Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

O mito familiar

 

Autor do Livro:

Robert Neuburger

 

Editora, ano de publicação:

Summus - 1999

 

Relação dos capítulos

Primeira parte: O terapeuta perante a família

Os modelos teóricos das terapias de família

A memória familiar

Mito familiar, Mito Profissional dos "ajudantes". Os reparadores dos Mitos

Os terapeutas e as famílias pluricompostas

Adoção e o Mito da Verdade

Notas sobre o pai de família: "Você disse um pai lastimável?"

Segunda parte: O terapeuta perante o casal

A violência no casal

Casais recasados , casais recriados. Destino e Inscrição...

Quando o corpo é o terceiro no casal

Casal "normal", casal "ideal": O teste de liberdade

Terceira parte: As terapias de Fratria

A escolha de uma Fratria

Psicoses "fraternas" e terapias de Fratria

Quarta parte: Instituição Cuidadora Instituição Familiar

Teorias e Mito de Pertencimentos na prática psiquiátrica

Análise Sistêmica da Instituição: O percurso do paciente

Psiquiatria Chinesa e prática psiquiátrica

Quinta parte: E o indivíduo

Destino individual, destino familiar

Suicídio e perda de Pertencimento

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Primeira parte: O terapeuta perante a família

Capitulo 1 - Os modelos teóricos das terapias de família

A partir de 1965, novas necessidades surgiram em relação as terapias . As bases teóricas das terapias familiares quer observar e estudar os pontos de vista do terapeuta tendo como objetivo a família. O modelo das terapias familiares divide-se em três: as predizíveis, as não predizíveis e as construtivistas.

Nas predizíveis o terapeuta age como uma chave inglesa - ele sabe qual cano deve girar para produzir um efeito.

Nas não predizíveis, o terapeuta é o agente provocador de crise para chegar à mudança, embora não saiba antecipadamente onde irá chegar, mas espera chegar.

Nas construtivistas, o terapeuta lança mão de varias alternativas, leituras precedentes de forma adequada. Adewua o modelo terapêutico à uma situação específica, ou faz a restituição das possibilidades de escolha.

Capítulo 2 - A memória familiar

A memória familiar é constituída por informações baseadas nas transmissões de realidades familiares. Estas informações podem ser transmitidas na íntegra ou desvirtuadas em função das crenças da própria família com o intuito de protegê-la. Cria-se assim o Mito Familiar. Entende-se por Mito o processo de trnsmissão/seleção das histórias da família que convém esquecer para sustentar, manter o elo de ligação. Entre os antepassados e os seus descendentes. A transmissão é mítica, e o que se "conta" tem por objetivo garantira identidade e a adaptação da família ao contexto atual. A passagem de uma geração para outra não é simples repetição, mas renovação criativa, gerada pelo efeito produzido pelas duas mensagens simultâneas e que estão em relação não apenas contraditória, mas paradoxal quando combimadas.

Capítulo 3 - Mito familiar, Mito Profissional dos "ajudantes". Os reparadores dos Mitos

Neste capítulo menciona-se que sempre há um pedido de ajuda, há o perigo de responder de modo não específico em função de mitos sociais, sem levar em consideração a história mítica da família que aparece na relação ainda mais frágil, feita nas tentativas que foram fracassadas.

O risco real está em os "ajudantes" deixar-se influencias por suas crenças, além de não ouvir a história da família, suas tentativas. Cada família é seu próprio especialista, daí a importância de ouvi-las, percebendo qual é o seu Mito. Em todos os casos relatados no capítulo, fica clara a inadequação dos ajudantes no tocante a orientação das famílias, por não se perceber o Mito das mesmas.

Capítulo 4 - Os terapeutas e as famílias pluricompostas

Quando uma família pluricomposta busca ajuda, ela trás consigo um mito anterior da outra família, e a partir do momento que aparece uma distorção, o grupo sente-se atingido. Na verdade uma família pluricomposta tende a Ter como referência Mito passado, mas como cada um tem o seu, tentam criar uma nova família, novos mitos, ignorando os anteriores. Cabe ao terapeuta, alem de valorizar as tentativas atuais, reavaliar os mitos passados, para que num segundo momento , possa se retormar a vivência atual abordando os problemas do casal, as dificuldades com os filhos, e criar novos Mitos.

Capítulo 5 - Adoção e o Mito da Verdade

A família adota uma criança, para cumprir seu mito de solidariedade, por exemplo. Em caso de dificuldades, onde situações os levaria a crer que a adoção foi um fracasso, quando na verdade se trata de uma reação do grupo familiar a uma expectativa "mítica".

Ser solidário a esta família significaria receber a gratidão do filho adotado. Quando acontece um problema, a expectativa fica frustrada.

Sobre a verdade da adoção, cabe averiguar se o que levou a adoção foi o Mito Familiar ou se alguma necessidade ou falta na relação do casal. Fazer também uma correlação entre essas causas, checando se isto não foi um fator desencadeante da falta de vinculação adequada. A revelação da verdade da adoção só sera definida após a checagem da todaa história, e de tratado todos os motivos de modo a realizar uma vinculação. Somente depois do real pertencimento do filho adotivo à família, da solidez dos vínculos, é que existe uma condição propícia para se revelar ou não a verdade.

Capítulo 6 - Notas sobre o pai de família: "Você disse um pai lastimável?"

Neste capítulo relata-se a história do papel do pai através dos tempos, e dos vários sentidos dados à ele. A expressão "pai lastimável" lembra entre outras, onde eles são vistos como insuficientes pelos profissionais. Classifica-os em pai juiz, pai demissionário, pai ausente e pai mafioso, embora seja uma classificação extrema, pois os pais normalmente estão num espaço intermediário. Na verdade , aponta que podemos muito bem perceber como o pai administra a relação, com a inclusão e o pertencimento através da conversas familiares.

 

Segunda parte: O terapeuta perante o casal

Capítulo 1 - A violência no casal

Aqui relata-se a percepção do casal como o menor dos grupos e, como grupo instituído t6em uma estrutura mítica e ritual. Por pertencimento entende-se que estes nos dão retorno e nos confere uma identidade, como froma de proteção, solidariedade etc.. embora seja alienante. No casal as violências podem funcionar Também como forma de apego, como suporte de identidade. Diante disto, qualquer intervenção no casal poderá ser vista como uma violência, principalmente se calcar na idéia de ajudar um dos parceiros. O autor afirma ser mais adequado trabalhar com o casal através de rituais ou sobre seus mitos constitutivos. Assim, em caso de separação, pode-se metaforizar e tomar mais suportável a perda do "casal idealizado".

Capítulo 2 - Casais recasados , casais recriados. Destino e Inscrição...

O casal, assim como os grupos tem necessidade de ser reconhecido para existir. A esta necessidade dá-se o nome de Inscrição à figuras de modo indelével para a rede relacional. Neste capítulo apresenta um casal com uma convivência razoável, onde a grande dificuldade residia na sua falta de inscrição. O terapeuta por sua vez, percebendo a dificuldade os inscreve enquanto casal através de um ritual.

Casais recasados, problemas de reconhecimento, casais que não tem problemas realmente tem em evidência uma dificuldade geral e fundamental: a convicção de Ter o direito de ser, de viver.

Capítulo 3 - Quando o corpo é o terceiro no casal

Em diversos capítulos faz-se a afirmação de que ao se formar um novo grupo, cria-se um terceiro. As questões iniciais apresentadas através de casos deste capítulo, mostram casais com sintomas psicossomáticos, mais questões sexuais como queixa. Numa análise mais profunda o que se vê são os mitos conservadores, a comunicação, e a idéia errônes de que um casal é formado por dois mais um, cada um jogando sua identidade. O terapeuta trabalha com essas questões, de maneira circulatória, buscando identificar, assinalar as questões para que o casal se aperceba.

Capítulo 4 - Casal "normal", casal "ideal": O teste de liberdade

Aqui faz um relato de supervisão, onde a casal faz agressões físicas sessão ( na frente do terapeuta e do co-terapeuta). Na percepção do terapeuta, o casal deve separar-se, e a co terapeuta mostra até otimismo em relação à eles. Com percepções completamente diferentes, propõe-se uma avaliação/revisão das percepções de casal ideal e norma do casal.

Conclui-se que a terapeuta tem um ideal tanto pessoal quanto profissional de "boa comunicação" no casal, oposto a co terapeuta que privilegia o desenvolvimento pessoal. É feito um reenquadramento para que posteriormente a terapeuta explore em cada um dos parceiros o interesse, e que encontre algo mais funcional nesta terapia. Os itens selecionados para avaliação do Ideal de casal e norma de casal faz uma abordagem englobando as linhas terapêuticas abordadas no capítulo 1. Com isto, vemos como cada terapeuta, além da visão pessoal (própria história familiar) que poderá lançar mão de sua "preferência" por esta ou aquela leitura, objetivante, comunicacional, evolucionista, auto organizacional.

 

Terceira parte: As terapias de Fratria

Capítulo 1 -A escolha de uma Fratria

Existe uma inter-relação entre os subsistemas pais e filhos (fratria). A forma como os pais se relacionam e administram determina a inter relação dos fratrias. O casal se utiliza de vários motivos para escolher quantos filhos vão querer: motivações narcisistas, filhos de sexo diferente, fusão de filhos etc... A vontade de criar uma fratria mobiliza os pais a se preocupar coma relação entre os filhos. Po exemplo: relação de amor e ódio, complexo de intromissão, Édipo etc... A relação entre os filhos contraria o mito familiar em que entre irmãos deve existir fraternidade. A exploração da gestão dos vínculos fraternos operada pelos pais, pode acarretar modificações profundas no grupo, por comunhão de informações, ou por passagem de conhecimento comum.

Capítulo 2 - Psicoses "fraternas" e terapias de Fratria

A diferença entre uma falta de lógica "normal" (vínculo simples) e uma falta de lógica patogênica (duplo vínculo) parece estar na capacidade ou não da pessoa visada, de ler a intencionalidade parental de compreender o contexto das comunicações de que é objeto. Essa leitura modifica a relação terapêutica: ou seja, procurar um contexto de interpretação que torne coerente para o adolescente, a intencionalidade dos pais. A terapia pode ser usada no grupo parental ou no grupo fraterno, sendo que neste último fica lcara a testemunha do bom e do mau funcionamento do grupo parental. A escolha de um processo terapêutico através do grupo parental, altera a resposta do grupo fraternal, e vice versa. Mito do casal e mito fraterno, intereração entre ambos costumam servir de projeto de conjunto nas famílias reconstituídas, fragmentadas, recompostas. A falta de projeto conjunto, de um projeto familiar, de um mito familiar, não está somente ligada a uma falta de representações, mas também ao temor de que tal projeto possa fazer aparecer diferenças, incompatibilidade no casal parental, que questionam o próprio projeto.

 

Quarta parte: Instituição Cuidadora Instituição Familiar

Capítulo 1 - Teorias e Mito de Pertencimentos na prática psiquiátrica

A percepção das linhas organicista, contextualista e psicogenética são discutidas neste capítulo com vistas num entendimento de como a Teoria de pertencimento influencia a formação, a educação e o atendimento do grupo familiar. Relata a atuação do profissional dentro das instituições com tendência a "enquadres"do grupo, e questiona o quanto estes rótulos desumaniza a percepção de um quadro real.

Capítulo 2 - Análise Sistêmica da Instituição: O percurso do paciente

O membro do grupo familiar usa o meso mito/linguagem pare se relacionar. O mesmo acontece com o profissional em relação a instituição, onde ele agrega ao perfil, a postura da instituição. As instituições podem ser burocráticas, com uma linguagem linear, ou ideológica com um linguajar fixo. A instituição burocrática tem como meta, melhorar os déficits dos encaminhados com diferentes profissionais, cada um na sua especialidade, sem uma visão global do paciente. A ética da instituição é mais a reparação do que a mudança. Os cuidadores são escolhidos de acordo com sua especialidade. A avaliação é feita por itens . A linguagem institucional é única, isolante, linear ao extremo. Qualquer outra linguagem relacional, ideológica não tem muita possibilidade de ser ouvida. Na instituição ideológica a tônica é a lógica do pertencimento. O trajeto do paciente é uma viagem iniciática, onde se está menos preocupado com o sintoma. A relação com a família é conflitante, pois o problema do paciente foi gerado dentro desta família que não compactua com a lógica do pertencimento da instituição.

Capítulo 3 - Psiquiatria Chinesa e prática psiquiátrica

Neste capítulo é relatado a forma como a China trata seus pacientes com doenças psiquiátricas. As causas são atribuídas a relação comos ancestrais. O doente não é o homem encarnado, mas a manifestação de um ancestral. A metáfora burocrática aparece através de um tribunal que ouve o ancestral através do paciente, julga, pune e dá assistência a ele para que o doente seja libertado. A família toda é envolvida em rituais para a saída do ancestral do corpo do paciente. A metáfora desculpa o homem e liberta-o da atuação destes espíritos dos ancestrais. Metáfora burocrática é portanto, um código de leis que fixa as punições e as recompensas ao ancestral que se manifesta.

 

Quinta parte: E o indivíduo

Capítulo 1 - Destino individual, destino familiar

O autor relata a importância que tem o destino na família, e como estes confundem patologia com destino.

O destino é colocado de maneira muito diferente nos campos individual e familiar. O destino é uma "doença" para a pessoa, pois se opõe à sua independência/autonomia. O destino é uma forma de "tratamento" para os grupos familiares, pois ele sustenta sua identidade.

Capítulo 2 - Suicídio e perda de Pertencimento

Em casos de suicídio na família, rapidamente desistem do processo terapêutico. Diante deste quadro criou-se uma técnica de atuação onde trabalha-se com um serviço de reanimação. Esta técnica consiste em chamar os membros da família, com o suicida ainda hospitalizado e sob o impacto do evento, para entrevistas centradas no desejo de morrer que o ato suicida revela. Esta atuação diminui sensivelmente a reincidência . O que verifica-se na ausência desta atuação é que acontece uma desmobilização rápida e o suicida fica com o problema sozinho, ou seja, o despertencimento. Ao contrário, no caso da mobilização na família, o suicida sente-se acompanhado, comprenedido em seu sofrimento, e inserido num pertencimento relativo a família.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O mito existente nas famílias se vê ameaçado perante a forma de como uma sociedade prega que deve ser uma família, um casal.

Netas circunstâncias, o grupo lança mão inclusive de sintomas para poder sonhar o mito de seu grupo.

Os terapeutas representam uma zona neutra na recuperação, no novo olhar sobre o mito , para restabelecer os grupos em sua identidade.

Esta leitura me proporcionou uma visão mais clara dos Mitos Familiares, e de como estes influenciam vida dos grupos.

Acho importante um estudo aprofundado do terapeuta sobre seus próprio mitos familiares, para que possa trabalhar de uma maneira mais isenta os episódios das famílias, casais que buscam seu auxílio.

 

Nome do autor da resenha e data: Tais Fittipaldi Bergstein - dezembro 2003.