Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

FAMILIAS E CASAIS DO SINTOMA AO SISTEMA

 

Autor do Livro:

Salvador Minuchin, Michael P. Nichols e Wai-yung Lee

 

Editora, ano de publicação:

ARTMED, 2009

 

Relação dos capítulos

  1. Introdução: um modelo de quatro etapas para acessar familias e casais

PARTE I – crianças problematicas e seus pais

  1. A criança parentalizada
  2. Casal em conflito/filhos triangulados

PARTE II – Familias reconstituidas

  1. A adolescente mentirosa
  2. Três diades são menos que uma familia

PARTE III – Casais complementares

  1. Depressão agitada em uma mulher madura
  2. A mulher cujas mãos estavam sempre sujas

PARTE IV – Familias psicossomaticas

  1. Édipo com dor de estomago
  2. Um jovem chinês com anorexia nervosa – mesmo mapa, terapeuta diferente

PARTE V – A familia e os serviços sociais

  1. Três gerações de mulheres

A familia e o tratamento residencial de dependencia de

 

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

INTRODUÇÃO

1. Um modelo de quatro etapas para acessar famílias e casais

Breve revisão do desenvolvimento da terapia familiar

Os pioneiros da terapia familiar deram ênfase nas interações familiares e essa foi sua diferenciação inicial, sair do olhar individualizado para um olhar nas interações. Desta forma, definiram como foco mudar a organização familiar por acreditar-se que assim, quando a família era transformada, a vida de cada membro também era alterada de forma correspondente. Contribuindo significativamente com a redescoberta da família como sistema, cuja totalidade é mais que o funcionamento das partes.

Ao longo do tempo percebe-se uma progressão que se dirige da ênfase inicial ao foco na construção narrativa da experiência. A abordagem narrativa, agora dominante na terapia familiar, que redescobre os indivíduos e suas experiências interiores tem tido dificuldades em não perder a visão das famílias e suas relações. Em alguma medida isso se deve ao fato de termos deixado de estudar as famílias e nos concentrado nas técnicas para mudá-las. Outra razão, que se apresenta esta relacionada a algumas correntes de visão antifamilia.

Terapeutas contemporâneos, buscam uma abordagem colaborativa, na tentativa de tirar a visão inicial da família como adversário a ser vencido, adotando uma postura de colaboração e cuidado para não reforçar uma idéia de que a família tem algo de errado em si mesma. Mas, ao mesmo tempo deixam de lado aspectos fundamentais de uma visão sistêmica da terapia como: reconhecer que sintomas psicológicos com freqüência se relacionam com conflitos familiares, pensar os problemas humanos como de natureza interacional e tratar a família como unidade

Uma igualmente breve revisão da evolução da terapia de família estrutural

A terapia familiar estrutural, desenvolveu uma estrutura que contribui para dar ordem e sentido as transações familiares, mas acabou por negligenciar a importância do significado pessoal que cada membro familiar dava na construção de sua experiência familiar. A terapia baseava-se no entendimento da organização familiar, dando ênfase em compreender os problemas antes de transformá-los.

Com o decorrer do desenvolvimento do trabalho ocorreu um movimento na direção de dar menos ênfase na observação da família e mais dedicação no uso de técnicas, na questão de autoridade do terapeuta, e no poder das historias para conferir sentido ao comportamento.

O estilo do terapeuta 50 anos depois

Minuchin ao longo de sua trajetória reconhece a importância das influencias de seus colegas em suas modificações como terapeuta, o quanto copiar é uma forma de incorporar novas habilidades ao seu estilo terapêutico. Ressalta que também, copiou a si mesmo identificando em suas atuações frases ou ações que eram pertinentes a uma situação e surgiam espontaneamente e ele repetia em outras situações, utilizando-a como técnicas até que se tornasse parte incorporando definitivamente ao seu estilo terapêutico.

Ao longo de décadas de prática movimentou-se na direção de sair de um estilo mais desafiador para um modelo mais leve e colaborativo com as famílias, mas sem deixar utilizar o papel de especialista.

Em seguida ele compartilha algumas ações e frases que lhe foram características:

. Intervenções não verbais e Uso de metáforas

Um modelo de quatro etapas para acessar a família

Para trabalhar com as famílias buscamos identificar o que impede esta de atingir seus objetivos e unir-se a ela para criar uma visão de como ela pode fazer a transição de onde esta para onde quer estar.
Abordamos esta tarefa em quatro etapas:

  1. Ampliar a queixa apresentada – o objetivo principal desta etapa é desafiar a família a ampliar sua queixa e descentralizar sua perspectiva de que toda a sua dificuldade esta localizada nas problemáticas internas do paciente identificado.
  2. Destacar o problemas/interações mantenedora – De uma maneira que não provoque resistências, possibilitar que os membros da família percebam de que maneira podem estar conribuindo para perpetuar o problema apresentado.
  3. Investigar o passado com foco na estrutura – Explorar de forma breve e focada a historia de vida dos membros, mas com um olhar direcionado a como essa leitura de cada um sobre os acontecimentos de sua historia contribuíram para a visão da questão que esta sendo trabalhada neste momento.
  4. Descobrir/criar formas alternativas das relações – Redefinir o problema junto a família e avaliar com os membros o que precisa mudar, quem tem disponibilidade e em que direção colocaram a terapia.

Uma palavra sobre o terapeuta

O terapeuta é um agente de mudanças, que tem sua atuação limitada pela família na medida em que esta é quem determina os limites e possibilidades de formas alternativas de se relacionar. Dessa forma, ele precisa unir-se a família e com esta criar possibilidades de mudança, sem garantias ou certezas, desafiando a si e a família a criar novas alternativas de relação.

O livro apresenta 10 casos clínicos, que tem como terapeuta Salvador Minuchin e Wai-yung Lee, onde estes tentam demonstrar suas formas de expandir o repertorio da família. Esses casos são subdivididos em 5 blocos: Crianças problemáticas e seus pais, Famílias rescontituidas, Casais complementares, Famílias psicossomáticas, A família e os serviços sociais.

PARTE I – CRIANÇAS PROBLEMÁTICAS E SEUS PAIS.

Seguindo a perspectiva de Freud de que as desordens psíquicas eram conseqüências de problemas não resolvidos na infância, Adler (1929) foi dos seus seguidores, o primeiro a considerar que tratar a criança poderia ser a melhor forma de prevenir neuroses adultas.

Levy, em 1943, aponta como principal causa dos problemas psíquicos infantis a superproteção materna. Assim, como algum tempo depois, Frieda cunhou a expressão mãe esquizofrenizante que veio a contribuir ainda mais com uma perspectiva que embora identificassem a importância familiar acabavam por rotular pais como culpados e adotavam praticas psicoterápicas em que se tratavam pais e filhos separadamente.

Um primeiro sinal de mudança na transição de uma aboradagem focada na família e suas interações ocorre em 1949, com Bowlby que ao sentir-se frustrado com a lentidão dos progressos de seu cliente, uma criança, chama para participarem da sessão pais e filhos juntos. Ele percebe que aquele dinâmica traz novas perspectivas, mas mantem-se fiel a psicoterapia tradicional.

O que Bowlby tentou como experimento, Nathan vislumbrou como a terapia familiar como forma primaria no tratamento em clinicas de assistência a criança. Trabalhando desta forma, abrem-se muitas possibilidades e também acaba por enxergar não só como os membros da família podem estar contribuindo para o problema da criança, mas identifica como eles podem trabalhar juntos para resolverem seus problemas.

Em seguida é apresentado dois casos clínicos (A criança parentalizada e Casal em conflito filhos triangulados)  que relaciona essa perspectiva com o modelo de acesso a família de quatro etapas.

PARTE II – FAMILIAS RECONSTITUIDAS

Cada vez mais comum na pratica clinica, a experiência e pesquisas ressaltam que ser uma Família Reconstituída bem sucedida é um processo desenvolvimental que requer tempo.

Os seis maiores desafios no processo de negociação de uma família reconstituída são: Membros e estrangeiros; Disputas de fronteira; Questões de poder; Conflito de lealdades; Triângulos rígidos.  Ainda poderíamos ressaltar que as duas conquistas estruturais criticas para o sucesso da família reconstituída são a construção de forte vinculo entre o casal e o desenvolvimento de uma relação mutuamente satisfatória entre padrasto/madrasta e filhos.

Dentre as estratégias de intervenção destaca-se o direcionamento e o realinhamento do trio para a criação de fronteiras de modo a proteger a autonomia do subsistema casal e adolescente.

Os dois casos clínicos de Família reconstituída (A adolescente mentirosa e Três díades são menos que uma família) apresentados seguem a seqüência do modelo proposto, com foco em estratégias que contribuam para as questões relacionadas a famílias reconstituídas.

PARTE III – CASAIS COMPLEMENTARES

Para trabalhar com casais e famílias é importante compreender que sempre há um certo grau de complementaridade como principio definido de toda a relação.

No trabalho clinico com família a complementaridade é muito significativa em dois aspectos. Primeiro, a maior parte das ações humanas é somente metade de uma interação. Poderíamos exemplificar nas situações em que a queixa do cliente é sobre algo que alguém esta fazendo e o terapeuta precisa ficar atento e aprender a olhar para a outra metade complementar desta queixa. Desse modo, o marido que reclama que sua esposa incomoda mostra-se pouco atento as necessidades dela. O segundo é que apesar de a complementaridade fazer parte das relações quando ela se torna muito rígida priva o individuo de seu potencial e torna as relações inflexíveis.

Ainda sobre o trabalho com casais, Nichols e Minuchin, descrevem diferentes passos distintos que podem ser abordados no trabalho clinico. São eles: Considerar toda a família na avaliação; Construir uma aliança de compreensão com cada membro da família; Promover interação; Fazer avaliação estrutural das fronteiras e subsistemas; Desenvolver um foco estrutural para a terapia; Insistir nas interações para além dos seus limites homeostáticos; Promover empatia para auxiliar díades bloqueadas a superarem discussões defensiva; Desafiar os membros da família a assumirem responsabilidade pelos seus comportamentos.

Casos clínicos: Depressão agitada em uma mulher madura e A mulher cujas mãos estavam sempre sujas.

PARTE IV – FAMILIAS PSICOSSOMATICAS

O primeiro modelo a incluir de forma sistematizada o nível da família ao considerar fatores psicobiologicos nas doenças da infância foi O “modelo da família psicossomática” (Minuchin, Rosman e Baker, 1978) Este modelo propunha uma interação circular, na qual a doença da criança interagia com os padrões familiares. Desta forma ao mesmo tempo que as interações familiares desencadeavam reações fisiológicas na criança paciente, que assim aumentava seus sintomas. O próprio agravamento da doença também reforçava tais padrões familiares, estabelecendo um processo reverberativo e progressivo.

Pesquisas indicam que famílias com alto nível de emoção expressa, produzem estimulação fisiológica que influencia no curso de doenças físicas e mentais. Desta forma, não é apenas o estresse que aumenta a predisposição a certas doenças mas o modo como a família se organiza para apoiar e proteger seus membros. Assim, nesta perspectiva o trabalho com famílias psicossomáticas visa transformar o sintoma psicossomático em um conflito interpessoal manifesto.

Casos clínicos: Édipo com dor de estomago e Um jovem chinês com anorexia nervosa.

PARTE V – A FAMILIA E OS SERVIÇOS SOCIAIS

Neste capitulo, é abordado os aspectos envolvidos no atendimento de famílias e os serviços sociais e o autor enumera alguns obstáculos  para uma abordagem sistêmica neste contexto. São elas: Burocracias dão origem a uma fragmentação dos serviços, trabalhadores profissionais são treinados para identificar problemas individuais, interferência de postura com conceitos ou julgamentos moralistas que também interferem nos atendimentos.

Casos clínicos: Três gerações de mulheres e A família e o tratamento residencial da dependência de drogas.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O livro apresenta de forma clara e de fácil compreensão a terapia estrutural familiar, através da apresentação do modelo de acesso a família, formado por quatro etapas e a aplicação deste em diferentes intervenções terapêuticas.

 

Nome do autor da resenha e data: Aline Parente de Oliveira - 10 de novembro de 2010.