuncionais que ocorrem na sessão.
     c) Preparar o caminho para definição de um objetivo terapêutico.
     Finalmente apresenta o caso de Sandro: onde está a epilepsia? Indicando os elementos relacionais dos subsistemas familiares percebidos durante a sessão.
     4) O contrato terapêutico
     Pressupõe a definição de um objetivo, a formulação clara, circunstanciada e concreta do comprometimento de cada um pela mudança. Pode se acordar para um número específico de sessões de acordo com o primeiro objetivo terapêutico, avaliáveis no final do período e que podem gerar uma recontratação terapêutica com outros objetivos e tempos diferentes.
     O autor coloca que nem sempre é fácil definir o contrato terapêutico ou planejar a terapia breve, sobretudo em famílias caracterizadas por transações esquizofrênicas onde predomina a desqualificação ou em família anoréxica e em geral, núcleos familiares considerados por Minuchin como pólos opostos - famílias aglutinadas, caracterizadas por limites rígidos e impenetráveis e a famílias dispersas, caracterizadas por limites inexistentes ou lassos.
     Há um trabalho terapêutico que precede o contrato, até que a família aceite que é protagonista da mudança e o terapeuta (antes visto como protagonista) um observador participante.
     Conforme o caso, ao formular o contrato, o terapeuta deve também decidir onde intervir (ambulatório, domicílio, escola ou outra instituição), em casa da família por razões estratégicas, estas não devem ter o caráter de rotina, pois o terapeuta interferirá com a autonomia da família.

 

     Cap.3

     Redefinição em terapia familiar (Redefinição da relação terapêutica, Redefinição do contexto e Redefinição do problema).
     Fala do modelo médico de doença, com a abordagem psiquiátrica de terapia centrada no indivíduo e a delegação de responsabilidades num especialista, do estereótipo da relação entre as pessoas que tem o poder de curar porque estão sãs e as pessoas que têm direito a serem tratadas porque estão doentes. Sobre as atitudes do terapeuta, como colhe e dá informações, a escolha das intervenções e finalmente o espaço que caracteriza a diferença entre os papéis e funções dos participantes, definindo uma distância segura entre eles (pessoa sã e doente).
     Numa perspectiva sistêmica, há que redefinir a relação terapêutica a fim de que a família assuma o controle de seus problemas de interação, à medida que estes se clarificam com a ajuda do terapeuta. Também faz-se necessário responder algumas questões: como intervir, onde, com quem, em resposta a que necessidades e com que objetivos? Dá a necessidade de redefinir a terapia não como uma intervenção centrada num indivíduo "doente", mas como um ato de participação e crescimento num grupo com uma história.
     Isto significa uma mudança no poder do terapeuta, baseado na sua capacidade de se questionar e à sua vontade de correr o risco de se expor, baseado na sua capacidade de se envolver ativamente nas contradições, papéis e estereótipos sociais que atuam sobre a família e a equipe terapêutica.
O contexto - que é a atmosfera afetiva e o espaço físico em que a terapia se desenvolve pode mudar Ele deve permitir à família redescobrir áreas e relações não expressas, de forma que o doente identificado possa abandonar seu papel e a família tornar-se no seu próprio terapeuta.
     Este contexto que exigirá redefinição pode ser de:
     a) expectativa e exemplo disto podem ser uma situação freqüente em que toda atitude da família reside na esperança de que o terapeuta forneça uma solução, porque se delega ao especialista a tarefa de mudar o que está no doente identificado ou ensinar a família a comportar-se com ele.
     b) Contexto judicial - em que a família mais ou menos pede explicitamente ao terapeuta para fazer uma apreciação favorável para os pais que se sentem ameaçados pelo comportamento "anormal" de uma de suas crianças.
     c) Contexto protetor - ambiente permeado por proteção e compreensão do comportamento da pessoa
     d) Contexto de loucura - são situações imprevisíveis, dramáticas ou comportamento que parece manifestamente anormal.
     A redefinição do problema é o foco principal do progresso terapêutico. Significa mudar o enquadramento conceptual e/ou emocional em relação ao qual uma situação é sentida e colocá-la noutra moldura que satisfaça os fatos da mesma situação concreta tão bem ou melhor e assim mude todo o seu significado, libertando o doente identificado do seu papel de bode expiatório e a família de culpada, permitindo que esta descubra as suas próprias capacidades auto - terapêuticas.
     Uma das formas de redefinição - positiva elimina os aspectos redutores e depreciativos da visão que a família tem de perturbação.
     Outra forma consiste em ampliar o problema, agudizar a percepção que a família tem dele nas sessões. O espaço terapêutico pode ser usado como uma caixa de ressonância dos conflitos, expectativas e tensões interpessoais que até então não tinham sido reconhecidas ou ficado ocultas atrás da fachada de patologia num dos membros da família.
     A redefinição não chama atenção para coisa alguma, ensina um novo jogo, fazendo assim com que o velho pareça inútil.

 

     Cap.4

     Espaço e ação na terapia familiar (Comunicação não verbal, Significado do espaço e Técnicas de ação: escultura)
     O conteúdo do capítulo discorre particularmente sobre o processo de comunicação não verbal, onde em toda situação de interação, todo comportamento tem valor de mensagem, i. é, é comunicação, donde se conclui que, por mais que se tente, não se pode não comunicar (Watzlawick, Beavin e Jackson).
     Para que ocorra comunicação, deve haver um transmissor, um receptor e uma mensagem. A mensagem é composta de conteúdo, geralmente expresso pela linguagem e a forma, expressa numa modalidade não verbal, e que fornece informação respeitante à relação entre os que comunicam, e em relação ao contexto.
     A comunicação analógica ou não verbal inclui movimentos corporais: toques, gesticulação, expressão facial, direção do olhar, o tom de voz, a seqüência, ritmo e cadência de palavras, assim como a utilização do espaço pessoal e interpessoal.
     No momento, há duas maneiras de interpretar a comunicação não verbal:
     - abordagem psicológica segundo a qual a comunicação analógica é vista como expressão de emoções,
     - abordagem da comunicação que estuda e interpreta os comportamentos posturais, o contato físico e o movimento em relação com o seu contexto social, i é, a coesão e as regras que regulam as relações dentro do grupo.
     A distinção entre forma verbal e não verbal tem uma grande importância na pragmática da comunicação humana. Diferem quanto:
     a) relação com o objeto a que a comunicação se refere.
     b) Capacidade de transmitir informações sobre os objetos.
     c) Clareza ou ambigüidade.
     d) Utilização prevalente em sub - culturas particulares e grupos etários diversos.
     A incongruência entre forma e conteúdo acontece quando as pessoas fazem muitas vezes afirmações que definem a relação de uma certa maneira, enquanto ao mesmo tempo contradizem esta definição por outro comportamento que o nega. Sempre que as pessoas comunicam umas com as outras, transmitem informações acerca do conteúdo, mas também acerca da relação.
     Se todos os conteúdos das mensagens fossem sempre comentados congruentemente, todas as relações seriam claramente definidas.
     O significado do espaço.
     É uma expressão do nosso modo de viver e de ser. Ele define um território individual, um local para si próprio, onde possa encontrar-se e ao mesmo tempo estabelecer relações com os outros.
     Hall propõe uma classificação em termos de distância íntima ou proximidade:
     a) distância íntima, i é, uma distância próxima que pressupõe um contato físico o qual tem um valor pragmático notável de reforço da intimidade da relação espacial (mãe segurando filho) .
     b) distância pessoal, uma distância mais ou menos próxima, donde é eventualmente possível tocar outra pessoa, estendendo o braço se for o caso, mas onde são mais claramente definidos os limites de um espaço pessoal próprio (contato entre dois amigos).
     c) Distância social, aquela em que o único contato direto é de tipo visual. Não necessariamente indica relação impessoal, o espaço age como uma defesa potencial em relação a eventuais intrusões do exterior (falar de negócios).
     d) Distância pública, aquela que se utiliza nas relações formais, uma distância de segurança (conferencista em conferência).
Scheffen a respeito do significado comunicativo da linguagem corporal distinguiu três modalidades de posição:
     a) posição inclusiva e não inclusiva é o modo como os outros membros de um grupo incluem ou excluem uma outra pessoa
     b) posição face a face ou orientação paralela do corpo
     c) posição de congruência ou incongruência.
     Espaço e movimento na terapia familiar.
     Na terapia relacional, o contato físico, movimento, ação e a presença de outros provocam simultaneamente associações, significados e comportamentos num dado contexto. Contato físico e utilização do espaço e do movimento representam instrumentos operacionais indispensáveis a um terapeuta familiar, para observar seqüências comunicativas funcionais e disfuncionais, limites pessoais e interpessoais, vontade de mudança, etc.
     A escultura de família é uma das técnicas não verbais mais ativas usadas. Propõe-se recriar simbolicamente, através de uma representação tridimensional das relações entre os membros da família. Utiliza todos os sistemas - espaço, tempo, energia; desta forma relações, sentimentos, mudanças podem ser representados e experimentados simultaneamente.

     Cap.5

     A prescrição (A diretividade na terapia familiar, Classificação das prescrições, Prescrições reestruturantes, Prescrições paradoxais e Prescrições metafóricas).
     A terapia familiar, como todas as outras terapias estratégicas, é inegavelmente diretiva, se bem que diferente da que é comum nas terapias psicodinâmicas. O terapeuta está ativamente envolvido com a família na criação de um ambiente dinâmico, no estabelecimento de objetivos a atingir, na planificação das intervenções, na avaliação das respostas do grupo às suas diretivas, modificando-as se necessário, no favorecimento da autonomia da família no final do processo terapêutico.
     A primeira expressão de diretividade está implícita no simples ato de reunir toda a família, ou de envolver o núcleo familiar numa operação que requer um confronto direto e uma tomada de consciência comum. Ou pedir aos membros do grupo um comportamento ativo para resolver um problema dentro ou fora do sistema familiar, e rejeitar as tentativas de delegar a responsabilidade para o "especialista" . O terapeuta, pela forma como utiliza o espaço e o movimento e prescreve nas sessões, está claramente comunicando que é a pessoa que conduz o processo terapêutico. Sua função diretiva ainda é ressaltada pelas consultas com o supervisor, durante as sessões.
     Classificação das prescrições
     Dar diretivas no decurso da terapia é uma forma de intervenção estratégica que serve a várias finalidades como: promover mudança, isto é, ativar novos padrões transacionais que não necessitem da criação e manutenção de bodes expiatórios. Cria um ambiente terapêutico, estabelecendo clima de cooperação e respeito às regras. Dada como trabalho de casa, amplifica o processo terapêutico, para além do horário semanal para o âmbito da atividade quotidiana. A família pode experimentar novas modalidades de comunicação: se tem bons resultados através da terapia, sente-se mais capaz de funcionar automaticamente, até não ter necessidade de apoio terapêutico. Induz-se o grupo a viver uma situação relacional operativa, reduzindo a probabilidade da família utilizar a defesa verbal e racional.
     1. Prescrições reestruturantes
     Considera-se reestruturação um processo em que os habituais padrões transacionais da família são modificados, usando elementos presentes no sistema. O sistema muda, apesar de os elementos que o constituem serem os mesmos.
     a) contrasistêmicas (usadas para contrastar diretamente a homeostase do sistema familiar).
     b) do contexto (usadas para estabelecer ou manter um contexto terapêutico).
     c) De deslocamento (usadas para deslocar artificialmente o problema do doente identificado para outro membro da família, ou para uma nova sintomatologia).
     d) De reestruturação sistêmica (usadas para reestruturar padrões de interação pré - existentes, utilizando elementos do sistema).
     e) De reforço (usadas para reforçar tendências que são já ativas no sistema familiar, e que são capazes de promover mudança).
     f) De utilização do sistema ( prescrições de ataque e de aliança).
     2. Prescrições paradoxais
     Pode-se definir como paradoxal uma situação em que uma afirmação é verdadeira se, e só se, é falsa. Acontece este tipo de situação quando são transmitidas simultaneamente duas mensagens que são pragmaticamente incompatíveis entre elas.
     A utilização do paradoxo terapêutico é motivada pelo fato de que muitas famílias pedem ajuda, mas ao mesmo tempo parecem rejeitar todas as ofertas de auxílio. O terapeuta pode responder ao pedido paradoxal da família com contraparadoxo conforme abaixo:
     a) do sintoma (usada para prescrever o comportamento perturbado e representa uma resposta ao paradoxo "ajuda-me a mudar sem mudar nada").
     b) De regras (usadas para solicitar a participação de toda a família, através da prescrição de regras "peculiares "ao sistema familiar).
     3. Prescrições metafóricas
     A linguagem metafórica é um meio de transmitir e de receber mensagens de um indivíduo, de um grupo, de uma família. Um terapeuta inter-relacional deve habituar-se a falar e a escutar de forma metafórica. Falar e escutar metaforicamente permite-nos enviar e receber mensagens múltiplas a diferentes níveis de abstração.
     O terapeuta pode utilizar ativamente a metáfora de várias maneiras. Pode falar metaforicamente, ou pode ativar a família utilizando uma abordagem metafórica, particularmente pela proposição de prescrições metafóricas. Falar metaforicamente é um meio de obter informação, talvez difícil de outras formas, de grupos familiares que são particularmente rígidos e defensivos. É possível discutir um tema metaforicamente, escolhendo um tópico que seja semelhante à situação problema, evitando contudo tornar explícita a correlação entre as duas. Em certos casos, a comunicação metafórica promove mudança através da tomada de consciência, às vezes de forma dramática.
     O autor ilustra com dois exemplos de casais com dificuldades no âmbito sexual, onde utilizou as metáforas de contexto alimentar a o tema de pintura do quarto de dormir.
     Outra forma de comunicar por metáforas consiste em atribuir-se a um objeto conotações emocionais que são apropriadas para uma pessoa ou para uma relação interpessoal.
     As prescrições metafóricas funcionam bem com pessoas relutantes em seguir prescrições.

 

     Cap.6

     As crianças e o jogo na terapia familiar
     A criança no contexto de família vista como um sistema de relações, muitas vezes é o melhor indicador da situação afetiva da família, num dado momento. No entanto, a presença de crianças, na terapia familiar tem muito a ver com as características pessoais do terapeuta, sua aceitação e tolerância, bem como sua experiência, pois não é fácil interagir apropriadamente com um grupo familiar, devido à diferença de idades, interesses de seus componentes, às variadas necessidades às quais o terapeuta deverá ser capaz de responder adequadamente, adaptando-se a diferentes linguagens, comportamentos e padrões transacionais. Freqüentemente, o medo de perder o controle de uma situação imprevisível leva o terapeuta a excluir as crianças, justificando racionalmente sua decisão ao admitir que, uma vez resolvido o problema conjugal, o comportamento sintomático da criança desaparecerá automaticamente.
     O terapeuta que inclui crianças na terapia familiar, deve criar um ambiente onde a criança se sinta à vontade e que propicie a comunicação entre adultos e crianças, considerando estas como pessoas com individualidade própria.
Desta maneira, o jogo tem sido utilizado como meio de facilitar a participação das crianças na terapia familiar e também pode ser usado com adultos, quer pelo seu significado metafórico, quer como parte de prescrição ou como estratégia mais ampla e articulada, voltada à mudança nas regras do sistema familiar.
     O jogo também pode servir para redefinir o contexto terapêutico; permitir que o terapeuta seja aceito no interior do grupo familiar; serve como meio de obter informações sobre o sistema familiar, especialmente no que diz respeito à permeabilidade do sistema, sobre a rigidez de ligações diádicas pais-filhos e sobre a maior ou menor rigidez dos sub-sistemas; também permite observar a rigidez da identificação de um dos membros da família como "doente" assim como as relações entre gerações.
     Também é utilizado como modalidade reestruturante pela sua grande simplicidade e relação direta. Todo jogo implica em regras assim como os sistemas vivos. Desta forma, ele explicitará as limitações e inutilidade de certos tipos de relacionamento, estimulará os participantes a procurarem novas modalidades transacionais e uma melhor distribuição dos papéis e funções familiares. Também evidencia a natureza contraditória de certas mensagens, em que o nível digital contrasta com o analógico, levando à busca de padrões de relação mais saudáveis e verdadeiros.

 

     Cap.7

     Exemplos de terapia familiar estrutural
     O problema da autonomia - o caso de Luciano
     O sistema familiar apresenta-se como um tríade rígida, um tipo de estrutura familiar em que existem problemas crônicos em relação às fronteiras de gerações, onde a regra é uma utilização rígida de um filho nos conflitos conjugais. No caso desta família o mecanismo preferido da tríade rígida seria o desvio dos conflitos conjugais e a utilização rígida de Luciano.
     O quadro sintomático é caracterizado por ansiedade marcada, expressa numa instabilidade psicomotora generalizada e atividade destrutiva; agressividade, predominante sobre objetos; traços hipocondríacos e fóbicos (recusa de se deslocar em carros, sair sozinho, etc ); idéias de auto-referência em relação a colegas e familiares. Ele apresenta um comportamento exibicionista, agressividade verbal, linguagem obscena alternando com comportamentos insinuantes e sedutores. Coloca-se freqüentemente no centro dos acontecimentos, muitas vezes com compensações mitômanas. Tende a subtrair-se a situações ansiógenas pelo riso, mutismo ou agressividade verbal. A capacidade de assumir um papel ativo fora de casa contrasta com um comportamento de dominação da família, que chega a paralisar qualquer possibilidade de interação dos pais, apesar de pedir continuamente ajuda. A vida familiar está organizada à volta do seu medo de ficar sozinho, que o força a dormir com a mãe, enquanto o pai dorme na sala de estar, sendo evidente a contradição entre o pedido de autonomia de Luciano e as suas fortes necessidades de dependência.
     Uma família com uma criança ecoprética - o caso de Andy
     A família negra é constituída pela mãe e quatro crianças. Os pais são separados, o pai mantém pouco contato com as crianças e a mãe trabalha muito para dar a eles um vida com dignidade. As crianças aprendem a ser auto-suficientes e a assumir muitas responsabilidades, quando a mãe está no trabalho.
     O autor desenvolve a terapia familiar no significado metafórico da ecoprese de Andy, cuja função seria de sinal de alarme de um mal-estar profundo em que a família sentia, a diversos níveis, desde há muito tempo, mas com o qual não se confrontava diretamente. O trabalho terapêutico concentrou-se não na encoprese, mas em encontrar um novo padrão de relações familiares, mais desejável as necessidades de todos os membros.


Apreciação pessoal sobre o livro

     Identifico-me com o autor, que me parece muito hábil no uso das palavras para descrever situações relacionadas às pessoas. Parece-me muito sensível na percepção, além de muito criativo no trato das questões de conflitos. A linguagem abordada, a forma de apresentação combinando teoria e aplicação prática foi bastante agradável para mim. Leitura fácil, gostosa, fluída. Aprendi muito especialmente com o tópico da redefinição terapêutica e a prescrição, assunto que considero dos mais difíceis.

 

Nome do autor da resenha e data: Cléia Mara Perez - 01/2000.