Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Casais em perigo

 

Autor do Livro:

Peggy Papp (organizadora)

 

Editora, ano de publicação:

Porto Alegre / Artmed, 2002

 

Relação dos capítulos

Cap 1- Novas diretrizes para o terapeuta

Cap 2- A família de tripla jornada

Cap 3- O novo triângulo: os casais e a tecnologia

Cap 4- Relógios, calendários e casais: o tempo e o ritmo dos relacionamentos

Cap 5- Infertilidade e gravidez tardia

Cap 6- As diferenças de gênero e a depressão: a depressão dele e a depressão dela

Cap 7- Abraçando a controvérsia: uma abordagem metassistêmica ao tratamento da violência doméstica

Cap 8-Uma visão turística do casamento: desafios, opções e implicações para a terapia de casais interculturais

Cap 9- Terapia com casais afro-americanos

Cap 10- Homens juntos: o trabalho com casais gays na atualidade

Cap 11- Os casais de lésbicas na entrada do século XXI

Cap 12- Recasamento: redesenhando o casamento

Cap 13- Reflexões na lagoa dourada

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Cap. 1-Novas diretrizes para o terapeuta- Peggy Papp

O mundo todo está em constantes transformações sociais, as quais nos afetam dia- após- dia. Com o avanço da tecnologia ( internet, salas de bate-papo, e-mails, encontros virtuais), a liberdade dos papéis sexuais, a opção sexual , a ciência as opções de se ter um filho da forma que quiser, a busca do sucesso profissional por parte de ambos do casal sem redefinir os papéis já existentes como educar os filhos frente a essa realidade, e as amplas conseqüências que tudo isso traz são temas que se encontram nos consultórios terapêuticos.

Cap. 2- A família de tripla jornada- Lawrence Levner

Com o tempo, a dinâmica de um casal onde somente o homem trabalhava e a mulher era a responsável, mudou. Ambos do casal trabalham e buscam por um sucesso profissional onde a relação do casal é a "tripla jornada". Com isso é necessário haver uma redefinição dos papéis dos cônjuges definidos anteriormente, explorando a questão do tempo que cada um tem para se dar na relação.

Cap. 3- O novo triângulo: os casais e a tecnologia - Evan Imber-Black

Com os avanços da tecnologia (computador, internet, e-mails, pager, celulares) pode-se verificar o quanto ela facilita a vida de um casal atualmente e ao mesmo tempo o quanto prejudica, pois abre-se a porta da casa de um casal e a tecnologia tem o domínio da situação. É necessário avaliar o quanto tudo isso é essencial para a vida do casal , qual o limite entre a tecnologia e o casal.

Há alguns assuntos polêmicos gerados pela "Era Virtual", podendo citar o sexo virtual; o que significa para um casal: apetite sexual ou indicador de que algo não está dando certo no relacionamento do casal. Essa e outras questões citadas nesse capítulo são situações que o casal tem que lidar e não há modelos e regras pré- existentes para esses momentos.

Cap. 4- Relógios, calendários e casais: o tempo e o ritmo dos relacionamentos- Peter Fraenkel e Skye Wilson

O ritmo profissional de cada um do casal muitas vezes pode vir a dificultar a relação e pode-se perceber o padrão de como o casal interage e "dribla" essa situação para se comunicar, se encontrar e ter o momento a dois, verificando os limites do casal com o mundo a fora.

Cap. 5- Infertilidade e gravidez tardia- Constance Scharf e Margot Weinshel

O terapeuta deve ter conhecimento da gama de métodos e opções de engravidar para trabalhar com casais que trazem essas questões. O processo terapêutico é marcado por muito sofrimento, tristeza, angústia, frustração e decepção. É importante não perder o foco de avaliar o funcionamento do casal, como eles lidam com os fatos, como enfrentam as dificuldades, como eles interagem, pois a infertilidade é do casal.

Cap. 6- As diferenças de gênero e a depressão: a depressão dele e a depressão dela- Peggy Papp

A autora enfatiza que o " acontecimento mais estressante da vida capaz de desencadear a depressão é o conflito conjugal". Tanto a depressão do homem quanto da mulher são sinais de que algo está disfuncional, pois a depressão é uma "máscara" de alguns problemas e dificuldades conjugais. E o relacionamento conjugal têm três poderes: curar, prevenir e ser causador.

Cap. 7- Abraçando a controvérsia: uma abordagem metassistêmica ao tratamento da violência doméstica - Wendy Greenspun

O assunto violência doméstica foi abordado pela autora com duas visões: feminista e sistêmica, com o intuito de mostrar uma complementariedade sobre o assunto.

No geral, tanto a mulher quanto o homem (na comunicação, na vivência, nas "seqüências interacionais ") contribuem para que ocorra a violência doméstica. Há aquele que recebe a agressão, porém esse também pode ser o desencadeador do processo. Não cabe ao terapeuta apontar de quem é a culpa e quem é o culpado; e sim verificar a pertinência do casal para mudanças e dependendo disso, proporcionar tomada de consciência de seus respectivos comportamentos, gerando com isso mudanças no comportamento do casal. Nesse capítulo há alguns exemplos de atendimentos de casal, de grupos de casais e suas funcionalidades.

Cap. 8 - Um visão turística do casamento: desafios, opções e implicações para a terapia de casais interculturais-Esther Perel

Principalmente nos Estados Unidos as pessoas com diferentes origens estão se casando, tendo que se deparar com as questões culturais, a educação (dos filhos também), a religião, o gênero e as prioridades dadas às vidas profissional, pessoal e familiar; de cada origem. Sendo necessário a intervenção terapêutica para auxiliar o casal a ter consciência das diferenças entre ambos e do que elas significam para eles.

Os problemas dos casamentos interculturais são ligados às diferenças culturais e à forma como o casal interage com elas; buscando, resgatando com a terapia a base da união, a complementariedade do casal e o quê os uniu. Com a tomada de consciência da cultura de cada cônjuge cria-se uma "terceira realidade" que seria a junção/ interação mútua das diversas culturas existentes em um casamento.

O terapeuta , nesse processo, é visto como um "turista", pois ele "viaja" e conhece as diversidades culturais no próprio setting terapêutico.

Cap. 9- Terapia com casais afro-americanos- Lascelles W. Black

Nesse capítulo o autor traz alguns exemplos da discriminação racial e as suas conseqüências para o casamento de casais afro- americanos, envolvendo questões ligadas à cor da pele, à classe social, ao desempenho profissional e às questões religiosas.

Cap. 10- Homens juntos: o trabalho com casais gays na atualidade- Gary L. Sanders

As questões e exemplos desse capítulo referentes a casais gays, aplica-se tanto em casais de lésbicas e heterossexuais, não havendo diferença, pois o foco "relacionamento" é o mesmo. É importante ressalvar a questão do terapeuta, a forma como ele vê a homossexualidade, pois isso influencia e implica no sucesso do processo terapêutico.

Os maiores obstáculos que os gays enfrentam para "empreender, desenvolver e manter relacionamentos íntimos valiosos podem ser divididos em três preconceitos: patriarcalismos, machismo e homofobia (tríade da tirania)".

Os casais homossexuais podem passar pelos mesmos ou semelhantes tipos de problemas que os casais heterossexuais ( relativos ao dinheiro, poder, trabalho, filhos e outros) e além disso, tem que ter consciência das repressões culturais existentes devido à opção sexual. Referindo-se à essa questão, o autor traz várias perguntas/ questionamentos que auxiliam o cliente a ter clareza da situação. Saber diferenciar os pensamentos das ações na relação afetiva é importante, pois de acordo com os exemplos pode-se perceber o medo de um dos parceiros "ser trocado", devido as fantasias, e atrações por outras pessoas. Isso não significa que o companheiro vá tomar alguma atitude, estabelecendo aqui as diferenças entre pensamento e ação.

Um dos problemas "mais freqüentes" trazidos pelos casais gays é a "solidão existencial e a sensação de isolamento"; não conseguindo atingir uma individualidade, a qual é apresentada ao terapeuta como uma insatisfação do casal ou como sentimento de solidão em relação ao parceiro.

Dentro da questão cultural (patriarcalismo) muitas famílias de origem não aceitam a opção sexual de seus integrantes e esse pode escolher e criar uma outra família mais efetiva (amigos, colegas de trabalho e alguns familiares), denominando-a de "família escolhida", funcionando mais como um apoio para o homossexual.

Por falta de modelos é "confortante" no processo terapêutico de casais gays utilizar-se de intervenções focalizadas nas histórias dos outros, podendo ser mais informativo, instrutivo e apaziguador no sentido de que há pessoas que já passaram por isso.

Cap. 11- Casais de lésbicas na entrada do século XXI- Caroline Marvin, Dusty Miller

Casais heterossexuais e homossexuais (gays e lésbicas) tendem a ter em comum as mesmas questões: referentes "à etapa da vida, à classe, à raça e à etnia". E como conseqüência dessas questões, enfatizando o processo terapêutico nas semelhanças, diferenças, história de vida de cada um (a) do casal e a família de origem.

Os casais de lésbicas sofrem também, como os casais de gays, com o patriarcalismo e a homofobia. Segundo a autora , nos casais de lésbicas é freqüente que as ex- parceiras continuam fazendo parte da vida do novo casal de lésbicas, o que já para os casais heterossexuais é muito mais difícil.

Nesse capítulo há exemplos de relacionamentos de casais de lésbicas e seus diversos problemas e dificuldades, e as vantagens de casais de lésbicas (opção por ter filhos e a mais "fácil" aceitação por parte da sociedade).

Cap. 12- Recasamento: redesenhando o casamento- Anne C. Bernstein

Um casal se une com a idéia de ter um casamento maravilhosos, aberto e que dure para sempre, sendo resistente a qualquer problema. Com o tempo, com a vivência, a separação é a solução para a vida a dois.

As pessoas que se casam novamente, estão buscando as expectativas originais que tiveram em relação ao primeiro casamento e a idéia é de ter uma família ideal (perfeita, harmônica, sem brigas, proteção, que seja eterna), pois os cônjuges dificilmente renunciam à idéia da "família nuclear", tentam formar outra com outros sistemas. Com isso é importante redefinir os papéis já existentes e os novos papéis (madrasta, padrasto, enteados) e os limites de cada um. Fortalecendo o vínculo do casal cada vez mais para suportar as mudanças que irão surgir.

É necessário para o terapeuta verificar num processo de recasamento a história já vivida pelos cônjuges, as expectativas de cada um frente ao relacionamento, como está cada um emocionalmente envolvidos nos demais sistemas e a pertinência para a mudança de ambos do casal e do sistema e suas aberturas. Permanecer atento à repetições de comportamentos e padrões, repetições de assuntos focando os relacionamentos anteriores e os presentes.

É importante os ex-cônjuges terem a noção de que são mais casados, porém são pais dos mesmos filhos, sendo as relações de cooperação e de amizade entre os cônjuges durante e após o divórcio é fundamental para a vida de todos os envolvidos no processo. é importante ressalvar que não existe separação sem dor e sofrimento.

O recasamento é um tempo de adaptação. Cada pessoa tem o seu próprio tempo de adaptação, seu próprio ritmo e suas limitações, tendo-se que levar em consideração a fase (casamento, processo de separação, divórcio, recasamento) em que o indivíduo está, os sistemas familiares envolvidos, valores, crenças e contexto nesse processo.

Cap. 13-Reflexões na Lagoa Dourada- Ruth Mohr

Com a tendência a uma maior longevidade é necessário em alguns casais refazer o contrato matrimonial e trabalhar com as limitações de cada um, com a idéia de perder o (a) parceiro (a), envolvendo outros sistemas, por exemplo, os filhos nesse processo de "reestruturação". Muitas das reestruturações se baseiam na história passada de cada um, e a história do casal (quando namorados, noivas, primeiros anos de casados): a forma de se comunicarem, de compromisso, de cooperação, objetivos estabelecidos, perdas, mágoas, rituais, ganhos, perdas; enfim, o padrão de relacionamento do casal.

A autora ilustrou o capítulo com três exemplos onde há a ajuda de outros sistemas (além do casal) que interagem no processo terapêutico (filhos, empregados, parentes, equipe técnica), aumentando com isso a dimensão que um processo terapêutico de casal pode atingir.

6. Apreciação pessoal sobre o livro

O livro traz temas extremamente recentes, atuais, e situações em que o terapeuta se encontra sem parâmetros para lidar com a situação trazida ao consultório. A escrita de todos os capítulos são dinâmicas, e de fácil compreensão despertando interesse no leitor. Em todos os capítulos há exemplos de atendimentos realizados ora por institutos, ora pelo respectivo autor; facilitando a compreensão e a forma para abordar determinados assuntos. Muitos capítulos trazem assuntos não tão comuns para nossa realidade brasileira (casais afro-americanos), porém pode ser utilizado para outras questões. Recomendo esse livro para todos os terapeutas de casais que desejam estar preparados para trabalhar com os casais desse século e suas questões, o que remete muitas vezes a um questionamento do "ser terapeuta de casais".

 

Nome do autor da resenha e data: Rafaela Senff Ribeiro, Maio/2002.