Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
Família - trama e terapia |
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Autor do Livro: |
Moisés Groismam |
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Editora, ano de publicação: |
Editora Objetiva - 1991 |
Relação dos capítulos
Movimento 1
Movimento 2
Movimento 3
Movimento 4
Movimento 5
Movimento 6
Movimento 7
Movimento 8
Movimento 9
Apanhado resumido sobre cada capítulo (o que consta, conteúdo)
Movimento 1
Trata, entre outros aspectos, da interação
do sistema familiar, suas funções e a interdependência de
três gerações: a nossa, a que nos gerou e a que gerou nossos
pais. É a linha da trigeracionalidade. Em alguns exemplos de casos estudados
no livro, fica clara a importância dada ao fato da trigeracionalidade.
Ressalta a necessidade da diversificação
de recursos terapêuticos devidamente amparados técnica e teoricamente,
possibilitando assim uma maior proximidade da complexidade que envolve o ser
humano e suas relações. Coloca que o lúdico e o jogo potencializam
a ação do terapeuta possibilitando a introdução
da comunicação não verbal, metafórica, assim como
facilitam a participação dos envolvidos no processo terapêutico.
Ainda referente a utilização do
lúdico e dos jogos, com crianças proporciona uma forma conhecida
de linguagem, de comunicação mais próxima do seu mundo.
O terapeuta deixa de ser um estranho.
Reforça a importância do primeiro
telefonema, colocando-o como uma amostra grátis do trabalho terapêutico
nas sessões. Possibilita que o terapeuta posicione-se quanto a sua atuação,
função da família no processo terapêutico e redireciona
o pedido da família.
Coloca que a definição das relações
entre a família e o terapeuta inicia-se com o primeiro telefonema e prolonga-se
no processo terapêutico. Um dos primeiros objetivos nesta definição
de relações é mudar o foco do problema de algum depositário
para a interação familiar. Apesar de redefinir o problema, focando
a família, o membro depositário da dificuldade não pode
ser deixado de lado. O processo terapêutico se dá na circulação
destes dois pontos até que a família mude seu funcionamento e
aquele membro não precise mais ser porta-voz do sistema familiar.
Movimento 2
Como foi colocado antes, o fator trigeracional
é relevante e podemos observar que alguma disfunção ocorrida
na família de origem dos pais insere-se na história emocional
de cada um e se reproduz na relação com os filhos.
Geralmente o sinal de que algo está disfuncional
no sistema familiar surge no filho. Contraditoriamente, se por um lado a criança
é o ponto frágil do sistema familiar, por outro lado, com seus
sintomas mobiliza e controla a família, sinalizando a disfunção
e isto lhe confere o poder considerável.
Moisés refere a necessidade de, paulatinamente,
os pais flexibilizarem suas funções na estrutura familiar em decorrência
do amadurecimento dos filhos. Se quando pequenos carecem de proteção,
quando iniciam seu processo de individuação necessitam que os
pais passem à consultores. Isto geralmente se dá acompanhado de
crises, que demonstram a necessidade de reorganização familiar.
Os triângulos constituem a unidade básica
do sistema familiar, servindo como ponto de sustentação e equilíbrio.
Estas triangulações estão sempre acontecendo e são
necessárias à organização familiar, desde que mutáveis.
Ressalta a importância da teoria e técnica na formação
dos terapeutas, mas que devem ser esquecidas e usadas quando necessário.
Revela a necessidade do conhecimento, espontaneidade e abertura para transitar
nos diferentes níveis e recursos que estão ao nosso alcance.
Movimento 3
Trata neste capítulo de alguns
recursos utilizados no decorrer do processo terapêutico, entre eles o
uso da gravação das sessões e a provocação.
Defende a utilização do vídeo
a apresenta suas vantagens:
- mostra a família com todas as suas interações;
- pode permitir ao terapeuta uma avaliação
do processo terapêutico;
- mostra à família diversas fases
do seu desenvolvimento;
- quando autorizado pela família é
boa fonte de ensino.
Em relação a utilização
da provocação como instrumento terapêutico, afirma que é
eficiente mobilizar a família produzindo uma crise no sistema familiar
e por conseqüência exigindo mudanças para readquirirem equilíbrio
no funcionamento.
O terapeuta familiar deve desvendar tramas, auxiliar
na busca de novos caminhos, ajudar a desenvolver solidariedade entre seus membros
possibilitando que busquem novos recursos e não esperem soluções
externas.
Movimento 4
Trata da crise familiar que se instala
em um ou mais membros da família na fase do adolescer, crescer, individualizar-se,
formar nova família, etc... Esta crise se dá nos dois pólos.
Para o adolescente há a necessidade de desgarrar-se dos pais, medo da
separação, de enfrentar a vida adulta, escolher e assumir sua
identidade sexual, social e profissional... Do lado dos pais, além do
medo de perder o filho, terão de enfrentar o fantasma do envelhecimento,
do abandono, do temor da morte, etc...
Neste capítulo coloca como recurso terapêutico,
além da provocação antes referida, a utilização
de tarefas. Elas tem, entre outros objetivos, o envolvimento familiar no processo
terapêutico bem como uma extensão dos temas trabalhados e objetivos
definidos em terapia.
Ainda referente à crise desencadeada na
adolescência, afirma a importância da hierarquia nas relações
familiares. Pai é pai; mãe é mãe; filho é
filho. Qualquer inversão numa destas hierarquias gera confusão
e patologias familiares.
Movimento 5
Trata do cuidado em não alimentar
na família a expectativa de que o terapeuta é milagreiro. Deve-se
valorizar o potencial da família para que, com a ajuda, encontre a melhor
solução para suas dificuldades. Caso contrário o terapeuta
passa a ser depositário dos problemas da família.
Ressalta novamente a importância da hierarquia
e estabelecimento definido dos papéis. Pode-se muitas vezes fazer a inversão
destes papéis ou até é esperada certa permeabilidade entre
os membros, mas o que não pode acontecer é a confusão,
indiferenciação ou a cristalização ou rigidez dos
papéis, impedido o relacionamento e a troca, comprometendo o crescimento
da família.
No que se refere à crise familiar decorrente
da adolescência, aponta o aspecto do casal colocar-se novamente como um
casal, retornando ao par original e revendo seus projetos de vida.
Este defrontar-se novamente com o par original
muitas vezes surpreende e faz pensar em como e a que ponto os papéis
são aprendidos pois não é o fato do filho nascer que nos
transformamos subitamente em pais e mães. Este passe de mágica
ocorre apenas no papel social, mas nos demais é a relação
constante com este bebê que nos torna pai e mãe. Uma disfunção
possível neste intercâmbio é o pai ficar "escondido"
atrás da mãe e ela "consentir". O filho não vê
o pai, só vendo a mãe, comprometendo assim sua função
de mulher e esposa.
Movimento 6
Trás novamente o tema da trigeracionalidade,
apontando não só a importância de estudar e investigar este
aspecto, bem como defende a presença das 3 gerações "ao
vivo" nas sessões para verificar as relações e suas
repercussões.
Reforça a importância dos limites
com a família de origem para não gerar inchaço e confusão.
Movimento 7
Muitas vezes no decorrer do processo terapêutico
surge a existência de segredos e mitos. Os mitos podem atravessar gerações
e cabe ao terapeuta desvendar os mitos para que um membro da família
não seja sacrificado em nome deste mito.
Coloca novamente a questão do membro "doente"
da família demonstra-se fragilizado, mas por outro lado é bastante
forte e domina a família fazendo com que fiquem unidos em torno dele.
Movimento 8
Ressalta a riqueza de utilizar outros
recursos na terapia, entre eles, técnicas dramáticas, fotos, esculturas,
troca de papéis, etc...
Trás novamente o aspecto da terapia não ser "salvadora"
ou "milagrosa", mas sim um auxílio na modificação
de uma estrutura que não está mais satisfazendo.
Outro aspecto apresentado é o terapeuta
se apresentar como "gente", trazendo coisas da sua vida.
Movimento 9
Na estrutura familiar, o pai não
deve ser só um modelo a ser copiado, mas um participante ativo nas relações
familiares.
Moisés ressalta a importância de
estar inserido no processo terapêutico a avaliação, planejamento,
redefinição, definição de objetivos e contratos.
Apresenta a atitude paradoxal da família
quanto ao esquema protetor. Admitir que um dos seus membros "adoeceu"
significa admitir que falhou na sua função de proteger. Diante
disso, muitas vezes não ver um problema ou dificuldade é mais
suportável do que identificá-lo e tratá-lo.
Paralelamente a isto, algumas pessoas com dificuldade
de desligar-se de sua família de origem, acreditam que ao se afastarem
da família conquistarão independência e liberdade. O afastamento
físico não é garantia de conquista destas coisas, pois
sentimentos, mitos, valores e segredos nos acompanham para onde formos. Uma
independência na sua totalidade é quando nos relacionamos com nossa
família sem se confundir com ela, tendo nossa própria vida pessoal,
familiar e econômica. A fuga, nestas situações, dificulta
a resolução destas relações pois não podemos
fugir de nossas origens. Conseguimos apagar muitas coisas na vida, mas nunca
os laços sangüíneos.
Segundo Moisés a terapia acaba quando as
aprendizagens propostas foram conseguidas. O processo terapêutico continua
durante toda a vida.
Apreciação pessoal sobre o livro
O livro apresenta uma linguagem clara, de fácil
entendimento e que apesar de não trazer muita coisa nova em relação
aos conteúdos apresentados, agrada pela sua forma de apresentação
um pouco mais irreverente e que nos leva à reflexão de nossa própria
atuação, o que de forma ponderada, considero saudável.
Chama a atenção o "ir"
e "vir" nos diversos capítulos dos mesmos temas, o que em alguns
momentos ficou pouco didático. Um mesmo tema é tratado em "pedaços"
em diversos capítulos.
Outro aspecto que se sobressai é o jeito
como trabalha (numa das sessões relatadas pede um jantar durante a terapia).
Vejo, ainda, a maioria dos profissionais mais acadêmicos ou formais em
suas posturas profissionais.
Dos autores até agora estudados, Moisés
foi o que mais enfocou a questão da influência da trigeracionalidade
nas relações familiares e a importância da interdependência
das gerações na organização familiar.
Vale a pena salientar a preocupação
em não ficarmos presos à técnica assim como a abertura
para inserir no trabalho terapêutico o maior número possível
de recursos que venham a auxiliar nos objetivos contratados com o cliente.
Considero importante quando refere do cuidado
em não assumir o papel de "milagreiro". Vejo a necessidade
do cuidado em não nos considerarem assim, mas mais importante é
que levados pela vaidade, nós próprios não nos consideremos
assim.
No que se refere à adolescência,
apresenta de forma interessante a necessidade dos pais passarem de protetores
à consultores, sem esquecermos que independente da fase impor limites
é primordial. Também nesta fase aponta para um fator importante
que é a dificuldade dos pais diante da independência e separação
dos filhos, de se defrontarem novamente com o par original.
No atendimento clínico nos deparamos constantemente
com mães " deprimidas" que até o momento haviam dedicado
suas vidas aos filhos, esquecendo o papel de mulher e esposa, e que no momento
em que não há mais espaço para ela na vida dos filhos,
dá-se conta de que não tem algo dela nem perspectivas futuras.
Esta, inclusive, é uma preocupação
pessoal que tento ponderar e avaliar nas minhas relações familiares
por que o papel social de mãe ainda exigido pela sociedade é de
sacrifício e dedicação total levando a perda da identidade
como pessoa e mulher.
Nome do autor da resenha e data: Leonora Vidal Spiller - abril/2000.