Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Como sobreviver à própria família

 

Autor do Livro:

Mony Elkaïm

 

Editora, ano de publicação:

Integrare, 2008

 

Relação dos capítulos

Capítulo 1: mãe e filha: a travessia de um conflito

Capítulo 2: o passado não nos condena

Capítulo 3: o patriarca que queria o bem dos filhos ... contra a vontade deles

Capítulo 4: em que roteiro eu me encaixo

Capítulo 5: meu filho se recusa a estudar e a trabalhar

Capítulo 6: libertar o outro para que eu possa mudar

Capítulo 7: o homem que não conseguia deixar a mulher nem continuar com ela

Capítulo 8: o luto num contexto

Capítulo 9: a mulher a quem se pedia demais e o homem que se sentia abandonado

Capítulo 10: o homem que queria afeição e a mulher que queria ser respeitada

Capítulo 11: meu parceiro, meu casamento e eu

Capítulo 12: um segredo de família

Capítulo 13: navio fantasma

Capítulo 14: sobreviver à própria família

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Capítulo 1: mãe e filha: a travessia de um conflito

Nos movimentos relacionais, muitas vezes, o passado e o presente convivem num mesmo nível de interação, dificultando para os envolvidos, saírem de díades viciosas que promovem conflitos e desconfortos. Isso pode ocorrer entre uma mãe e uma filha, quando essa mãe revive na sua relação atual com sua filha, carências que ocorreram na sua relação passada, entre ela e a sua mãe, quando então estava no papel de filha. Isto é, uma mãe que se sente rejeitada pela sua filha, mas que na verdade, foi antes rejeitada pela sua própria mãe. Desse modo, a relação do presente fica travada, a menos que se crie uma abertura para que essa situação possa ser elaborada. A terapia de família, como um processo de mudança, tem o poder de auxiliar aos seus envolvidos, via um terapeuta, com o uso de suas intervenções; abrir espaço para que mãe e filha possam sair de sua repetição patológica e parem de repetir o padrão da rejeição. 

Capítulo 2: o passado não nos condena

A história passada de uma pessoa não precisa ser encarada sempre como algo que irá condenar a sua história presente. Até porque, um não funciona sem o outro, ou seja, é a ressonância do passado sobre o presente, e vice-versa, que poderá criar um “terremoto” na vida de um indivíduo. Mas isso só acontecerá se a pessoa ficar presa à unicidade de possibilidades, se dançar apenas a mesma música. Isto quer dizer, que quando a ressonância ocorre, a pessoa pode escolher sair da compulsão a repetição, e buscar uma nova dança e com isso criar um novo jeito de lidar com uma dada situação.   Em outras palavras, o importante é desconectar os elementos do passado dos elementos do presente, para que possa ocorrer uma redução do impacto afetivo, e a pessoa se permita viver esses elementos com maior liberdade e de um jeito diferente.

Capítulo 3: o patriarca que queria o bem dos filhos ... contra a vontade deles

Esse capítulo traz a tona um assunto muito importante, pois faz parte de qualquer estrutura de relacionamento humano: as fronteiras entre os sistemas. Quando nos relacionamos, como na família, para que tenhamos uma comunicação clara, é importante que as regras sejam explícitas e não ambíguas, como também o espaço que cada membro ocupa possa estar demarcado com nitidez. Isso porque o meu espaço só começa a existir quando sei onde está o seu. Regras claras e limites bem demarcados, dois ingredientes fundamentais para que reuniões familiares, por exemplo, não se transformem em um campo de batalha.

Capítulo 4: em que roteiro eu me encaixo

Uma das tarefas mais complexas na vida é ser pai ou mãe. Isso porque é preciso se adaptar a cada situação como se fosse única, buscando achar o bom senso a cada escolha sobre como educar o filho nesse exato momento. A partir disso, cada pai e mãe deveria se perguntar como ama o seu filho e até que ponto esse jeito de amar está funcionando nessa relação. Muitas vezes, o que um pai ou uma mãe amam, não é o seu filho em si, mas a imagem que criaram dele para si mesmos. Essas distorções podem acarretar graus variados de desconforto, até o ponto de um filho não sentir que recebe mais amor dos seus pais, por estes estarem amando uma representação desse filho, e não o que esse filho procura mostrar para esses pais.

Capítulo 5: meu filho se recusa a estudar e a trabalhar

Quando uma família enfrenta um problema com um filho, é muito natural que esta família tente provar que esse filho é a causa total dos seus problemas. No entanto, os vários estudos no campo da terapia de família, mostram que o filho “problemático” mais se coloca como um porta-voz dos problemas dessa família, e para que se possa compreender essa dinâmica como um todo, o terapeuta precisa observar os elementos além do nível individual e acessar o nível dos relacionamentos familiares. Quando o terapeuta assim procede, saí do discurso linear, e circulando pelos níveis dessa família, procura encontrar os bons motivos pelos quais esse filho assumiu esse papel e que outras ansiedades circulam pela atmosfera dessa família. Com isso a queixa original se dilui nas reais dificuldades dessa família, e muitas vezes, o filho disfuncional, volta a funcionar, abrindo espaço agora para que outros membros da família possam expor suas disfuncionalidades.

Capítulo 6: libertar o outro para que eu possa mudar

Nas relações humanas, os comportamentos fazem parte de ciclos de repetição que mantém um jogo de trocas entre os pares, e a dança entre eles permanece estruturalmente igual mesmo em situações diferentes. Mas a saída desse jogo repetitivo, pode ser realizada no momento em que um dos envolvidos se questiona de qual a utilidade de tais comportamentos e a até que ponto as suas respostas colaboram para que os outros envolvidos permaneçam entrincheirados. Nesse momento, ele pode mudar suas respostas, e evitar que comportamentos repetitivos voltem a ocorrer e isso, por si só, já começa a libertar os envolvidos para que a mudança possa ocorrer.

Capítulo 7: o homem que não conseguia deixar a mulher nem continuar com ela

O presente capítulo reflete sobre o poder que uma perda mal resolvida tem na vida presente de uma pessoa, a ponto de influenciar diretamente nas suas escolhas e distorcer seus desejos. Para aquela perda que não foi elaborada, onde a pessoa não fez um luto adequado e, por conseguinte, não entrou em contato com essas emoções, o risco é de esse luto ocorrer de modo velado, e a busca pela coisa perdida não parar nunca.

Capítulo 8: o luto num contexto

Muito mais do que um processo individual, o luto também faz parte da esfera familiar e, portanto, é um acontecimento sistêmico, no sentido que afeta todos os membros de uma família como as trocas relacionais que são realizadas entre eles. Desse modo, quando ocorre uma perda, essa perda diz respeito ao sistema familiar, que precisa se reorganizar para poder funcionar a partir daquele momento, com a ausência de um dos seus membros. Como isso nem sempre é um processo tão simples, sintomas relacionais surgem, sintomas esses que às vezes aparecem em um dos familiares, mas, pertencem a toda a família. É a família que precisa mudar, que precisa se libertar das antigas regras e flexibilizando-as, se permite estar com uma nova forma de funcionar. Então, o luto não é de uma pessoa, mas sempre de uma família.

Capítulo 9: a mulher a quem se pedia demais e o homem que se sentia abandonado

Novamente o capítulo descreve situações onde o passado pode distorcer o presente, no momento que um casal resolve entrar pelas mesmas estradas de outrora, e acaba repetindo o mesmo enredo de antes. É importante deixar claro, que o passado não escreve o nosso destino, mas ele pode nos fragilizar, e com isso, fazer com que nos alimentemos do medo de uma dor ainda maior e nos tornemos incapazes de fazer diferente, de mudar, e acabamos sofrendo tudo de novo. Num casal isso pode acontecer, quando atribuímos ao nosso parceiro razões no agir ou intenções que, muitas vezes, são a transposição das atitudes dos nossos pais quando éramos crianças, ou seja, usamos o comportamento do cônjuge para reforçar uma crença profunda constituída na nossa família de origem.

Capítulo 10: o homem que queria afeição e a mulher que queria ser respeitada

Quando um casal não consegue solucionar alguns dos seus conflitos, e fica patinando, geralmente esse processo ocorre porque ambos colaboram para que a situação não mude e eles continuam a repetir suas posturas que os mantém presos. Quando esse casal resolve levar esse conflito para uma sala de psicoterapia, uma nova possibilidade se abre, pois agora o casal, como um sistema, pode buscar novas aberturas que antes não tinha acesso. Isso porque, ao trabalhar com o casal, o terapeuta poderá interromper o processo pelo qual cada um deles reforça a construção do mundo do outro, no sentindo que cada cônjuge acaba falando ou agindo exatamente naqueles pontos que ativa as defesas mais fortes no outro, dificultando a mudança. Para evoluir, o casal precisa buscar novos recursos dentro da relação, para que ambos deixem de fazer, e fazer a si mesmos, aquilo cujo resultado conhecem muito bem.

Capítulo 11: meu parceiro, meu casamento e eu

 Um dos primeiros passos para um casal poder resolver seus conflitos, é não depositar no outro toda responsabilidade pelos fracassos da relação. Conseguir sair da preocupação de quem está errado e de quem tem a razão, já permite aos cônjuges se darem conta de que os problemas vividos pertencem à relação que ambos teceram desde o início, e cada um do seu jeito, tem a sua razão quando expressa como sente a união. Poder perceber que a fala do outro faz sentindo, mesmo que eu não a compreenda, quem sabe permita que o casal retire a sua armadura e passe a utilizar escudos, que podem ser deixados de lado quando não há perigo.

Capítulo 12: um segredo de família

As famílias carregam segredos e isso não é um segredo. O segredo faz parte do sistema familiar, e ele não deve ser visto como algo patológico. Não se deve focar cem por cento nele, mas circular ao reder dele e perceber as combinações a que faz parte. Há momentos em que contar um segredo pode ser muito útil para uma família, mas esse sistema precisa estar flexibilizado a ponto de permitir a entrada desse segredo, que então mudará de status e deixará de ser algo oculto. Se a família estiver com suas regras muito rígidas e com nível de ansiedade muito elevado, abrir um segredo pode piorar as relações familiares, desestabilizando os seus membros. Então, é preciso que algo fique bem claro: não é porque existe um segredo que necessariamente tudo gire em torno dele.

Capítulo 13: navio fantasma

O segredo, como parte do sistema familiar, também pode ser passado de uma geração para uma outra geração, e assim sucessivamente; e constituir, junto com outros fatos, a história de uma família. Geralmente esses segredos transgeracionais, possuem a função de manter coalizões, e com isso, mantém certas regras intactas dentro da família, mesmo ao longo de várias décadas. Assim, podemos ver esse segredo como uma espécie de testemunha, um vetor, um transmissor, que é passado de uma geração para outra, como um navio fantasma, que transporta a bordo o tesouro oculto das regras familiares.

Capítulo 14: sobreviver à própria família

A sobrevivência para os membros que devem seguir o seu caminho, passa por conseguirem buscar suas próprias regras a partir daquilo que receberam como bagagem das gerações anteriores. Com isso será possível gerar uma diferenciação, permitindo aos membros de um sistema familiar criarem seu próprio espaço, sem precisarem romper com o sistema familiar de origem. A melhor diferenciação é sempre aquela que se faz na aliança com o que nos diferenciamos, para que entre outras coisas, seja possível dizer um sim sem ficar furioso e um não sem se sentir culpado.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Antes de tudo, o título do livro me deixou muito curioso, pois traz a tona um lado da história que muitas vezes somos treinados a não perceber, que é o poder de um sistema familiar em deformar os seus próprios membros. O poder curativo que uma família tem, já sabemos, mas foi muito interessante refletir junto com autor, a partir das suas páginas desse livro, como a rede familiar, como uma teia de uma aranha, pode prender um de seus membros em posturas repetitivas ou como um casal pode reforçar justamente aquilo que os fez sofrer em épocas passadas, e tudo isso, ocorre como que num jogo ou numa dança oculta, invisível aos seus participantes.

 

 

Nome do autor da resenha e data: : Ricardo Luiz De Bom Maria- 26/09/2009.