Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Convivendo com a Esquizofrenia: um guia para portadores e familiares

 

Autor do Livro:

Mario Rodrigues Louzã Neto

 

Editora, ano de publicação:

Ediouro, 2006

 

Relação dos capítulos

Prefácio

Introdução

Parte 1 – Esquizofrenia, um mal (des)conhecido

Parte 2 – Porque uma pessoa desenvolve esquizofrenia?

Parte 3 – Evolução e tratamento

Parte 4 – Perguntas mais frequentes sobre esquizofrenia

Parte 5 – Dicas para os familiares

Apêndices

Glossário

Sobre o autor

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Introdução:

Esquizofrenia é um transtorno mental em geral grave, de grande relevância em termos de saúde pública. Atinge o adulto jovem, no momento em que esta se preparando para começar sua vida independente. As estatísticas mostram que cerca de 1% das pessoas é afetada pela doença, independentemente de sexo, cor, raça e condição socioeconômica.

Além dos custos financeiros, há um custo emocional enorme, todo o sofrimento que o paciente e aqueles que o cercam tem por conta da doença. Trata-se de uma doença em geral crônica, com a qual o portador conviverá a vida toda, e que muitas vezes traz limitações nem sempre bem compreendidas.

Parte 1:

A palavra esquizofrenia refere-se a uma doença ou transtorno mental que afeta cerca de 1% da população. Aqui no Brasil esse índice equivale hoje, nos primeiros anos do século 21, a 1,8 milhão de cidadãos aproximadamente. Soma-se a isso o número de pessoas que convivem com o portador da doença e que estçao envolvidas direta ou indiretamente em sua vida.

Antigamente o papel dos manicômios, sanatórios e casas de repouso era o de institucionalizar os portadores de transtornos mentais por vezes pela vida toda, já que poucos recursos terapêuticos estavam disponíveis.

A função dos hospitais psiquiátricos atuais é diagnosticar e tratar os portadores de transtornos mentais, usando o que há de mais moderno em termos de tratamentos. As internações se tornam cada vez mais breves, apenas pelo curto período de tempo necessário para controlar um quadro agudo. Outros locais, como Ambulatórios, Unidades básicas de saúde, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tem papel fundamental no tratamento de portadores de transtornos mentais, uma vez que estes, se bem diagnosticados e tratados, estarão a maior parte do tempo vivendo na comunidade, interagindo na sociedade, tal como acontece com qualquer outra pessoa.

Para Louzã Neto, apesar de ser uma das doenças mentais mais estudadas, a esquizofrenia ainda não é bem compreendida. Após décadas de pesquisa, suas causas não são bem conhecidas e até o momento não se pode falar de cura. Não existem exames laboratoriais ou radiológicos capazes de confirmar o diagnóstico e, dada a complexidade da doença, mitos a seu respeito multiplicam-se no senso comum, mesmo entre pacientes e seus cuidadores.

Alguns dos mitos são:

Louzã explica que o tratamento da esquizofrenia objetiva controlar ou reduzir os sintomas e prevenir outros surtos psicóticos, da mesma forma que é possível controlar a diabetes de uma pessoa, permitindo que ela leve uma vida normal. Ainda não se sabe como prevenir o aparecimento da doença, porém, com os tratametos atuais obtem-se um controle muito satisfatório dela, permitindo que o portador leve uma vida normal. Continuando, ele diz que sabe-se que a doença afeta de alguma forma o funcionamento normal do cérebro, mas não exatamente de que forma essa disfunção é causada. O modo de evolução da doença pode variar bastante de paciente para paciente.

De acordo com a Classificação Internacional das Doenças – CID-10, os transtornos esquizofrenicos se caracterizam em geral por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção, por afetos inapropriados ou embotados. Usualmente mantem-se clara a consciência e capacidade intelectual, embora certos déficts cognitivos possam evoluir no curso do tempo. Os fenômenos psicopatológicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a imposição ou roubo do pensamento, a divulgação do pensamento, a percepção delirante, idéias delirantes de controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e sintomas negativos”.

Os sintomas são: delírios, alucinações, alterações do pensamento, alterações da afetividade, diminuição da motivação, sintomas motores entre outros sintomas.

Em decorrência dos sintomas, é possível que o paciente passe a ter comportamento bizarro ou excêntrico, como utilizar roupas inapropriadas, trocar o dia pela noite, sair vagando pelas ruas, descuidar-se da higiene e dos cuidados pessoais.

Os sintomas acima citados são divididos em positivos e negativos. Os positivos decorrem de uma distorção do funcionamento normal das funções psíquicas, já os negativos são considerados consequência da diminuição da afetividade e da motivação.

SINTOMAS POSITIVOS

SINTOMAS NEGATIVOS

Delírios

Embotamento afetivo

Desorganização do pensamento

Pobreza de discurso

Alucinações

Retraimento social/ diminuição da vontade

 

Diagnosticar e tratar a esquizofrenia continua dependendo de uma detalhada conversa com o portador e seus familiares. Em muitos casos ocorre também de a própria pessoa ou seus familiares não se darem conta da gravidade da situação e confundirem os sintomas iniciais da doença com uma “crise” de adolescência ou com uma depressão ou “esquisitice” passageiras.

Tão logo o desafio do diagnóstico é vencido surge outro tão importante quanto este: a aceitação. Não só por parte do paciente, mas também da família. A incompreensão do paciente muitas vezes decorre da própria doença, que limita sua capacidade de discernimento da realidade. Em relação a família, a dificuldade se deve, em grande parte, ao descobrimento das características e formas de evolução da doença.

Em relação a essa incompreensão e preconceitos decorrentes disso, o livro busca nesse ponto dar uma explicação sobre doença mental, dizendo que de modo bastante simplificado, doença mental é qualquer doença do psiquismo humano. Entende-se o psiquismo humano como um conjunto de funções abstratas que emanam do cérebro. Tais funções abrangem o pensamento, a afetividade, o humor, a memória, a atenção, a senso-percepção, a inteligência, o juízo crítico, a vontade, a capacidade de prospecção (planejamento de coisas futuras), e a orientação em relação a si mesmo, ao tempo e ao espaço. As diversas funções psíquicas são integradas e coordenadas pela consciência. A perfeita integração entre essas funções é responsável pela capacidade do ser humano de interagir consigo mesmo, com os demais e com o meio ambiente. Nas doençs mentais, de algum modo, uma ou mais dessas funções são afetadas, fazendo com que o indivíduo apresente manifestações psíquicas bastante diferentes do habitual.

O autor cita que em outrs doenças mentais a pessoa mantém o juízo crítico da realidade, embora apresente comprometimento no relacionamento com os demais e dificuldade para se adaptar socialmente, e que na esquizofrenia essa noção da realidade fica bastante afetada.

O autor cita ainda outros transtornos mentais de causas variadas para que possamos diferenciá-los da esquizofrenia.

Parte 2:

Infelizmente até hoje não se descobriu a causa (ou causas) da esquizofrenia. No entanto, existem inúmeras evidências que permitem afirmar que se trata de uma doenã cerebral, em que fatores genéticos e ambientais influem de maneira variável no aparecimento e na evolução da doença.

A herança genética tem papel importante na explicação da origem da doença, embora isoladamente não a explique. Diz-senque a herança genética predispõe à doença, mas outros fatores também concorrem para sua manifestação.

Outro aspecto que vem ganhando importância no campo das teorias sobre as causas da esquizofrenia são algumas alterações cerebrais, em alguns doentes, detectadas por meio de exames radiológicos por tomografia computadorizada e ressonância magnética.

Há pesquisas mostrando que fatores ambientais ao longo do período de gestação ou nos primeiros meses de vida da criança, quando o cérebro está em formação, estão relacionados a doença, embora suas consequencias se manifestem somente muitos anos mais tarde. Tais fatores ambientais poderiam ser, entre outros, infecções virais durante a gestação e outras complicações durante a gravidez.

As áreas cerebrais mais afetadas pela esquizofrenia, segundo vários estudos, são os lobos frontais e temporais(os lobos frontais são responsáveis entre outra coisas, pelos pensamentos abstratos, pelo raciocínio lógico e pela capacidade de planejamento. Os lobos temporais estão ligados a memória e as emoções e sentimentos humanos e diversas maneiras como eles se expressam). O pesquisadores mostraram que os lobos frontais e temporais estão diminuídos em alguns pacientes esquizofrenicos. Essas alterações poderiam ser as responsáveis pelos sintomas mais comuns da doença, os delírios e alucinações, a desorganização do raciocínio lógico, as incoerências do afeto, a apatia e desmotivação.

Além de alterações físicas, observou-se que mudanças na bioquímica cerebral aparecem na esquizofrenia. Determinado sistema de neurotransmissão, que funciona com uma substância chamada dopamina, parece funcionar em excesso durante os surtos agudos da doença.

De modo bastante simples e esquemático pode-se dizer que fatores genéticos e ambientais poderiam causar alterações no desenvolvimento embrionário cerebral, as quais levariam as alterações bioquímicas e estruturais observadas nos pacientes.

Parte 3:

Da mesma forma que as manifestações da esquizofrenia variam individualmente, também a maneira como a doença evolui ao longo dos anos varia bastante. Um pequeno grupo de pacientes terá apenas um único episódio agudo da doença (ou surto). A maioria apresenta ao longo da vida vários surtos psicóticos, alternados por períodos de controle dos sintomas da doença. Os sintomas que persistem após o surto agudo e muitas vezes permanecem continuamente ao longo do tempo são chamados sintomas residuais. Podemos comparar tais sintomas a uma cicatriz que fica após uma doença ou cirurgia.

O primeiro medicamento voltado especificamente ao combate dos sintomas desta doença foi descoberto em 1952 e vem sendo utilizada até hoje. Em seguida vários outros remédios foram sendo criados e agrupados em uma classe terapeutica chamada antipsicóticos e tem como função básica aliviar os sintomas da fase aguda da doença e prevenir novos surtos. Certamente a maior contribuição dos medicamentos foi mudar a natureza do tratamento, que hoje tende a ser basicamente ambulatorial, reinserindo o paciente a comunidade. As internações continuam sendo eventualmente necessárias, mas agora podem se restringir aos momentos de crises mais agudas por períodos relativamente curtos, de cerca de um mês. Neste ponto o autor traz as diferenças entre os antipsicóticos de 1ª geração e os de 2ª geração, que apareceram a partir de 1990, bem como seus possíveis efeitos colaterais. Louzã esclarece que vários dos antipsicóticos de 2ª geração podem ser obtidos através do Sistema Único de Saúde. Para ele, além de procurar ter acesso a medicamentos mais modernos, que provoquem efeitos colaterais menos intensos, é hoje, imprescindível dispor de uma rede mais complexa de atendimento, que inclua, a medida do possível, recursos como o hospital dia, a terapia ocupacional, a psicoterapia, o acompanhamento terapeutico, as oficinas protegidas, o emprego assistido.

Em decorrência das características dos sintomas da esquizofrenia, o cuidado psiquiátrico, apesar de imprescindível, não é suficiente para tratar esse tipo de paciente. O tratamento da esquizofrenia requer um trabalho de equipe, com o envolvimento de diferentes profissionais atuando simultaneamente e de preferência de modo integrado e harmonioso. Entre as abordagens psicossociais e equipamentos utilizados com mais frequencia, é possível descrever as seguintes: hospital dia, hospital noite e pensão protegida, moradias comunitárias, terapia ocupacional, oficina abrigada, emprego assistido, acompanhamento terapeutico, psicoterapia, orientação e psicoterapia familiar. A recuperação de um portador de esquizofrenia é um trabalho de longo prazo, com progresso lento e gradual.

Hoje há um esforço no sentido de provar que a convivência entre pacientes com esquizofrenia e a sociedade é algo não só possivel como desejável. Mas os sentimentos de culpa e ambivalencia experimentados pelos familiares não surgiram a toa. Na decada de 1960 a propria psiquiatria ajudou a reforçar a idéia de que a esquizofrenia era causada pela família e que contribuia substancialmente para seu desenvolvimento o modo como a mãe interagia com o filho. Pesquisas demonstrando as bases cerebrais da esquizofrenia, na atualidade, tem ajudado a desfazer esse conceito erroneo, mas o mito ainda é muito arraigado.

A formação de grupos de mutua ajuda, de familiares e de amigos dos portadores de esquizofrenia ainda é incipiente no Brasil. Podemos citar a “Fênix – Associação Pró-Saúde Mental” (www.fenix.org.br) e o “S.O.eSq” (www.soesq.org.br) como exemplo de entidades voltadas ao portador de esquizofrenia e seus familiares.

Parte 4:

Perguntas mais frequentes sobre esquizofrenia (entre outras):

 

Parte 5:

Dicas para os famliares (entre outras):

Fique atento a seus preconceitos, participe do tratamento, troque experiências com outras pessoas, não critique ou ridicularize o paciente, evite ser superprotetor, cuide de si mesmo para poder cuidar do portador da esquizofrenia.

Esquizofrenia é uma doença do cérebro, familiares não causam esquizofrenia, mas podem agravar a doença com atitudes inadequadas, o tratamento ideal é feito com a participação de diversos profissionais atuando de modo integrado, medicamentos são imprescindíveis, no entanto não são capazes de promover a reabilitação do portador.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Um bom guia para profisionais que tenham poucas informações sobre o tema e para a família de um cliente com esquizofrenia. Contém informações claras e atualizadas sobre as questões médicas relativas ao assunto, além de uma linguagem acessível e postura despretensiosa do autor, que não coloca como verdades absolutas os conteúdos que traz, mas como descobertas até o presente momento. Penso que ele conseguiu sair da briga sobre qual profissional teria competência para tratar pacientes esquizofrenicos, citando as  diferentes  aplicações onde se encaixam as diferentes abordagens e perspectivas envolvidas na esquizofrenia e aprofundando o conteúdo biológico sobre a enfermidade.

 

Nome do autor da resenha e data: Luciana Amorim – janeiro/2009.