Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
Famílias: funcionamento e tratamento |
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Autor do Livro: |
Salvador Minuchin |
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Editora, ano de publicação: |
Artes Médicas, Porto Alegre - 1982 |
Relação dos capítulos
Cap. 1 - Terapia Estrutural da Família
Cap. 2 - Uma Família em Formação: A Família Wagner e Salvador Minuchin
Cap. 3 - Um Modelo Familiar
Cap. 4 - Uma Família do Kibutz: A Família Rabin e Mordecai Kaffman
Cap. 5 - Implicações Terapêuticas de uma Abordagem Estrutural
Cap. 6 - A Família em Terapia
Cap. 7 -Formação do Sistema Terapêutico
Cap. 8 - Reestruturação da Família
Cap. 9 - A Técnica do Sim, Mas: A Família Smith e Salvador Minuchin
Cap. 10 - A Técnica do Sim, E: A Família Dodds e Carl A. Whitaker
Cap. 11 - A Entrevista Inicial: A Família Gorden e Braulio Montalvo
Cap. 12 - Uma Perspectiva Longitudinal: A Família Brown e Salvador Minuchin
Apanhado resumido sobre cada capítulo
Cap. 1 - Terapia Estrutural da Família.
O capítulo fala que a Terapia Estrutural da Família é o começo de uma nova focagem, uma vez que tira o foco do Paciente Identificado e passa a focar todo o sistema.
Isto acontece porque o sistema é complementar ao comportamento dos indivíduos que o formam e vice versa. Se acontecem mudanças no sistema, essas mudanças também provocam mudanças no comportamento do indivíduo. Sendo assim, as técnicas da Terapia Estrutural da Família se destinam a alterar a relação das pessoas com o contexto que as cercam, para alterar também as experiências subjetivas que estas pessoas extraem das situações em que estão envolvidas.
O autor cita como exemplo indivíduos paranóides. Estes possuem seu comportamento reforçado pelo comportamento também paranóico que despertam nas pessoas ao seu redor. O terapeuta então, utiliza técnicas destinadas a mudar este contexto, de forma que mudanças também são despertadas no indivíduo paranóico. Fica fácil concluir que a partir do momento que um terapeuta insere-se em um sistema, seu próprio comportamento passa a ser agente de reforço ou de mudança neste sistema. É daqui que vem a necessidade de se comportar diferentemente com cada cliente, uma vez que o comportamento do terapeuta deve adequar-se às necessidades de cada um.
Cap. 2 - Uma Família em Formação: A Família Wagner e Salvador Minuchin.
Explica que com o casamento, forma-se um novo núcleo familiar e um novo padrão de interação neste núcleo, que é influenciado pelo padrão que cada cônjuge aprendeu na sua família de origem. O novo sistema familiar constitui-se com a negociação destes padrões, sendo que há situações que um esposo passa a agir conforme o outro, mas há situações onde ele exige mais flexibilidade daquele.
O casamento também exige que fronteiras sejam formadas separando o novo sub-sistema dos sistemas de origem. Uma vez que se trata de uma nova família, que passa por diferentes períodos de desenvolvimento, esta terá que se consolidar para negociar regras próprias, apropriadas para cada situação.
Cita como exemplo o caso da família Wagner, uma família que se formou e inicialmente sofreu dificuldades em desenvolver uma fronteira em torno dela como um novo casal, dentre outras coisas.
Cap. 3 - Um Modelo Familiar.
As funções da família têm diferentes objetivos. Um é interno, a proteção psico-social de seus membros; o outro é externo, a acomodação à uma cultura, bem como a transmissão da mesma.
Uma das funções da proteção psico-social dos membros é desenvolver a matriz de identidade dos filhos através da experiência de pertencer e separar-se do núcleo familiar, onde estes, mesmo em troca com sistemas extra familiares podem sentir-se pertencendo àquela família. A própria organização de sub-sistemas dentro do sistema familiar ajuda na diferenciação dos membros e no respectivo sentimento de pertencimento ao grupo familiar.
Para que a proteção psico-social dos membros de uma família seja funcional, há que se ter uma hierarquia de poder onde os pais tenham níveis superiores de autoridade que seus filhos. As funções do sub-sistema parental são basicamente nutrir, guiar e controlar, sendo que devem variar de acordo com a idade de cada filho. É necessária a existência de nítidas fronteiras entre esses sub-sistemas (parental, fraternal e conjugal), o que delimita a diferenciação das funções de um e de outro (através de regras que dizem quem participa e como), mas com flexibilidade suficiente para trocas. Também deve haver complementariedade nestas funções aceitando a interdependência e operando como uma equipe.
O sub-sistema conjugal, por sua vez pode se tornar um refúgio para estresses externos, favorecendo aprendizagem, criatividade e crescimento através de padrões de complementariedade. Já o sub-sistema fraternal pode ser o primeiro laboratório social onde as crianças experenciam relações com iguais, aprendendo como negociar, cooperar e competir.
Contudo, existem muitas fases na própria evolução natural da família que exigem a negociação de novas regras familiares. Novos sub-sistemas devem aparecer e novas linhas de diferenciação devem ser delineadas. Estas situações são denominadas: "Situações de Transição", e incluem: A emergência de filhos na adolescência, a absorção de novos membros, diminuição de membros na família, etc.. Quando uma família chega à terapia com conflitos gerados por problemas de transição, o papel do terapeuta é de clarificar as fronteiras entre os sub-sistemas, de maneira que estejam nítidas e flexíveis o suficiente para trocas. Além disso, deve oferecer intervenções que facilitem a percepção da mútua responsabilidade nos acontecimentos adquiridos e mantidos pelo padrão de interação familiar.
A função familiar de acomodar-se a uma cultura e transmiti-la pode ser percebida na constante influência que sistemas maiores (como a sociedade, por exemplo) exercem sobre o sistema familiar. A capacidade da família em responder a estressores externos e acomodar-se, elaborando estratégias mais funcionais para seu padrão de funcionamento é o que garante que se mantenha a continuidade familiar de maneira mais saudável.
Se uma família chega à terapia com problemas relacionados a estressores externos, as intervenções do terapeuta devem ser no sentido de ajudá-la a realizar as mudanças adaptativas necessárias. Caso estas mudanças já tenham sido efetuadas, a intervenção do terapeuta será com o membro da família que está sendo diretamente afetado pelo contexto externo.
Cap. 4 - Uma Família do Kibutz: A Família Rabin e Mordecai Kaffman.
O capítulo fala da entrevista de 3 horas da família Rabin com o Dr. Kaffman. Nele, a família judia conta como se formou, fazendo paralelos com as famílias de origem de cada cônjuge. Fala como é a vida no kibutz, como a organização da sociedade influencia na vida do casal e na criação dos filhos, explicitando a permeabilidade das fronteiras e as regras existentes, o que deixa claro o padrão de funcionamento da família.
Cap. 5 - Implicações Terapêuticas de uma Abordagem Estrutural.
O capítulo explica como um terapeuta sistêmico pode investigar uma família para mapear a sua estrutura, e como pode posteriormente associar-se a esta estrutura, com atitudes planejadas que transformem os padrões disfuncionais.
Cita diversas técnicas, como por exemplo: Bloquear as ações de um filho nas negociações inter-conjugais para fortalecer a fronteira em torno do casal; ou: Valorizar a relação do casal em termos tão positivos que incrementem sua associação conjugal; ou: Distanciar um filho da coalizão com um dos pais, de modo que este possa ir em direção ao seu cônjuge; ou ainda: Quando o terapeuta se une a um membro da família no ataque a outro, com o objetivo de bloquear a ação protetora de um terceiro membro.
Contudo, o autor chama a atenção para o fato de que a transformação da família não se dá devido a uma única intervenção terapêutica, necessitando de um envolvimento contínuo na direção dos objetivos terapêuticos.
Todavia, há perigos possíveis na análise estrutural e nas intervenções feitas na família. Existe o perigo da cristalização das atitudes do terapeuta, que corre o risco de passar a apoiar apenas um dos sub-sistemas familiares em detrimento dos outros. O terapeuta não pode deixar de enxergar a família como formada por diversos sub-sistemas que estão em relação uns com os outros, observando seu processo de desenvolvimento como um todo. Além disso deve estar atento à complementariedade dos membros, sem adotar uma abordagem individualista, pois mesmo ao fazer uma intervenção individual, esta terá impacto sobre outros sub-sistemas e isto deve ser observado.
Cap. 6 - A Família em Terapia.
O que geralmente leva uma família à terapia é o sintoma de um de seus membros - o "paciente identificado". Estes sintomas podem tanto ser gerados exclusivamente por um problema particular daquele indivíduo, sendo motivado pela estrutura familiar; quanto podem originalmente ser provocados pela própria disfunção familiar.
Uma família disfuncional tem seus padrões transacionais preservados com extrema rigidez, bloqueando qualquer possibilidade de alternativas. O próprio fato de "selecionar" uma pessoa para "ter problemas" é uma forma de se manter a rigidez do sistema.
A função do terapeuta é a transformação do sistema familiar que está disfuncional. Isto acontece na medida em que os membros aprendem a se posicionar diferentemente uns com os outros, já que passam a perceber como o comportamento de cada um contribui com o todo (situação geral). Desta forma, as exigências complementares também são modificadas, o que leva à mudança e também à novas experiências individuais.
De limitados os objetivos específicos da terapia de cada família, O terapeuta deve orientar suas intervenções sempre tendo em vista os objetivos a serem atingidos. Embora os indivíduos não devam ser ignorados, o alvo das intervenções do terapeuta é sempre a família, de forma que cada um dos membros perceba que está sendo respeitado, já que qualquer situação terapêutica está vinculada no compromisso com a saúde.
Cap. 7 - Formação do Sistema Terapêutico.
O autor fala da importância do terapeuta unir-se e acomodar-se à família. É no processo de união e acomodação que este perceberá os padrões transacionais presentes, ampliando a queixa, fazendo o diagnóstico, estabelecendo os objetivos e contratando com a sua família - cliente.
A família somente se move se o terapeuta for capaz de unir-se e acomodar-se ao sistema, fazendo suas intervenções da forma em que aquela família possa aceitar, colocando em foco a complementariedade de suas transações.
As operações de manutenção freqüentemente apoiam ou reforçam a posição de um membro da família que lidou bem com uma determinada situação. Essas operações tem função reestruturadora na medida em que outras partes da família terão de se readaptar a este apoio. O terapeuta deve ainda usar a mimese para se acomodar ao estilo e ao âmbito de uma família, enfatizando situações que viveram em comum para unir-se e acomodar-se a esta.
"O impacto do terapeuta sobre a família é parte do diagnóstico familiar... Este diagnóstico intencional muda a medida em que a família assimila o terapeuta." A estrutura familiar, seu grau de flexibilidade, a ressonância do sistema e o paciente identificado só podem ser percebidos através da acomodação do terapeuta ao sistema e da investigação do mesmo.
Cap. 8 - Reestruturação da Família.
Na terapia familiar existem 2 tipos de operações: As Operações de União, e as Reestruturadoras. As operações de união dizem respeito a acomodação do terapeuta ao sistema familiar, de modo que seja aceito por este sistema adaptando-se a ele, mas mantendo certa liberdade que o permite fazer as operações de reestruturação. Estas últimas, por sua vez, desafiam o sistema familiar forçando este a também acomodar-se ao terapeuta, em direção às aprendizagens e mudanças previstas.
Existem 7 tipos de operações reestruturadoras, são elas:
Efetivação de Padrões Transacionais da Família:
Para perceber efetivamente os padrões transacionais da família, o terapeuta deve se orientar para além do que aquela família comunica verbalmente, buscando sinais não verbais que confirmem ou contradigam o que a família está contando. Para isto o terapeuta pode pedir para a família representar invés de descrever, pode recriar canais de comunicação, ou ainda, manipular o espaço físico da terapia, dentre outras técnicas.
Delimitação de Fronteiras:
Para o funcionamento saudável de uma família esta deve favorecer tanto o sentimento de pertencimento de seus membros, quanto sua individuação. A delimitação de fronteiras nítidas tanto individuais quanto para os diversos sub-sistemas é o que permite que isto aconteça.
Escalamento de Estresse:
Quando o terapeuta bloqueia certos padrões transacionais, dá ênfase a diferenças que uma família esteve atenuando, explicita um conflito que está apenas implícito, ou faz coalizões com diferentes membros ou sub-sistemas, ele produz estresse no sistema, o que pode permitir que ambos percebam a capacidade que a família possui para se reestruturar quando as situações mudam.
Distribuição de Tarefas:
A distribuição de tarefas para fora da sessão permite aos clientes que a terapia seja estendida para além do consultório. Já as tarefas designadas dentro da sessão delimitam que é o terapeuta quem determina as regras naquele contexto. Seja como for, a utilização de ambos os tipos de tarefas cria uma estrutura dentro da qual os membros da família devem funcionar, focando mais os padrões transacionais do que a individualidade de cada membro.
Utilização de Sintomas:
Os sintomas do paciente identificado estão apoiados por certo número de padrões transacionais significativos. O terapeuta pode se utilizar desses sintomas para trabalhar com este padrão familiar. Pode fazer isto exagerando o sintoma ou até desacentuando o mesmo, ou reclassificando-o, ou ainda modificando o afeto ligado ao mesmo.
Manipulação do Humor:
As famílias têm um padrão de humor apresentado, que é independente do conteúdo que está sendo comunicado. Adotar o afeto de uma família é uma operação de união, mas também pode constituir uma operação reestruturadora, por exemplo, quando o terapeuta utiliza uma imitação exacerbada para desencadear mecanismos opostos ao desvio familiar.
Apoio, Educação e Orientação:
Apoio, educação e orientação são usualmente operações de união. Contudo, como suas presenças são vitais na família para o desenvolvimento sadio de seus membros, freqüentemente o terapeuta pode ter de ensinar a família a como, por exemplo, apoiar uns aos outros, o que torna estas operações também reestruturadoras.
Cap. 9 - A Técnica do Sim, Mas: A Família Smith e Salvador Minuchin.
O capítulo conta da entrevista de Minuchin com a família Smith, a qual trouxe o pai (Sr. Smith) como paciente identificado por ser portador de uma depressão agitada e por estar prestes a sua terceira hospitalização em conseqüência disto. O terapeuta descreve as sucessivas operações de acomodação e de reestruturação que fez. Acredito que o capítulo foi intitulado como "A Técnica do Sim, Mas" devido a redefinição da queixa que S. Minuchin fez, acreditando "Sim" nos dados trazidos pela família, "Mas" desafiando a crença de que o Sr. Smith era o causador do problema. Ficou então redefinido como "problemático" o relacionamento do casal, sendo os objetivos terapêuticos definidos em cima disto, ao invés da depressão do Sr. Smith.
Cap. 10 - A Técnica do Sim, E: A Família Dodds e Carl A. Whitaker.
O capítulo descreve uma única entrevista de Whitaker com uma família (que estava em atendimento com outro terapeuta) em que o filho mais velho de 3 crianças era o paciente identificado por sua enurese. Acredito que o capítulo foi intitulado como "A Técnica do Sim, E..." por ter descrito como Whitaker explorou o lado saudável do paciente identificado, ouvindo as queixas da mãe sobre sua suposta falta de higiene, "E" ao mesmo tempo buscando o lado saudável deste menino, bem como o lado frágil de sua mãe.
Cap. 11 - A Entrevista Inicial: A Família Gorden e Braulio Montalvo.
O capítulo fala sobre os três estágios de uma entrevista inicial.
Primeiramente o terapeuta deve socializar com a família, para que esta possa se sentir à vontade. Logo que esta esteja se sentindo mais à vontade, o terapeuta passa a explorar a queixa (que é a 2º fase). Perguntando a razão pela qual a família está a sua procura, observa como a família responde (quem fala, quem interrompe para qualificar e / ou desqualificar o que está sendo falado, como se contradizem, enfim, como eles "jogam" entre si para responder o que foi perguntado). É importante nesta fase de exploração que cada membro da família sinta que participou com sua idéia da situação. Na terceira fase, que diz respeito a Exploração da Estrutura Familiar, o terapeuta instrui a família a falar uns com os outros (entre díades que percebeu, ou em sub-sistemas que necessitam se comunicar ou ser averiguados). Se até aqui todas as comunicações da família eram dirigidas ao terapeuta, ele agora "sai de cena" e passa a ser o "diretor", colocando a família para atuar e observando suas transações. Aqui podem surgir operações de Reestruturação, em meio as de Acomodação. Após observar o padrão relacional da família, o terapeuta deve ampliar o foco da queixa, redefinindo-a de acordo com os padrões da família que estão disfuncionais.
Cap. 12 - Uma Perspectiva Longitudinal: A Família Brown e Salvador Minuchin.
O capítulo exemplifica o trabalho de S. Minuchin com a família Brown, uma família psico-somatogênica, cujo paciente identificado era uma menina de 10 anos que desenvolveu uma anorexia nervosa. O autor descreveu esta família como emaranhada, com falta de resolução de conflitos, superproteção e rigidez de comportamento, sendo que os sintomas da paciente identificada estavam ajudando a manter esta estrutura. No caso da família Brown, os sintomas de Sally (paciente identificada) tiravam a atenção dos pais para seus problemas conjugais, sendo que esta atenção voltava-se para proteger a menina. O trabalho foi realizado no sentido de fortalecer a relação do casal (aumentando a fronteira conjugal), aumentar as fronteiras individuais (autonomia diferenciada para cada filho de acordo com a idade) e promoção de comunicação mais clara entre os familiares. Após a família passar a ser mais funcional os sintomas de Sally desapareceram.
Apreciação pessoal sobre o livro
Acredito que a palavra chave na descrição do que eu achei sobre este livro é "didático". Além de apresentar um palavreado acessível e de fácil entendimento, ele procura mostrar passo a passo como se procede uma Terapia Estrutural da Família, descrevendo inúmeras técnicas e enfatizando os movimentos de união do terapeuta com a família, bem como os movimentos reestruturadores. Há vários exemplos de entrevistas com famílias, os quais facilitam ainda mais a percepção do que o autor está querendo dizer.
Adorei o livro e tenho certeza que é literatura básica para qualquer terapeuta sistêmico.
Nome do autor da resenha e data: Martha Caroline Henning / set - 2001.