Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Família funcionamento e tratamento

 

Autor do Livro:

Salvador Minuchin

 

Editora, ano de publicação:

Editora Artes Médicas/1990

 

Relação dos capítulos

     Cap. 1 - Terapia estrutural de família
     Cap. 2 - Uma família em formação
     Cap. 3 - Um modelo familiar
     Cap. 4 - Uma família do Kibutz
     Cap. 5 - Implicações terapêuticas de uma abordagem estrutural
     Cap. 6 - A família em terapia
     Cap. 7 - Formação do sistema terapêutico
     Cap. 8 - Reestruturação da família
     Cap. 9 - A técnica do sim, mas
     Cap.10 - A técnica do sim, e
     Cap.11 - A entrevista inicial
     Cap.12 - Uma perspectiva longitudinal
     Epílogo


Apanhado resumido sobre cada capítulo

     Cap. 1 - Terapia estrutural de família


     O esquema de referência do terapeuta familiar é o conjunto de teoria e técnicas que abordam o indivíduo em seu contexto social. A terapia busca a mudança da organização familiar.


     Mesmo no atendimento individual, trabalhando norteados por esta teoria, promoveremos mudanças individuais que repercutirão na estrutura familiar, modificando- a.

 

     Quando tratamos de crianças ou adolescentes identificados como sintomáticos, é comum a interrupção do atendimento no momento em que as mudanças iniciam e exigem uma reestruturação familiar.

 

     A terapia familiar é norteada por três axiomas, segundo Minuchin:
     - o indivíduo influencia seu contexto e vice-versa;
     - mudanças numa estrutura familiar contribuem para mudanças no comportamento e nos processos psíquicos internos deste sistema;
     - quando trabalhamos com um cliente ou sua família nos associamos para formar um sistema terapêutico.

 

     A terapia familiar tem como instrumento modificar o presente, não explorar e interpretar o passado. O objeto de intervenção no presente é o sistema familiar.

 

     As funções da família atendem a dois objetivos: um interno - a proteção psicossocial de seus membros - e o outro, externo - a acomodação a uma cultura e a transmissão da mesma.

 

     Cap. 2 - Uma família em formação

 

     Minuchin descreve e exemplifica através de um caso as diversas fases ou momentos da formação de uma família.

 

     Um casal enfrenta uma série de pequenas tarefas para acomodar-se a esta nova organização. Uma das primeiras tarefas, e talvez a mais difícil, é a de separação da família de origem e o estabelecimento de uma nova forma de relacionar-se. Da mesma forma se dá aos grupos de amigos; cada um pode ganhar novos amigos e perder antigos.

 

     O nascimento de uma criança promove uma mudança radical na organização familiar. Soma-se ao papel de marido e mulher os papéis de mãe e pai.

 

     As crianças crescem, tornam-se adolescentes e então adultos. Novos irmãos juntam -se à família ou os pais tornam-se avós. Deste modo, novo ciclo se inicia, novos sistema se formam e reestruturam-se para se adaptar.
Minuchin apresenta um caso onde aparecem questões relativas à necessidade de reestruturação das relações.

 

     Cap. 3 - Um modelo familiar

 

     A experiência humana de identidade é paradoxal pois busca um sentido de pertencimento e um sentido de ser separado.


     Apesar da família ser a matriz do desenvolvimento psicossocial de seus membros, também deve se acomodar a uma sociedade e assegurar alguma continuidade para sua cultura.

 

     As mudanças sempre se deslocam da sociedade para a família; nunca da unidade menor para a maior.

 

     O terapeuta não deve avaliar uma família como normal ou anormal baseado na presença ou não de problemas. Deve fazer sua avaliação baseado num esquema conceitual do funcionamento familiar.

 

     Se compreender a família como um sistema, temos que levar em conta três componentes:
     - 1 - a estrutura da família é a de um sistema sócio-cultural aberto e em transformação;
     - 2 - a família passa por um desenvolvimento, atravessa várias fases que requerem reestruturação;
     - 3 - a família se adapta a circunstâncias modificadas, de maneira a manter a continuidade e a intensificar o crescimento psicossocial de cada membro.

 

     O autor define estrutura familiar como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a maneira pela qual os membros da família interagem, formando o que chamamos de padrão transacional.

 

     O sistema mantém a si mesmo; oferece resistência à mudança e mantém os padrões preferidos, mas a estrutura familiar deve ser capaz de se adaptar quando as circunstâncias mudam.

 

     O sistema familiar diferencia e leva a cabo sua funções através de subsistemas. Os indivíduos são subsistemas dentro de uma família. Os subsistemas podem ser formados por geração, sexo, interesse ou por função.

 

     Minuchin nos apresenta o conceito de fronteiras como sendo as regras que definem quem participa e como participa de um subsistema. Elas podem ser nítida, difusa, rígida, coalisão, associação, superenvolvimento, conflito e desvio.

 

     A função das fronteiras é de proteger a diferenciação do sistema, e a sua nitidez dentro de uma família é um instrumento útil para avaliar o funcionamento do sistema.

 

     Os extremos, como em outra situações geralmente acarretam problemas. No caso das fronteiras, estes extremos são o emaranhamento e o desligamento.

 

     O nosso papel, em alguns casos, é o de criador de fronteiras, assim como podemos torná-las nítidas ou abrir as inadequadamente rígidas.

 

     Os subsistemas deveriam funcionar com suas fronteiras definidas nitidamente, sem cruzamento entre elas.
Nesta questão aparece a dificuldade no processo de educar, visto que é conflituoso, pois de um lado está inerente a função de proteger e gerir sem deixar de controlar e reprimir; por outro lado os filhos não podem crescer e se tornarem individualizados sem rejeitar e atacar.

 

     O processo parental difere conforme a idade dos filhos. Quando pequenos necessitam de nutrição, mais tarde controlamos e orientamos e na adolescência aparecem os conflitos pois as exigências dos pais vão colidir com a necessidade de autonomia dos filhos apropriada à idade.

 

     A família sofre constantes pressões externas e internas e isto requer constante transformação nas relações e posições de seus membros dentro do sistema, para que este mantenha continuidade. Estas pressões são de todo tipo, variando desde doenças familiares, morte, nascimento, casamentos, mudança, etc...

 

     Se a família responde com rigidez a todos esses stresses, ocorrem padrões disfuncionais.

 

     Cap. 4 - Uma família do Kibutz: a família Rabin e Mordecai Kaffman

 

     O autor apresenta histórias sobre a formação de uma família e compara à diferentes culturas, percebendo que independente do contexto sócio-cultural, este processo e muitos outros ocorrem de uma forma similar, passando pelas mesmas dificuldades, nós, entraves e fases.

 

     Cap. 5 - Implicações terapêuticas de uma abordagem estrutural

 

     Quando uma família busca terapia, o terapeuta tem o desafio de reconhecer o padrão de funcionamento e a estrutura deste sistema.

 

     Usa uma série de recursos para tal descoberta, e fica perguntando-se quem é o porta-voz da família, o que os outros fazem enquanto um fala, parecem apoiar ou contestar os conteúdos?

 

     O mapa familiar orienta o terapeuta na formulação de hipóteses e na consequente redefinição dos objetivos; esta coleta de informações vai sendo obtida através de experiências, geralmente utilizando tarefas e outras técnicas.

 

     Cap. 6 - A família em terapia

 

     O que geralmente leva uma família para a terapia são os sintomas de um de seus membros É ele quem tem o "problema" ou é o "problema". Estes sintomas servem de alguma forma para a manutenção do sistema.

 

     Na terapia de família o alvo da intervenção é a família; isto não quer dizer que o indivíduo com sintoma será ignorado, porém o foco do terapeuta está na intensificação da operação do sistema familiar. A família será a matriz de cura e crescimento de seus membros.

 

     A responsabilidade para que isto aconteça pertence ao terapeuta.

 

     Com o objetivo de transformar o sistema familiar, o terapeuta tem que intervir de maneira a desequilibrar o sistema, sempre tendo cuidado para não ameaçar os membros da família com deslocamentos muito importantes. É vital que o terapeuta forneça sistemas de apoio dentro da família para que os movimentos realizados não desestruturem o sistema.Em muitas situações o terapeuta conta com alguns membros da família neste processo de mudança, que passam a ser seus co-terapeutas.

 

     Cap. 7 - Formação do sistema terapêutico

 

     Os métodos do terapeuta de criação de um sistema terapêutico e de se posicionar como líder são conhecidos como operadores de união e estes são fundamentais para que ocorra a reestruturação necessária e que os objetivos terapêuticos tenham êxito.

 

     As principais intervenções terapêuticas tem como destino mover o sistema terapêutico na direção dos objetivos terapêuticos.

 

     Na terapia de família, um diagnóstico é a hipótese que o terapeuta desenvolve de suas experiências e observaçãoes, sempre levando em conta que o pedido é sempre paradoxal.

 

     Deste modo, o fim do processo diagnóstico é ampliar a conceitualização do problema e, dar a atenção necessária ao membro com sintoma, mas tendo em vista que o alvo da intervenção terapêutica é a família.

 

     Ao avaliar as interações familiares, o terapeuta se concentra em seis áreas principais:
     - estrutura familiar - padrões transacionais preferidos e as alternativas disponíveis;
     - flexibilidade do sistema e a capacidade para a elaboração e reestruturação;
     - ressonância - sensibilidade às ações dos membros individualmente;
     - revê contexto de vida familiar - fontes de apoio;
     - verifica estádio de desenvolvimento familiar e sua execução de atividades adequadas ao estádio;
     - explora como o sintoma de um membro da família é utilizado para a manutenção do sistema

 

     O conteúdo das informações passadas ao terapeuta é cuidadosamente selecionado, é uma versão oficial dos acontecimentos familiares que fornece dados para o terapeuta. É no processo terapêutico que o padrão aparece e mostra o funcionamento deste sistema.

 

     O contrato terapêutico deve conter o como as coisas acontecerão de forma muito clara. O contrato é definido com base em objetivos que podem ser avaliados, reformulados ou modificados. Constam do contrato os aspectos referentes à frequência, pagamento (quando e quem paga), duração da sessão, etc...

 

     Cap. 8 - Reestruturação da família

 

     As operações reestruturadoras são as intervenções terapêuticas que desafiam uma família na tentativa de forçar uma mudança terapêutica.

 

     Existem várias categorias de operação de reestruturação, entre elas:
     - efetivação de padrões transacionais da família - o terapeuta deve estar atento ao funcionamento da família e não se prender no conteúdo;
     - delimitação de fronteiras: o ideal é a interdependência de todos os sistemas;
     - escalonamento de stress - consiste na "produção" de stress em diferentes partes do sistema familiar, possibilitando que os próprios membros sugiram alternativas para se reestruturar;
     - distribuição de tarefas;
     - utilização de sintomas;
     - exageração de sintomas - aumentar sua intensidade como manobra reestruturadora;
     - manipulação do humor ;
     - apoio, educação e orientação.

 

     Cap. 9 - A técnica do sim, mas

 

     A família Smith e Salvador Minuchin

 

     Apresenta uma sessão com a família Smith, reproduzindo suas falas e introduzindo no texto seu entendimento acerca do funcionamento da família, onde por mais de dez anos o Sr. Smith, paciente psiquiátrico, representa e incorpora o que é problema na família. O terapeuta aponta a necessidade de questionar a validade desta certeza e desafia a família a reestruturar seu padrão.

 

     Cap. 10 - A técnica do sim, e:

 

     A família Dodds e Crl Whitaker

 

     Este capítulo traz uma sessão da família Dodds com Carl Whitaker onde o cliente com sintoma é um menino de 12 anos.

 

     O autor coloca como estratégia de terapia a e ampliação e expansão do sentido de si mesmo dos membros do sistema.

 

     Cap. 11 - Entrevista inicial

 

     A primeira preocupação do terapeuta é a de desenvolver a unidade terapêutica. Mas ele deve começar a mapear a estrutura familiar, ampliar o foco e estabelecer um contrato terapêutico.

 

     Falamos em ampliar o foco quando a família traz um membro da família como portador do sintoma e, consequentemente do problema. Como o pedido é paradoxal, os objetivos do terapeuta e da família não serão os mesmos.

 

     Podemos dividir a entrevista inicial em três etapas:
     - terapeuta como anfitrião;
     - estabelecimento de contatos terapêuticos;
     - exploração da estrutura familiar para posterior mapeamento de seu funcionamento.

 

     Cap. 12 - Uma perspectiva longitudinal

 

     Relata um caso de anorexia nervosa e aborda alguns aspectos do que chama de "família psicossomática".

 

     Neste caso, mapeou fronteiras dos sistemas, colocando a criança com sintomas como tendo um papel vital na evitação do conflito de sua família, apresentando um foco para preocupação.

 

     Coloca que a vulnerabilidade fisiológica da criança é um componente necessário, mas não suficiente , no aparecimento de uma síndrome psicossomática.

 

     Epílogo

 

     Minuchin pontua a necessidade de mapearmos a estrutura e funcionamento familiar para que possamos definir objetivos, programas e técnicas que sejam terapêuticas àquele sistema, e para que possam aprender aquilo que precisam aprender.


Apreciação pessoal sobre o livro

     Em mais uma leitura de uma obra de Salvador Minuchin, torna-se evidente seu estilo claro e didático de apresentar seu pensamento.


     Também evidencia que apesar da necessidade constante de estudo e atualização, alguns conceitos básicos, entre eles a necessidade de identificarmos o padrão de funcionamento do sistema, determinam se vai acontecer ou não processo terapêutico.
     

     Traz alguns temas trabalhados em outras obras, porém apresenta um aspecto que me remeteu à reflexão, que é a "crise do adolescer", onde coloca que é natural e esperado pois remete ao conflito da necessidade de separação e autonomia do filho X desejo de pertencimento e necessidade de controle dos pais. Diante disto, vejo a possibilidade de, levando estes aspectos em conta, trabalhar de forma mais funcional com esta questão.

     

     Reforça a preocupação em não considerarmos problema uma coisa anormal; em alguns sistema o problema pode ser funcional. Nos resta estabelecermos junto com a família o que eles precisam aprender para reorganizar e funcionar sem a presença do sintoma.

 

Nome do autor da resenha e data: Leonora Vidal Spiller - abril/2001