Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

O corpo e seus símbolos

 

Autor do Livro:

Jean -Yves Leloup

 

Editora, ano de publicação:

Editora Vozes, 1998

 

Relação dos capítulos

Cap. 1 - O Corpo e os Estados de Consciência

Cap. 2 - Os Pés

Cap. 3 - Os Tornozelos

Cap. 4 - Os Joelhos

Cap. 5 - As Pernas e a Região sagrada

Cap. 6 - Os Genitais

Cap. 7 - O Ventre

Cap. 8 - A Coluna Vertebral

Cap. 9 - A Medula dos Nossos Ossos

Cap. 10 - O Coração e os Pulmões

Cap. 11 - O Pescoço

Cap. 12 - As Mãos

Cap. 13 - A Cabeça

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Cap. 1

O CORPO E OS ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

Alguns já disseram que o corpo não mente. Mais que isso, ele conta muitas histórias e em cada uma delas há um sentido a descobrir. O corpo é nossa memória mais arcaica. Nele, nada é esquecido. Cada acontecimento vivido, particularmente na primeira infância e também na vida adulta, deixa no corpo sua marca profunda.

Este trabalho é um convite ao resgate de toda a flexibilidade de nossas articulações do corpo às articulações psíquicas e da inteligência humana. É uma jornada consciencial, da planta dos pés, subindo pela Árvore da vida da coluna à multifacetada face da cabeça. Da leitura física à psíquica. Trata-se de olhar para a realidade através de todos os seus lados, ângulos e recantos.

Os símbolos do corpo são o visível que aponta para o invisível, o trampolim para o mergulho no desconhecido. É preciso escutar nosso corpo, conhecê-lo melhor e respeitá-lo. Ele nos remete ao mais profundo de nós mesmos puxando lá de dentro a esperança. Curar-nos para curar o mundo, começando pelos que estão bem perto de nós. E é apenas o começo, porque a escuta do corpo é infinita. É muito pessoal e particular com a finalidade de descomplicar, de tornar a vida mais simples e mais feliz.

Cap. 2

OS PÉS

Observemos como estamos sobre nosso pés, verificando se eles são locais de problemas para nós. Se recebemos ferimentos ou golpes nesta parte do corpo, em qual momento, em qual circunstância. E que marcas físicas, que fragilidades, estes ferimentos deixaram em nosso corpo. O cheiro dos nossos pés é agradável ou desagradável? Vocês sabem que há crianças que adoram seus pés. E certas mães adoram comer os pés de seus filhinhos. Cada um tem relações bem diferentes com o gosto, o cheiro e a sensação dos pés. Será que sentimos prazer em estarmos sobre a terra? Ou não experimentamos nenhum prazer? Esta é uma pergunta a fazer aos nossos pés.

Em um segundo momento, será preciso nos interrogar sobre o desejo que nos chamou a existência. Será que fomos desejados? Quais foram as expectativas a nosso respeito? Qual é o nosso desejo em relação a um filho? Por que queremos colocar filhos no mundo? Por que não queremos colocá-los? Estas são questões com as quais interrogamos nossas raízes. De onde venho? Como me sinto sobre a terra? Sinto-me amado pela vida? É difícil para mim ter os pés sobre a terra?

O Evangelho diz que Jesus lavou os pés dos seus discípulos. De um ponto de vista simbólico, lavar os pés de alguém é devolver-lhe sua capacidade de prazer, é recolocá-lo de pé. Não é apenas um gesto de humildade, mas é também um gesto de cura e amor. Porque não se pode amar alguém e olhá-lo de cima. E também não se trata de olhá-lo de baixo para cima, sendo-lhe submisso. Trata-se de colocar a seus pés para ajudá-lo a reerguer-se.

Os pés têm a forma de uma semente. Temos em nosso corpo três estruturas em forma de semente: os pés, os rins e as orelhas. E existe uma conexão entre eles. Os pés escutam a terra e nos enraizam na matéria. Os rins estão à escuta das nossas mensagens interiores. Os rins são um grande filtro que retira do sangue muitas impurezas e existem em nosso corpo coisas difíceis de serem assimiladas e filtradas. Quanto às orelhas, elas estão lá para aprender a escutar os dizeres, as informações que, a partir dessa semente, podem fazer uma flor e dessa flor um fruto. Todas as partes de nós mesmos estão vindo - a - ser.

Se as raízes são sadias, toda árvore é sadia. Algumas vezes somos jardineiros, muito atentos à flor e ao fruto, mas esquecemos as raízes, esquecemos os pés. E, portanto, é por lá talvez que deveremos começar nossos cuidados.

Cap. 3

OS TORNOZELOS

O tornozelo é importante por ser a primeira articulação e todas as demais articulações são importantes porque delas dependem a harmonia e a livre circulação da energia entre as diferentes partes do nosso corpo. Observe se esta articulação esteve sempre bem ou mal, em sua rigidez ou flexibilidade. Podemos rememorar o momento do nascimento. Porque este momento é também um momento de articulação entre a vida intra-uterina e a extra-uterina. Alguns de nós conheceram dificuldades neste elo que une a vida fetal com a vida no espaço-tempo, no mundo exterior. E nosso corpo guardou a memória desta dificuldade deixando uma fragilidade na articulação do tornozelo.

Falamos da pessoa que não foi desejada. Ela consegue se manter em pé, mas terá dificuldades em dar um passo a mais, em avançar, em andar. Algumas vezes este medo de dar um passo a mais tem suas raízes na hora do nascimento. É que este passo a mais para sair do útero foi difícil e traumático.

Cap. 4

OS JOELHOS

Estamos diante de outra articulação. Observe todas as suas faces: interna, externa, frente e costas. Lembre se ele funciona bem ou mal, se é comumente doloroso, flexível ou rígido.

Alguém que tenha os joelhos rígidos pode ter, em conseqüência, problemas em sua coluna vertebral e em seus rins. Quando carregamos um peso muito grande, as conseqüências se farão diretamente sobre os rins, sobre nossa coluna lombar. É muito comum dizermos que ficamos com os joelhos bambos, ou moles quando recebemos uma notícia inusitada. É preciso que tenhamos os joelhos flexíveis, pois caso contrário, esta notícia pode nos esmagar.

Agora lembraremos dos momentos em que estivemos sobre os joelhos de alguém. Esses momentos podem ter ocorrido há muito tempo ou recentemente. Foram eles agradáveis ou desagradáveis? Por outro lado amamos ter alguém sobre os joelhos? Este gesto de intimidade nos é familiar? Ou não faz parte de nossos hábitos?

Pensaremos nas relações com nossos pais. Tínhamos mais prazer de sentar no colo de nosso pai ou de nossa mãe? Alguns jamais foram colocados nos joelhos, jamais foram colocados no colo.

Então poderemos colocar os joelhos em relação ao peito, com os seios. Esta região nos é agradável ou desagradável? Que relação temos com nosso peito? Estabelecemos uma relação com a fase oral, deste período em que a criança está sobre os joelhos de seu pai, de sua mãe, de um amigo. Assim, ao mesmo tempo em que pensamos nos joelhos, fazemos um resgate das lembranças ligadas a nossa boca, a nossa oralidade. Observem como as pessoas comem como se mamassem e que outras se mostram mais vorazes, e há, ainda, as patologias como a bulimia e a anorexia.

A bulimia é um sofrimento real. Bulimia deriva do grego e significa "comer um boi". É um distúrbio do comportamento caracterizado pelo ciclo: alimentação excessiva e depois indução ao vômito.Expressa uma falta profunda que procura ser preenchida pelo excesso de alimento. Em alguns casos, faltou o seio da mãe ou não são boas as memórias do período do desmame ou da relação com o seio materno.

Na anorexia, a pessoa restringe voluntariamente a ingestão de alimentos, mesmo na presença da fome, a fim de atingir um grande emagrecimento. Também pode estar ligada a época do desmame. Há crianças que nascem já recusando o seio da mãe, porque já existe uma história intra-uterina. A pessoa não tem mais gosto nem apetite pela vida. Os antigos propunham para os anoréxicos que eles comessem uma palavra a cada refeição. Por exemplo, durante o almoço, mastigar, mascar a palavra luz. No jantar escolher outra palavra. É preciso que haja mastigação, salivação. Outras podem ser auxiliadas pelo canto. O fato de reaprender a cantar mesmo baixinho, a se nutrir da respiração e a se nutrir de palavras pode despertar o apetite pela vida.

A vida adulta guarda as impressões deste momento da nossa existência porque a criança sempre está presente em algum lugar de nós mesmos.

Assim ser filho significa estar no colo, sobre os joelhos. E de uma certa maneira, quem não teve colo, também não tiveram esta bênção de seus pais, mas podem encontrá-la sobre os joelhos de uma outra pessoa. E nós também podemos dar colo para uma outra pessoa. Temos necessidade de dar e receber esta confirmação afetiva.

Colocar o rosto entre os joelhos é uma postura de prece, é pedir uma bênção. Algumas vezes em nossa vida, este gesto pode nos ajudar. Quando não temos palavras ou frases para rezar, para dizer de nossa angústia. É voltar a ser filho, bem amado de Deus.

O caminho é reconhecermos e aceitarmos esta parte de nosso corpo e viver bem com ela, carregando melhor o peso dos nossos dias.

Cap. 5

AS PERNAS E COXAS

As pernas e as coxas são responsáveis pelo porte e pelo aspecto da pessoa, pela sua postura, sua maneira de apresentar-se, de conduzir-se, de caminhar. Daí a importância da firmeza e da leveza, ao mesmo tempo.

É preciso observar como estamos em relação a nossas pernas, se temos pernas rígidas ou flexíveis, longas ou curtas. Todas estas relações entre pernas, joelhos e pés nos põem em contato com a nossa mãe interna.

Observemos a abertura e o fechamento da coxas, porque são uma parte de nós mesmos que traem a ansiedade e o medo e, por outro lado, a abertura e a confiança. Portanto as coxas são este local intermediário entre os joelhos e os genitais, incluindo o sacro.

A REGIÃO SAGRADA

Aproximamo-nos do sacro, deste lugar sagrado do nosso ser. E podemos começar por uma exploração anatômica. Como estamos em relação às nossas nádegas? Elas são contraídas ou relaxadas? Estamos em um estado de tensão e fechamento ou estamos em uma atitude de confiança e entrega. É preciso procurar as causas físicas da constipação, das hemorróidas, de fístulas, de vermes, de disenteria que nos acometem. E é preciso buscar as causas psicológicas destas somatizações que envenenam nossa vida e nos impedem de ficar sentados, bem eretos.

Quais são as memórias que temos ligadas a esta parte do nosso corpo? Como foi vivido este período que se chama fase anal? Como foi nossa aprendizagem de higiene? Quais são as nossas relações com a sujeira, a poeira e as fezes? Há partes de nós mesmos das quais perdemos a memória. Não queremos mais lembrar porque nos causariam muito sofrimento. E estas memórias se revelam através da doença.

Todos nós temos memórias ligadas a esta parte do nosso corpo. A aprendizagem da limpeza e higiene não é fácil. Por isso é importante que as crianças brinquem com terra, areia. Mais tarde elas brincarão com bolinhas de gude e depois, na fase adulta com o dinheiro. A relação com o dinheiro está ligada a fase anal. Alguns tem medo do dinheiro, outros se agarram a ele, se apegam, acumulam.

Existe uma ligação entre a constipação e a avareza. O medo de perder, o medo de faltar, o desejo de guardar. A questão é de não ter nem constipação nem diarréia. Se tenho um relógio em minha mão e a mantenho fechada, tenho o relógio e não tenho mais a mão. Se minha mão está sempre aberta, não posso aprender a doar nada. Alguns de nós a mantém aberta, outros fechada. O importante é a sua leveza, abrir para dar e poder receber, poder pegar.

Esta parte do corpo, a região anal, é uma musculatura capaz de reter e de dar. Dessa maneira não precisamos ter medo desta parte do nosso corpo, mas devemos amá-la e respeitá-la. Reconciliar-se com esta dimensão de nós mesmos, livrar-se dos tabus é um caminho de cura, é um caminho de integração. A matéria só se salva se deixarmos que a luz atinja suas profundezas.

Cap. 6

OS GENITAIS

O corpo inconsciente guarda o segredo de nossa história pessoal e também da história coletiva. E, algumas vezes, nosso corpo somatiza problemas que não são somente nossos, que não são apenas aqueles da nossa primeira infância. Na Análise Transgeracional observa-se que em algumas famílias a mesma doença ocorre no mesmo período etário. É que levamos em nós, em nosso corpo, a memória da família e também da coletividade.

E quando estudamos o sacro, quando abordamos a sexualidade, damo-nos conta de que não se trata somente da sexualidade, mas trata-se também da imagem que a sociedade e as religiões têm da sexualidade.

Quando observamos esta parte de nós mesmos que chamamos sexo, seja masculino ou feminino, como nos situamos em relação a ela?

É muito raro viver uma sexualidade simples e feliz. É preciso, portanto, verificar qual o tipo de atração e de repulsão que temos em relação à sexualidade. E as consequências que essa atitude de atração ou repulsão pode ter no bom funcionamento da nossa sexualidade. Observar se temos problemas de impotência, ejaculação precoce, frigidez e observar aspectos das relações em que estes problemas apareceram.

Os corpos de um menino e uma menina são muito sensíveis, não somente à violência ou a um espancamento, mas são sensíveis a um olhar de um desejo, o que pode explicar muitas atitudes posteriores de desgosto, de repulsa ou de atração.

Observemos, igualmente, a qualidade de nossos orgasmos ou a dificuldade em atingí-los e vejamos o que fazer, de um ponto de vista médico ou psicológico, para sermos mais felizes.

Portanto, nosso corpo, nosso sexo, nossa sexualidade são habitados por toda espécie de memória. Quando tocamos um sexo, toda esta história está presente, com seus desejos e medos.

Para Freud, toda doença tem sua origem em um uso inadequado ou na impossibilidade de viver sua libido, de viver sua sexualidade. Pode parecer uma visão estreita, e talvez seja, mas tem uma parcela verdadeira que continua sendo observada por tantos profissionais. Entretanto podemos ir mais longe e descobrir que o prazer humano, é mais que uma descarga, uma liberação de tensão. O encontro de dois seres humanos não é, simplesmente, o encontro de duas libidos. É também o encontro de duas almas, é também o encontro de dois espíritos, é também o encontro de dois seres interiores.

O sexo é o local onde se encarna a vida, onde se transmite a vida. Por isto é algo muito sagrado. É triste ver que o sexo perde a sua dimensão sagrada na medida que tem sido distorcido pelas pessoas e pelos meios de comunicação.

Na tradição cristã, chama-se sacramento a um gesto que uma palavra acompanha. O sexo pode tornar-se um sacramento se é acompanhado por uma palavra de ternura, por uma palavra de amor. Se é acompanhado pelo coração e se o coração é acompanhado pela inteligência. Neste momento, o sexo se torna um ato realmente humano.

Cap. 7

O VENTRE

Este é um lugar muito rico. O que temos no ventre, na barriga? Observe o funcionamento de seu estômago, intestinos, fígado, vesícula biliar, baço, pâncreas, rins. Estes elementos são frequentemente, locais de perturbações e doenças. A doença não chegou ali por acaso. Podem existir não só causas externas (indigestão, contaminação), mas também causas inconscientes tanto pessoais quanto coletivas.

O ventre é um local importante do nosso corpo porque nele se encontram o alto e o baixo. Nele também existem, o pai e a mãe e, algumas vezes, nossas dificuldades digestivas são uma interiorização dos problemas que podem existir entre nosso pai e nossa mãe.

Certos acontecimentos nos causam mal e nos dão vontade de vomitar. Eles nos mostram que nosso corpo é religado com o que se passa no mundo. Observar nosso ventre é também observar o mundo de nossas emoções, seja o riso, sejam as lágrimas.

Às vezes temos medo de rir, medo de chorar. Há também este grito que vem do ventre e nas artes marciais se fala de um grito que imobiliza o inimigo.

Podemos nos lembrar de termos recebido alguma má notícia e sentir que na hora recebemos um soco no estômago. O quanto este fato pode ter gerado doenças e perturbações. Há também pressões que não somente nos sufocam, mas que nos dão vontade de vomitar. Há memórias muito fortes que se inscrevem nesta parte do nosso corpo. Portanto, trata-se de escutar o ventre. Sentir se ele está duro, se ele se fecha, se ele se defende. Ou, pelo contrário, se ele é mole. É difícil encontrar um ventre que tenha um tônus justo e que esteja em boa saúde em todos os seus elementos.

Vamos pensar no simbolismo existente em nossos órgãos. Nossos intestinos parecem um grande labirinto, o mesmo labirinto que encontramos no cérebro e no qual algumas vezes nos perdemos. Perdemos o centro, perdemos o sentido.

Os Antigos consideram o ventre como, realmente, um lugar de transformação. Ter ventre é ter centro. Os bebês correm com seus pés e com seu ventre porque o ventre é o centro da sua gravidade.

Em hebraico, a palavra umbigo chama-se Tabor. A transfiguração de Jesus ocorreu no monte Tabor. É ao nível do ventre que a transformação é possível.

Vamos ficar um pouco em silêncio, bem centrados em nosso ventre e sentindo o sopro que respira em nossa bacia. Fiquemos em uma postura justa, em uma postura relaxada, adequada. E deixamos acolher o sopro em nosso ventre. Deixemos que a inspiração aconteça, e a recebamos com gratidão, apenas inspirando e expirando.

O Fígado e as Vias Biliares

O fígado está associado a vários sintomas, inclusive à enxaqueca, e dizemos também que ele é responsável pelo nosso humor. Estes distúrbios do fígado vão influenciar nosso comportamento. A palavra "melancolia" deriva do grego, e significa "bile negra", isto é uma bile tóxica que pode provocar uma série de sintomas, tais como vômitos, icterícia, problemas alérgicos, calafrios.

A maior parte das doenças do fígado e da vesícula biliar era considerada como uma recusa a ver claramente, uma recusa ao discernimento. Este bloqueio torna a situação mais pesada, torna o fígado mais pesado. Aquilo que deveria ser uma riqueza de visão torna-se uma sombra, um peso. Para ver a luz, é preciso enfrentar não somente o que nos faz medo, mas o que entristece. É sempre um caminho de auto-conhecimento.

O Estômago

Da mesma forma que o fígado, o excesso e o acúmulo podem tornar também o estômago doente. O alimento psíquico, os alimentos afetivos e emotivos são tão reais quanto o alimento físico, pois desde que ingeridos são integrados em nós. Então é preciso perguntarmos: O que foi que não integramos? O que não aceitamos? O que não assimilamos? Nem sempre se trata de alimento externo. E podemos colocar as questões: O que não perdoamos? O que não conseguimos "digerir"?

O estômago é cercado por uma verdadeira encruzilhada, um ponto onde se cruzam muitas estradas: esôfago, estômago, duodeno, o canal colédoco que traz a bile, o canal que traz do pâncreas o suco pancreático. Isso pode ser responsável pelos problemas esofágicos, pelas úlceras gastroduodenais.

Em uma psicoterapia onde está presente a dimensão espiritual, o perdão é uma realidade importante, que tem uma virtude curativa. Porque podemos tomar toda espécie de medicamento, sermos acompanhados psicologicamente, mas há, por vezes, rancores que atulham nosso ventre, nosso estômago, nosso fígado. O nosso ventre não pode viver, não pode ser libertado e isto pode provocar-lhe doenças graves. Perdoar alguém é não fechá-lo nas conseqüências negativas dos seus atos, é não identificá-lo ao mal que ele nos fez. É reconhecer o mal que ele fez, mas não fechá-lo nele.

Do mesmo modo podemos dizer do perdoar a si próprio. Trata-se de não se identificar com as conseqüências negativas de nossos atos. Trata-se de reconhecê-los, expressá-los, liberá-los, mas não fazer deles a nossa identidade.

Vocês já notaram que não pensamos da mesma maneira após um exagerada refeição? Quando escutamos uma palestra com o estômago sobrecarregado, nos escapam um certo número de informações. Portanto, podemos compreender a prática do jejum. No aspecto religioso significa uma espécie de sacrifício, privação. Não é ter fome, é um ato voluntário de purificação que tem por finalidade despertar a vigilância.

Há determinados acontecimentos que levam tempo, em nossa vida, para serem digeridos e qualquer alimento é demais, nos empaturra e nos torna doentes.

O Baço

Existe uma forma de depressão que pode ter sua origem no baço. Assim como os rins, o baço tem uma função de filtração. Retira do sangue os glóbulos vermelhos velhos e danificados e os glóbulos brancos que se feriram lutando contra as infecções e as bactérias que os atravessam. Além disso, estoca as plaquetas sanguíneas até o momento de sua utilização. É responsável por muito de nossos humores.

O Pâncreas

O pâncreas é responsável pela produção de insulina, cuja função principal é a regulação da quantidade de açúcar no sangue. Lembramos que o açúcar (a glicose) é uma importante fonte de energia para o nosso corpo. Por outro lado, o suco pancreático é indispensável à digestão. Ele faz o trabalho da transformação.

Então todas as provações por que passamos, passam pelo pâncreas e solicitam dele a liberação de uma quantidade de energia necessária à realização do que foi proposto.

Todas estas partes do nosso corpo lembram psicológica e espiritualmente a importância do tempo. Tempo para a digestão, tempo para a assimilação. Temos necessidade de tempo para perdoar. Para aceitar certos acontecimentos da nossa vida.

Quando falta este tempo para a digestão, podemos nos tornar infelizes e também doentes. Portanto, faço um convite para que você aproveite o tempo para "digerir".

Os Rins

Colocamos os pés e os rins em relação às orelhas, tendo todos os três a mesma forma de semente. Eles são locais de escuta no interior de nós mesmos. Da mesma maneira como é preciso escutar e filtrar as palavras humanas e as informações com nossas orelhas, assim também os rins escutam e filtram as mensagens do sangue.

Algumas dificuldades que passam os nossos rins são indicações de que estamos em uma direção errada, de que nos fatigamos inutilmente, de que o objetivo de nossa vida não é esta excitação, esse estresse, de que arriscamos passar a nossa vida ao lado de nossa vida verdadeira.

Os rins são um espaço para a Palavra que temos a escutar. Porque, para enfrentar nossa existência, temos necessidade de rins sólidos. Devemos reencontrar sua força, a força estabelecida pela vida que a habita, para enfrentar os acontecimentos.

Cap. 8

A COLUNA VERTEBRAL

Nem sempre é possível escutar nossas costas, porque não as vemos. Nas práticas de respiração, notamos que a maioria das pessoas respira com a parte da frente do tórax. Esquecem de respirar com as costas, com os rins, com as omoplatas. Procuremos sentir essa respiração de nossas costas. Podemos ter uma grande sensibilidade nas costas. Sentimos quando alguém está atrás de nós. Não o vemos, contudo, sabemos que ele está lá. Quando se tem uma boa coluna vertebral, um bom esqueleto, quando se esteve em uma boa escola, pode-se escutar o seu desejo mais íntimo sem medo de desagradar os outros. E deixar-se inspirar pelas solicitações da vida.

A coluna vertebral é uma escada a subir. Observemos, portanto, nossas dificuldades em relação a ela. Sobretudo o tipo de relação que temos com o nosso pai. Ele foi presente, sempre presente ou sempre ausente? A presença e a ausência do pai estão ligadas à presença ou ausência de coluna vertebral.

É comum escutarmos que determinadas pessoas não têm coluna vertebral, que elas não tem estrutura interior. Nestes casos, verificamos que a coluna vertebral tem ligação com a falta de um verdadeiro pai na vida dessas pessoas. Quando falo de pai, falo de uma palavra que nos estrutura. Todos nós temos necessidade de ternura, de sermos envolvidos pela mãe e, ao mesmo tempo, temos necessidade de estrutura, da palavra que nos informa.

O papel do pai é de dar o sentido à lei. E a lei não diz a alguém "você deve", mas "você pode" e de dar ao filho os meios de poder. Não guardá-los para si. Porque tanto o pai quanto a mãe às vezes impedem que o filho "possa", que o filho seja capaz.

Em alguns casos, traduzimos incorretamente os "Dez Mandamentos", as leis dadas por Deus a Moisés. A coluna vertebral que ele propõe a seu povo é formada por uma lei que se propõe a despertar o seu poder. Você pode não mentir. Você pode não roubar. É "você pode" e não "você deve". A lei estruturante do "deve" torna-se, freqüentemente, uma lei castradora. E a nossa coluna vertebral torna-se uma coluna vertebral artificial.

A coluna vertebral é a árvore da vida, plantada no meio do jardim do Éden. Reencontrar a coluna vertebral é reencontrar seu eixo e o eixo do mundo. É reencontrar seu lugar no paraíso.

A palavra "vértebra" quer dizer elo de uma corrente, de uma cadeia. A força de uma corrente não é maior do que a força do seu elo mais fraco. É importante que notemos onde estão os elos frágeis da nossa coluna vertebral.

Temos sete vértebras cervicais, doze vértebras dorsais e cinco vértebras lombares. Cabe a cada um de nós ou ao profissional que recorremos, tentar devolver sua coluna, sua estrutura interior. E ajudá-lo a manter-se em pé para fazer face às provações de sua existência.

A medula espinhal é uma espécie de cabo telegráfico que, através dos nervos, recebe os estímulos do corpo e os envia à central, ao cérebro, ao mesmo tempo em que recebe do cérebro as respostas motoras e sensitivas a estes estímulos e as envia de volta ao corpo. Às vezes, nosso pai nos dá as vértebras, mas não nos dá a medula espinhal. Ele nos dá uma estrutura artificial, uma lei moral, que não é habitada pela seiva, pela medula do sentido. Quando se fala do pai, se fala do pai biológico ou do pai que o criou, ou daquele que nos faltou ou nos abandonou.

Devemos estar atentos a nossa coluna. Mesmo se nosso pai nos faltou, se nos faltaram informações, quando escutamos a nossa coluna vertebral, o pai interno, pode nos guiar no que é preciso e necessário. Manter-se ereto em determinadas situações vai nos lembrar a nossa dignidade - é um exercício que pode nos dizer muito.

Cap. 9

A MEDULA DOS NOSSOS OSSOS

É no segredo da medula óssea que uma célula, chamada célula-mãe, produz as células do sangue. No recém-nascido esta medula preenche o interior de todos os ossos. No adulto, ela se restringe quase ao esterno, às costelas, às vértebras. Neste berço as células são nutridas, crescem e se desenvolvem até que, adultas, prontas para cumprirem sua missão, passam para a corrente sanguínea.

As células produzidas são os glóbulos brancos que ajudam nosso corpo a combater as infecções; as plaquetas que controlam o sangramento dos nossos vasos; os linfócitos que têm a grande competência de saberem o que pertence e o que não pertence ao nosso corpo; e finalmente, os glóbulos vermelhos. Os glóbulos vermelhos tem uma função vital. A cada inspiração eles se enchem de Vida, caminham por todos os recantos de nosso de nosso corpo, distribuem Vida a cada uma das células, purificando-as e ainda recolhem o lixo, que descartam na expiração, em um trabalho sem fim.

Cap. 10

O CORAÇÃO E OS PULMÕES

Nos problemas cardíacos fala-se muito em estresse, em sobrecarga de atividades, em um peso muito grande suportado pelo coração. E isso é mais brutal que os problemas digestivos encontrados.

Do mesmo modo, observemos os pulmões e os sintomas que possamos viver, seja asma, infecções repetidas ou dificuldade respiratória. Quando e em que momento esses sintomas se manifestaram?

O problema da medicina, muitas vezes é o de querer suprimir os sintomas, sem nos dar tempo de escutar o que a doença tem a nos dizer. Tratamos dos sintomas um momento, mas sua causa permanece. Não tivemos tempo de ir até suas raízes.

O mesmo ocorre com o sonho. Não é preciso pressa em fornecer interpretações, mas deixar ao sonho o tempo de fazer o seu trabalho. Trata-se de escutar as palpitações do coração, a dificuldade em respirar. E observar como nossa vida emotiva influencia nossa respiração. Quando é que ficamos com a nossa respiração bloqueada? O que é que nos sufoca? O que nos impede de respirar?

Estar salvo, estar em boa saúde, é respirar ao largo, respirar bem e normalmente. Uma pessoa está em boa saúde, está a salvo, quando ela respira com todo seu ser. Quando a respiração não é interrompida por um bloqueio. A doença é um bloqueio, uma interrupção de energia, de vida. E o profissional deve facilitar que a vida circule novamente.

Coloque em ressonância esta parte do nosso corpo com as relações que podemos ter, não somente com nossa família, com os sonhos que nossa família tem para conosco, mas também com os sonhos e as imagens que a sociedade tem para conosco. Talvez possamos estar aprisionados às imagens que os outros têm de nós mesmos. Isto nos impede de respirar livremente e de deixar nosso coração bater tranqüilamente.

Cap. 11

O PESCOÇO

O pescoço é um lugar muito importante do corpo. É o elo entre a cabeça e o coração e este elo, às vezes, está rompido. A palavra "angústia" vem do latim angustia e significa cerrar, fechar. Estar angustiado é estar com a respiração bloqueada, com a garganta cerrada.

Há palavras que permanecem presas em nossa garganta e nos impedem de respirar, impedem que o coração se torne inteligente, impedem que a inteligência desça ao coração. Daí a importância de desnudar esta palavra que ficou presa em nossa garganta.

Essa palavra pode ser de reprovação, de medo, mas pode ser também uma palavra de amor. Há pessoas que nunca ousam falar de seu amor à pessoa amada e, neste caso, pode ficar impedida a circulação do Sopro, a comunhão entre o coração e a inteligência.

O papel da terapia é encontrar a palavra e o jeito de dizer essa palavra. Nós não temos palavras para expressar a nossa maior alegria, não temos palavras para expressar o nosso amor ou o nosso desejo mais secreto, sobretudo quando se trata de um final de amor. E o papel do terapeuta é o de convidar a pessoa a deixar sua palavra nascer. Não a palavra dos pais, não a palavra da sociedade, não a palavra herdada de todo um passado, não repetições, mas encontrar a sua própria palavra, encontrar o seu próprio nome. E conhecer, então, o seu próprio desejo.

Mas para conhecer nosso próprio desejo, precisamos sair do desejo de nosso pai, do desejo de nossa mãe. É preciso sair do desejo proposto pela sociedade. Para encontrar nossa própria palavra é preciso sair das palavras que aprendemos, das palavras que nos impuseram.

Às vezes, é apenas um sussurro que nasce em nós. Não é um rio caudaloso com todas as palavras da humanidade, mas é como um regato de águas límpidas. Então podemos entrar em contato com nossa identidade verdadeira e também com a nossa inocência.

Cap. 12

A NUCA

As pessoas com a nuca rígida, talvez sejam pessoas limitadas, com uma percepção estreita. A saúde da nuca consiste em poder olhar para cima, para baixo, para a direita e para a esquerda, e, às vezes para trás. E isto nos lembra que nossa inteligência deve permanecer flexível. A rigidez da nuca faz com que as pessoas estejam presas a uma única visão do mundo e identificam a sua visão como a única realidade.

O mundo é infinitamente maior que aquilo que podemos perceber. Quando observamos um corpo, quando observamos uma doença ou um sintoma devemos olhá-los de todos os lados. Mas, às vezes, olhamos apenas um aspecto. O fato de olharmos a doença sob um único aspecto pode ter conseqüências funestas para o resto do corpo. É importante preservar o fio que une todas estas interpretações.

Não opor o trabalho do médico, do psicólogo, ao trabalho espiritual.

As pessoas têm necessidade de todos estes esclarecimentos. Que esta postura abra possibilidades de cura e alívio em sua doença.

Cap. 13

AS MÃOS

A palavra "mão" está ligada ao conhecimento. Tocar a mão, apertar a mão é se apresentar, é firmar um conhecimento. A cura pode acontecer através da imposição das mãos.

Como sentimos nossas mãos? Como é o contato de nossas mãos com o corpo do outro? Com os elementos que nos cercam?

É sempre emocionante ver uma criança sendo conduzida pela mão de sua mãe ou de seu pai. Porque há uma transmissão de conhecimento.

Sobre o casamento, observamos que o rapaz pede a mão da moça. Devemos pensar sobre este símbolo. Sobre a mão de Deus, algumas vezes podemos nos sentir guiados, como se tivéssemos uma mão pousada em nosso ombro, em nossa cabeça, em nossas costas, para nos fazer avançar, para nos manter em pé.

Cap. 14

A CABEÇA

No rosto encontramos a mesma escada do corpo. A boca está ligada a fase oral. A mandíbula é muito importante e está em relação a fase anal, está ligada às nádegas. As pessoas que têm as mandíbulas contraídas, podem ter as nádegas também contraídas.

O nariz está ligado a sexualidade. As maçãs do rosto estão ligadas ao ventre. Os olhos estão ligados ao coração - olhos abertos, olhos claros e luminosos. Entretanto, há olhos opacos, olhos sem visão. É difícil ser olhado por olhos sem olhar. Não há o encontro de pessoa para pessoa. A testa nos correlaciona com estado do mental. Há toda uma interpretação das linhas de nosso rosto, de nossas rugas ao redor de nossos olhos, boca. Estas rugas são linhas que contam a nossa história.

As orelhas, mostram sua capacidade de escutar a palavra, e o silêncio de onde a palavra se origina e para onde ela volta. Este silêncio, alguma vezes, envolve a pessoa, não apenas em sua cabeça, mas em todo o seu corpo.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

A natureza nos mostra que ao lavarmos uma ferida, brota "sangue novo" que traz fatores adequados para cicatrização. Por isso, primeiramente é preciso "tocar", entrar em contato com a própria história e reconhecer seus sentimentos, ressentimentos e necessidades. Este livro nos leva a este resgate.

Nome do autor da resenha e data: Margareth Alves / Fev. 2003