Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Crianças do futuro

 

Autor do Livro:

Wilhelm Reich

 

Editora, ano de publicação:

Centro Reichiano de Psicoterapia Corporal / 2002

 

Relação dos capítulos

  1. A Origem do “não” humano
  2. Crianças do Futuro
  3. Problemas de crianças saudáveis durante a primeira puberdade (3 a 6 anos)
  4. Primeiros socorros orgonóticos para crianças
  5. Encontro com a praga emocional
  6. Encouraçamento numa criança recém-nascida
  7. Ansiedade de queda num bebê de três semanas
  8. Maus tratos aos bebês
  9. Sobre a masturbação infantil
  10. Diálogo com uma mãe sensível
  11. Os direitos sexuais dos jovens.

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Capítulo 1

Reich faz uma crítica ostensiva à maneira como os bebês nascem, ou seja, às condições de parto daquela época. Descreve estas condições citando a temperatura ambiente inadequada, o afastamento do bebê de perto da mãe e, no caso dos judeus, a circuncisão como fatores que interferem nesta situação emocional passível de encouraçamento, mostrando que nestes primeiros momentos de vida o “não” começa a se desenvolver. Explica este “não”, como uma negação às manifestações naturais do bebê.

Capítulo 2

Este capítulo foi extraído do relatório feito por Reich sobre o OIRC - Orgonomic Infant Research Center, em 1950, que relata a experiência coordenada por ele junto a uma equipe de 40 profissionais, entre eles médicos, enfermeiros e assistentes sociais, com o intuito de estudar a criança saudável.

O trabalho concentra-se no processo de desenvolvimento, desde a concepção até a idade de 5 a 6 anos, onde se formaria a estrutura de caráter. Para tanto, foi estabelecido o cuidado pré-natal de gestantes saudáveis; supervisão cuidadosa do parto e dos primeiros dias de vida do recém-nascido e prevenção do encouraçamento durante os primeiros 5 ou 6 anos de vida.

Reich identifica o condicionamento cultural, sobretudo a educação compulsiva como responsável pela supressão da natureza na criança adaptando-a a conserva cultural, que resulta em uma natureza secundária, a qual ele denomina de caráter.

Capítulo 3

Dedicado à análise dos problemas de crianças saudáveis durante a primeira puberdade, de 3 a 6 anos, o autor relata o caso de uma criança (no livro chamada de David), desde seu nascimento, demonstrando todos os esforços de seus pais para não prejudicarem seu desenvolvimento. Os resultados obtidos foram utilizados como exemplo de criança saudável. Reich conclui que as crianças devem ser criadas livres de encouraçamentos patogênicos, ou seja, daqueles que se cronificam tornando-se neuróticos; entretanto, deve se dar a elas condições de defender-se de situações biopáticas.

Capítulo 4

Aqui Reich discorre sobre formas de intervenção, as quais ele chama de primeiros socorros orgonóticos, entendendo que como as crianças não são ainda totalmente encouraçadas, é passível de mobilizar suas couraças para o restabelecimento do fluxo natural de energia.

Capítulo 5

O autor enumera oito maneiras de ação da praga emocional como o maior obstáculo no caminho das crianças saudáveis. E relata sete requisitos básicos que educadores e médicos devem possuir para trabalhar com estas crianças.

Capítulo 6

Nesta parte do livro é mostrada a experiência de encouraçamento de um bebê recém-nascido, cuja mãe foi acompanhada por profissionais orgonóticos desde a gravidez.

O texto revela os acontecimentos no período pré-natal e imediatamente após o nascimento até as cinco semanas de vida analisando os aspectos saudáveis, aqueles que respeitam a auto-regulação do bebê e as situações que colocam em risco o fluxo energético natural do bebê, instalando assim as primeiras couraças.

Capítulo 7

Reich discorre sobre a ansiedade de queda dos bebês, a qual surge já nos primeiros momentos de vida, dependendo de como o ele é segurado no colo ou freqüentemente colocado na banheira.

Sugere maneiras mais adequadas e seguras, mostrando como certas manobras ao segurar o bebê podem evitar bloqueios e inseguranças na vida adulta.

Capítulo 8

Neste breve capítulo, Reich denomina de maus tratos aos bebês todas as intervenções pediátricas tais como: determinar o número e horário de mamadas; enfaixar o bebê, impedindo seus livres movimentos; fazê-lo sentar ereto antes de estar pronto para isso, etc. Critica estas medidas afirmando que estas podem levar o bebê a um conflito intolerável, grave e danoso, que impede o funcionamento natural do corpo.

Capítulo 9

Trata de um tema polêmico, a masturbação infantil, analisando os efeitos inibidores da educação. O autor considera que as circunstâncias nas quais a criança experimenta as primeiras sensações da masturbação são especialmente importantes no amadurecimento sexual e seus efeitos farão parte da sexualidade adulta.

Capítulo 10

Este capítulo reproduz um diálogo entre Reich e uma mãe que utilizou todos os pressupostos orgonóticos para criar seus filhos, no entanto, não estava satisfeita com a maneira que sua filha de 15 anos se comportava. Reich a faz reconhecer a contradição que muitos pais vivem em criar seus filhos com toda liberdade, sobretudo a sexual, mas acabam por reprovarem algum tipo de comportamento que os levam a ser tão repressivos quanto pais não liberais.

Capítulo 11

Este capítulo foi escrito para o jovem pertencente ao movimento Sexpol e traz o que Reich acreditava ser os direitos sexuais dos jovens. Espécie de manual informativo, aborda assuntos de interesse não só dos profissionais da educação e saúde, mas, sobretudo dos jovens, para que cada um possa respeitar a si e ao outro, vivendo plenamente sua sexualidade.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O livro foi escrito por Reich, em 1950, quando morava nos Estados Unidos e ele volta a preocupar-se com a prevenção das neuroses, tema que ocupou suas pesquisas na década de 1930.

No final de sua vida Reich dedicou parte de sua obra à educação das crianças, acreditando ser esta a melhor forma de prevenir neuroses na vida adulta. Neste livro, sugere que educadores e pais sejam treinados de tal forma que possam prestar o que ele chama de “primeiros socorros orgonômicos” nas crianças, isto é, que sejam capazes de desenvolver um contato sensível e sintonizado com a criança.

Reich propôs que às crianças deveria ser dada a oportunidade de satisfazer todos os seus impulsos naturais; assim não se tornariam reprimidos e neuróticos, através de uma educação auto-regulada. Embora esta premissa tenha um cunho liberal para aquela época e ainda para os dias atuais, Reich defende neste livro que ao prevenir as neuroses desde a mais tenra infância, estaremos permitindo que estas crianças criem um mundo melhor. Como ele próprio diz: O destino da raça humana dependerá das estruturas de caráter das crianças do futuro.

É um livro belo e sensível, ao mesmo tempo crítico e polêmico, revelando Reich como ele sempre foi, um homem à frente de seu tempo.

 

Nome do autor da resenha e data: Mara Cristina Moro Daldin - Assistente Social – Junho / 2006.