Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Izabel Augusta - a família como caminho

 

Autor do Livro:

Solange Maria Rosset

 

Editora, ano de publicação:

Livraria do Chain Editora - 2001

 

Relação dos capítulos

1.  Os Primeiros Contatos.

2.  A Primeira Sessão.

3.  Redefinições.

4.  Contrato Individual.

5.  Circulação do Sintoma.

6.  Circulação dos Acontecimentos.

7.  Árvore Genealógica.

8.  A Família Biológica.

9.  Entradas e Saídas.

10.  Dados de Realidade.

11.  Rituais na Terapia de Família.

12.  Só para Relatar.

13.  Mudança nos Padrões Familiares.

14.  Final do Processo com o Terapeuta.

15.  Seguimentos.

Como Tudo Surgiu

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

O livro relata a história de Isabel Augusta, uma mulher que busca terapia por causa de seu problema com adição de drogas, e acaba realizando o processo terapêutico com a participação de toda sua família. Paralelamente a isso, a autora descreve seus procedimentos técnicos dando explicações sobre o funcionamento da Terapia Relacional Sistêmica.

Os Primeiros Contatos :

A irmã de IA (Débora) liga marcando a consulta, a secretária anota o nome esquecendo de perguntar se a sessão seria para ela mesma ou não (o que é muito incomum). A terapeuta liga de volta e define que se IA é adulta ela deve ligar pedindo sua sessão. Dois dias depois ela liga e a própria terapeuta atende o telefona (o que também é incomum). No telefonema IA conta que deseja terapia devido ao uso de drogas, reclama das críticas dos irmãos e adota uma postura petulante, sempre na defensiva em suas colocações.

* A autora descreve a importância do 1° contato com o cliente ser pelo telefone, a começar pelo desenvolvimento de um nível mínimo de pertinência (ou seja, o fato de responsabilizar-se pelo telefonema e assim, pelo seu próprio pedido). Neste 1° contato deve ser esclarecida a forma de trabalho do profissional, de forma que o cliente possa entender que existem princípios diferentes neste tipo de terapia, como por exemplo, o fato de ser focada na mudança dos padrões de comportamento do sistema que está procurando atendimento, bem como na importância dele responsabilizar-se pelo próprio processo. Além disso, neste capítulo há informações sobre a conduta da secretária ao receber pedidos de marcação de consultas, de forma que ela aceite a postura sistêmica para poder dar explicações quando solicitada, por exemplo, com respeito à não passar valores de sessão pelo telefone devido ao fato de que o preço e as formas de pagamento já fazem parte dos encaminhamentos terapêuticos e por isso são tratados apenas na 1° sessão. Sendo assim, o 1° telefonema terá sobretudo a função de colher dados para definir o que será realizado (se terá 1° sessão, quem deverá comparecer, qual será o objetivo, etc.).

A Primeira Sessão:

IA chega para a 1° sessão 50 min. antes, com olheiras, despenteada e mal vestida. Disse que realmente queria se tratar e comentou inúmeros terapeutas que havia freqüentado sem perceber resultados, o que a fez desistir de várias possibilidades de tratamento anteriores a esta. Relatou à terapeuta a história resumida de sua vida, a mágoa por sempre ter se sentido rejeitada na convivência familiar , o fato de ter sido adotada pela mãe sem o consentimento do pai (como uma espécie de vingança). No momento vivia com a mãe, evitava ver os irmãos, tinha uma renda própria que vinha do pró-labore da empresa que herdara do pai, juntamente com seus irmãos. A terapeuta conversou com IA sobre a possibilidade da participação da família dela na terapia, de ela própria custear seu tratamento e sobre a necessidade de adotar uma postura diferente na vida após o início do tratamento ("deixar que seu lado saudável emergisse"), o que, acredito eu, que foi uma das formas de redefinição da terapia que possibilitou o treino da pertinência na referida cliente (você paga = você é a responsável; deixe emergir seu lado saudável = este tratamento depende muito mais de você do que do terapeuta). Além disso, por ter percebido uma disponibilidade de Débora (irmã de IA) pelo fato de ela ter realizado o 1° contato, ficou acertado que as duas iriam juntas a 2° sessão.

* A autora neste capítulo descreve os procedimentos de 1° sessão: Vincular, levantar a queixa, circular, redefinir, definir objetivos e contratar. Fala que um dos objetivos gerais da Terapia Relacional Sistêmica é restituir ao cliente o controle de seus problemas. Diz que isso se dá mais facilmente se o profissional não se deixa seduzir pelo conteúdo da fala do cliente, mas sim mantém uma atenção maior direcionada a "forma" repetitiva de funcionamento (padrão de comportamento) que desencadeia e mantém os sintomas. Sobre a escolha do que o terapeuta falará, esta depende sempre do objetivo terapêutico daquele momento.

Redefinições:

IA vem para a sessão bem arrumada, com uma aparência melhor e acompanhada pela irmã. Débora relatou que toda a família estava cansada das idas e vindas de IA nas terapias e de seu comportamento. Ficou acertado que Débora teria a função de tentar envolver os demais membros da família no atendimento e que só viriam para terapia familiar se todos consentissem, caso contrário o processo seria individual. Além disso, Débora confirmou as percepções que IA tinha sobre suas relações familiares e contribuiu com mais algumas novas informações.

* A autora explica neste capítulo que a família deve ser vista como um sistema e que se alguém está fazendo sintoma é porque todo o sistema está com dificuldades e precisa aprender algo novo, mas que nem sempre vem para a terapia toda a família quando a parte que está manifestando o sintoma é um indivíduo cronologicamente adulto. Contudo, o envolvimento do sistema maior facilita a leitura dos padrões disfuncionais que estão desencadeando e mantendo os sintomas.

Contrato Individual:

IA inicia a sessão contando que passou o mês todo doente, sendo que não passou sequer um dia desde a última sessão em que tivesse se sentido normal. Relatou que o fato de passar mal a impedira de pensar na sessão, na família e até mesmo de ir em busca de drogas. Os irmãos mandam bilhetes e todos aceitam ir ao consultório para a realização de uma sessão familiar. Mapeiam tarefas para IA caso ela tenha desejo de usar drogas e caso ela recaia no uso das drogas. Falaram ainda sobre a possibilidade de um dia IA buscar dados sobre sua família biológica

* A autora explica a relação dos sintomas físicos com a situação relacional e emocional, mostrando como as funções fisiológicas, psicológicas e relacionais são correlacionadas. Sobre a Terapia Relacional Sistêmica cita a importância de encaminhar os atendimentos de forma que o cliente possa perceber seu padrão de funcionamento e mapear o que ele precisa aprender, sendo que os objetivos terapêuticos dependerão do nível de consciência do cliente sobre seu próprio funcionamento, das aprendizagens necessárias e da autonomia do mesmo. Fala ainda da idéia de que todo o pedido terapêutico é paradoxal.

Circulação do Sintoma:

IA manda um e-mail para a terapeuta falando da raiva que sentiu dela por ter lhe contado sobre a possibilidade de ter recaídas e sobre a vontade de usar drogas e bater na mãe que estava sentindo naquele dia. Como tinha sido combinado anteriormente, a terapeuta não respondeu ao e-mail. A sessão com toda a família aconteceu, inclusive com a presença da mãe de IA (que sofria de arteriosclerose há cinco anos), e a terapeuta pediu que cada um dissesse como via os acontecimentos passados e atuais sob seu ponto de vista, redefinindo o que é terapia de família e por que estavam ali. Aos poucos todos foram falando e a incompreensão da forma pela qual a mãe adotou IA foi unânime a todos os comentários. O irmão de IA levantou o medo de que aquilo tudo servisse como álibi para IA continuar com seus sintomas e a terapeuta acolheu sua preocupação, escolhendo a técnica da caixa de figuras para expressarem seus sentimentos, sendo que depois IA enterraria todas as figuras. A sessão foi tão forte e tão marcante (no meu ponto de vista pessoal) que a mãe recobrou a lucidez e dias depois escreveu uma carta para a terapeuta contando melhor seus sofrimentos e acontecimentos passados que estavam ligados a adoção de IA.

* A autora fala que a terapia de família cria nos membros a possibilidade de eles se relacionarem consigo mesmos e com os outros com novos dados a partir da vivência de emoções compartilhadas na sessão. A 1° sessão de família tem o objetivo de definir com clareza o que está acontecendo, com quem está acontecendo, como, onde, etc., sendo que a partir desses dados é que se verifica o objetivo do trabalho e pode-se então partir para o contrato. Explica ainda que a técnica da caixa de figuras, citada por ela no capítulo, foi criada assemelhando-se à teoria básica dos rituais terapêuticos e tem o objetivo de expressar emoções sem precisar explicitá-las (no caso, minimizando o risco de tudo servir como álibi para a continuidade do comportamento disfuncional de IA). Finaliza as colocações do capitulo falando da importância do terapeuta saber o "para que" de cada um de seus atos na sessão, desde um simples toque físico no cliente.

Circulação dos Acontecimentos :

IA vem para uma sessão individual onde juntamente com a terapeuta conversa sobre os acontecimentos dos últimos três meses em que estava em atendimento. A família havia se reunido e definido que a cada noite uma pessoa diferente dormiria com a mãe de IA (que novamente estava adoentada). Isso fez com que IA se aproximasse mais de diferentes membros da família (eles tinham enfermeiras que trabalhavam em diferentes turnos e eu vejo o fato de mesmo assim decidirem alternar os cuidados com a matriarca já como uma forma de unirem-se mais - algo que não lhes era habitual - mostrando a flexibilização de algumas estratégias utilizadas pelos mesmos).

A terapeuta mencionou a carta escrita pela mãe de IA e elas combinaram de retomar o assunto em sessão de família. Além disso, IA comentou sobre lembranças dos seus banhos quando criança, como se sentia só nas horas de banho, que sempre que fazia algo errado na infância lhe mandavam tomar um bom banho, e como atualmente esse tem sido o momento que mais sente falta da droga. Desta forma, a terapeuta comentou sobre o e-mail que ela havia mandado e combinaram que toda vez que ela tivesse uma recaída e sentisse isso, sairia imediatamente do chuveiro e iria escrever tudo que sentisse, voltando ao banho em seguida, para só depois queimar o papel com suas anotações.

*Neste capítulo a autora comentou sobre as estratégias sistêmicas de prever ou mesmo prescrever recaídas, onde o terapeuta deve estar previamente atento ao uso que o cliente pode vir a fazer disso, sendo que essas estratégias, quando usadas devem ser constantemente monitoradas de forma a levar o cliente a se tornar cada vez mais responsável pelo seu processo.

Outro ponto interessante são as colocações feitas sobre o papel dos sintomas, como eles são rastreadores do processo e como mostram em que ponto o cliente se encontra e o que esta precisando ser reorganizado (a partir do momento em que não se busca a compreensão do conteúdo do sintoma, mas sim do significado sistêmico que ele tem). A autora ainda explica que a tarefa ritual passada a IA teve o intuito de desenvolver sua capacidade de ficar atenta às situações e emoções para poder então controlar seus sentimentos e impulsos.

Árvore Genealógica :

Foi uma sessão de família onde a terapeuta havia deixado separadas três possibilidades de trabalho para que o grupo escolhesse qual a técnica queria utilizar, sendo que eles escolheram a técnica da árvore genealógica da família deles. Falaram sobre o impacto da outra sessão de família que haviam participado. Na realização da técnica todos participaram escrevendo dados objetivos (nascimento, morte, profissão, tipo de relação e o que estava acontecendo no momento). Ao final da sessão todos explicitaram estar sentindo falta de algo intenso como haviam sentido na primeira sessão; sendo assim, combinaram mais uma sessão familiar onde trabalhariam a nível emocional as entradas e saídas da família.

Neste capítulo a autora conta que quando propôs o trabalho com toda a família não tinha clareza do que eles precisavam aprender, mas tinha a certeza de que esse espaço de vivências compartilhado abriria lugar para trocas e intimidades, o que aumentaria a possibilidade de sentimentos e experiências a serem compartilhadas. Relata ainda que a partir da observação do padrão de comportamento deles como família, poderia realinhar os objetivos terapêuticos (tal observação e possível de ser efetuada independente da técnica utilizada na sessão).

A Família Biológica :

IA apareceu na sessão com uma aparência semelhante à forma mal arrumada que se apresentou no primeiro contato pessoal com a terapeuta. Contou que após a ultima sessão de família sentiu-se muito mal, como se não fizesse parte daquela "confusão de pessoas falando ao mesmo tempo" e que passou o mês neste emaranhado de sentimentos. Dois dias antes da sessão, após organizar os acontecimentos do período para contar a terapeuta, foi tomar um banho e subitamente percebeu que havia passado o mês sem ter vontade de se drogar durante a hora do banho; foi quando teve um acesso de tosse e começou com um vomito preto forte e viscoso, que durou horas. Nesta ocasião escutou sua irmã Débora conversando com o medico e contando que algo semelhante já havia acontecido na infância de IA; quando, ao ouvir isso, a terapeuta perguntou se IA já sabia deste fato, ela disse que não, assim como não sabia de muitas coisas de seu passado. A terapeuta então, mapeou quais eram as fantasias da cliente sobre sua origem antes da adoção e, após ouvir, utilizou com a cliente duas técnicas. Uma foi a "Técnica das Bolas de Folha de Revista", aonde a cliente vai recebendo da terapeuta um número aleatório de folhas de revista para ir amassando conforme pensa nos sentimentos confusos e desagradáveis que possui, vindo a fazer uma bola com esses papeis. No caso de IA, a continuidade desta técnica foi a tarefa de ir queimando as folhas uma a uma (aos poucos) para ritualizar a limpeza deste emaranhado de emoções. A outra técnica foi a da "Construção da Família Real Fantasiada", aonde IA tirava sem olhar figuras de uma caixa que representariam os membros de sua família de origem para montar sua árvore genealógica, sendo que depois a terapeuta propôs que montasse um álbum com tais fotos e que escrevesse uma historia sobre sua família consangüínea.

*A autora explicou que a técnica das bolas de folhas de revista serve para qualificar as emoções desagradáveis e trabalhar com elas pela técnica, já que racionalmente não e possível. Já a técnica da criação da família real fantasiada possibilita a abertura de um espaço para falar sobre o assunto, bem como a liberação de emoções ligadas a isso.

9) Entradas e Saídas :

Vieram para a sessão de família todos os membros, com exceção da mãe. Foram colocando os nomes deles em uma cartolina juntamente com suas datas de nascimento - ou casamentos (entradas e saídas da família) e falando sobre os sentimentos pessoais de cada membro com relação a pertencer àquele sistema. Após, cada um passava para o "espaço familiar", sendo que ao final, formou-se como uma "escultura", onde a terapeuta aproveitou para pedir que cada um fosse saindo do seu lugar, sem desmanchar a escultura, enquanto ela ia ocupando temporariamente o lugar de quem saia, para que esta pessoa pudesse se observar de fora. Com respeito a isso, as falas foram parecidas, geralmente referindo-se a pessoas felizes e em contato. Escolheram não trabalhar com as saídas para não mexer desnecessariamente em dores e mágoas adormecidas (a única pessoa que tinha saído fora o avô, por causa do seu falecimento). Sobre isso a autora explica que aceitou sem maiores comentários a decisão da família por ter avaliado que não "mexer" com a saída do avô não era algo que inviabilizaria o trabalho terapêutico necessário naquele momento.

*A autora esclarece que a técnica usada como pano de fundo para trabalhar com as entradas e saídas da família foi a linha da vida. Explica que esta técnica serve para representar temporalmente a seqüência dos eventos da vida de um individuo, casal, família ou grupo. No caso desta família, este trabalho serviu para "observar o espaço interativo e o patrimônio interacional adquirido com os anos de convivência naquele sistema. Ao fazer isso, deu-se relevância aos elementos subjetivos do tempo vivido individual e socialmente, proporcionando espaço para descrições do mundo experencial das pessoas envolvidas".

Dados de Realidade :

IA veio bonita e bem arrumada para uma sessão individual. Disse que se sentiu muito bem com a participação de todos na sessão anterior e que chegou inclusive a pensar que era "uma burra" por ficar fazendo sintomas só para ver se eles realmente se importavam com ela. Disse que naquele mês até um namorado havia arrumado - pela primeira vez "de cara limpa". Contou que teve curiosidade e foi procurar pessoas do passado ligadas à época da sua adoção, e que chegou a um bilhete que sua mãe biológica havia deixado contando que seu nome era Elizabete, a data e hora de seu nascimento. Contudo, por medo do que pudesse estar escrito, deixou para ler o bilhete na sessão com a terapeuta. Disse que tinha o desejo de mostrá-lo para alguns de seus parentes e também de fazer algum ritual com ele. Ao ser questionada sobre que tipo de ritual, lembrou de historias sobre luais que a família costumava fazer na praia antes de sua adoção, de como sempre quis ter participado deles, e da impressão que sempre teve de que com a sua chegada, foi embora a paz da família e por isso tal evento não mais ocorreu. Sobre o que achou do nome que lhe seria dado, IA não deu importância e a terapeuta marcou que um dia poderia ser necessário mexer nisso. Ao final da sessão a terapeuta sugeriu que ela conversasse sobre a idéia do ritual com seus irmãos.

*A autora relata que nesta sessão o mais importante foi deixar a cliente contar o que havia acontecido a fim de qualificar seus movimentos e aprendizagens.

Rituais na Terapia de Família :

Duas semanas após a ultima sessão IA telefonou para a terapeuta contando que havia conversado com seus parentes e que haviam resolvido fazer o lual nas próximas férias e que haviam decidido que na próxima sessão viriam representantes de todos os ramos familiares para conversarem sobre o lual. Na sessão familiar falaram sobre como as mudanças advindas da terapia tinham afetado todos os relacionamentos, sobre como estavam conversando mais sobre suas relações, e sobre como tinham perdido o receio de abrirem seus sentimentos e dificuldades. Em seguida falaram sobre o desejo dos familiares de que tal lual pudesse vir a representar um novo tempo para a família como um todo, sendo um momento de intimidade e descontração. A partir disso, foi definido que havia também o objetivo de ritualizar a real integração de IA a esta família, onde cada um dos irmãos teria o compromisso de preparar uma surpresa e de se responsabilizar por parte dos preparativos.

*Sobre este assunto, a autora esclarece que o trabalho com esta família foi repleto de rituais (mais do que o usual), e que a proposta do ritual do "lual" era coerente com o encaminhamento terapêutico do momento, que envolvia a necessidade de redefinição de identidade e também de pertencimento familiar.

Só para Relatar :

IA antecipou a sessão duas semanas em função da proximidade do lual. Contou que os cinco irmãos passaram a se encontrar duas vezes por semanas para os preparativos, e que nesses encontros conversavam muito sobre muitas coisas atuais e do passado; o que desencadeou acusações e desculpas, choros e perdões. Isso fez com que IA vivesse fortes sentimentos de medo e trouxesse à tona lembranças amedrontadoras da infância. Relatou ainda que a pesar de tudo estavam mais calmos e afetivos, se abraçavam mais e perguntavam mais uns sobre a vida dos outros. Contou que em nenhum momento teve o desejo de se drogar. Contou vários acontecimentos familiares e que a partir de alguns deles tiveram a idéia de fazer reuniões onde agendariam dificuldades de cada um e possibilidades dos outros ajudarem. Sobre o lual, contou que estava preparando um presente para cada um (representando o que deseja de bom para cada pessoa), e que também queimaria objetos que simbolizasse dificuldades relativas à relação com cada individuo.

*A autora explica que esta foi uma "sessão só para relatar", aonde o cliente vem contando os últimos acontecimentos. Diz que sessões assim são comuns no andamento do processo, quando mudanças estão sendo instaladas e o cliente está envolvido em situações diretamente ligadas ao processo relacional e emocional (porém, situações concretas).

Mudanças de Padrões Familiares :

Dois dias antes da sessão a terapeuta recebeu um telefonema de Débora. Ao retornar a ligação ficou sabendo que IA havia quebrado a perna e que não poderia vir à sessão, e que tinha tido uma recaída. Marcaram para Débora aproveitar seu horário. Na sessão contou sobre o lual e detalhes da recaída de IA, de como Henrique presenciou tudo e do bom uso que acabaram fazendo da situação. Além disso, é explicitada no livro a impressão da terapeuta de que neste momento o processo dos clientes estava chegando ao final.

*Neste capitulo a autora explica uma teoria organizada por ela sobre recaídas no processo de crescimento / aprendizagens terapêuticas, a "Teoria das Recaídas". Explica que as recaídas são inevitáveis porque a vida e pulsátil e sempre haverá movimentos ao estagio anterior. Que as recaídas são desejáveis porque constituem uma oportunidade para avaliar o processo e os progressos. Que a forma de administrá-las é saber que elas existem e poder prevê-las, nunca perdendo de vista o que fazer com elas (olhar para frente).

Uma das questões interessantes abordadas neste capítulo é sobre a finalização do processo terapêutico. A autora explica que ao avaliar seus clientes, redefine com eles algumas aprendizagens necessárias para aquele período, pois tem a idéia de que o processo é contínuo e eterno. Ao atingir os objetivos daquela fase, os clientes finalizam o processo sem o conceito de "alta", apenas encerram as sessões e passam a lidar no dia a dia com aquilo que aprenderam.

Final do Processo com a Terapeuta :

IA ficou o período de dezembro de 1997 a março de 1998 mandando noticias à terapeuta via e-mail. Passou três meses estudando na Espanha e se apaixonou por um medico lá. Continuou sem usar drogas. Ao voltar para o Brasil marcou uma sessão e, dentre outras coisas vistas com a terapeuta, concluiu que tinha aprendido a assumir sua própria vida e seus riscos e que agora era o momento de fazer projetos futuros. Além disso, foi visto que todas as suas vivências de rejeição e abandono do passado, hoje estavam lhe possibilitando lidar melhor com a separação. Foi combinado com a terapeuta que dentro de seis meses IA telefonaria marcando uma sessão para que pudessem avaliar o andamento das coisas.

*Ainda sobre o final do processo terapêutico, neste capítulo a autora faz uma comparação da terapia com a vida, dizendo que ambas possuem os mesmos elementos de aprendizagem: pertencer e separar-se, união e acomodação. Conclui que a fase de processo terapêutico é realmente só uma fase, e que sempre que ela é encerrada (independente se as aprendizagens propostas foram alcançadas ou não), deve ser avaliado com o cliente quais foram os ganhos daquele período e quais seriam as próximas etapas do processo.

Seguimentos :

A terapeuta continua recebendo noticias de toda a família por e-mails e bilhetes anexados à um presente de natal. IA não marca a sessão combinada após os seis meses porque foi para a Espanha morar com o namorado e trabalhar em uma multinacional brasileira.

*Sobre os "seguimentos" a autora esclarece que saber dos novos fatos da vida dos clientes constitui uma forma de verificar a tentativa dos mesmos de estabelecer novos significados para as situações problemáticas e de observar de fora as mudanças ocorridas. Clareia ainda que: "durante um tempo o terapeuta desempenhou uma função de regente da cena terapêutica, e que com o final dos encontros agendados a família se transforma realmente em protagonista da terapia, sendo que o dia a dia passa a ser o tempo e o lugar de elaboração e verificação do aprendido no consultório do terapeuta".

Como Tudo Surgiu :

Neste capítulo a autora conta como surgiu a idéia de escrever o livro e como sua historia de vida pessoal e sua formação em Psicodrama, em Terapia Corporal e em Sistêmica a levou a postular uma nova forma de trabalho para psicoterapeutas sistêmicos, que juntamente com sua colega de trabalho e "co-fundadora" Tereza Chistina S. F. Brandão, batizou de "Terapia Relacional Sistêmica".

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Começo a minha apreciação pessoal relatando o quão emocionante achei esse livro, referindo-me ao conteúdo dos fatos e acontecimentos, tanto da vida da família de Isabel Augusta, quando do seu processo terapêutico.

A forma como a autora separou o relato da historia da terapia da cliente das explicações teóricas e técnicas sobre os procedimentos terapêuticos fizeram com que a obra ficasse incrivelmente didática, de forma que o leitor pode se deixar seduzir pela historia e ao mesmo tempo sugar todas as informações ali explícitas sobre os procedimentos da Terapia Relacional Sistêmica.

Eu, como adepta desta linha de trabalho psicoterapeutico e aluna da autora há anos, posso afirmar que os principais conceitos desta abordagem estão contidos na obra, desde a descrição de como deve ser feito o primeiro contato com o cliente - via telefone, passando por detalhes técnicos referentes a primeira sessão, redefinições, teoria das recaídas, técnicas diversas e importantes como a linha da vida e a construção de rituais terapêuticos, até o final do processo e seus seguimentos, dentre tantas outras colocações de igual importância.

Finalizando sem uma gota de exageros, não posso perder a oportunidade de parabenisar a Solange mais uma vez por esta incrível contribuição profissional que trouxe aos leitores com tal publicação

 

Nome do autor da resenha e data: Martha Caroline Henning - 08/02/2004.