Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Mudança - Princípios de formação de problemas

 

Autor do Livro:

Paul Watzlawick, John Weakland e Richard Fisch

 

Editora, ano de publicação:

Cultrix

 

Relação dos capítulos

  1. Capítulo 1: A Perspectiva Teórica      
          Capítulo 2: A Perspectiva Prática
          Capítulo 3: “O mesmo remédio em maior dose” ou Quando a    
                            solução vira problema
          Capítulo 4: As Terríveis simplificações
          Capítulo 5: A Síndrome da utopia
          Capítulo 6: Paradoxos
          Capítulo 7:  Mudanças de segunda ordem
          Capítulo 8: A fina arte de reformular
          Capítulo 9: A prática da mudança
          Capítulo 10: Exemplos

          Capítulo 11: O horizonte maior

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Primeira Parte: PERSISTÊNCIA E MUDANÇA

Capítulo 1: A Perspectiva Teórica

Persistência e mudança, embora de natureza aparentemente oposta, devem ser consideradas em conjunto.

Os autores escrevem que ao observarem, pessoas, famílias e sistema social mais amplo, envolvidos num problema persistentemente, sem chegar a uma solução, duas questões aparecem: “De que modo persiste a situação indesejável?” e “Que é preciso para mudá-la?”

Para ajudar a responder estas questões os autores recorreram a duas teorias: Teoria dos Grupos e Teoria dos Tipos Lógicos.

Conforme a Teoria dos Grupos, um grupo apresenta as propriedades:

  1. Composta por membros com características comuns.
  2. Combinação dos membros de diferentes maneiras, sempre se terá o mesmo resultado.
  3. Identidade
  4. Combinação de qualquer membro com seu oposto, tem como resultado o membro da identidade.

A Teoria dos Grupos permite refletir na interdependência entre persistência e mudança. Que tipo de mudança pode ocorrer num sistema que se mantenha invariável.

O conceito da Teoria dos Tipos Lógicos é de que coleções são formadas por características comuns. Sendo os componentes Membros e o todo Classe. Esta teoria permite entender a relação entre membro e classe e a peculariedade que existe na natureza da mudança num nível lógico para um nível superior.

A distinção entre essas duas teorias leva a dois tipos de mudança. Mudança de primeira ordem: mudança dentro do sistema que, no entanto permanece inalterado.

Mudança de segunda ordem: mudança que muda o sistema, mudanças no conjunto de leis que estruturam a ordem interna.

Quando os autores falam em mudança, sempre se referem a mudança de segunda ordem e postulam que  as duas teorias acima citadas são complementares. Relatam ainda que mudança de segunda ordem se encontra numa descontinuidade, podendo parecer paradoxal ou ilógica.

Capítulo 2: A Perspectiva Prática

Teoricamente é relativamente fácil distinguir entre mudança de primeira ordem e mudança de segunda ordem. No entanto, se tratando de situações reais esta distinção torna-se bem mais difícil.

Um sistema pode efetuar diversas mudanças internas, sem efetuar mudança de segunda ordem, pois não pode produzir leis que regulem a mudança de suas próprias leis. Não consegue gerar no seu próprio interior as condições para própria mudança.

Contudo os organismos sociais são suscetíveis de auto-correção, no entanto a mudança de segunda ordem é tida como incompreensível, o salto de um “quantum”. Súbita iluminação, imprevisível, pois mudanças de segunda ordem são introduzidas no sistema de fora para dentro. Não são familiares em termos das variações de mudança de primeira ordem.

Segunda Parte: FORMAÇÃO DE PROBLEMAS

Capítulo 3: “O MESMO REMËDIO EM MAIOR DOSE”

                  OU: QUANDO A SOLUÇÃO VIRA PROBLEMA.

Na vida real os problemas podem continuar estáveis, no entanto as dificuldades não permanecem imutáveis por muito tempo. Ao contrário, podem crescer, se nenhuma solução for aplicada ou se uma solução errônea for usada, principalmente se essa solução for reforçada. Quando isso acontece o problema pode continuar o mesmo ou a solução mal elaborada poderá tornar-se o problema. Aumentam a dificuldade e o sofrimento.

Essa espécie de formação de problemas pode acontecer, em qualquer sistema social, família, individual, casal, sócio-político.

A tentativa de efetuar mudanças de primeira ordem pode contribuir para agravar o problema. Sendo que para produzir mudança de segunda ordem é preciso que a estrutura do sistema sofra mudança.

Capítulo 4: As Terríveis Simplificações

A negação e o ataque na presença de um problema são simplificações da complexa interação dos sistemas sociais, nos dias de hoje, que passam por uma rápida transformação.

A razão primeira para negação de problemas é a necessidade de manutenção de uma aparência socialmente adequada. Tal situação, que os autores denominam de simplificação, pode tornar-se patogênica quando também é negada a própria negação.

As terríveis simplificações trazem duas conseqüências: considerado louco aquele que reconhece e tenta solução e o agravamento do problema pela abordagem desastrosa, dificultando a mudança.

A simplificação na Teoria dos Grupos está na terceira propriedade grupal, manutenção da identidade, ou seja, o problema fica inalterado.

Capítulo 5: A Síndrome da Utopia

Em contraposição as simplificações está a filosofia da utopia, na qual para tudo existe uma solução.

Pouco é sabido sobre os resultados desta filosofia, no entanto atualmente, tem início uma evidência de que tentativas de mudança baseadas na utopia trazem conseqüências que podem piorar o que deveria ser mudado.

Este extremismo para solucionar problemas levará a uma crença, que os autores, chamam de síndrome da utopia. Pode se apresentar de três formas:

- Introjetiva: por não alcançar seu objetivo o indivíduo sente-se incapaz, não considerando a natureza irrealista do objetivo que se impôs.

Algumas conseqüências podem ser a depressão, alienação, afastamento.

- Aforismo: diferente da condenação por não alcançar objetivos, se vê frente a uma longa jornada que necessita de preparação extensa, ou seja, uma permissão para protelar o alcance do objetivo.

Este tipo de utopia é problemático no sentido de que a pessoa vê a vida como um processo isento de problemas. A aposentadoria como o prazer do dever cumprido e abertura de novas possibilidades, é um exemplo de como importantes transições são descritas como sem problemas.

- Projetiva é a terceira variação da utopia, na qual o indivíduo tem convicção de uma moral verdadeira que mudará o mundo. Acredita que a exposição desta verdade, claramente para todos os homens, será vista e que quem não a aceita estará de má fé.

A não capacidade de realizar o amor universal é porque as regras dos pais ou da sociedade, não permitem a própria realização. A crença na originalidade do seu caráter, só pode ser sustentada frente ao menosprezo aos indivíduos do passado.

Na síndrome utópica o essencial ingrediente é a desconsideração pelas lições que a história possa trazer. As utopias podem ser positivas quando dão a entender que não existem problemas. São negativas quando interpretam os prazeres e as dificuldades da vida como anormais.

O que é comum em todos os tipos de utopia é o fato das crenças serem mais reais do que a própria realidade. Quando o alcance de objetivos baseados nestas premissas, não são alcançados, a utopia das premissas não é considerada, mas sim a culpa da própria capacidade ou  de fatores externos.

Para compreensão da mudança é necessário distinguir os fatos das premissas sobre eles, para que a solução não se torne um problema. Na base da síndrome utópica está a discrepância de como os fatos são e a maneira como estes fatos deveriam ser, de acordo com alguma premissa.

Esta premissa dos fatos deverem ser de determinada maneira constitui o problema e que pede mudança, não a realidade dos fatos como são em si. Ocorrem então mudanças de primeira ordem, quando para solução é preciso realizar mudança de segunda ordem.

Capítulo 6: Paradoxos

O antropólogo, Gregory Bateson, foi o primeiro a estudar os efeitos comportamentais do paradoxo na comunicação humana.

O paradoxo comunicacional não surge só na esquizofrenia. Aplica-se também a outros tipos de comunicação, dependendo dos parâmetros de determinada relação humana. Inadvertidamente cria-se um paradoxo que pode dificultar as mudanças necessárias.

Por exemplo, ao pedir para alguém “seja natural” é um pedido de espontaneidade, que não acontece quando passa a ser uma solicitação.

A estrutura do paradoxo é de que o comportamento deve ser de acordo com uma regra, mas com motivação interna, ou seja, espontâneo.

Os paradoxos figuram também nos casos em que as pessoas, para mudar um estado de espírito ou dificuldade, concentram-se em provocar uma ação ou sentimento pela força de vontade.

Na área das relações humanas, podem os paradoxos surgirem facilmente, na busca de solução de problemas. Somente uma relação humana ideal estaria livre do surgimento de paradoxos.

Terceira parte: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Capítulo 7: Mudanças de segunda ordem

Conforme os autores, resolver problemas de maneira fora do comum, é paralelo ao fato do não conhecimento da ação que trouxe como resultado a mudança desejada.

Na mudança de segunda ordem existe um elemento intrigante, paradoxal. Para realizá-la é preciso perceber que a solução adotada é a base do problema a ser resolvido.

A verificação do que está se fazendo aqui e agora, para manter o problema, e o que pode ser feito aqui e agora para produção de uma mudança. É significativo perceber se o sistema consegue realizar mudança por si ou fica preso num jogo sem fim.

Mudança de segunda ordem trata da solução da situação aqui e agora, trabalhando com os “efeitos não com as possíveis causas”.  A pergunta a ser feita é O QUÊ?  e  não POR QUÊ?  A procura de causas dos problemas leva ao que os autores chamam de “mesmo remédio em maior dose”.

O foco não é o problema numa estrutura passada, mas nas conseqüências no presente, possibilitando a transformação ao que acontece e não porque acontece.

A essência da mudança de segunda ordem é se abrir para uma classe de “todas as alternativas”, oportunizando realizar a mudança desejada ou necessária.

Capítulo 8: A Fina Arte de Reformular

Reformular significa mudar uma perspectiva (emocional ou conceitual), colocando-a de forma que se harmonize com os fatos de uma situação. Sendo assim, ocorre mudança de significado relativo a esta situação e as suas conseqüências. Não há mudança nos fatos concretos.

Para reformular a questão não é mais por que está assim, mas ver o que está envolvido na reformulação.

  1. A categorização das situações se faz conforme a percepção pessoal e em diferentes classes. Essas classes são formadas de acordo com o significado e valor que têm para nós.
  2. Tão logo uma situação seja colocada em determinada classe, (a sua “realidade”) é muito difícil vê-la como pertencente a outra classe.
  3. A reformulação se torna eficaz para mudança, pelo fato de que quando observamos a possibilidade da situação em outra classe, nos libertamos da perspectiva anterior de “realidade”.

Para uma reformulação bem sucedida é necessário sair do conceito de imutabilidade, introduzindo a situação para outra estrutura, que seja compatível, com a maneira do indivíduo categorizar a realidade.

Também é importante considerar numa reformulação, as expectativas, razões, premissas dos problemas a serem mudados.

Na reformulação o terapeuta aprende a linguagem do paciente, usando a própria resistência à mudança, para promovê-la.

Capítulo 9: A Prática da Mudança

Para praticar uma mudança é importante um proceder, em quatro etapas:

  1. Definir de maneira clara e concreta o problema,
  2. Investigar as soluções já experimentadas,
  3. Definição clara e concreta da mudança a ser realizada,
  4. Formular e implantar metas para produzir a mudança.

Segundo os autores é importante não só definir metas concretas, mas também estabelecer limite de tempo para mudança e objetivos concretos e passíveis de realização.

Os princípios relevantes neste processo são, o foco da mudança, que é a solução tentada, a estratégia escolhida que deve estar de acordo com o modo da pessoa conceitualizar  a “realidade”  e o paradoxo que tem papel importante tanto na formação de problemas como nas resoluções.

Com a aplicação prática destes princípios, os autores desenvolveram uma variedade de intervenções, que são exemplificadas no próximo capítulo.

Capítulo 10: Exemplos

O mesmo remédio em maior dose: os problemas não foram sanados com as tentativas usadas. Sair do foco do problema formulando um objetivo concreto. O mesmo remédio em maior dose foi a instrução dos terapeutas, em conformidade com os valores dos envolvidos.

Descobrindo o encoberto: Por meio da queixa desvendar o que está encoberto, possibilitando formular a intervenção terapêutica.

Anunciar em vez de esconder: O comportamento para resolver o problema é “esconder”. O problema desaparece quando, o comportamento passa ser, “anunciar”. É a inversão da solução que está sendo tentada.

Grandes efeitos de pequenas causas: A preocupação em cometer erros ou condutas inadequadas pode favorecer o acontecimento. Quando a pessoa se vê com liberdade para cometê-los, consegue ter controle sobre eles descobrindo como os mesmos são desagradáveis para si.

O “Expediente Bellac”: A possibilidade de tratar de maneira diferente uma situação constrangedora ou ameaçadora produz uma mudança no comportamento da pessoa envolvida. Esta mudança reflete na realidade interpessoal mudando o padrão relacional.

Aproveitando a resistência: A resistência pode ser um veículo para mudança. Ao indivíduo que quer mudar, mas tem o seu problema como insolúvel, a pergunta paradoxal, por que haveria você de mudar? Pode desencadear a mudança. O indivíduo não estando preparado para este tipo de pergunta estabelecerá uma nova premissa e, por conseguinte uma nova regra, não mais que ele deve mudar, mas porque ele deveria mudar?

Acusações Incontestáveis e desmentidos impossíveis de provar: Um indivíduo é acusado de repetir um mau comportamento do passado. Em vista do engano do acusador, o acusado se defende veementemente, o que fortalece as suspeitas do acusador. Para que as desavenças a este respeito não se perpetuem, o terapeuta passa uma tarefa para o acusado. Ele deve ter o comportamento desabonador sem tê-lo praticado e vice-versa. Desta maneira o acusador terá em teste a sua percepção.

Sabotagem benevolente: Este tipo de intervenção se mostra eficaz, nas situações em que alguém quer ter algum domínio sobre outro. A sabotagem benevolente pode ser empregada quando, por exemplo, os pais estão com dificuldade de estabelecer parâmetros para o filho adolescente, sem que este apresente comportamentos de rebeldia. Consiste em os pais assumirem que não estão sendo capazes de controlar o comportamento do filho. Os pais podem dizer ao filho que nada podem fazer se ele não chegar em casa no horário estabelecido. Ao que o filho verifica que desafio e afirmação não fazem mais sentido. O terapeuta orientará os pais como por em prática esta intervenção, levando em conta a sua maneira de ser, bem como possibilitando uma reformulação na interação familiar.

Os benefícios da desatenção: A premissa da presente intervenção é a busca da solução por meio do seu oposto, a desatenção. Aqui também, a pergunta a ser feita é: o que está se passando e não por que. A quantidade de atenção é que pode estar gerando o problema, sendo assim a tática de simular uma desatenção, poderá estabelecer uma nova maneira de relacionamento.

Problemas com os estudos: O objetivo desta intervenção é mostrar por meio de limites de tempo ou na transformação de oportunidades de lazer ou descanso como prescrição de punição. Visto que os estudantes têm uma tendência a raciocinar em termos de recompensa e castigo. Dessa maneira, uma mudança efetiva poderá ocorrer referente aos problemas com estudos relacionados ao perfeccionismo e/ou procrastinação.

Lidando com utopias: Em se tratando de problemas humanos, soluções pautadas no bom senso nem sempre trazem o resultado, sendo até contraproducentes. Mesmo que para o bom senso seja absurdo alimentar as utopias do indivíduo, ele só as abandonará se as mesmas forem levadas, pelo terapeuta, além de seus limites.

O “Pacto com o Diabo”: Os problemas das pessoas muitas vezes, é a demora em tomar uma medida necessária, agravado pelo fato de quererem atingir seus objetivos livres de riscos.  Se no quadro estabelecido pelo cliente, o terapeuta se deixar envolver pelos dilemas apresentados a terapia corre o risco do insucesso. O pacto com o Diabo significa substituir o jogo trazido pelo cliente por um novo apresentado pelo terapeuta, no qual o cliente aceitando ou rejeitando assumirá um risco.

Capítulo 11: O Horizonte Maior

O presente livro mostra que a formação e resolução de problemas estão presentes na maior parte das áreas da interação humana, independente do tamanho do sistema social. Os autores postulam que seus pontos de vista, sobre formação, resolução, persistência e transformação de problemas podem ser aplicados aos problemas humanos. Tais premissas só não se aplicam aos processos físicos e químicos do mundo natural, que tem que ser aceitas. No entanto elas se aplicam ao modo como os indivíduos procuram se haver com as circunstâncias naturais, como também se aplicam a maneira como os indivíduos tratam determinadas circunstâncias sociais.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O conteúdo do livro mostra porque são de difícil solução os problemas com os quais o ser humano, se depara nas suas relações e sistemas sociais.

Na busca da solução de um problema, pode praticar uma alternativa errônea, que poderá não trazer resultado, como tornar-se o próprio problema.

Novos padrões de interação serão alcançados, quando houver uma efetiva mudança, que só será possível se houver alteração na estrutura do sistema. A mudança de segunda ordem.

A percepção da resistência do cliente às possibilidades de mudança é fator importante no processo terapêutico, a leitura do livro mostra a interdependência entre mudança e persistência, conscientizando o leitor da complexidade da mudança.

 

Nome do autor da resenha e data: Delia Maria Rocha Avila – Agosto 2011.