Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

O ser terapeuta

 

Autor do Livro:

Luiz Carlos Prado

 

Editora, ano de publicação:

UFRGS, 2002.

 

Relação dos capítulos

Capítulo 1: ser terapeuta

Capítulo 2: integrando teorias e técnicas: construindo o self do terapeuta

Capítulo 3: como a família pode ajudar no alívio das “dores do coração”

Capítulo 4: radiografia do casamento

Anexo: as idéias de Gottman sobre o casamento

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Capítulo 1: ser terapeuta

Muito mais do que apenas reproduzir burocraticamente etapas para se chegar a um resultado, o terapeuta pode desempenhar seu papel de uma forma que cause uma diferença em seu cliente, e a partir dessa diferença, abre-se um caminho para a mudança. Mas para conseguir gerar essa diferença, o terapeuta precisa se permitir transitar pela sua própria afetividade, como também pelas emoções do seu cliente e se autorizar a improvisar situações a partir dos momentos que são criados na relação terapêutica.

Capítulo 2: integrando teorias e técnicas: construindo o self do terapeuta

No pós-modernismo o desafio é sair de uma postura ou-ou, e buscar um movimento a partir do pluralismo e do contextualismo, que é a idéia de que não existe uma verdade absoluta; e que nada pode ser visto isoladamente, respectivamente. Desse modo, um bom terapeuta seria aquele que se permite sair de uma postura ortodoxa e que consegue usar uma teoria que não se prende em fronteiras rígidas. Ao invés de selecionar qual é a melhor teoria, num processo seletivo, o convite atual é para a capacidade de se fazer uso daquilo que possa ser útil para o cliente, integrando-se teorias e mais do que isso, visões de mundo. Que possamos vê-las como poemas: não há o melhor, apenas qual tocou mais o meu coração. Com isso, dá a possibilidade ao terapeuta de criar, inovar, a partir daquilo que já aprendeu, se desprender de um único jeito e ousar, utilizando suas experiências a recriar junto com seus clientes novas formas de se trabalhar aspectos da terapia. 

Capítulo 3: como a família pode ajudar no alívio das “dores do coração”

Quando uma pessoa enfrenta perdas, frustrações, conflitos, tende a perder energia e a se sentir mais fragilizada e vulnerável, momento que o sistema familiar, quando funcional e saudável, pode ser muito resiliente e reparador.

Capítulo 4: radiografia do casamento

Assim como uma família, um casal não é simplesmente a somatória de pessoas. Torna-se um sistema muito mais complexo, com uma dinâmica que é influenciada por diversos fatores. Um desses fatores é o amor, que diferentemente da paixão, permite deixar o coração aberto, mas mantendo a cabeça funcionando. E isso permite que a pessoa enxergue o outro com os seus “pacotes mais e menos agradáveis”. O casamento pode ser visto como um modelo adulto de intimidade, onde uma das tarefas básicas, é conseguir aprender a acolher as diferenças do outro como um dom e não como um chamado à guerra. Isso faz muito sentindo, quando percebemos que no casamento, a linha que separa o amor da guerra é muito tênue. Um outro fator que influência muito a dinâmica do casal, é a quantidade maior ou menor de elementos não resolvidos, e potencialmente conflitantes, do seu passado, ou seja, da sua família de origem. E assim os casais vão se estruturando, com uma relação que oscilará do simétrico ao complementar, encaminhando o modo com esse casal se relacionará e irá se relacionar com o seu exterior.

Anexo: as idéias de Gottman sobre o casamento

John Gottman, pesquisador radicado nos Estados Unidos, tem se dedicado a estudar casais durante os últimos vinte anos, no sentindo de compreender como os casais funcionam. Em cima disso, traçou alguns mitos sobre o casamento, ou seja, idéias que na prática não se confirmam como se prega no senso comum:

- neurose ou problemas de personalidade destroem o casamento,

- interesses em comum mantêm o casal junto,

- evitar conflitos pode arruinar o seu casamento,

- casos extraconjugais são a primeira causa de divórcio,

- do ponto de vista biológico os homens não são feitos para o casamento,

- homens e mulheres são de planetas diferentes.

Segundo os seus estudos, percebeu que mais vale um divórcio pacífico do que um casamento em clima de guerra e de que manter um casamento por amor aos filhos tende a não ser saudável para nenhum dos envolvidos. Após desmistificar algumas crenças, traçou sete princípios para um bom casamento:

  1. Aprofundar o conhecimento mútuo: conhecer o outro é fundamental para poder amá-lo.
  2. Cultivar a afeição e a admiração: o melhor teste para saber se o sistema de afeição e admiração ainda funciona com um casal é a forma como eles vêem seu passado.  
  3. Estar voltado um para o outro (prioridade): o hábito de estar presente para o parceiro é a base da ligação emocional, do romance, da paixão e de uma vida sexual agradável.
  4. Aceitar as opiniões do parceiro: os casamentos mais felizes e estáveis são aqueles em que os cônjuges se tratam com respeito e não se opõe em dividir a autoridade e tomar decisões em conjunto.
  5. Resolver os problemas que têm solução: os conflitos conjugais podem ser de dois tipos: os solucionáveis e os permanentes. Nos casais instáveis, problemas permanentes, como o passar do tempo, destroem o relacionamento. 
  6. Superar os impasses: é quando o casal consegue passar do impasse para o diálogo.
  7. Criar significados na vida comum: o casamento não deve ser apenas criar filhos, dividir tarefas e fazer amor, mas poder ter uma outra dimensão que signifique criar e compartilhar algo a mais juntos.

 

Gottman também traçou as áreas mais comuns de conflitos conjugais que são o estresse no trabalho, relacionamento com parentes afins, dinheiro, sexo, afazeres domésticos e relacionamento com filhos. Em seus estudos com mais de 130 casais, também buscou realizar um prognóstico do divórcio, que dividiu em seis sinais:

  1. Abordagem ríspida: quando uma discussão é conduzida com crítica e/ou sarcasmo.
  2. Os quatro cavaleiros: crítica, desrespeito, defensividade e incomunicabilidade.
  3. Saturação: quando o parceiro foi atingido pela negatividade do outro.
  4. Linguagem corporal: alterações no corpo, como ritmo cardíaco, nos conflitos.
  5. Tentativas de reparação sem sucesso: quando as tentativas de sair do buraco dão erradas consecutivamente.
  6. Recordações desagradáveis: quando o passado só traz fatos negativos.

 

E por fim, segundo o autor, quando um casal se dá conta de que possuem uma percepção de que os seus problemas são sérios e que discuti-los parece inútil, acabam levando uma vida paralela que contribui para que a solidão se instale. Nesse ponto, o fim do casamento se anuncia.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Uma leitura leve e fácil que promove reflexões interessantes sobre temas atuais e que mobilizam muitas pessoas, seja como indivíduos, casais ou famílias. Traz de modo objetivo dados para auxiliar a compreensão de fatos que circulam dentro do ambiente terapêutico.

 

Nome do autor da resenha e data: : Ricardo Luiz De Bom Maria- 18 de setembro de 2009.