Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

As heranças familiares

 

Autor do Livro:

Bernard Prieur

 

Editora, ano de publicação:

Climepsi Editores - 1999

 

Relação dos capítulos

Primeira Parte - Aceitar a herança ou renunciar a ela

1) O que recebemos da família? (Bernard Prieue)

2) Diversidade dos tipos de herança na França e estruturação das relações familiares. (Martine Segalen)

3) Os que renunciam (Louis Messoniere)

4) Delapidar a herança: deixar passar a sua vez ou bloqueá-la (Anne Gotman)

5) Não se escapa à herança (Pierre Fedida)

Segunda Parte - Transmissão e Memória Familiar

6) A herança impossível (Patrick Poisson)

7) A dimensão transgeracional entre o rito e o segredo (Anna Maria Nicolò Corigliano)

8) Tal como teu pai, também vais ser alcóolico, meu filho! (Jean Maisondieu)

9) Serão necessárias três gerações para gerar um psicótico? (Jacques Miermont)

10) O trágico jogo das semelhanças (Brigitte Candessus)

11) A transmissão familiar. (Yveline Rey)

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Primeira Parte - Aceitar a herança ou renunciar a ela

1) O que recebemos da família? (Bernard Prieue)

Recebemos mais do que pensamos. Em herança recebemos tudo o que as gerações que nos precederam adquiriram. Somos um elo numa longa cadeia de transmissões. Este capítulo explica mais sobre a função múltipla da herança.

2) Diversidade dos tipos de herança na França e estruturação das relações familiares. (Martine Segalen)

Nesse capítulo a autora traz informações sobre o Código Civil Francês e dos sistemas sucessórios para então comentar uma característica da história francesa das diferenças culturais atuarem nas transmissões intergeracionais. Como são abordadas as heranças de diferentes formas na Alemanha, Reino Unido e outros países da Europa.

A herança como matriz social do sentimento entre gerações e no seio da pátria.

Neste capítulo a autora observa os diferentes tipos de administração e divisão dos bens em famílias agrícolas, na sociedade francesa. Como as heranças se mantém através do matrimônio e como os filhos dos filhos herdaram a atividade agrícola para sobreviverem a "não possibilidade" de abrir mão da herança em nome da continuidade da geração em questão.

3) Os que renunciam (Louis Messoniere)

O autor observa que o número de mortes, anualmente, na França é de 520.000, o que dá 300.000 escrituras de habilitação de herdeiros e só em Paris o número de renúncia é de 1650.

Neste capítulo o autor coloca a questão da herança desde o início: ou seja, desde a abertura da sucessão.

No Direito francês usa-se a expressão: "Le mort saisit le vif?" ("o morto apodera-se do vivo"). A isto junta-se o conteúdo psicológico pois o herdeiro "calça imediatamente os sapatos do defunto" gostando dele ou não.

4) Delapidar a herança: deixar passar a sua vez ou bloqueá-la (Anne Gotman)

A autora, comenta que se existe um domínio existente na relação dinheiro, vida e antepassados, certamente é na herança. (Reprodução social das famílias, sucessão de posições, uma transmissão de forma gratuita, uma doação em três tempos: dar, receber e devolver, onde a circulação dos bens é uma troca gratuita dos bens, baseada na necessidade de estabelecer vínculos afetivos. Onde sempre há um legado).

Assim, a autora descreve sobre as formas de delapidação da herança, doação e legado, afirmando ser o sistema de doações um sistema de riscos.
Este capítulo também é subdividido entre tópicos sobre posicionamento familiar.

5) Não se escapa à herança (Pierre Fedida)

Pierre, professor de Psicopatologia da Universidade de Paris, comenta se é verdade que a psicanálise se interessa pelas questões de transmissão e de herança, nem sempre se dá suficiente atenção aos aspectos intrapsíquicos da transmissão dos bens e ao que os mesmos bens representam na evolução psíquica do sujeito.

O autor descreve um caso clínico usando o tópico "o enfisema do avô", colocando a herança em análise, ou seja, mais além, a patologia da doença.

Segunda Parte - Transmissão e Memória Familiar

6) A herança impossível (Patrick Poisson)

Patrick, terapeuta familiar desenvolve neste capítulo que aquilo que nos liga ao passado não deixa de apresentar dificuldades, aspectos psicológicos ou patológicos, das diversas situações em que a herança nos coloca, e assim traz duas situações que melhor ilustram seu estudo - a primeira divertida, onde tudo acaba bem, a segunda dramática.

7) A dimensão transgeracional entre o rito e o segredo (Anna Maria Nicolò Corigliano)

A autora, psiquiatra, comenta que a transgeracionalidade está presente no funcionamento psíquico dos indivíduos e das organizações familiares, o que muda o foco, passando da dimensão intrapsíquica ao estudo das esferas intrapessoais, o que coloca os indivíduos ao seu passado, seus antepassados, e o outro coloca-nos no aqui e agora da família, a relação existente entre pessoas atuais.

Aqui, a autora descreve o mito como uma constituição permanente que contribui de geração em geração nas situações patológicas, num funcionamento individual e acerca das famílias os mitos distribuem papéis que se herda bem cedo.

Também trata sobre "segredos" familiares as dimensões que podem trazer e, apresenta um caso clínico. Citando vários autores, abre discussão sobre a trasmissão transgeracional e processos de identificação.

8) Tal como teu pai, também vais ser alcóolico, meu filho! (Jean Maisondieu)

Um mito persistente.

O autor, psiquiatra, se diz incrédulo que o alcoolismo seja hereditário, ele defende a idéia que seja um comportamento apreendido. Como os meninos ingleses tomam chá com seus pais e avós, fazem de costume. E comenta da difícil tarefa de se definir um alcoólatras.

Mas abre discussão na questão do comportamento definido como "abstinência" e lamenta este estudo nunca ter tido um lugar.

Jean comenta que a morte do marido bêbado não põe fim ao jogo. E defende a herança dos comportamentos alcóolicos que a cada geração se coloca para cada homem e para cada mulher: como viver de amor e água fresca?

Ao amor que só pede para se realizar, afoga-se álcool.

9) Serão necessárias três gerações para gerar um psicótico? (Jacques Miermont)

O autor, psiquiatra francês, coloca como é vasta a questão, fascinante e terrível.

Limita seu escrito ao grupo das esquizofrenias e defende que é preciso três gerações para conseguir a integração de toda uma série de processos relacionais e identitários, e uma questão bastante importante refere-se à gênese familiar da psicose.

Jacques debate sobre: o que seria uma família? Será a transgeracionalidade só de três gerações? E arrisca definir família em seu trabalho clínico como grupo de pessoas que estão envolvidas em destinos de vida e o que de pior poderiam herdar é esta coisa chamada esquizofrenia.

Este capítulo é vasto e traz idéias de Murray, Bowen, Gregory Bateson, Natan, Ackermann e de Jean Maisondieu.

10) O trágico jogo das semelhanças (Brigitte Candessus)

As semelhanças físicas são imediatamente identificáveis, mas não é só ... é um fator agravante das projeções, valorizações, rejeições e expectativas. É um elemento que pode se tornar predominante na apreensão de algumas situações.

Aqueles cuja semelhança com um ou outro é evidente, ficariam presos nos fios e nós da angústia inconsciente familiar e em função da idade agem bem ou mal à transmissão da qual são objetos.

Dessa forma, a autora traz dois exemplos interessantes: "quem parece com o pai" ou "quem parece com a mãe", nessa luta o que vem para valer... estabelecendo um trágico jogo das semelhanças... Elementos de um drama.

11) A transmissão familiar. (Yveline Rey)

A autora, psicóloga e mestre na Université da Savoie é terapeuta familiar, traz a questão da memória... não há transmissão sem memória, o esquema mais curto entre passado, presente e futuro. Significa que a memória é nosso vínculo com o tempo e também com os outros.

Neste capítulo aborda a memória familiar e sua transmissão e a prática da terapia familiar... as emoções e a nostalgia.

A nostalgia evoca, de novo, a relação com o tempo e pode apresentar o que se chama "estética familiar" e para alargar esta reflexão e o tema, este capítulo expõe 3 aspectos da prática clínica. São tópicos muito interessantes que focam: recordações, esquecimento, emoção, nostalgia, memória.

Transmitir de forma a que se possa contar uma história que permita inventar a continuação e criar um futuro.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Este livro abre sobre à questão das gerações, e antepassados alargando ainda mais sobre o que realmente está em jogo nas heranças de família.

 

Nome do autor da resenha e data: Mildred Abril/2003.