Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Amor conjugal e terapia de casal

 

Autor do Livro:

Vanda Di Yorio

 

Editora, ano de publicação:

Summus Editorial - 1996

 

Relação dos capítulos

I. Introdução
II. Paixão: Constelação de uma situação arquetípica
III. A complementariedade Nascisista na dinâmica conjugal: da idealização à desilusão
IV. A teoria dos complexos no campo da conjugalidade
V. O desenvolvimento do anima e do animus
VI. A vivência simbiótica na dinâmica conjugal: das armadilhas às torturas
VII. Casamento e individuação
VIII. O procedimento
Conclusão

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

I. Introdução

A autora relata que este livro foi escrito a partir do filme "Eu sei que vou te amar" de Arnaldo Jabor, por tê-la despertado para o trabalho com famílias e casais.

Sua base é a psicologia analítica ( C.G. Jung) e outros autores ( não mencionados), além das "falas", personagens e passagens do filme citado, analisando as relações existentes nos casais e famílias.

 

II. Paixão: constelação de uma situação arquetípica

Narra o encontro de duas pessoas, onde ao se olharem cada um projeta na sua tela de "ideal" a escolha amorosa e apaixonada do outro. As expectativas envolvidas nestas fantasias aliadas a esta certeza dão a eles a falsa garantia de um sonho sem fim.

O nível de fantasia, segundo Jung está subdividido em : fantasias inconscientes do consciente coletivo, Fantasias inconscientes do inconsciente pessoal e fantasias conscientes.

É importante estar atento a multiplicidade de interpretação do nível de fantasia, pois esta tem uma grande variedade de sentido.

Os arquétipos anima, animus e sombra são relacionados na paixão. É como uma peça, onde o roteiro já estava escrito e o ser amado será o ator. Ele entra como uma representação do interno do outro.

Segundo Jung temos anima como uma representação do arquétipo específico do homem, o animus como arquétipo feminino. Esses arquétipos são autônomos e portanto foge do controle consciente. A sombra é um arquétipo do inconsciente pessoal correspondente a parte obscura a personalidade ligadas a moral.

A escolha do parceiro brota de uma parte inconsciente, onde os desejos de várias ordens é que fazem a seleção. Quanto maior a inconsciência dos desejos, maior é a possibilidade de serem fisgados numa relação.

Esses arquétipos geralmente atuam na escolha do parceiro, quando projeto meus conteúdos no outro, e espero que este desempenhe os "papéis" dentro de minhas expectativas.

No envolvimento mútuo, anima e animus aparecem inevitavelmente na busca da projeção no outro. Parâmetros internos subjetivos estão presentes no diálogo conjugal e provocam reações da fascinação ( início da relação) ao ódio ( final da relação). Evidencia-se com isto a responsabilidade mútua no desenvolvimento da relação. A projeção defende o inconsciente da vinda dos arquétipos. Entende-se por projeção a transformação inconsciente para um objeto externo (o outro).

Caminhos e descaminhos na relação acontece sob o prisma da reformulação ou não dos parceiros na escolha idealizada. A sfantasias infantis terão que ser trabalhadas e superadas para que o casal consiga dar continuidade à relação.

 

III. A complementariedade Nascisista na dinâmica conjugal: da idealização à desilusão

O sentimento de decepção se instala logo após o início da convivência conjugal. O desejo inicial (anima, animus), mesmo quando se decide atuar sobre as fantasias infantis, aparece e conduz a busca da realização do ideal.

Na dinâmica conjugal, o inconsciente acredita que um é responsável pela realização dos seus sonhos. Ou se desenvolve a complementaridade, ou seja, um reconhece as necessidades do outro e se mobiliza para a mudança, ou se entrega totalmente a realização do anima/animus. Para acontecer a complementaridade faz-se necessário maturidade e disposição para investir na relação. A sempre a tentativa de reencontrar a antiga imagem do outro, o que provoca desencontros para chegar a felicidade desejada, ou para provar que o outro o traiu ( nas suas expectativas) .

O terapeuta necessita estar certo da receptividade do casal, pois as dificuldades estão interrelacionadas no casal. Os conflitos podem surgir devido a conflitos arcaicos ligados a ansiedade da dependência total de seu primeiro objeto de amor. As ansiedades do período de desenvolvimento podem se repetir na relação conjugal pela vivência de dependência mútua. Por isto é importante o terapeuta fazer um levantamento e procurar compreender a fase de desenvolvimento de cada um no casal.

Buscando compreender a complementaridade conjugal a partir das ansiedades inconscientes da cada um, deparamos com manifestações clínicas ligadas a desordens narcisistas. Para uma maior compreensão cita-se Jung : "O desejo apaixonado tem dois lados: é a força que tudo exalta e sobre determinadas circunstância também tudo destrói. É compreensível assim que um desejo ardente já venha em si acompanhado de medo ou que seja seguido ou anunciado pelo medo. Pode também a desordem narcisista ocorrer através da idealização, onde as pessoas são levadas a se apaixonar através de um ideal inconsciente. Quando a idealização atrapalha um relacionamento, cujas personalidades estão unidas pela complementaridade narcicista, tudo desmorona."

A autora faz menção ao filme citado no início da obra ( Eu sei que vou te amar) onde o relacionamento do casal é narcísico. Cita também três outros casos ilustrativos, sendo de grande ajuda para melhor entendimento de tão complexo assunto.

 

IV. A teoria dos complexos no campo da conjugalidade

Nas relações conjugais as queixas além de desiguais tendem a super valorizar algo simples e a sub valorizar as dificuldades mais complexas.Na verdade o que se manisfesta são os complexos existentes na psique de cada um. Entende-se por complexo a "imagem de uma situação psíquica forte carga emocional e, alem disto, incompatível com as disposições e a atitude habitual da consciência. Esta imagem é dotada de poderosa coerência interior e tem sua totalidade própria e goza de um grau relativamente elevado de autonomia. "

Há quatro possibilidades de comportamento frente aos complexos:

•  Total inconsciência

•  Identificação

•  Projeção e a confrontação

Complexos tem duas raízes diferentes de se manifestar:

Raízes - eventos da infância ou atuais

Duas naturezas - complexo doente ou complexo sadio

Manifestações - Bipolar que pode ser negativa ou positiva

A conduta humana é orientada para extroversão e introversão, através das 4 funções: pensamento, sentimento, intuição e sensação, que podem auxiliar no atendimento de casais. Mesmo sendo diferentes, entre eles pode existir a complementaridade, onde um auxilia o outro nas suas deficiências.

A união conjugal pode dar um cunho mais patológico do que originalmente existia.

 

V. O desenvolvimento do anima e do animus

Os maiores responsáveis pelos relacionamentos amorosos são anima e animus. Com isto podemos Ter uma idéia de como se faz a escolha do parceiro e a manutenção do relacionamento quando esses arquétipos estão contaminados pela sombra.

A humanização dos arquétipos são feitos através do anima e do animus vivenciados. A criança deve ir gradualmente se desligando da projeção do Pai e da Mãe arquetípicos e principalmente da anima e do animus agora fundidos aos dois primeiros. Complexos fusionados no casal se influenciam, colocando o indivíduo em situações confusas,em que eles próprios ficam sem referências objetivas para se organizar diante da dor que vivem, das quais muitas vezes são causadores.

Faz uma alusão ao ser Homem e ser Mulher e diferencia do masculino de feminino. O dinamismo masculino e feminino está presente e são comuns aambos os sexos e é preciso desenvolvê-los.

O capitulo fala amplamente sobre "falo"e o Útero" na escolha e na administração do relacionamento conjugal.

 

VI. A vivência simbiótica na dinâmica conjugal: das armadilhas às torturas

No casal, um é o depositário das projeções do outro, garantindo assim os conteúdos projetados. O casamento é um terreno fértil para ligar uma identificação parcial, ligado a um estado primordial de unidade objeto sujeito indiferenciado.

As pessoas podem ter uma vida profissional bem sucedida, não simbiótica, porem na relação conjugal e entre pais e filhos pode acontecer.

No casamento a relação pode tronar-se tão simbiótica ao ponto de um adivinhar, prever no outro, todas as respostas e atitudes diante de uma situação. E o pior é que culpa o outro pelos insucessos. No casal evita-se o contato com a sua sombra e tenta fazer do terapeuta aliado contra o outro.

O bloqueio da libido impede a busca de novos objetos e é criada pela imaturidade psicológica. Esta imaturidade dificulta em muito a adaptação do casal.

 

VII. Casamento e individuação

Sacrifício e Libertação

A individuação se dá através da integração dos arquétipos anima e animus.

O dinamismo conjugal através do casamento, a função transcendente permite a ambos estabelecer conexões entre seus dois mundos: o inconsciente e o consciente. Assim sendo, o casamento é um dos caminhos para o processo de individuação. "Ele não é confortável e harmonioso: é antes um lugar de individuação, onde uma pessoa entra em atrito consigo mesma e com o parceiro, choca-se com ele no amor e na rejeição, e desta forma aprende a conhecer a si próprio, o mundo, o bem e o mal, as alturas e as profundezas".

Existe uma relação paradoxal onde o ser humano necessita do outro para conhecer-se.

A alquimia na relação dá-se quando o interpessoal e o intrapessoal se unem, e criam uma nova relação. O matrimônio sagrado é a união dos opostos, onde elementos desconectados se unem para uma nova conexão. Matrimônio sagrado é o movimento da psique na direção da totalidade.

 

VIII. O procedimento

O símbolo é o sistema compensatório da psique.

Entende-se por símbolo um fato complexo ainda não claramente aprendido pela consciência. Ao entrar na consciência , o símbolo pode trazer algo novo e produzir uma desarrumação na ordem atual. Por isto o novo incomoda é temido e capaz de produzir ansiedade.

As pessoas que menos conhecem seu lado inconsciente , são as que mais influência recebem dele, sem Ter consci6Encia disto. O casamento pode ser um dos caminhos mais férteis para a individuação sendo assim um doas caminhos que permite entrar em contato com nosso inconsciente através da projeção.

A psicoterapia de casal deve ajudar o casal a desenvolver meios adequados para que os conteúdos inconscientes venham à tona, para que possam ser elaborados dentro da dinâmica da conjugalidade. Mas as vezes este confronto cria um abismo, precipitando uma separação.

Reprimir os complexos é muitas vezes utilizado como solução, quando na verdade cria sofrimento e a pessoa opta por pensar na vida ao invés de vivenciá-la, ganhando um sofrimento que lhe é impróprio.

Na intervenção com casais elas podem variar de pequenos confrontos relacionados a certas concepções de vida/preconceitos, até a vivenciar símbolos que atingem áreas penosas da psique. O espaço conjugal favorece o processo de elaboração simbólica, e que encontramos na complementaridade dos parceiros o fator criativo da comprensação psíquica, a ser incorporada por cada um por meio da retirada de projeções sobre o outro.

No trabalho clinico as vezes pensamos que a única saída para o casal que briga e que troca o apenas o pior de si entre sí, é a separação. Porém esta é uma decisão deles. Nosso papel de terapeuta é auxiliar na tentativa de desmanchar pequenos nós aqui , outros acolá, e trabalhar com sentimentos de incompetência/onipotência , considerando os limites de cada situação.

 

IX. Conclusão

No casal, se após o confronto consigo mesmo não restar mais nasa, a separação será inevitável, proporcionando a individuação de ambos, um caminho aberto para a transformação dessas personalidades.

A ativação do processo de conscientização e assimilação de aspectos inconscientes projetados no parceiro determinam mudanças profundas em uma relação conjugal ao permitir a entrada de novos símbolos, antes prisioneiros na sombra. E o desejo da separação é um doas símbolos que, quando discutidos adequadamente, mesmo acompanhado de graus variados de sofrimento, evita uma paralisia mútua do casal, incompatível com o desenvolvimento contínuo e necessário à personalidade.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Esta leitura proporcionou-me o esclarecimento de alguns pontos sobre a dificuldade implícitas na conjugalidade.

Apesar da visão Junguiana, e da abordagem arquetípica, assuntos difíceis para minha compreensão, consegui assimilar os conteúdos, acredito que pela forma clara que a autora adota em sua expressão.

Acrescentei bagagem para minha orientação pessoal na prática clínica.

 

Nome do autor da resenha e data: Tais Fittipaldi Bergstein - Março 2004.