Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

A terapia familiar

 

Autor do Livro:

Maurizio Andolfi

 

Editora, ano de publicação:

Editorial Veja/Universidade - 1981

 

Relação dos capítulos

Introdução

Cap.1- A família como Sistema de Interação.

Cap.2- A formação do Sistema Terapêutico.

Cap.3- Redefinição em Terapia Familiar.

Cap.4- Espaço e Ação na Terapia Familiar.

Cap.5- A Prescrição.

Cap.6- As crianças e o jogo na Terapia Familiar.

Cap.7- Exemplos de Terapia Familiar Estrutural.

Apanhado resumido sobre cada capítulo (o que consta, conteúdo)

Introdução

Tem como objetivo dar noções do que será trabalhado no decorrer de todo o livro, tais como diferenças entre a investigação tradicional e a sistêmica, entendimento da família como um sistema, onde cada membro interage diretamente no funcionamento do restante do sistema, além de sistematizar uma série de conceitos fundamentais para que o trabalho sob uma ótica sistêmica possa transcorrer.

Ressalta também que devemos nos deter na significação que o sintoma tem para aquele sistema ao invés de valorizá-la por si só.

 

Cap.1- A Família como Sistema de Interação

Este capítulo trata de alguns aspectos relativos às diferenças entre as abordagens, sem deixar de pontuar aspectos importantes da Teoria Relacional Sistêmica.

Um dos aspectos abordados como diferença refere-se à pouca relevância a estrutura interna e ao conteúdo. O que conta é que acontece entre as unidades do sistema, como este funciona. Este mapeamento é fundamental por que ao mexer numa unidade do sistema, influenciaremos o restante.

Andolfi considera três aspectos da teoria sistêmica aplicados à família:

a) A família como sistema em constante transformação;

b) A família como um sistema ativo e auto-regulado por regras desenvolvíveis e modificáveis no tempo através de tentativas e erros que prmitam aos membros do sistema experenciarem o que é e o que não é permitido, formando uma unidade sistêmica apoiada em modalidades relacionais peculiares ao próprio sistema.

c) A família como um sistema aberto em interação com outros sistemas. Quando diferencia o estudo sistêmico dos demais, ressalta que é muito mais que transferir o foco do indivíduo para a família; passamos a entender os processos, antes internos, como relacionais.

Outro aspecto que diferencia o pensamento sistêmico e que é muito criticado refere-se a uma atenção maior ao presente do que ao passado. O pensamento sistêmico não tem seu foco no passado, mas quando torna-se relevante ele aparece através da evolução histórica e temporal do cliente.

Outras diferenciações significativas são em relação à pouca ênfase no conteúdo e a valorização no funcionamento: como aquele comportamento conflitante interage com os outros membros do sistema.

Na abordagem sistêmica, com base nestes aspectos citados e tendo preocupação em conhecer o funcionamento do sistema, o terapeuta processa todas as informações e traça um mapa da estrutura familiar. Responsabiliza todos os membros do sistema pelas aprendizagens a serem feitas quando solicita que cada um define objetivos que conduzam às mudanças necessárias.

 

Cap.2- A Formação do Sistema Terapêutico

Este capítulo é dedicado a primeira sessão e sua importância para que ocorra processo terapêutico ou não.

Geralmente a primeira sessão é precedida por um contato telefônico onde o terapeuta já colhe valiosas informações para programar a primeira sessão.

Como é apresentada a queixa, quem faz o contato telefônico, para quem é a terapia, são dados significativos para posterior avaliação.

Andolfi sugere que o processo terapêutico tenha algumas fases:

a) Estádio social - vinculação e continuidade da coleta de informações iniciada no contato telefônico para realizar o mapeamento da família.

b) Estudo do problema - exploração do motivo da consulta assim omo obter as expectativas da família em relação ao processo terapêutico. É fundamental estar atento não só a fala mas também às atitudes, gestos, disposição dos membros ao sentarem, etc..

c) Estadio Interativo - descentralizar a figura do terapeuta, que num primeiro momento assume a posição central, garantindo a ativação das comunicações entre os membros, aumentando o número de informações sobre a estrutura e funcionamento do sistema possibilitando assim a definição do(s) objetivo(s) do processo terapêutico.

d) Contrato terapêutico - é fundamental para que se estabeleça um processo terapêutico. Não precisa ser definido na primeira sessão, mas também não deve alongar-se demais. Na redefinição, o contrato pode ser ampliado ou mesmo modificado, ele não é rígido.

 

Cap.3- Redefinição em Terapia Familiar

Um dos principais objetivos do processo terapêutico é aliviar um estado de sofrimento que motivou a procura por uma intervenção.

Este sofrimento pode ser entendido como um sintoma de uma perturbação mais ampla que afeta e é afetada por outros fatores. Numa visão sistêmica é isto que ocorre num sistema familiar; temos que buscar o significado interativo desde sintoma e suas implicações na família e no contexto social em que aparecem.

Uma das principais redefinições a fazer é responsabilizar a família pela solução de seus problemas, sendo o terapeuta um facilitador do processo. Deste modo o terapeuta deixa de ser o "todo-poderoso"e a família torna-se parte ativa no processo de mudança.

Outras redefinições importantes para obtermos resultados satisfatórios no processo terapêutico referem-se ao contexto ( redefinir canais de interação, resposta para origem do problema e expectativas ) e ao problema. Este último é o ponto de partida para que o processo terapêutico seja viável. Trata-se de estender nossa percepção do problema e vê-lo sobre outras óticas e consequente significado.

Ligado a isto está a preocupação em redefinir positivamente o sintoma, que é visto como doença, para o que Andolfi chama nó interativo das tensões familiares e extra-familiares. Devemos eliminar os aspectos depreciativos e preconceituosos que a família tem do sintoma e torná-lo um estímulo para procurarem outros modos de relação.

É importante não desconsiderar os sentimentos que a dificuldade provoca na família, mas podemos ampliar sua percepção e transformar a maneira como sentem estas dificuldades.

Para facilitar a redefinição do problema Andolfi sugere em algumas ocasiões agudizar a percepção que a família tem dele nas sessões, utilizando metáforas, psicodrama, etc...

 

Cap.4- Espaço e Ação na Terapia Familiar

Este capítulo amplia o entendimento da comunicação, antes diretamente ligada à linguagem, mostrando que todo comportamento tem valor de mensagem, onde conclui que não se pode não se comunicar.

A comunicação não verbal contradiz ou não a comunicação verbal. Muitas vezes a pessoa demonstra com o corpo sentimentos diferentes do que está externalizando. Isto é fundamental no processo terapêutico; auxilia o terapeuta no mapeamento da estrutura e funcionamento da família.

Ainda relacionado à questão da comunicação não verbal encontra-se o significado do espaço. O espaço é muito mais que um lugar; é o nosso modo de viver e ser.

Podemos perceber em relação ao espaço a mesma incongruência comentada anteriormente em relação aos comportamentos e sentimentos externizados.

Na terapia relacional, diferente da psicanálise e outras terapias psicodinâmicas, o terapeuta participa como membro ativo e reativo do sistema terapêutico, introduzindo nele sua criatividade e imaginação pessoal, senso de humor, assim como sua experiência pessoal e profissional.

A utilização do espaço e contato físico são fundamentais para observar comunicações funcionais ou não, assim como limites pessoais interpessoais, disposição para mudança, etc...

O espaço que cada um ocupa no funcionamento familiar é demonstrado na disposição espacial da família nas sessões; a posição de cada um, quem se dirige a quem e como, pode ser uma radiografia mostrando como as relações foram definidas e codificadas no grupo.

Em alguns casos a própria disposição espacial pode ser uma incongruência. Está é a linguagem que querem passar. O terapeuta redefine papéis e concretamente pode fazer as modificações espaciais em relação ao funcionamento da família.

 

Cap.5- Prescrição

A terapia familiar é diretiva no sentido de que o terapeuta está ativamente comprometido com a família na criação do espaço terapêutico, na dinâmica das sessões, objetivos, avaliação, etc... No entanto não é manipulatória, como alguns criticam, visto que propõe que a família realize aprendizagens e que readquiram iniciativa e autonomia.

Para que isto ocorra é preciso que o terapeuta exerça seu poder para confrontar-se com as forças mais rígidas que existem no sistema e pode controlá-las. Isto ocorre apenas no começo; a medida que a terapia avança, família e terapeuta ficam numa igual relação de poder.

A diretividade na terapia familiar está implícita em sua própria dinâmica, já que na condução da sessão o terapeuta utiliza o espaço e o movimento e prescreve tarefas.

Na terapia sistêmica mudar não significa eliminar o sintoma, mas sim a arendizagem de novos comportamentos que implicam na resolução dos sintomas.

A utilização da prescrição como intervenção estratégica, que pode ser formulada com base no trabalho desenvolvido nas sessões, dados coletados e materiais trazido pelos membros da família, tem alguns objetivos:

- promover mudanças;

- criar um ambiente terapêutico;

- entrar no ambiente familiar;

- ampliar o processo terapêutico;

- experimentar novas modalidades de comunicação.

Dependendo da aprendizagem que se pretende introduzir em determinado sistema existem uma série de tipos de prescrições que podem ser introduzidas no processo terapêutico com excelentes resultados.

 

Cap.6- As crianças e o Jogo na Terapia Familiar

Geralmente a criança é o melhor indicador da situação afetiva da família. Devido a sua espontaneidade revela abertamente emoções ou tensões que os outros tentam esconder. Pode as vezes indicar a direção para o progresso terapêutico assim como tentar causar desordem e confusão. É fundamental saber levar estas situações.

A criança deve ser considerada como uma pessoa com plenos direitos de exprimir e transmitir pensamentos, sentimentos e opiniões sem ser desqualificada ou subordinada ao restante da família. Precisamos entendê-las como crianças e não mini- adultos.

O jogo pode ser um excelente recurso para facilitar a participação das crianças na terapia, para entrar no sistema familiar, fazendo parte do estádio social anteriormente comentado facilitando a vinculação, assim como meio para obter informações sobre o sistema familiar.

Como já falamos anteriormente, precisamos fazer o mapeamento estrutural e funcional do sistema e para tanto precisamos coletar informações. Nestes casos a comunicação verbal nem sempre é a mais rica fonte de informações. O falar as vezes serve mais para esconder do que para revelar fatos. Deste modo, o jogo, metáforas, utilização do espaço, dramatização, escultura das relações podem favorecer a observação e fornecer dados necessários ao conhecimento das relações familiares.

Podemos utilizar os jogos e suas regras para explicitar algumas regras desfuncionais do sistema mostrando sua inutilidade e limitações, estimulando assim os participantes a procurarem novas modalidades de funcionamento.

 

Cap.7 - Exemplos de Terapia Familiar Estrutural

Relata exemplos de casos sob a ótica da Terapia Familiar Estrutural.

 

6. Apreciação pessoal sobre o livro

A leitura deste livro colaborou de uma forma didática com o conteúdo visto até agora no curso de formação.

A questão das diferenciações do pensamento sistêmico em relação às outras teorias, os fundamentos básicos para ser sistêmico bem como as diretrizes da atuação na terapia sistêmica são colocados de forma clara e consistente.

No decorrer do livro apresentam-se os cuidados que devemos tomar para que realmente exista um processo terapêutico e a importância da postura do terapeuta, também bastante diferenciada das demais teorias.

O capítulo referente à redefinição é especialmente o que mais contribuiu no que se refere à elucidação de algumas dúvidas que haviam surgido. Esclarece o que é, como pode acontecer e sua importância para a continuidade do processo terapêutico.

No que se refere a utilização de jogos, metáforas, psicodrama, assim como a necessidade de estar atento à comunicação não verbal vem de encontro ao conteúdo e técnicas até então aprendidos na formação e experiência profissional.

Nos exemplos de terapia familiar estrutural Andolfi consegue aplicar o conteúdo do livro somado com sua vasta experiência de forma que aproxima e concretiza a teoria e a prática.

 

Nome do autor da resenha e data: Leonora Vidal Spiller - dez/1999.