Resenha de Livro |
||
Nome do Livro: |
Comportamento seguro |
|
Autor do Livro: |
Juliana Zilli Bley |
|
Editora, ano de publicação: |
Editora SOL, 2007 |
Relação dos capítulos
Apanhado resumido sobre cada capítulo
Apresentação
Fruto de inquietações profissionais da autora, a obra apresenta considerações relacionadas à segurança do trabalho. Tema de pouca produção científica no Brasil, o livro Comportamento Seguro trata-se de uma fonte de consulta para temas relacionados à gestão de saúde e segurança, baseado no comportamento.
1. Psicologia e segurança no trabalho no Brasil: uma introdução
Este capítulo aborda desde a concepção da Psicologia em tempos imemoriáveis, posteriormente como ciência estruturada, até sua regulamentação como profissão há pouco mais de 40 anos. Muito embora a Psicologia venha dedicando-se ao estudo e intervenção do comportamento humano no contexto do trabalho desde a revolução industrial, a autora comenta sobre a ausência de produções científicas no campo da prevenção de acidentes e cita como principal obra do tema no Brasil o livro Acidente de Trabalho, Atividades de Prevenção, do psicólogo José Augusto Dela Coleta. A autora introduz de forma rápida a utilização, por parte das organizações, de procedimentos treinamentos e programas a fim de conscientizar e motivar para um comportamento seguro diante dos riscos apresentados no ambiente de trabalho.
2. Comportamento humano e prevenção: o que é (ou deveria ser) chamado de “Segurança Comportamental”
O segundo capítulo da obra aborda temas relacionados ao comportamento humano, seu estudo e a evolução deste conceito ao longo do tempo de acordo com Botomé (2001). A autora considera o comportamento um fenômeno de alta complexidade que não pode ser simplificado, ou considerado no senso comum. Da mesma forma, a Psicologia aplicada à segurança do trabalho deve considerar a influência humana no acidente de trabalho, porém nunca de forma simplificada, levando sempre em consideração o conjunto de relações que se estabelecem entre o indivíduo e o ambiente com o qual se relaciona. Abordando este tema, a autora cita Dela Coleta, trazendo o conceito de que o acidente pode ser considerado a expressão da qualidade da relação do indivíduo com o meio.
Comenta a autora a necessidade da formação e capacitação do profissional que lida com o comportamento humano em segurança, bem como a necessidade de se trabalhar com o comportamento preventivo em segurança sem caráter de manipulação do trabalhador.
A noção de comportamento seguro
Embora muitos avanços tenham acontecido no âmbito segurança do trabalho, uma questão permanece: o que separa treinamentos, equipamentos modernos, normas da atuação concreta dos trabalhadores?
Segundo Botomé (2001) citado pela autora, o comportamento caracteriza-se por uma relação dinâmica em três perspectivas: situação (o que acontece antes da ação); ação (aquilo que um organismo faz) e conseqüência (o que acontece depois da ação de um organismo).
Sendo assim, em se tratando de segurança, o comportamento ideal é aquele que resulto em não ocorrência de acidentes.
Comportamento Seguro ou Comportamento de Risco?
Nesta etapa da obra, a autora questiona a utilização do termo ato inseguro, muito utilizado para definir aspectos comportamentais em segurança do trabalho. De acordo Bley, uma vez que o conceito de comportamento é amplo, o termo adequado seria comportamento de risco. Já o conceito de comportamento seguro caracteriza-se pela habilidade em identificar e controlar os riscos que a atividade realizada apresenta, reduzindo assim, a probabilidade de acidente ou doença ocupacional.
Evitamos Acidentes ou Promovemos Saúde?
Neste tópico a autora apresenta a importância de se aprofundar as ações de segurança na promoção da prevenção de acidentes e não mais centrar-se no paradigma da doença, do acidente.
E, uma vez o foco de trabalho sendo a prevenção, o processo ensino aprendizagem é relevante para a não ocorrência de acidentes de trabalho.
Mudança de Comportamento
Os treinamentos e eventos de segurança são, sem dúvida, uma das melhores estratégias para prevenção de acidentes, segundo a autora. É possível, através deste recurso, evidenciar mudanças de comportamento – fazer novas sínteses comportamentais, estabelecer novas relações com o ambiente etc. Educação por meio de controle ou por meio de escolhas: estratégias para influenciar comportamentos.
Questiona a autora o dilema: obedecer a regras ou agir com autonomia? Segundo Bley, a primeira opção não proporciona mudanças permanentes de comportamento. Já a segunda pode ensinar o trabalhador a conhecer de forma crítica sua realidade de trabalho e fazer escolhas.
Treinamentos e Campanhas: Dilema entre Quantidade e Qualidade
Segundo a autora, é necessário que as empresas definam estratégias para melhores condições de segurança. É importante, ao definir treinamentos de segurança, necessidades, aplicação, carga horária e etc. Para aumentar o nível de eficácia é de extrema importância que o processo educativo tenha vínculo com o cotidiano do trabalhador.
A prática demonstra que os educadores de segurança do trabalho são, em sua maioria, técnicos da área e pessoas ligadas aos processos industriais. Contudo, as ações educativas partem não somente do treinamento formal, mas também de ações das gerências, planejamentos das diretorias e etc.
Ainda para a autora é importante que estes profissionais certamente tecnicamente capazes, atentem também para questão didático pedagógicas para um adequado processo de ensinar.
4. Desenvolvimento de competências preventivas: um estudo de manutenção no setor metalúrgico.
A fim de verificar a eficácia do treinamento de segurança na prevenção de acidentes de trabalho, Bley realizou uma pesquisa em duas empresas do segmento metalúrgico. O foco principal foi a avaliação das variáveis que interferem no processo de ensinar comportamentos seguros no ambiente de trabalho.
Competência em trabalhar com Saúde e Segurança
Durante este estudo acima citado, realizado pela autora, constatou-se que o entendimento do termo comportamento seguro divergia entre os trabalhadores e instrutores dos treinamentos de segurança. Questiona a autora: não sendo os trabalhadores capazes de identificar o que caracteriza o trabalho seguro, seriam eles capazes de trabalhar a fim de prevenir acidentes?
Sendo assim, acredita Bley, o trabalho nos treinamentos de segurança deve ser de mudança de concepção para o trabalho seguro.
De acordo com o autor deste capítulo – Odilon Cunha - comportar-se de forma arriscada faz parte da natureza humana desde os primórdios. Expõe também alguns conceitos importantes na percepção de riscos e, conseqüentemente, prevenção de acidentes:
Sensação = processo de receber e converter os estímulos externos.
Percepção = processo pelo qual as pessoas organizam as impressões sensoriais.
Perigo = fonte que pode levar (ser humano, ambiente e materiais) a sofrerem perdas, danos ou lesões.
Risco (pressupondo o sistema industrial) = relação entre o homem e o perigo e suas conseqüências.
De acordo com Cunha, a percepção de risco diz respeito à capacidade de identificação dos perigos e reconhecimento dos riscos e atribuindo-lhe significado. Ainda em relação à percepção de risco, comenta que, segundo Bley, o processo de percepção de risco é influenciado por fatores como padrão de funcionamento e repertório comportamental.
Nos meios organizacionais, é comum a utilização do conceito metafórico de clima como fonte de indicadores relacionados aos aspectos humanos no trabalho. De acordo com o autor, as primeiras investigações de clima, voltado ao ambiente organizacional, datam a década de 30 do século XX.
Para Turbay, o fator clima apresenta o nível de satisfação das pessoas e a sua percepção aos diversos elementos quem compõe o ambiente de trabalho (remuneração, liderança, alimentação e demais benefícios etc.).
A primeira pesquisa de clima e cultura de segurança – independente, sem mensurar demais aspectos organizacionais – foi realizada em 1980 por Dov Zohar – com 400 trabalhadores israelenses de indústrias dos setores de alimentação, química e metalúrgica. Os resultados apontaram 8 dimensões: treinamentos focados em segurança; atitudes da alta direção; comportamento seguro e carreira profissional; nível de risco no local de trabalho; status dos encarregados de segurança; efeitos do comportamento seguro no status social dos trabalhadores; status dos comitês de segurança.
Posteriormente, outros autores como Brown e Holmes, segundo Turbay, propuseram adequações e realizaram correlações entre os setores e tipo de empresa.
Em suma, pesquisar a percepção dos trabalhadores em relação aos aspectos de segurança é um indicador cada vez mais buscado pelas organizações. Para o autor, é um processo importante, pois evidencia oportunidades de melhoria das questões relacionadas à segurança.
Último capítulo do livro, onde a autora reflete sobre a construção dos conhecimentos na área de saúde e segurança do trabalho. Faz uma analogia da construção deste conhecimento com uma construção civil onde os tijolos foram os grandes muros. Reflete também sobre a importância do engajamento de todos os envolvidos – trabalhadores, empresas, órgãos governamentais – na construção destes conhecimentos na área de segurança do trabalho, afim de não somente prevenir acidentes como também tornar as relações de trabalho humanizadas.
Apreciação pessoal sobre o livro
Esta obra é certamente uma das principais contribuições à Psicologia aplicada a Segurança do Trabalho no Brasil. A autora apresenta, de forma clara e objetiva, os conceitos contemporâneos da gestão do comportamento humano aplicados em busca da prevenção de acidentes de trabalho.
Nome do autor da resenha e data: Ana Paula Santa Helena, 06 de maio de 2011