Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Mentes inquietas

 

Autor do Livro:

Ana Beatriz B. Silva

 

Editora, ano de publicação:

Editora Gente, 2003

 

Relação dos capítulos

Prefácio

1. Como denominar o Déficit de Atenção

2. O que é o DDA?

3. Mulheres e DDA

4. DDA e Crianças

5. DDA e Vida Afetiva

6. O que os DDAs Têm que os Outros não Têm?

7. Por Onde o Impulso me Levar...

8. Personalidades com Suposto Funcionamento DDA

9. DDA e Outros Transtornos

10. Uma Relação Explosiva: DDA e Drogas

11. A Difícil Tarefa de Dormir Bem

12. Uma Breve História no Tempo

13. A Origem da Questão

14. Diagnóstico do DDA

15. Em Busca do Conforto Vital – Tratamento do Déficit de Atenção

16. Mercado de Trabalho do Futuro e dos DDAs

Sobre a Autora

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Mentes inquietas é um desses livros que chegam como um alento ao coração de todos aqueles que durante muito tempo se sentiram como “um peixe fora d'água”, atuando dentro dos limites de suas angústias derivadas da sensação de incapacidade, inadequação e culpa, internalizadas através de uma crença implacável: eu não tenho jeito. (11)

Dra. Ana Beatriz explica a causa desse tipo de funcionamento mental, pontuando não só as dificuldades trazidas por ele, mas também, e principalmente, revelando todo o poder criativo, a agudeza mental e o dínamo empreendedor, que, para muitas pessoas, encontravam-se soterrados sob uma vida marcada por críticas e culpa. (11)

1. Como Denominar o Déficit de Atenção

A difícil arte do autoconhecimento...

Utiliza-se a sigla DDA para designar o Déficit de Atenção em toda sua gama de manifestações, bem como as pessoas que têm no termo DDA a representação de uma maneira de ser. Afinal, não se tem DDA, se é DDA. (16)

Ao longo deste livro, essa designação aparecerá com estes dois sentidos: um adjetivando, outro subjetivando, pois, em se tratando de DDA, sujeito e atributo adquirem uma só função no exercício diário de ser quem se é e aprender que a difícil arte do autoconhecimento inicia-se exatamente aí. (17)

Será dado destaque à essência DDA e, serão apresentadas facetas íntimas desse universo ainda tão pouco conhecido pelos profissionais de saúde e educação, e do grande público em geral. (17)

2. O que é DDA?

Um trio de respeito: distração, impulsividade e hiperatividade...

Quando pensamos em DDA, não devemos raciocinar como se estivéssemos diante de um cérebro “defeituoso”. Devemos, sim, olhar sob um foco diferenciado, pois, na verdade, o cérebro do DDA apresenta um funcionamento bastante peculiar, que acaba por trazer-lhe um comportamento típico, que pode ser responsável tanto por suas melhores características, como por suas maiores angústias e desacertos vitais. (20)

O comportamento do DDA nasce do que se chama trio de base alterada. É a partir desse trio de sintomas - formado por alterações da atenção; impulsividade e da velocidade da atividade física e mental-que se irá desvendar todo o universo DDA, que, muitas vezes, oscila entre o universo da plenitude criativa e o da exaustão de um cérebro que não pára nunca. (20)

É um trio de sintomas que constitui a espinha dorsal do comportamento DDA: alteração da atenção; impulsividade; hiperatividade física e mental.

Alteração da Atenção: Este é, com certeza, o sintoma mais importante no entendimento do comportamento DDA, uma vez que esta alteração é condição sine qua non para se efetuar o diagnóstico. Uma pessoa com comportamento DDA, pode ou não apresentar hiperatividade física, mas jamais deixará de apresentar forte tendência à dispersão. Para um adulto DDA, manter-se concentrado em algo, por menor tempo que seja, pode tornar-se um desafio muito grande. Essa dificuldade em manter-se concentrado em determinado assunto, pensamento, ação ou fala, muitas vezes, causa situações bastante desconfortáveis aos adultos DDAs, como o fato de estarem em reuniões importantes de trabalho ou de família e terem seus pensamentos desviados para pequenas coisas. (20)

Se por um lado, o adulto e a criança DDAs têm profunda dificuldade em se concentrar em determinado assunto ou enfrentar situações em condições de obrigatoriedade, por outro lado,podem apresentar-se hiperconcentrados em determinados assuntos ou atividades que lhes despertem interesse espontâneo ou paixão impulsiva, como é o caso de crianças com jogos eletrônicos ou adultos com esportes,computadores ou leitura de assuntos específicos. (23)

Preferimos usar o termo “instabilidade de atenção”,que nos parece ser mais correto que o termo déficit, já que este traz consigo somente a idéia pejorativa de uma deficiência absoluta e imutável. (23)

Impulsividade : No DDA, pequenas coisas, podem despertar-lhe grande emoção, e a força dessas emoções gera o combustível aditivado de suas ações. Sua mente, funciona como um receptor de alta sensibilidade, que, ao captar um pequeno sinal, reage automaticamente sem avaliar as características do objeto gerador do sinal captado. Podemos imaginar, quanto sofrimento; culpa; angústia e cansaço, um impulso sem filtro pode ocasionar nos relacionamentos cotidianos de uma dessas pessoas. E é exatamente isso que acontece com crianças e adultos DDAs. (24)

Nas crianças DDAs esses comportamentos são, além de mais intensos, mais freqüentes. E é claro que isso será um dos fatores de grande influência na formação de uma auto-estima cheia de “buracos”. Todo DDA, na vida adulta, apresentará problemas com sua auto-estima e este é o maior desafio para o profissional que trabalha com um DDA: a reconstrução dessa função psíquica.

Para o DDA adulto, a impulsividade trará sérias conseqüências. Seu impulso verbal pode trazer-lhe sérios problemas, principalmente em situações em que esteja sob forte impacto afetivo ou sob pressão pessoal. Atitudes Impensadas, podem levar o DDA adulto a viver numa constante instabilidade: entra e sai de diversos relacionamentos; empregos e grupos sociais. (25)

Para o adulto DDA, aprender a controlar ou mesmo redirecionar seus impulsos (para esportes; artes; etc.) pode muitas vezes ser uma questão de vida ou morte, ou melhor, uma questão de escolher viver a vida em sua plenitude ou buscar o fim antes do último capítulo. (25)

Para os DDAs, tudo é MUITO. Muita dor; muita alegria; muito prazer; muita fé;muito desespero. E, se pudermos fazê-los ver a força que esse impulso pode ter, quando bem direcionado, na construção de uma vida que valha tanto para eles como para a humanidade, teremos feito a nossa parte nesse processo. (26)

Hiperatividade física e mental:

Quando crianças, eles se mostram agitados; movendo-se sem parar na sala de aula; em sua casa.

Nos adultos, essa hiperatividade costuma se apresentar de forma menos exuberante. Pode-se observá-la nos adultos que “sacodem” incessantemente as pernas; mexem o tempo todo no cabelo; estão sempre buscando algo para manter suas mãos ocupadas.

A hiperatividade mental ou psíquica apresenta-se de maneira mais sutil, o que não significa, em hipótese alguma, que seja menos penosa. É o adulto que numa conversa interrompe o outro o tempo todo; que muda de assunto antes que o outro possa elaborar uma resposta. Essa agitação psíquica é parcialmente responsável pela inaptidão social que muitos DDAs apresentam. (27)

3. Mulheres e DDA

Um preço muito alto a ser pago e a via-crucis antes do diagnóstico acertado: a rainha do lar em xeque...

Durante a infância, a menina com DDA provavelmente será aquela sonhadora que não chama muito a atenção sobre si na sala de aula, já que em meninas é mais freqüente o tipo predominantemente desatento. Sofrem com suas constantes distrações e desorganizações e tendem a apresentar depressão e ansiedade em nível muito maior e recorrente que em meninas da mesma idade sem DDA, ou mesmo em relação aos seus pares masculinos com DDA. Quase sempre se sentem atoladas e ansiosas com as demandas da vida escolar. Mesmo que estejam bravamente lutando para prestar atenção ao que o professor diz, suas mentes escorregadias acabam por ficar silenciosamente à deriva em terras distantes. (41)

As menininhas falantes seriam um tipo intermediário (o tipo combinado) entre as quietas meninas sonhadoras e as incansáveis molequinhas bagunceiras (o tipo predominantemente hiperativo/impulsivo). O resultado é quase sempre uma contínua sensação de esgotamento... (43)

Uma questão de extrema importância e que muito sofrimento pode causar a uma mulher DDA está relacionada aos seus afazeres de esposa e mãe.

A questão aqui é: a mulher que exerce suas tarefas de dona-de-casa tem como principal função a organização. Mas um DDA precisa de estrutura. Neste caso singular, a mulher DDA tem que ser a estrutura. Ela deve ordenar a casa em meio à sua desordenada aceleração mental. (47)

Homens normalmente podem contar com um sistema de apoio. Na maioria das culturas, eles não precisam se preocupar com questões do tipo: organização do lar; educação e alimentação dos filhos; abastecimento da casa e outras demandas que grande parte considera até como afazeres menores. Mulheres dificilmente contam com um sistema de apoio, por uma razão muito simples: elas são este sistema de apoio, ou, pelo menos, se espera que sejam. É bastante provável que já a esta altura demonstrem um interesse maior por diversões mais estimulantes como vídeo game; brincadeiras de pique e disputas em jogos competitivos. Se imaginarmos esta menina crescida, tendo todas aquelas atribuições e quase sempre sem poder falhar, uma vez que dependem dela a vida e o bem-estar de outras pessoas.

Como a mulher DDA muitas vezes falhará em meio a tantas exigências de meticulosidade, certamente sobrevirão a culpa e o ressentimento Não só isso, mas também o dedo em riste acusador da família e da sociedade. Alguns dos ingredientes da receita da depressão e ansiedade. (48)

Por outro lado, a mãe e esposa DDA pode ser extremamente lúdica; criativa; divertida; amiga e cheia de pique.

Se seu marido compreende e tenta auxiliar sua mulher nas dificuldades típicas, ao mesmo tempo em que valoriza suas qualidades, a mulher DDA encontrará nessa união a estabilidade da qual necessita e se sentirá feliz. Mas se ele exigir que ela lhe sirva com perfeição e não se dispuser a ajudá-la e, pior ainda, não quiser entender suas dificuldades e valorizar suas qualidades, então, será o caos. (48)

À mulher DDA cabe compreender que não deve se obrigar a cumprir um papel que não é o seu, embora tenha sido estabelecido para ela, assim como para todas as mulheres. Se conseguir libertar-se de todo peso e ressentimento que desenvolveu ao longo de anos de recriminações, e também tornar-se menos sensível às críticas, então poderá trilhar o seu caminho sem culpas e sem angústias,por um atalho que poderia ter seguido, desde cedo, e sem muito sofrimento, se pudesse descobrir seus talentos naturais e desenvolvê-los, e não adequar-se a um limitado padrão, no qual muito dificilmente iria caber sem algum, ou muito desconforto. (49)

4. DDA e Crianças

A necessidade de se ajustar às regras: o bode expiatório da família...

Como já foi visto, o DDA é caracterizado por três sintomas: distração; impulsividade e hiperatividade. Sendo estas três características, um tanto comuns na população infantil, o sinal que pode diferenciar uma criança DDA de outra que não seja é a intensidade, a freqüência e a constância daquelas três principais características. (53)

A criança DDA é em tudo mais intensa, quando em comparação com as outras. Ela é mais colorida, já que dificilmente passa desapercebida. Os sintomas de comportamento DDA independem de problemas emocionais; ambientais e sociais. O importante é que todos os fatores que possivelmente possam estar contribuindo para algum comportamento inadequado por parte da criança devem ser cuidadosamente investigados e considerados como fatores de exclusão para um diagnóstico de DDA ou mesmo fatores que intensifiquem o DDA preexistente. O DDA é um funcionamento de origem biológica; marcado pela hereditariedade que irá manifestar-se no comportamento infantil já bem cedo, antes dos sete anos de idade, sendo ou não esta criança oriunda de um ambiente hostil e estar passando por problemas. Mesmo no lar mais estruturado e seguro uma criança DDA irá comportar-se como tal. (57)

A intensidade do desconforto trazido para a família pode ser manejada através de formas específicas de lidar com essas crianças. A criança DDA pode dar tudo de si e deixar fluir sua criatividade e entusiasmo inatos se for corretamente estimulada. Mais do que nenhuma outra, a criança DDA responde maravilhosamente bem sob o calor do incentivo, e os elogios e recompensas constantes se constituem no melhor aditivo para a já grande quantidade de combustível com a qual elas foram dotadas. Mas, por outro lado também mais do que nenhuma outra, a criança DDA murcha e se retrai sob o peso das críticas excessivas e da falta de compreensão. (57)

Como conseqüência da hiperatividade/impulsividade, a criança DDA faz primeiro, pensa depois. Reage irrefletidamente à maioria dos estímulos que se apresentam. Isso se deve ao fato de o DDA apresentar a área cerebral responsável pelo controle dos impulsos e filtragem de estímulos-córtex pré-frontal-não tão eficiente. Há um substrato orgânico determinando essa característica. A diferença para uma criança pura e simplesmente mal-educada é que a criança DDA sente que isso acarreta prejuízos e reprimendas. Justamente por isto, consegue antever as conseqüências de seu comportamento impulsivo, mas tendo dificuldade em contê-lo, sofre e absorve todas as críticas que desabam incessantemente sobre ela. Ela sofre com isto. (58)

Tampouco pode ser considerada pouco inteligente. Na verdade, com extrema freqüência, a criança DDA é bastante inteligente e criativa. (58)

O fato é que a criança DDA é constantemente inundada com estímulos que não consegue filtrar corretamente. A conseqüência mais evidente é que ela parece não conseguir priorizar. Característica que é levada adiante na vida adulta. O turbilhão de acontecimentos e coisas por fazer, em sua mente, acabam lhe trazendo problemas em reter informações e dar cabo de suas tarefas. (59)

Crianças com DDA possuem dificuldades muito específicas derivadas de seu também específico funcionamento cerebral, e que isso não deve ser confundido obrigatoriamente com tolice; má-educação ou dificuldades intelectuais. Só que, como é enorme o desconhecimento do problema, é exatamente isso o que acontece na grande maioria dos casos. Não se precisa descrever o enorme rombo causado na auto-estima de crianças que assim são rotuladas. Elas nem sabem que podem se defender. (59)

Em Família

A criança DDA também pode ocupar o lugar de bode expiatório da família, principalmente entre os irmãos. Embora todos reclamem o quanto de aborrecimentos essa criança traz para o meio familiar, crises inexplicáveis, poderão surgir em família se começar a ser tratada adequadamente e surgirem resultados positivos. Paradoxalmente, o tratamento pode até ser boicotado se a sua melhora ameaçar o sistema familiar que encontrou seu ponto de equilíbrio nessa criança. (60)

Por outro lado, podemos imaginar o transtorno causado por uma criança que não para um minuto. Freqüentemente, as situações provocadas pela impulsividade ou distração da criança DDA, detonam brigas entre outros membros da família. E ninguém entende nada quando percebem que a mesma criança que não consegue se concentrar nos deveres escolares, passa horas a fio grudada no vídeo game. Para quem não compreende as características da síndrome, a conclusão é de que aquela criança não quer nada com nada. (61)

O que os pais e/ou cuidadores podem fazer?

Existem meios de melhorar a convivência e estimular bons comportamentos nas crianças DDAs, especialmente se elas forem do tipo mais hiperativo/impulsivo.

O passo inicial para todos os pais e/ou cuidadores é o conhecimento. Quanto mais eles estudarem; se informarem e se educarem sobre o problema de seus filhos, mais estarão preparados para lidar com ele da forma mais apropriada. (64)

O passo seguinte é conseqüência do primeiro: saber diferenciar desobediência e inabilidade. Para o primeiro caso, os pais e/ou cuidadores podem sinalizar com as conseqüências desagradáveis de a criança não fazer o que se pede, e, em último caso, lançar mão de punição. (65)

A criança DDA está freqüentemente recebendo punições e verbalizações negativas por atos que ainda não aprendeu a controlar. Resumindo, é punida por algo de errado que não sabe bem o que é, ao passo que ninguém lhe diz o que então ela deveria estar fazendo. Assim, é extremamente importante que os pais e/ou cuidadores aprendam a dar ordens positivas. (65)

Uma vez que se tenha estabelecido o que se quer da criança e tenha sido dito a ela, em forma de instrução positiva, é extremamente importante que a recompense imediatamente após fazer o que se quer. A recompensa mais positiva para a auto-estima da criança é a de cunho social. No entanto, quando se está tentando modificar algum comportamento inconveniente, é importante que no início do processo as recompensas sejam não-sociais, por causa do seu caráter concreto e imediato. Ou, melhor ainda, venham acompanhadas por recompensas sociais. (67)

Outro aspecto imprescindível é que a criança deverá ser recompensada a cada avanço que fizer. (67)

Jamais se deve esquecer de que, para a criança DDA, elogios, incentivos e demonstrações de amor, são o aditivo mais eficaz para a grande quantidade de combustível que ela tem, mas que eram queimados inadequadamente, seja pelas características específicas do comportamento DDA, seja pela grande quantidade de repreensões que ela ouve e abalos que são imputados em sua auto-estima. (68)

O último passo é a continuidade dos anteriores, e seu objetivo principal é sempre promover o sucesso da criança. Trata-se de abandonar o padrão antigo de valorizar mais as atitudes negativas da criança e mudar para um padrão de sempre incentivar, reforçar e promover o sucesso dela. (69)

Quando for necessário o castigo, pela evidente desobediência, deve-se manter a coerência e constância: se disser que irá castigá-lo, realmente fazer. (70)

5. DDA e Vida Afetiva

Os últimos românticos: emoção em excesso e escassez de razão...

A forma de amar, também será influenciada pela tríade: hiperatividade; desatenção; impulsividade. (72)

Um DDA com hiperatividade física e impulsividade, assemelha-se a um grande “tornado” apaixonado. É capaz de conhecer alguém; apaixonar-se perdidamente; casar; brigar; separar-se e tornar a casar-se; tudo em menos de um mês. Eles tendem a sentir todas as emoções de modo muito mais intenso do que a maioria das pessoas. Quando se apaixonam, estão realmente cegos de paixão, toda sua atenção volta-se para esse sentimento sem que possam controlar tal impulso. (72)

Já os DDAs que não possuem tanta hiperatividade física e impulsividade, tendem a apaixonar-se, transformando o objeto da paixão em um ser idealizado. São capazes de gastar horas e horas do seu dia, pensando no ser amado. Amam intensamente, no interior de suas mentes, mas não conseguem colocar em prática todas as coisas que vivem em seus pensamentos. (73)

Na realidade, os problemas no relacionamento afetivo de pessoas com DDA começam a aparecer e causar grandes desconfortos após a fase da paixão. É muito fácil apaixonar-se por um DDA, o grande desafio é ultrapassar a explosão inicial e estabelecer uma relação afetiva duradoura de crescimento e respeito mútuo. (74)

As características do comportamento DDA que podem trazer maiores dificuldades dentro de um relacionamento íntimo são:

Esquecimentos; distração e desorganização: a desatenção do DDA, pode tornar-se muito irritante para o parceiro. A falta de atenção pode fazer com que sejam esquecidas datas importantes; perdas de chaves e documentos importantes; atrasos freqüentes. A relação pode tornar-se insuportável para ambos. (74)

Falta de controle de impulsos: Os impulsos no DDAs podem apresentar-se de várias formas: por meio de explosões afetivas;no comer; falar; trabalhar; jogar; fazer sexo; comprar ou usar drogas Seja qual for a forma em que tais impulsos possam se manifestar,trarão sempre situações de desconforto pessoais e grandes embaraços conjugais. (74)

Necessidade de estimulação constante: A maior parte dos indivíduos com DDA tem fascínio em buscar novos e fortes estímulos, que pode dar-se de várias maneiras: praticar esportes radicais; realizar negócios arriscados; criar discussões exaltadas;; participar de vários projetos simultaneamente; dirigir em alta velocidade. Vale tudo para fugir do tédio e manter a vida em um ritmo excitante. Como nos relacionamentos afetivos, muita ação, pode ser sinônimo de confusão. Várias vezes os cônjuges se sentirão traídos, rejeitados ou mesmo esgotados com tanta emoção. (75)

Dificuldades de se comunicar afetivamente: Isto ocorre, em parte, pela velocidade com que seu cérebro processa os pensamentos, em função da sua hiper-reatividade ao mundo externo e interno. A grande dificuldade do adulto com DDA, nos seus relacionamentos afetivos, é conseguir falar de maneira organizada aquilo que sente, para o seu parceiro. Muitas vezes, a velocidade do seu pensamento, o impede de falar o que é fundamental para se fazer compreender. (76)

Outro aspecto fundamental que torna a comunicação afetiva tão difícil, é a baixa auto-estima que quase sempre acaba traindo-o, impedindo que fale o que sente de verdade, sob pena de sentir-se rejeitado e não amado. (76)

DDA e Dependência de Pessoas

Os DDAs têm uma tendência a dependências em geral. Essa dependência muitas vezes pode manifestar-se em uso de drogas e remédios. (81)

Desenvolver uma relação de dependência com alguém, estrutura o DDA. (81)

As relações de dependência de pessoas DDAs podem ser classificadas de três maneiras genéricas: Dependência ativa; Dependência passiva e dependência mascarada. (81)

Dependentes Ativos

O adulto DDA que irá desenvolver esse tipo de dependência de pessoas, teria sido uma criança que teve sua estruturação emocional iniciada em um ambiente de insegurança, que acabou por despertar-lhe medos racionais ou irracionais, contra os quais se viu impelido a enfrentar.

São geralmente os DDAs que alcançam grande sucesso no trabalho (empresários; executivos e políticos), mas tendem a centralizar tudo na sua pessoa e com isso acabam por se sobrecarregar. O estresse, seguido de exaustão física e mental, é inevitável. (83)

Dependentes Passivos

O DDA que desenvolve dependência passiva com as pessoas, foi uma criança que provavelmente teve sua estruturação emocional iniciada num ambiente em que foi superprotegida. Assim, sempre que surgia um problema, este era resolvido de pronto, sem que ela pudesse agir por iniciativa própria. (85)

Torna-se um adulto sem qualquer estrutura interna e auto-estima para fazer frente às adversidades. Sua segurança está fora de si, precisa de parceiros afetivos e profissionais que lhe digam onde e como fazer suas atribuições. (85)

Suas relações tornam-se muito desgastantes para ambos os lados, pois pessoas passivas precisarão de pessoas ativas que lhes mostrem o caminho, mas terão muito medo de perder essas pessoas e tenderão a escolher parceiros, não por afeto, mas por necessidade de direção. (85)

Dependentes Mascarados (egoístas)

Quando criança, apresentou história de viver em um ambiente que não lhe dava segurança. Sentia-se desamparada, principalmente por ver em seus cuidadores, comportamentos não só omissos, como também de desajustes patológicos. Os comportamentos dos cuidadores, eram vistos por essa criança como incapazes e hostis. Por isso, resolve tomar as rédeas de sua própria vida, buscando realizações externas para lhe conferirem segurança. (87)

Desse tipo, são os adultos que alcançam grande sucesso profissional, desde que possam exercer suas tarefas de forma solitária. Se são obrigados a desenvolver convívio em grupo, acabam por fracassar por total impossibilidade de se relacionar com equipes de trabalho. (88)

6. O que os DDAs têm que os outros não têm

Idéias; sensações e emoções que não podem ser quantificadas: a questão da criatividade...

O funcionamento cerebral DDA favorece o exercício da criatividade.(92)

Em1990, Alan Zametkin, constatou que havia uma “ciranda” bioquímica diferente nos cérebros de pessoas DDAs. Seus estudos abriram as portas para um entendimento mais acertado; científico e, principalmente, justo, para milhares de pessoas que, em vez de serem corretamente identificadas e tratadas, eram “discriminadas” pela desinformação do comportamento DDA. (95)

Razão e emoção exacerbadas no lobo frontal direito dos DDAs podem constituir o grande diferencial positivo desses indivíduos no exercício de sua capacidade criativa original. (103)

7. Por onde o impulso me levar...

Os desbravadores, os acionistas, os artísticos e os performáticos...

Todos os DDAs possuem, em maior ou menor intensidade, um impulso criativo,em função da maneira diferenciada através da qual vêem o mundo. E, o impulso acaba por selecionar a área na qual a criatividade irá manifestar-se. Mais que uma nova classificação, a descrição desses subtipos tem o objetivo principal de estabelecer a orientação e direcionamento produtivo de todo o processo. (107)

O desbravador

A característica mais marcante deste subtipo é a sua capacidade em abandonar velhos hábitos e abrir novos caminhos. O impulso criativo localiza-se na busca mental incessante por novas idéias; projetos; descobertas; invenções e empreendimentos. Os desbravadores estão sempre centrados no que está por vir. (107)

O grande problema para esses desbravadores é o fato de tenderem a uma insatisfação constante. (107)

Em função disso, o desbravador deve sempre ter em mente as seguintes dicas:

1. Suas idéias precisam materializar-se, sob pena de não cumprirem sua função.

2. Tente relaxar de vez em quando e aproveite esses momentos para analisar o que já construiu.

O acionista

Seu impulso criativo está localizado no ato de agir todo o tempo, e grande parte de sua energia está colocada em seu corpo, que reluta de forma implacável contra qualquer tipo de inércia. (108)

O viciado em trabalho (workaholic) é tão obcecado em agir no trabalho, que ele pode, na verdade, estender suas tarefas retardando a conclusão das mesmas. Além disso, tende a atrofiar todos os demais setores de sua vida (pessoal; afetiva; familiar; social), o que pode lhe render muita culpa e remorso.

Por isso, o acionista não deve se esquecer de:

1. Administrar melhor seus horários no trabalho, de maneira a produzir mais, com menos tempo e gasto energético.

2. Impor-se limites.

3. Todo excesso tem conseqüências. (109)

O artístico

O DDA artístico é aquele cujo impulso criativo, irá concentrar-se em seus sentimentos e sensações. A expressão ou a transmissão desses sentimentos e sensações, ganhará caráter concreto na obra de arte manifestada nas mais diversas maneiras: música; pintura; escultura; poesia; dramaturgia. (109)

O artístico apresenta grande dificuldade em estabelecer relações de intimidade com as pessoas, em função do medo gerado pelos sentimentos despertados nesse tipo de relação.

Se você é um DDA artístico, lembre-se:

1. A vida é intensa, mas não “engole criancinhas”.

2. Intimidade requer sinceridade.

3. Atrás de sua obra está você. (110)

O performático

O performático tende a falar muito em público, dominando conversas com seu humor refinado e requintado. Apresenta-se muito bem na frente de platéias, ou mesmo multidões, no entanto, mostra-se bastante embaraçado em situações íntimas e afetivas.

Se você é um performático, não se esqueça:

•  Desencadear emoções nas pessoas é um talento especial.

•  Pergunte a si mesmo o porquê de suas várias performances.

•  Reserve momentos de intimidade com você mesmo ou com alguém especial. (111)

8. Personalidades com suposto funcionamento DDA

De Einstein a Marlon Brando: um museu de grandes novidades...

Albert Einstein

Desde cedo, rebelou-se contra o tradicional sistema educacional. Questionava muito, os dogmas e detestava ter que decorar matérias. Porém, mais tarde, Einstein apresentou um sintoma que freqüentemente é encontrado no comportamento DDA: o da hiperconcentração. Passava horas, às vezes dias, concentrado em um problema. Entretanto, isto só acontecia com temas de seu interesse. (114)

Einstein foi uma eterna criança, que soube transformar a ilimitada imaginação infantil em uma grande contribuição para toda a humanidade. (115)

Fernando Pessoa

Lendo sua obra, observam-se exemplos indicativos de um comportamento DDA. A contradição, a visão imprecisa sobre si mesmo e a baixa auto-estima também aparecem. (116)

Henry Ford

Sua inquietação contra o velho sistema fez com que, posteriormente, voltasse a romper com as regras do mercado ao aumentar os salários dos seus funcionários e diminuir a carga de trabalho. Com essa medida conseguiu aumentar a produção e conquistar seus funcionários, fazendo com que “vestissem a camisa” da empresa. (117)

James Dean

Sua permanente inquietação e atração impulsiva em correr riscos sugerem um comportamento DDA com perfil acionista. (118)

Leonardo da Vinci

Uma mente movida por uma inquietação desbravadora.

Da Vinci deixou uma infinidade de obras inacabadas, pois, começava vários projetos ao mesmo tempo, uma característica bem comum em mentes com funcionamento DDA. Muitos o julgavam fracassado por deixar tantas obras incompletas. (118)

Ludwig van Beethoven

Inquieto; polêmico; incompreendido; freqüentemente acometido de devaneios e distrações. Indícios de um possível comportamento DDA. (119)

Marlon Brando

Sua intuição; ousadia e capacidade criativa são indícios fortes de uma mente DDA de perfil desbravador e artístico. Marlon sofria de baixa auto-estima. (120)

Vincent van Gogh

Indícios de um comportamento DDA são vistos em vários aspectos de sua personalidade. Inquieto; polêmico; com instabilidade de humor; baixa auto-estima e principalmente uma sensibilidade extrema, entrava facilmente em tristeza profunda quando se via rejeitado. (121)

Wolfgang Amadeus Mozart

O seu comportamento apresentou sinais de um DDA com perfil desbravador e artístico. Mozart era inquieto; impulsivo e mostrava-se resistente às normas estabelecidas. Considerava enfadonhas as óperas antigas e por isso inovou. (122)

9. DDA e Outros Transtornos

Desenvolvendo quadros associados: as parcerias nada recomendáveis...

No caso do DDA, a distração, os freqüentes esquecimentos, a desorganização, a perene sensação de que algo está errado, a costumeira protelação de tarefas que causam muita ansiedade. São características que podem fazer com que a pessoa DDA acabe por desenvolver transtornos associados, como ansiedade generalizada; depressão; pânico; fobias etc. (126)

No entanto, ainda há outros transtornos específicos que acompanham o DDA, não porque são conseqüências dele, mas porque parece haver uma íntima relação em suas origens biológicas. As mesmas alterações bioquímicas e/ou funcionais parecem estar envolvidas em transtornos como o DDA e a Dislexia, por exemplo. (126)

DDA com Ansiedade Generalizada:

Ansiedade generalizada é o transtorno da preocupação interminável e ruminante. São aquelas pessoas que se organizam em torno da antecipação de problemas e ficam perscrutando o ambiente à caça de perigos e complicações. Tão logo o indivíduo ansioso consiga resolver algo que o aflige, imediatamente parte à busca de outra aflição. Como não consegue relaxar, permanece pairando em um mal estar indefinível e subjetivo, que, por vezes, se manifesta nos mais variados problemas somáticos, quase sempre causados pela sobrecarga imposta ao organismo pela alta quantidade de adrenalina constantemente despendida. (126)

O fato é que muitos DDAs organizam-se em torno da própria ansiedade. A ansiedade é, por vezes, extremamente estruturadora. E um DDA busca estrutura o tempo todo, que pode vir na forma de pessoas com as quais desenvolve algum tipo de dependência; na forma de atividades extremamente interessantes e estimulantes e, às vezes, infelizmente, na forma do uso de substâncias ilícitas. (127)

E também na forma de ansiedade generalizada.

A ansiedade envolvida na sensação de que algo está sempre errado direciona a atenção do DDA. Sentir-se mal e alerta parece-lhe menos pior que se sentir assoberbado e confuso. (127)

É importante saber diferenciar o Transtorno de Ansiedade Generalizada da ansiedade difusa e oscilante que normalmente acompanha o DDA. Um critério bastante sólido para distinguir uma de outra é a constância desse estado de ansiedade. Um DDA, com freqüência, atravessa seus picos de ansiedade, mas se esta perdura por, no mínimo,seis meses e traz desconforto significativo, pode-se começar a levantar suspeita de comorbidade. (128)

DDA com Pânico:

Um DDA que se organize em torno de sua ansiedade, predisposto biologicamente, vulnerável psicologicamente e hiperfocando intensamente em seu corpo e em suas respectivas reações, reúne, em um infeliz somatório, todos os requisitos para desenvolver o Transtorno do Pânico. (130)

A capacidade de hiperfocar, tão útil na grande maioria das situações, pode também atrapalhar, e muito, quando inadequadamente direcionada. Esse hiperfoco precisa ser desviado. Se o DDA não for detectado também, em detrimento dos sintomas do pânico, que realmente se sobressaem muito mais, a capacidade de desviar esse foco pode estar comprometida. Ou pior, pode mesmo nem chegar a constituir-se em um dos objetivos do tratamento. (130)

DDA com Fobias:

O DDA pode também ser relacionado a fobias, principalmente à social, sob outro enfoque. Se uma pessoa que tenha DDA e, ao mesmo tempo, tenha vulnerabilidade biológica à fobia social, tiver crescido em um ambiente crítico e punitivo, certamente será temerosa em relação a situações de interação social. Crianças e adolescentes DDAs são muito suscetíveis a receberem reprimendas sociais por variados motivos. Pela impulsividade que, muitas vezes, os expõe em situações difíceis; pela distração que os coloca alheios a detalhes importantes. (131)

Enfim, crianças e adolescentes DDAs podem receber uma série de sinais sociais negativos que os levam a desenvolver uma auto-imagem debilitada. Alguns podem buscar no comportamento de fuga e evitação de contatos sociais o meio de não se expor à crítica de outras pessoas. (131)

DDA com Transtorno Obsessivo-Compulsivo:

Pessoas com DDA que tenham a vulnerabilidade biológica e genética para o TOC podem acabar sendo mais suscetíveis a desenvolvê-lo do que pessoas que não tenham DDA. Como o DDA é assaltado por estímulos, idéias e imagens que não consegue filtrar eficientemente, a probabilidade de ter pensamentos considerados desagradáveis e desencadeadores de ansiedade, aumenta muito.(133)

Mas, além do fluxo aumentado de idéias e imagens, as dificuldades de organização, as constantes distrações e esquecimentos do DDA podem causar desconforto adicional. Se o indivíduo passa a ser assaltado por pensamentos de que esqueceu algum objeto, de que alguma coisa pode estar fora do lugar; de que algo pode dar errado por conta de sua distração e passar a desenvolver, então, comportamentos ritualísticos de verificação ou contagem para prevenir tais situações, então, infelizmente, o TOC pode desenvolver-se como quadro associado. (133)

DDA com Depressão:

Não é muito difícil se imaginar a relação do DDA com estados depressivos. A pessoa com DDA, na grande maioria das vezes, tem baixa auto-estima. Ela acaba mergulhando no pessimismo persistente que a acompanha, embora seja teimosa o bastante para continuar insistindo.Um DDA dificilmente desiste. (134)

Por outro ângulo, temos o fato de que, provavelmente, DDA e Depressão compartilhem alterações semelhantes. (135)

Há vários casos de Depressão em que, após criteriosa investigação, revela-se também o DDA, até então oculto pelos sintomas mais evidentes das alterações no humor. (135)

DDA com Transtorno Bipolar do Humor:

Um DDA pode ser visto como agitado; entusiasmado e “elétrico”, e ter justamente seus pontos fortes em características como essas, sendo admirado por isso com freqüência Na pessoa com Transtorno Bipolar e que esteja em fase eufórica, dificilmente será vista da mesma forma. As outras pessoas logo percebem que algo não está bem e, O Transtorno Bipolar às vezes pode ser confundido com o DDA porque ambos os transtornos envolvem um alto nível de energia e atividade. A característica mais marcante do Transtorno Bipolar é a intensa variação de humor, indo do poço mais fundo da depressão, à exaltação e entusiasmos desarrazoados. No entanto, embora o DDA também possua mudanças de humor súbitas, o que diferencia as duas síndromes é a intensidade. A amplitude entre os estados de humor extremos, é bem maior no bipolar, freqüentemente, consideram bastante desagradável. (136)

DDA com Transtornos Alimentares:

Comportamentos compulsivos são um tanto comuns em quem tem DDA. As compulsões podem tanto apresentar-se na forma da dedicação exagerada ao trabalho (o workaholic), como no uso compulsivo de cigarro; bebida ou outras substâncias ilícitas, sexo ou ainda comida. (137)

Muitos DDAs podem comportar-se como grandes comilões e apresentarem dificuldades em controlar o impulso de comer. (137)

Em alguns casos, pode realmente existir comorbidade com algum transtorno alimentar, tais como o transtorno de comer compulsivo; a bulimia e a anorexia nervosa. (137)

DDA com Transtorno de Conduta e/ou Transtorno Desafiador Opositivo:

O DDA pode manifestar alguns comportamentos que lembrem os sintomas dos Transtornos de Conduta e Desafiador Opositivo. No entanto, a criança, que é apenas DDA, pode apresentar comportamentos problemáticos muito mais em função da hiperatividade; impulsividade e desatenção do que comportamentos com a intenção clara de causar prejuízos ou burlar regras. (139)

A criança DDA sofre com seus problemas, ao passo que crianças com Transtornos de Conduta e Desafiador Opositivo, principalmente a primeira, normalmente não apresentam sentimentos de culpa ou arrependimento. Já a criança DDA tem remorso até pelo que não fez, mas pelo qual se atribui culpa por ter a experiência de ser bastante criticada e ter baixa auto-estima. (139)

DDA com Transtorno de Personalidade Anti-Social:

DDA e Transtorno de Personalidade Anti-Social são duas condições distintas e que não podem coexistir.

Um DDA, por ser impulsivo e desatento, constantemente causa constrangimentos e desagrados a outras pessoas, mas há fatores diferenciadores. (141)

O DDA consegue ser empático e colocar-se no lugar do outro. O DDA sente remorso, mesmo que sua impulsividade o leve a fazer e dizer coisas sem pensar. (142)

Reconhece seus erros e sofre com isso. Se assim não fosse, não seriam comuns a baixa auto-estima e o forte senso de inadequação nessas pessoas. (142)

10. Uma Relação Explosiva: DDA e Drogas

Perigos camuflados e Atrações Fatais...

Pessoas com DDA são mais propensas ao uso de drogas do que outras que não apresentam tal funcionamento mental.

Muitas pessoas com DDA apresentam uma grande dificuldade em se manterem estáveis emocionalmente. Costumam se sentir tristes; ansiosos; angustiados; exaltados ou mesmo estranhos, sem qualquer motivo aparente. Essa avalanche de sentimentos pode levar o indivíduo a vivenciar um estado que denominamos desconexão emocional, no qual predomina uma sensação de estranheza em relação a si mesmo. Uma situação vivenciada com grande desconforto e muito sofrimento, levando com freqüência ao abuso de substâncias, em tentativas de automedicação. (147)

Semelhante a uma personalidade predisposta à dependência, o DDA apresenta uma estrutura interna frágil, grande insegurança pessoal; baixa auto-estima; impaciência; baixa tolerância à frustração e intensa impulsividade. (149)

No que se refere ao aspecto biológico da questão, tudo começa a se encaminhar para o neurotransmissor dopamina. Parece que é justamente neste ponto que dependência e DDA usufruem de um território comum. (149)

Em relação à dependência, sabe-se que muitos indivíduos usam drogas para obterem prazer. É comum referir-se à dopamina como o neurotransmissor do prazer e da motivação, e logo se passa a associá-la ao prazer que algumas substâncias podem produzir nos indivíduos em função do seu uso. (150)

Se for lembrado que o metabolismo da dopamina encontra-se afetado no DDA, pode-se imaginar, no mínimo, que reside neste fato a base cerebral desta interdependência. (150)

Uma Luz no Fim do Túnel

Até hoje, é comum médicos que hesitam, por diversos motivos, em usar medicamentos psicoestimulantes para tratar DDAs. No entanto, a prática clínica tem revelado que quando uma pessoa, em recuperação de dependência, mostra-se, de fato, disposta a utilizar medicamentos com o objetivo claro de aumentar a eficácia de seu tratamento, a possibilidade de abuso é muito rara. Na verdade, a chave de tudo é o envolvimento do indivíduo em um programa de tratamento informativo-educacional com uma supervisão dos medicamentos, intervenções comportamentais e participação em terapias individuais e/ou de grupos no processo adaptativo dos DDAs e vinculação com programas de recuperação de dependentes. (156)

11. A Difícil Tarefa de Dormir Bem

Aprendendo a Relaxar um Cérebro a Mil Por Hora...

Muitos DDAs apresentam problemas relacionados com o sono. Esses problemas estão presentes, tanto no ato de adormecer bem, como na manutenção de um sono qualitativamente relaxante. Por este motivo, costumam queixar-se de insônia e/ou intensa sensação de cansaço durante o dia.

Dormir em excesso, como ocorre com alguns DDAS, não significa de forma alguma dormir bem. O único dado concreto e compreensível que se tem nesse aspecto é a presença de pensamentos constantes, a uma velocidade tão intensa, que acaba resultando em grandes dificuldades, para relaxar e dormir. (160)

12. Uma Breve História no Tempo

O longo processo de identificação do funcionamento DDA...

Numerosos estudos descreveram crianças que foram diagnosticadas como apresentando “Lesão Cerebral Mínima”, por não apresentarem história ou sinais de trauma físico, mas que acreditava-se serem lesionadas cerebralmente, apenas pelo fato de apresentarem sintomas comportamentais, hoje descritos como desatenção; hiperatividade e impulsividade. (171)

Esse termo foi posteriormente mudado para Disfunção Cerebral Mínima. (171)

Em 1994, a Associação Americana de Psiquiatria publicou o DSM-IV. Nessa atualização, a classificação do DDA era dividida em dois subtipos básicos e em uma combinação de ambos:

•  Déficit de Atenção: DA, predominantemente desatento;

•  Déficit de Atenção: DA/HI, predominantemente hiperativo-impulsivo;

•  Déficit de Atenção: DA/C, em que sintomas desatentivos e de hiperatividade/impulsividade estão presentes no mesmo grau de intensidade. (173)

13. A Origem da Questão

A ciência finalmente no rumo certo do entendimento de um cérebro DDA...

O DDA deriva de um funcionamento alterado no sistema neurobiológico cerebral, isto significa que substâncias químicas produzidas pelo cérebro, chamadas neurotransmissores, apresentam-se alteradas quantitativa e/ou qualitativamente no interior dos sistemas cerebrais que são responsáveis pelas funções da atenção, impulsividade e atividade física e mental no comportamento humano. Trata-se de uma disfunção e não de uma lesão como anteriormente se pensava. (176)

Os diversos fatores causais que estão envolvidos no funcionamento do cérebro DDA são:

•  Fatores Genéticos. (177)

•  Alterações Estruturais e Funcionais no DDA. (178)

•  Fatores Ambientais. (180)

14. Diagnóstico do DDA

A sabedoria em direcionar sua forma de ser perante as inúmeras obrigações impostas pela vida...

O melhor critério para se diagnosticar o DDA é a própria história pessoal vista pelos mais diversos ângulos de sua existência: escolar/profissional; familiar; social e afetiva. A visão global é que nos dará oportunidade de criar, de maneira empírica, porém bastante adequada, o critério para estabelecer-se a necessidade de tratamento para essa alteração. Um DDA, na realidade, precisa muito mais de um ajuste no seu comportamento do que, na verdade, um tratamento, e o que determina sua necessidade é o desconforto sofrido por ele na sua vivência diária. (185)

Existe atualmente uma postura de consenso na comunidade médica em se adotar o sistema americano de diagnóstico conhecido pela sigla DSM-IV, da Associação Americana de Psiquiatria. (186)

Usa-se também escalas; testes e questionários.

Os testes devem ser aplicados juntamente com outras formas de avaliação e diagnóstico. Eles fornecem informações valiosas e complementares que podem ser bastante úteis, embora não possam ser usados como ferramentas centrais para o diagnóstico. (190)

15. Em Busca do Conforto Vital - Tratamento do Déficit de Atenção

A importância da individualidade e do conforto social...

O tratamento do DDA pode ser dividido em quatro etapas: informação; conhecimento e apoio técnico; medicamentosa e psicoterapêutica. (193)

Informação /Conhecimento:

Quanto mais informação e conhecimento tiver sobre o DDA, mais capacitada estará a pessoa com o DDA para compreender toda sua história de vida e para contribuir efetivamente na elaboração de um tratamento eficaz e confortável.

Nenhum tratamento eficiente pode nascer de posturas passivas. É preciso se informar; estudar; debater; trocar idéias; experiências; conhecer sobre remédios; terapias; alimentação; esportes e tudo mais que possa contribuir para a melhora e auto-superação. (194)

Nesse aspecto, estender a informação e o conhecimento aos familiares; amigos; professores; colegas de trabalho e parceiros afetivos, só irá contribuir de maneira positiva, uma vez que a convivência, a partir de então, será muito menos desgastante e, com certeza, mais compreensiva e produtiva. (195)

Apoio Técnico:

O “apoio técnico” nada mais é do que um conjunto de pequenas medidas e atitudes que acabam por criar para o DDA uma estrutura externa capaz de facilitar em muito o seu cotidiano. (195)

Dessa maneira, o apoio técnico consiste em criar-se uma rotina pessoal que facilite a vida prática de um DDA e que seja capaz de compensar em parte a sua desorganização interna. Uma rotina que deve conter aspectos essenciais tais como: estabelecer horários regulares de maior produtividade; de repouso; de atividades físicas; de refeições; organizar cronogramas em relação às suas obrigações; projetos e lazer; criar o hábito de ter uma agenda em que se anote de véspera o dia seguinte e que se confira pela manhã antes de iniciar o dia; ter sempre à mão pequenos blocos e canetas para pequenos lembretes; anotações e listas. (195)

Além de diminuir bastante a ansiedade e a sensação de incapacidade do DDA, uma rotina bem organizada tem ainda a possibilidade de fazer com que talentos sejam desenvolvidos; aperfeiçoados e expressados de forma concreta. (195)

Apesar de a terapia ter o objetivo principal de construir uma organização interna, muitas vezes, é mais fácil e oportuno começar pela estruturação externa para atingir-se Aquele fim. (196)

Medicamentosa:

O uso de medicamentos no DDA pode e deve ser visto como uma ferramenta a mais na busca de uma melhor qualidade de vida. O cérebro DDA pode ter seu funcionamento facilitado por meio da medicação, contribuindo para que o indivíduo DDA viva de maneira menos desgastante. (197)

Definir o que se deseja melhorar no comportamento vital de um DDA é essencial na escolha mais adequada de um medicamento. Por isso, o médico deve contar com a participação ativa do cliente ou de seus cuidadores para atingir seu objetivo final. (197)

Consideramos basicamente três categorias de medicamentos que podem ser usadas no tratamento do DDA: os estimulantes; os antidepressivos e os acessórios. (197)

Se o DDA faz parte da pequena parcela de pessoas (5-10%) para as quais as medicações não são eficazes ou não podem ser utilizadas por outros motivos clínicos, as etapas não medicamentosas do tratamento ainda podem trazer grandes benefícios. Nesses casos, a psicoterapia torna-se fundamental na medida em que fornece orientação, apoio e busca de soluções para as diversas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com comportamento DDA. (202)

Psicoterapia:

De uma maneira geral, o terapeuta irá trabalhar com treino em solução de problemas; treino em habilidades sociais; relaxamento; estabelecimento de agendas de atividades rotineiras e de objetivos e reestruturação de formas de pensar e lidar com problemas que podem estar sendo prejudiciais. (204)

Para um DDA, a terapia é extremamente importante, pois sua auto-estima costuma ser bastante baixa e ele tende a enxergar a si próprio como incompetente ou inadequado, e o mundo como um ambiente ameaçador e punitivo. Tais crenças têm efeitos nefastos na vida de qualquer pessoa e, principalmente, na de um DDA, pois sabe-se que eles geralmente têm um nível de energia e iniciativa muito grande, contudo subaproveitado, quando o indivíduo funciona sob a influência dessas crenças tão autodesvalorizantes. (206)

16. Mercado de Trabalho do Futuro e os DDAs

Transformando sonhos em realidade: o novo mercado de trabalho e o destaque para as potencialidades criativas...

Os postos de trabalho, criados de agora em diante exigirão que as pessoas pensem; criem; se inspirem; se emocionem; raciocinem; opinem; discordem; se apaixonem; detestem; enfim, que tenham um trabalho verdadeiramente humano, que só pode ser concebido pelos que possuem mentes e corações; cognições e sentimentos. (211)

Já podemos imaginar o que um trabalho repetitivo e monótono faz a um DDA.

Por outro lado, a nova forma de se pensar o trabalho, que está em gestão, cai como uma luva para um profissional DDA. (212)

Com a necessidade cada vez maior de criatividade e inventividade em outras carreiras, pessoas DDAs passarão também a se destacar no mercado de trabalho comum. (212)

Por isso, ressaltamos a importância do DDA conhecer e entender o próprio comportamento, para uma mudança de perspectiva que possibilite um redirecionamento em sua vida. É importante ao DDA aceitar o seu modo de ser e acreditar sinceramente em seus talentos, transformando, assim, potencialidades criativas em atos criativos. Ele tem que adquirir confiança para buscar seu espaço nesse novo sistema de trabalho, pois, para bem adaptar-se a essa viagem ao futuro, é preciso levar na bagagem, junto com a criatividade, a coragem e a perseverança; a coragem de errar e continuar tentando. É necessário que tenha um ideal firme e que creia no seu próprio sonho para torná-lo real. (213)

E, para tanto, um DDA precisa persistir nessa empreitada com a curiosidade da criança e a paixão do adolescente; a determinação do adulto e a confiança serena da maturidade. (213)

Sobre a autora:

Ana Beatriz Barbosa Silva, médica formada pela UERJ, com pós-graduação em Psiquiatria pela UFRJ e especialização em Medicina do Comportamento pela Universidade de Chicago, Estados Unidos, é conhecida por seu trabalho sobre tipos de personalidades, comportamento e funcionamento mental, tendo realizado inúmeras palestras e conferências sobre o tema para empresas particulares e estatais.

Diretora médica do Napades (Núcleo de Medicina do Comportamento), criou o SIP (Serviço Assistencial Napades), onde coordena pesquisas clínicas ligadas ao comportamento.

Membro da Academia de Ciências de Nova York, participa do Programa da Organização das Nações Unidas para Desenvolvimento no Brasil (PNDU Brasil), prestando apoio médico e psicoterapêutico no projeto de melhoria de desempenho de jovens com talentos especiais e dificuldades profissionais ou sociais.

Consultora de saúde mental e comportamento em diversos segmentos da mídia, em revistas; rádios e televisão.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O livro apresenta uma leitura de fácil compreensão e a trama do livro faz com que desperte interesse em chegar ao fim da história para saber se Veronika morre ou não. Os monólogos internos instigam os leitores a refletir sobre a própria vida. A forma como abordar a morte e como viver em um lugar como Villete é muito interessante. Recomendo a leitura desse livro para pessoas que precisam parar e pensar sobre si mesmo e buscar satisfações, prazeres na vida.

 

Nome do autor da resenha e data: Désirée Pereira Jorge Bettega, 2004.