Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

Nome do Livro:

O Corpo diz sua Mente

Autor do Livro:

Stanley Keleman

Editora, ano de publicação:

Summus Editorial, 2ª edição - 1996

Relação dos capítulos

Parte 1 - Surgindo do Oceano

a) Surgindo do Oceano

b) Raízes Corporais da Awareness

c) Grounding e Corporalidade

d) Vibração, Pulsação e Correntes

e) O Processo Formativo

f) Atitudes e Processo Formativo

g) Forma e Caráter

h) Identidade e Processo Formativo

i) Autoformação Através da Negação

j) A Decisão de Formar o Próprio Chão

k) O Corpo Inalterável

Parte 2 - Alternativas para a Introspecção

a) Alternativas para a Introspecção

b) Experienciar

c) Imagens e Autoformação

d) Expressão

e) Impulsos

f) Revelações

g) Contração e Expansão

h) Expandindo nosso Self

i) Minha Visão

j) Apêndice – Dois Modos de Formar Enraizamento

Apanhado resumido sobre cada capítulo

1. a) Surgindo do Oceano

A tradição bioenergética intensificou a compreensão e foi de suma importância para o melhor entendimento sobre o corpo. Compreende-se que a forma e o movimento da expressão corporal revelam a natureza da minha existência, dando sentido à expressão “não sou um corpo, sou certo corpo”.

Desta forma, o corpo não é apenas sensível, mas também informativo, dormir e levantar, deitar e ficar de pé, descansar e andar é o padrão primordial da nossa consciência, ajustamos-nos ao nascer e ao cair do sol, ao dia e a noite, aos ritmos que sentimos nos nossos corpos, sentindo-nos excitados e cansados, acordando e sonhando, com sêmen e fluxo menstrual, vivendo e morrendo.

b) Raízes Corporais da Awareness

O nosso processo biológico, expresso como movimento, sentimento, percepção e produção de padrões de significado forma o nosso campo de experienciação que é chamado de conhecimento. A nossa percepção da nossa própria atividade de vida é o que chamamos de conhecimento, ou seja, conhecemos a nós mesmos à medida que nossa excitação surge, nas formas de ação e sentimento, expectativa e desejo.

Sendo assim, existem dois fenômenos heroicos e da maior importância que ocorrem conosco em todos os dias de nossas vidas, o primeiro é levantar de manhã e o segundo, ir dormir a noite. Este estar de pé instável e altamente responsivo é a expressão contemporânea do drama da evolução.

Com isso, os ancestrais do homem, que primeiro criaram os movimentos pulsatórios de natação em forma de onda, em seguida, a natação com quatro patas sobre a terra no chão, eram mais seguros nos seus padrões de locomoção, foi quando o homem se levantou que a sua relação com a terra se tornou insegura, e este estado de insegurança e instabilidade fundou a consciência humana. Ela é entendida como parte de um processo energético que tem uma pausa, uma suspensão da ação pela fração de um segundo, durante a qual formamos o nosso próximo movimento.

Deste modo, não encontramos o mundo apenas com os olhos e o nariz, mas com toda a parte da frente de nosso corpo, a nossa frente é uma extensa superfície de contato e conexões, é o que apresentamos para o mundo. Poderíamos dizer que a frente do nosso corpo é uma extensão da superfície do nosso cérebro, ou então que o nosso cérebro estende-se a si mesmo em forma de pele, músculo, órgãos e nervos, que aprofundam nossas conexões com as outras e molda novos modos de satisfação. E de qualquer forma, fomos todos tão duramente condicionados a provar a nós mesmos, a nos fazer corretos, mas não estamos mais na escola, fique de pé e seja você mesmo.

c) Grounding e Corporalidade

Grounding é uma expressão da nossa vida planetária, ele conecta o nosso processo excitatório ao processo terrestre, formando a ambos, exatamente como o enraizamento de uma árvore, a nossa capacidade de enraizamento canaliza o fluxo da excitação de nós para o ambiente e do ambiente para nós. O enraizamento cresce a partir do nascer, cresceu por vir ao mundo com um corpo, plantamos a nós mesmos no mundo, nosso funcionamento natural gera raízes de um lado e folhas e galhos, relações sociais do outro.

Com este entendimento, é possível compreender que o modo como vivemos nossos corpos é a história do nosso processo. A nossa excitação tende a criar limites ou uma capsula para corporificar-se a si mesma, este é o desenvolvimento da organização que percebemos como nós. Sendo assim, uma contração não precisa ser uma cãibra muscular crônica, pode ser um conjunto temporário de decisões pessoais, o processo formativo requer que você estabeleça limites e forme a si mesmo, e depois suavize seus limites e forme ou reforme a si mesmo.

d) Vibração, Pulsação e Correntes

Existem três estados de vitalidade, a vibração, pulsação e correntes, sendo que cada estado possui qualidades distintas e diretamente observáveis, embora cada um se transforme gradativamente no outro. Nossos corpos apresentam todos os três estados, e estes estados, são funções naturais do protoplasma, das células e dos órgãos, funções naturais que podem ser vistas sob microscópio. Elas também podem ser experienciadas subjetivamente como qualidades do sentimento. Quando as pulsações ocorrem rapidamente e em série, você tem uma corrente, ou seja, uma corrente é uma continuidade de pulsação, uma corrente de excitação rítmica que se mantém numa direção particular e numa forma especificadamente organizada.

Suponha que estamos num salão de danças, vemos indivíduos com as suas próprias auras de vitalidade, o salão de danças é um mar de excitação. A música começa a tocar e a intensidade aumenta, as pessoas fazem gestos umas com relação às outras, elas começam a dançar, e esses movimentos de dança começam a interagir de tal forma que vendo de fora, sentimos ondas de excitação varrendo a pista de dança. Sentimos as pulsações recorrentes da dança.

Desta forma, a nossa individualidade é o nosso ritmo pessoal de pulsar. Nossa relação com a gravidade, nosso diálogo de recuo e avanço conosco e com os outros, nossos padrões de respiração, de ação, nossos sonhos e amores, as qualidades dos nossos tecidos e órgãos são afirmações de nossa individualidade pulsátil.

e) O Processo Formativo

O milagre e o mistério de minha vida é que me organizo e me formo, chamo a isso meu processo formativo. A medida que vivo minha vida, os eventos mais importantes me formam para ser outro alguém, chamo esses pontos altos do meu processo formativo de viradas, cada virada, cada curva do circuito formativo encerra em três fases: pré-pessoal, pessoal e pós-pessoal.

Na fase pré-pessoal, minha excitação encontra-se indiferenciada. Na fase pessoal, ela se torna contida, minha individualidade e personalidade emergem. Na fase pós-pessoal, libero meus limites expressando a mim mesmo, ao fazê-lo crio um self, um campo de realidade.

Desta forma, quando uma criança nasce, deixa um mundo pré-pessoal e se transforma numa pessoa. Quando uma pessoa deixa o mundo da adolescência pelo mundo adulto, sua adolescência desmancha-se na impessoalidade e a condição adulta torna-se pessoal. Quando morre, deixa seu mundo pessoal e vive nas lembranças dos outros, o seu mundo é pós-pessoal.

No processo de formação da minha singularidade, também posso formar ansiedade, por causa do risco de não ser capaz de me formar de novo. Ansiedade é o meu sentimento quando a continuidade do meu processo formativo sofre ameaças ou interferências. Nosso processo formativo relaciona-se com a nossa morte como com a nossa vida. Pode-se morrer em qualquer uma das etapas formativas.

f) Atitudes e Processo Formativo

Geralmente pensamos numa atitude como um conjunto mental. Uma atitude é um conjunto corporal. Nossas atitudes são a moldura da nossa forma. Ou seja, padrões atitudinais existem em números ilimitados e sua interação é simultânea e complexa, atitudes têm componentes musculares, emocionais e mentais, sendo assim, os padrões da nossa excitação se manifestam como ação, sentimentos e pensamentos. Desta forma, as atitudes formam o pano de fundo do caráter.

E quando estamos excitados e nossa excitação é aceita e apoiada, desenvolvemos atitudes que expandem nossos limites, expandimos os braços, o torso, o coração se abre, sentimo-nos expansivos e acreditamos que o mundo é amistoso, que ele nos incluiu.

Há dois tipos distintos de atitude, um deles está voltado para a satisfação, o outro, para a frustração, tanto uma quanto a outra atitude, procuram atender a necessidades instintivas e sociais e se manifestam nos sentimentos, nos pensamentos e ações.

Se uma pessoa estiver paralisada numa excitação sexual frustrada, o truque é levá-la, corporalmente, a re-experienciar o estado de susto que deu origem ao seu conflito, o padrão de susto é a atitude essencial que precisa ser focada, então a pessoa pode começar a re-experienciar e reformar aquilo que costumava ser terrificante ou tabu.

Já, a experiência da desorganização formativa é um evento bem diferente, pois ao aprender a soltar uma atitude que segurei por longo tempo, posso sentir um certo desamparo, posso sentir dor e desconforto mental, posso experienciar estranheza, mas também sinto o fluxo excitatório reorganizando a mim mesmo.

Desta forma, o processo para dissolver atitudes e re-formá-las é um processo de aprendizagem por experienciação, se eu vinha mantendo meu maxilar endurecido e meus ombros levantados, experiencio o sentimento de informar e reformar a mim mesmo à medida que quebro essas atitudes. Aprendo as formas dos velhos padrões de frustração e aprendo as formas dos novos padrões de auto-satisfação.

g) Forma e Caráter

O corpo não pode mentir, é incapaz de mentir, somente o que sai da boca pode mentir, o corpo nunca mente. Pensando nisso, a minha forma corporal, meu sentimento corporal particular é testemunha do meu caráter particular, meu modo particular de me comportar, tanto psicológica quanto física, ou seja, quem eu sou tem uma qualidade que permeia cada aspecto da minha existência e me torna reconhecível.
É importante saber não apenas o que você faz, mas como faz, pois a formação do caráter está enraizada no mesmo processo em aberto que nos forma enquanto corpos.

O autor recorda de uma situação de grupo na qual estava, um dos participantes, uma mulher de cinqüenta e cinco ou sessenta anos, tinha um caráter de uma queixosa, ela se queixava que não era capaz de finalizar nada, de que ela nunca se sentia satisfeita, seu corpo era curvado e tinha uma experiência amarga.

h) Identidade e Processo Formativo

A moldagem da nossa própria experiência é a nossa própria identidade. Assim, a singularidade que possuímos, nós animais humanos, é que somos um processo em aberto, nossas experiências nos oferecem continuamente possibilidades novas de formar relacionamentos sem precedentes com os outros e com o nosso ambiente, essa condição aberta é intrínseca ao nosso desenvolvimento humano.

Desta forma, quando podemos experienciar a formação dos nossos corpos com prazer, descobrimos a nossa própria identidade.

Um papel serve a dois propósitos, serve para me dar uma moldagem, o tipo de identidade através da qual o mundo pode me categorizar e me julgar, e também serve para dar um sentido de continuidade interior e auto-reconhecimento, a partir do qual eu possa agir.

Qualquer que seja a nossa idade, todos temos medos de ser inúteis, de não ter um papel útil para preencher, uma identidade útil para conservar, portanto, quando seleciono meu papel, me sinto limitado a ele porque estou com medo de, sem ele, vir a perder as minhas conexões comigo mesmo e com os outros.

Sendo assim, não há família, comunidade agrícola, nação industrial sem criação de papéis, mas nós imitamos um papel, auto-imagens, por outro lado, surgem do nosso processo individual de viver, nossa vitalidade singular desencadeia cada uma das nossas auto-imagens, cada auto-imagem reflete nossa autoformação singular.

Por exemplo, podemos dizer “te amo”, mas podemos comunicar uma experiência muito diferente, dizendo-o com mãos insensíveis e inflexíveis, com corpos rejeitadores, a criança então sente: “não sou amado, há algo errado comigo”. E nascem os papéis de vitima e culpabilizador em vez do papel daquele que é amado.

É possível então dizer que, o corpo vivido que sente e sonha sempre está formando uma imagem. Quando tiramos todos os papéis, de médico, advogado... nossa experiência biológica nos dá uma visão pessoal de continuidade e conexão. Esta é nossa imagem viva, ao nos identificarmos com ela e ao mantermos contato com a nossa experiência corporal como fonte da nossa auto-referencia, desenvolvemos uma segurança, uma sonoridade, uma lealdade e um prazer na formação de nossas vidas.

i) Autoformação através da negação

A autoformação pode ser articulada pelas contrações musculares crônicas, que tendem a deformar nossos pensamentos e emoções, assim como a graciosidade de nossos corpos.

Deste modo, uma contração muscular tem valor positivo desde que esteja a serviço de uma defesa pessoal de curta duração, contrair é a nossa maneira corporal de dizer não à interação plena, conosco e com os outros. Sendo assim, usamos nossa habilidade de autocontração demasiadamente, em grande parte porque nos dá um sentimento de poder.

Ainda assim, não é suficiente simplesmente parar de me negar. Também preciso começar a aprender como me afirmar, esta não é uma aprendizagem cerebral, é uma aprendizagem que se dá em todos os tecidos, órgãos e fibras da minha carne, aprendo com o meu corpo a me encher com a minha excitação, a conter minhas correntes, meus sentimentos, meus pensamentos e percepções, e essa é a força da minha vida.

j) A Decisão de Formar o Próprio Chão

Quando as pessoas me procuram para ajudá-las, quer individualmente ou em grupos, habitualmente peço que fiquem parcialmente despidas, para que ambos possam ver a maior parte possível de seu corpo sem invadir sua privacidade. Na maioria das vezes, elas apresentam um problema de vida e tentamos articular a natureza de sua situação de vida com a forma e o movimento de seus corpos.

Então, Fred foi voluntário como sujeito a ser diagnosticado. Fred era alto, de ossos grandes e se postava de modo rígido. Parecia um garoto que tivesse feito body-building para se fazer um homem, um garoto que tentava parecer maior e mais valente do que realmente era. Sua expressão facial era a de uma estátua, como uma máscara, dura feito pedra, não reveladora. Ela ondulava sobre os pés como uma bandeira ao vento, muito pouco a vontade, muito desconfortável como estar ali. Para o autor, ele demonstrava três características distintas: sua infantilidade, seu traço inflado e sua rigidez. Estava interessado em descobrir como essas características corporais definiam as situações de vida pelas quais passara.

k) O Corpo Inalterável

Muitos dizem que o corpo não muda, só envelhece. Muitos sentem que não podem mudar, outros sentem que não sabem como mudar, outros ainda, se recusam a mudar. A falta de habilidade ou de disponibilidade para mudar permite que uma multiplicidade de possibilidades não sejam vividas.

Roberta pertencia a um grupo de pessoas tentando descobrir como seus desejos não vividos se inter-relacionavam com seu medo da morte.

Desta forma, a moça tinha cerca de 1,70m, cabelos negros e aprumo. Seus ossos eram de tamanho moderado e tinha um bom tônus muscular. Tendia a ter os ombros curvos, com contrações no peito e na garganta, e fazia beicinho permanentemente. O beicinho era um testemunho da sua auto-indulgência, enquanto sua contração indicava o seu desejo diminuído de amar e ser amada. Apresentava uma qualidade de dureza em tudo que fazia.

2. a) Alternativas para a Introspecção

Muito do processo formativo se dá à margem da nossa percepção. Penso em mim de um modo, depois descubro que sou algo bem diferente, e isto acontece quer eu esteja ou não consciente de minha autoformação, quer eu participe ou não intencionalmente para me tornar alguém ou não. Mesmo quando estou ativamente envolvido em dar uma forma para mim mesmo, posso repentinamente me aperceber que, Ei, me formei! Eu sou eu! Sou a expressão singular do todo da minha vida, a qualidade específica que emergiu e se estabeleceu como eu mesmo.

Eu encorajo a expressão. Encorajo as pessoas a deixarem falar o seu processo excitatório, peço a elas que sintam o que emerge quando se tocam e quando as toco, peço que sintam sua respiração como ela é e depois, ás vezes que diminuam ou aumentem seu ritmo. Há certas pessoas, peço que ajam agressivamente, que batam os pés, golpeiam, sacudam, chutem, gritem para que possam observar sua raiva e decidir se a suportarão ou se livrarão dela. Em suma, peço às pessoas que experimentem novas formas, assumam seus corpos e usem a si mesmas de maneiras inusitadas.

E, portanto, o trabalho do autor busca dar início a uma serie de experiências incomuns, que capacitarão aquela pessoa a ensinar a si mesma sua excitação e seus ritmos, experiências que a capacitarão a sentir e perceber como se contém e se expande, como se relaciona com o conhecido e desconhecido, como estabelece limites e abre mão deles, como solta uma velha forma e cria uma nova.

b) Experienciar

A experiência expressa diretamente três aspectos do nosso processo formativos: 1) a qualidade de excitação que somos capazes de conter e soltar, 2) as qualidades desta excitação (dura ou suave, fraca ou forte), e 3) o ritmo da nossa excitação (seus fluxos e refluxos, contração e expansão).

A corporificação da excitação nos torna experienciadores conscientes de nós mesmos. A contenção estimula nosso desenvolvimento como experienciadores, nas nossas fases não delimitadas, não somos os experienciadores, somos a experiência. Não percebemos, somos. Não há um self reflexivo.

Com isso em vista, há o envolvimento imediato, depois, a diminuição da conexão e, então, a re-forma da conexão. Isto é a continuidade pulsatória do nosso processo formativo, em que avançamos sobre o ambiente e recuamos. Embebemo-nos do nosso ambiente, depois nos separamos, assimilamos e refletimos sobre o que aconteceu. Este é o modo como nos alimentamos, o modo como aprofundamos e ampliamos o nosso experienciar.

c) Imagens e Autoformação

O desejo de saber é desejo de poder, de modo a que não sejamos vítimas da natureza ou das nossas circunstancias internas ou externas. Quando sabemos, somos capazes de predizer, manipular e repetir, mas isto é performance, não é experienciação ou expressão, é progresso, não é processo. O alvo é o poder, não o prazer, o controle, não a cooperação, a dominação, não a satisfação. Formar-se, crescer, requer compromisso emocional. Requer uma expressividade em contínua maturação, um estilo de vida que insista na agradabilidade do viver em vez do poder.

Assim, há um diferença entre saber quem somos e formar quem somos. Ou seja, crescer é mudar a forma do seu viver, nunca é tarde para crescer, para preencher-se com a sua própria vida.

Quando me libero indiscriminamente, estou procurando me livrar de algo desagradável. Não estabeleço um compromisso finito, simplesmente abro mão da energia da minha autoformação, e isto é uma expressão de desprezo por si mesmo e de medo.

Sendo assim, experiência e expressão formam meu self, exatamente como formo meu mundo.

d) Expressão

Compreender é ser intimo de. Esta compreensão nasceu da expressão. Confundi-la com reunião de dados é perder nosso self vivo, no começo havia vida, não conhecimento, o conhecimento é colhido, abstraído depois do evento, não é crescimento da fruta.

Se eu estiver sempre atento a mim mesmo, me constrinjo. Mantenho a excitação longe da sua expressão, longe de poder envolver-se, mantendo-a no estagio de contenção, que encapsula e intensifica a minha experiência de acontecimentos passados.

Sendo assim, o processo formativo tem três fases: a expansão, contensão e expressão. Primeiro peço a pessoa que amplie de alguma forma a extensão dos seus movimentos. Então, para que não se empolgue pela atividade escolhida, peço a ela para lentificar, conter e saborear sua forma emergente. Finalmente, peço que se expresse novamente, desta vez integrando seus novos sentimentos e percepções às suas ações.

Nascemos respiradores que formam seus próprios modos de respirar. Uma pessoa age de maneira submissa diminuía a amplitude de sua respiração, uma pessoa histérica expande sua respiração excessivamente, a ponto de ofegar. Assim, a respiração facilita o choro, as pessoas choram não só pela catarse, choram de alegria, por terem feito uma conexão com mais delas mesmas.

A medida que nos tornamos capazes de chorar, nossos corpos se tornam mais capazes de nos expressar, ou seja, o choro é a mãe de todas as expressões emocionais, uivos de raiva, lamentos de tristeza, suspiros de ternura, gemidos de fome, gritos de alegria. Quem nunca chora garante que sua rigidez não se dissolva, que nunca será impressionável o suficiente para se reformar.

e) Impulsos

Cada um de nós é um mar de necessidades, um contínuo de impulsos que tendemos a ritualizar e tornar mais ou menos impotentes. E a menos que encontremos formas de obstruir nossas rotinas, nos tornamos robôs. A obstrução abala nosso equilíbrio, nos separa de nossa acomodação, nos faz sair do mundo do comportamento rotinizado. O desafio aos nossos limites pede respostas, impulsos novos.

Os impulsos estão sempre nos atiçando como pequenas pontas de lança, mensageiros de prazer potencial. Mas a maioria de nós precisa de crises para ser sacudido fora das vidas estabilizadas. E assim é necessário agora como antes, que outros obstruam nossos limites até que aprendamos que nossos próprios desejos, nossos próprios anseios façam isso por nós. Eles desmancham a nossa forma e nos re-forma.

f) Revelações

Neste capítulo, o autor expõe em detalhes o caso de duas pessoas.

g) Contração e Expansão

Neste capítulo, o autor expõe a história de Harry. O mesmo o procura com contrações graves, preso a uma existência estreita, em que havia pouco espaço para a satisfação de se expandir e crescer. Sua vida era uma linha reta de frustrações.

Começando a trabalhar nas suas atitudes, corporais contraídas, que davam forma a sua existência interior e exterior, como ele sentia e pensava, como se movia e se comportava. A medida que Harry aprendeu a abrir mão do seu estado contraído, ele se deixou expandir, restabelecendo o processo de expansão e contração que formaram um novo corpo, um novo alguém.

h) Expandindo nosso Self

Quando nosso corpo perde seu sentimento de si, perdemos nossa conexão com nós mesmos e com os outros, e então procuramos algo em que acreditar. Quando comecei a desafiar minhas afirmações, idéias e crenças, tanto cognitiva quanto muscularmente, comecei a experienciar uma dimensão expandida da minha vida. Comecei a compreender que a minha experiência e minha expressão eram a minha verdade, que a minha maneira de formar o meu self era minha vida. A auto-expansão é excitante e se torna mais excitante à medida que me impulsiona em direção à individuação.

Quando vivemos nossas próprias vidas, tomamos posse da nossa possibilidade inata de expansão e a usamos para moldar sentimento, prazer e satisfação, em vez de idéias e crenças. Passamos nossa vida nos tornando alguém em vez de mantendo uma imagem.

A experiência expandida é um estado de vitalidade em que o coração revoga a cabeça, chamamos a isto amor. A expressão dos próprios sentimentos forma a relação de amor, pois amar é desfazer-se dos papéis, estar presente de modo ampliado, jogamos fora os modelos familiares e tomamos uma nova forma.

Desta forma, o amor flui intensamente, começa com as correntes do próprio corpo, as correntes pessoais nos preenchem com tanto sentimento que ele ultrapassa os limites pessoais e amplia nossa conexão com outras pessoas. Nossas correntes são nosso campo biológico, o campo da nossa vida corporificada, experienciar nossas correntes é a experiência espiritual, viver nossas correntes, participar na formação das nossas vidas é o grande mistério e a alegria da existência.

Assim, a coisa mais importante que podemos fazer por nós mesmos é confiar no corpo que nos forma como um certo corpo.

i) Minha Visão

Uso a metáfora corporal como o macaco usa as barras, para saltar entre as diferentes faces da minha existência, há o aspecto da minha existência em que vejo você e falo com você, onde os objetos são reconhecidos de acordo com um consenso. E a seguir há outro aspecto da minha existência no qual não posso entrar automaticamente, chego ao ponto em que não posso levar meu pensamento adiante. Neste ponto, minhas intuições lampejam na superfície e as pulsações e sentimentos se intensificam.

O interior do meu corpo é um mundo de sentido potencial, um mundo de não-separação, sem tempo e sem fim, é vital e agradável, mergulho dentro dele, depois me retraio e reflito sobre a experiência da minha imersão.

Sendo assim, o meu estar vivo, minha formatividade, surgem do oceano vivo em que nadam as nossas células. A experiência deste mar excitatorio é que dá nascimento a minha visão.

Com tudo, seu próprio símbolo pode vir a você num sonho, num desvaneio, ou enquanto você está fazendo amor, ele volta de novo, é seu amigo, e revela a você o modo como você se conecta com o universo e com os outros, é impessoal, mas você o torna pessoal.

j) Apêndice – Dois Modos de Formar Enraizamento

Falando em geral, na nossa cultura, o último vestígio de contato físico íntimo entre pais e filhos ocorre quando a mãe passa talco nas nádegas enquanto troca as fraldas. Depois vem o treino de higiene e a vergonha. Construímos um sistema social de recompensas em torno da idéia de controle.

Não há nada de errado em se aprender o controle, não há nada de errado em ter a capacidade de nos controlarmos, mas sim, quando não podemos parar de nos controlar. Não conseguimos voltar ao oceano do sentimento, não estamos mais presentes com nossa sensibilidade, e o controle torna-se aquela coisa única que nos faz sentir poderosos. Aquela parte de nós que nos controla, que observa, analisa, critica, é responsável por não nos sentirmos enraizados, conectados.

Nosso processo formativo acompanha o modo como dizemos não. Nosso não depende da energia do corpo para viver, se nos conectarmos com as nossas sensações e sentimentos, descobriremos que o nosso controlador está enraizado no nosso prazer, que ele participa do nosso prazer. Então ele não será mais controlador, de modo algum. Ele se tornará uma ferramenta para melhorar o nosso prazer e autodesenvolvimento, em vez de nos criticar e restringir.

Apreciação pessoal sobre o livro

O livro mostra ao leitor de forma clara o quanto o corpo não é apenas um objeto no espaço, mas também informativo. Revela como entender a linguagem do corpo, ou seja, de que forma a postura, a fisionomia e o emocional estão interligados e dizem a respeito das pessoas. Promove uma compreensão mais profunda e um contato mais intimo consigo mesmo. Com isso, possibilitará ter consciência sobre seu padrão de funcionamento, agindo sobre suas aprendizagens e favorecendo para a formação de um novo corpo, um novo alguém consciente de suas escolhas.

Nome do autor da resenha e data: Elenir Cardoso - novembro de 2015.