Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

Nome do Livro:

O drama da criança bem dotada

Autor do Livro:

Alice Miller

Editora, ano de publicação:

Summus, 1997

Relação dos capítulos

Parte I: O drama da criança bem dotada e como nos tornamos psicoterapeutas

 

Parte 2: depressão e grandiosidade: duas formas de negação

Parte 3: o círculo vicioso do desprezo

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Parte 1: o drama da criança bem dotada e como nos tornamos psicoterapeutas

Qualquer coisa é melhor do que a verdade

O esforço das pessoas para não entrarem em contato com os fatos reais da sua infância, na tentativa de não lembrarem de acontecimentos nocivos, que provocaram grande sofrimento enquanto eram crianças. E é justamente esse esforço de manter a infância longe do adulto, que pode provocar graves distúrbios de ordem psicológica. Quanto mais um adulto nega sua infância, mais fica a mercê desta, tendo sua vida determinada por tudo àquilo que permanece mal-resolvido, que está reprimido, e que interfere ativamente na sua vida do presente.

Pobre criança rica

Como adultos que tiveram uma infância aparentemente boa, e que quando questionados, afirmam que tiverem uma infância feliz e protegida, mas que não conseguem enxergar que além dessa sensação de uma infância feliz, existiu uma criança que desde muito cedo foi aprendendo a perceber e sentir o que os seus cuidadores estavam precisando ou o que faltava para eles. São crianças que aprenderam a ignorar o seu mundo afetivo e a se preocuparam com o mundo afetivo dos seus pais.

O mundo perdido dos sentimentos

Quando a criança não sente que pode compartilhar seus sentimentos com seus cuidadores, por não haver uma empatia para que ela possa confiar o seu mundo afetivo a essas pessoas tão importantes na vida e no seu desenvolvimento, a criança, para não perder o amor dos pais, suprime suas emoções, fazendo de conta que não sente mais raiva, ciúme, inveja, e começa a mostrar apenas o que os seus pais esperam dela, a sua calma, compreensão, alegria.

À procura do verdadeiro Self

Como numa psicoterapia, o adulto tem a possibilidade de pela primeira vez de experimentar conscientemente sentimentos vividos na sua infância e que foram recalcados por não serem permitidos dentro da relação com seus pais. E com essa vivência, vai se sentindo mais forte e coerente, pois começa a admitir que o seu corpo sinta uma gama de emoções que antes eram proibidos. O adulto se dá conta de como não foi compreendido no passado como uma criança que necessitava de pais dedicados e atentos as suas necessidades reais e de como aprendeu a também a não se compreender como um adulto e a se ignorar, culpar e negar partes do seu emocional.

A situação do psicoterapeuta

O psicoterapeuta durante a sua infância, foi uma criança que teve que desenvolver “longas antenas” da sua percepção a fim de poder sentir as necessidades dos seus pais. Teve desde muito cedo de treinar sua sensibilidade, sua capacidade empática, o que indica que foi usado, e até mesmo em alguns casos abusado, por pessoas com necessidades narcisísticas. Isso significa que esse terapeuta enquanto criança, foi compelido a gratificar as necessidades inconscientes de seus pais a custa de sua própria autorealização.

O cérebro dourado

Um conto que reflete sobre como muitas crianças precisam pagar caro pelo amor que recebem e que enquanto adultas continuam a pagar por esse amor, e muitas vezes, acabam pagando um preço alto demais e terminam adoecendo por isso.

Parte 2: depressão e grandiosidade: duas formas de negação

Destinos das necessidades infantis

O que o bebê encontrará na sua mãe: um ser para se espelhar ou um conjunto de expectativas esperando para serem efetivadas no pequeno recém-nascido.

O desenvolvimento saudável

É fundamental para um recém-nascido se desenvolver de forma saudável ter a sua disposição uma mãe que se permita ser usada por ele, que esteja disponível e que esteja presente, junto ao seu filho e não distante, para com isso, possa estabelecer contato visual e de pele (bonding).

O distúrbio

Quando a mãe procura usar a criança para mitigar suas carências e o filho acaba se desenvolvendo para agradar e contemplar tais necessidades de sua mãe, a revelia das suas próprias necessidades como criança.

A ilusão do amor

A depressão e a grandiosidade como sinais de tragédias que aconteceram na infância do adulto mas que se encontram reprimidos na sua história.

A grandiosidade como auto-negação

Pessoas que necessitam ser constantemente admiradas para se sentirem bem, saudáveis, potentes, e que insistem em expressar suas capacidades e suas realizações. E quanto atrás dessa grandiosidade se esconde um mundo de inseguranças e uma necessidade de atenção.

A depressão como o reverso da grandiosidade

A depressão não é algo sem conexão com a grandiosidade, mas o outro lado da moeda, no sentido que a perda da grandiosidade faz o adulto encontrar a profunda tristeza, a sua tragédia, e ambos, grandiosidade e depressão - é o resultado direto do falso self que precisou ser criado e utilizado desde os eventos da infância.

Depressão como negação do self

A depressão como um sinal direto da negação da reações emocionais e dos sentimentos próprios, no momento que a criança precisou aprender que o único sentindo da sua vida era fazer seus cuidadores felizes, abdicando das sua próprias necessidades.

Fase depressiva durante a terapia

Uma pessoa grandiosa apenas irá procurar a ajuda de uma terapia quando se sentir depressiva.

Função Sinalizadora

Quando uma pessoa consegue expressar fortes sentimentos enquanto se queixava de uma depressão e após isso, sente-se mais aliviada.

Atropelar-se

Quando em estado de melhora resolve criar situações que acabam criando novamente um cansaço extra que volta a levar a um estado depressivo.

Acumulação de emoções fortes

Fase depressiva quando segura fortes emoções na pessoa até que ocorre uma erupção emocional.

Conflito com os pais

Quando a pessoa adulta precisa definir seus limites a partir do seu desejo e não mais pelo desejo de seus pais a ela quando era ainda uma criança.

A prisão interior

Ter o adulto a oportunidade de expressar seus sentimentos, não importando quais sejam eles, a fim de poder interromper sua depressão e voltar a ter vitalidade. Ou seja, que possa ter a vivência da dor sem precisar reprimi-la mais.

Um aspecto social da depressão

O individuo precisa se apoiar em si mesmo, nos seus verdadeiros valores de vida e não procurar se apoiar em grupos ou companheiros para negar os valores paternos, pois assim sendo ele continua apoiando-se em pessoas externas.

A lenda de narciso

Na grandiosidade a pessoa comporta-se com Narciso: apenas deseja enxergar sua parte bela, deixando seus sentimentos “errados” nas costas, longe da visão.

Parte 3: o círculo vicioso do desprezo

A humilhação da criança, o desrespeito pelo fraco, onde isso vai dar?

O desprezo é a arma dos fracos e sua defesa contra os sentimentos que fornecem pistas sobre sua história. Não é a frustração do impulso que humilha a criança, mas o desprezo de sua pessoa. O desprezo pelo menor e pelo mais fraco é a melhor defesa contra o irrompimento dos próprios sentimentos de impotência, é a expressão dessa fraqueza alienada.

O desprezo no espelho da terapia

Que o terapeuta possa não reprimir os sentimentos “indesejáveis” que sente e que despertados pelos seus pacientes. Esses sentimentos fazem parte da história oculta do paciente, que são transmitidos inconscientemente e captados pelo terapeuta.

A articulação danificada do self na compulsão de repetição

A conquista da capacidade de experienciar sentimentos livra o paciente de desejos e necessidades antigos e reprimidos.

A perpetuação do desprezo na perversão e na neurose obsessiva

Uma pessoa adulta pode estar adaptada ao seu meio e sentir-se “bem”, mas nas suas perversões e obsessões aparece um sinal claro do seu mundo emocional que ficou reprimido, uma parte de si que foi muito cedo desprezada e que precisou ser bem escondida. A perversão e a obsessão encenam sempre o mesmo espetáculo: é necessário uma mãe desapontada antes que a satisfação de um impulso seja possível. O prazer só é permitido num clima de autodesprezo.

A “depravação” no mundo infantil de Hermann Hese como exemplo de “mal” concreto

Exemplo real de uma pessoa de renome que durante a sua infância precisou minimizar seus dons e sua espontaneidade para não irritar e preocupar seus pais, que exigiam um bom comportamento, calmo e modesto.

A mãe como agente da sociedade durante o período dos primeiros anos de vida

O papel de fundamental importância que há para o futuro desenvolvimento do ser nas suas primeiras experiências com os seus cuidadores e como a coerência ou a contradição desses cuidadores terá relevância na maior ou menor sanidade emocional desse indivíduo.

A solidão daquele que despreza

A grandiosidade garante a permanência da ilusão: eu fui amado. Evitar essa tristeza, entretanto, significa, no fundo, ser o próprio desprezado. Pois tudo que não é excelente, bom ou bem-feito em mim é preciso desprezar.

Libertando-se do desprezo

Para o adulto se libertar do padrão do desprezo é necessário que ele realize uma confrontação emocional com os seus pais num diálogo interior, para que possa reviver o desprezo do passado e agora encontre formas de se proteger e expressar sua raiva ou qualquer outra emoção que até então precisou permanecer reprimida. Esse trabalho terá alcançado o objetivo quando o paciente no trabalho com a história da sua infância tiver recuperado a sua vitalidade.

Apreciação pessoal sobre o livro

Ler e “respirar” Alice Miller é antes de tudo, resgatar a sua própria sensibilidade. Sensibilidade por você, pelas suas carências, pelo seu mundo emocional, o visível e o oculto. É aprender a valorizar as pequenas coisas, e a ficar atento as mais sutis. É vencer as barreiras da negação e reconhecer na sua própria história de vida, todo o desprezo vivido, recebido e reproduzido. Foi uma leitura profunda, instigante e mágica. Um livro que marcou, e no fim das contas, acabou sendo muito mais do que apenas um livro ou uma leitura: foi uma vivência, uma profunda experiência emocional.

 

Nome do autor da resenha e data: Ricardo Luiz De Bom Maria/31 de julho de 2009.