Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

O nome do jogo

 

Autor do Livro:

Will Eisner

 

Editora, ano de publicação:

São Paulo: Devir, 2003.

 

Resumo

Entre 1820 e 1840, uma depressão econômica devastou a Alemanha e Império Austro-Húngaro, o que aumento o já violento anti-semitismo que lá existia, o que acelerou a fuga dos judeus para a América.

Foi no meio dessa onda de imigrantes que o primeiro Arnhein, Moses, chegou aos Estados Unidos da América, por volta de duas décadas antes da guerra civil, com quem começa a história.

Quando Moses chegou à Nova York, abriu uma pequena fábrica de espartilhos no centro da cidade, mas também vendia para lojas do varejo. Em pouco tempo ficou tão rico a ponto de conquistar a aceitação dos melhores comerciantes e banqueiros alemães-judeus.

Moses teve um bom casamento e gerou três filhos que trabalhavam no negócio da família. Ele considerava o mais novo, Isidore, o mais completo dos três, por isso deixou para este, quando morreu, 52% das ações e o controle da companhia.

Isidore casou-se com Alva Straus e teve dois filhos, Alex e Conrad. Isidore sempre falava aos filhos: "A família Arnhein faz parte de um grupo muito seleto deste país. Somos aceitos pelos cristãos por que nos comportamos apropriadamente".

E os filhos cresceram. Alex, uma criança tímida e nervosa, sempre vivendo à sombra de Conrad, um garoto agressivo, adorado pela mãe e protegido pelo pai. Nada era negado a Conrad, que teve sua passagem pela infância facilitada pelos seus apaixonados pais.

Quando Conrad completou 20 anos o pai disse a ele que era hora de planejarem o seu futuro. Isso significava assumir os negócios e se tornar um homem de família. "Uma esposa adequada, de boa família".

Foi então que Lilli, a única filha de Abner Ober, dono de um banco e almejada por todos na cidade de Lavolier, aceitou o convite do Arnhein para passar férias em Nova York. Em seguida as famílias Arnhein e Ober se encontraram pessoalmente, pois ambas pensavam que o casamento de Lilli com Conrad seria um "triunfo social".

Em 19 de Junho de 1910 Conrad Arnhei e Lilli Ober se casaram. Até um ano de casado Conrad nada se dedicava a Lilli e Isidore achava que com um filho Conrad mudaria. Mas mais um ano se passou e tudo continuou igual.

Veio a morte de Isidore, a qual a Conrad chegou dias depois, pois estava se divertindo em Paris. Ao chegar encontrou seu irmão, Alex, embriagado e a mãe furiosa. Dizia ela: "Além de você não estar aqui quando seu pai morreu, você está indiferente a sua esposa". Ao que ele respondeu: "Minha esposa?!, Droga!!!, esse casamento foi arranjado..., fiz isso pela família !", então ela o interrogou sobre assumir o comando dos Espartilhos Arnhein, cobrando que isso é um "problema de família" e que ele é um "verdadeiro Arnhein" por isso devia comandá-la. Então ele concordou.

Após a virada do século ocorreram mudanças rápidas nos EUA, mas os primos que formavam o clã Arnhein resistiam a quaisquer mudanças e assim uma grave crise se instalou. Começaram os empréstimos bancários e Conrad continuava esbanjando dinheiro em barcos, golfe e tudo o mais que ostentasse riqueza.

Lilli engravida e seus pais a visitam percebendo o descaso de Conrad para com ela. Tentam conversar com a mãe dele, Alva, em vão, pois para ela Conrad é jovem e com o tempo passará a se dedicar à família. Sem contar que o banco de Ober estava tendo problemas de não pagamento de empréstimos feitos à companhia Arnhein.

Em seguida Lilli perde o bebê e a guerra chega aos EUA.

Conrad concentrou-se em sua vida social e prestou pouca atenção aos negócios da empresa. As ações dos primos que foram dadas como garantia nos empréstimos não pagos foram solicitados e assim a companhia ia afundando.

Durante todo esse tempo, Alex continuou bebendo e foi acusado pelos primos de desviar fundos da empresa. Em uma discussão Conrad diz a ele coisas como: "você é uma desgraça para os nomes dos Arnhein", ao que ele revida "e por traz desse nome existe uma família de espíritos mesquinhos, uma família moribunda unida por um orgulho estúpido". Para evitar o processo de roubo, Conrad consegue declarar Alex incapaz, evitando assim que seus primos consigam se vingar pelas perdas de suas ações.

Um mês após a falência da Companhia, Conrad comprou um lugar na bolsa de valores de Nova York e abriu uma corretora de títulos e ações no Park Avenue. O nome Arnhein ainda significava algo e por isso tinha sua clientela.

A prima Edith vai até a Conrad pedir emprego para seu marido Roland Sidney, pois a célebre Loja de Roupas Sidney havia falido e ele estava sem trabalho e sem dinheiro. Foi contratado, pois o Sidney tinha um grande círculo de amigos cristãos.

Lilli engravida novamente e só então Dona Alva cobra de Conrad uma postura de marido, de pai de família ao que ele não dá ouvidos. A gravidez é avaliada como de risco, se optarem para seguir a diante com a gravidez Lilli pode não sobreviver. Ele escolhe o parto, nasce Helen e morre Lilli.

Conrad entrega Helen para os pais de Lilli pois o médico falou que sua mãe tem coração fraco para cuidar de bebê.

Passaram-se bons anos para Conrad. Ele tinha dinheiro e posição social, até a quebra da Bolsa.

A mãe, Dona Alva tem um derrame que paralisou suas pernas mas ainda podia falar coisas como: "Temos que manter as aparências, podemos vender minhas jóias".

Alex saiu do hospital e continua igual: bebendo e precisando de dinheiro, só não mora mais com eles pois se casou com uma "mulher sem nome", "uma ninguém " na opinião de Alva.

Chega a casa uma bela jovem ambiciosa chamada Eva Krause. Com o tempo Conrad a pediu em casamento. O acordo que ambos firmaram era de que ela desfila com ele socialmente e ele compra jóias ou qualquer coisa que ela queira e sem intimidade.

Após 3 anos casados Alva, envelhecida, finalmente sucumbiu as seqüelas do derrame e vem a falecer.

Eva, mesmo traída, quando recebia outras propostas recusava dizendo: "Jamais, eu sou uma Arnheim e vou continuar sendo".

Após um tempo Conrad propôs divórcio e Eva não aceitou. Então pedia um filho e ela se negava dizendo que não iria acabar com seu manequim.

Em algumas discussões Conrad batia nela e ela bebia para compensar. Ela dizia que tinha o que queria do casamento: roupas, festas e status social.

Como Eva não aceitava ter filhos, Conrad seqüestrou Helen da casa dos avös para montar a sua família.

Os avós Ober foram a Justiça lutar pela custódia de Helen. Conrad , ao saber, vai até a casa deles discutir e ameaçar para que não processassem e seu Abner morre.

Assim Helen ficou com Conrad e Eva, mas ela só desempenhava o papel de mãe em público, em casa desmerecia Helen, inclusive convenceu Conrad a enviá-la para o Canadá nas férias.

Muito pouco mudou no relacionamento de Conrad e Eva, a não ser por uma noite que ela se embriagou demais e Conrad teve relação sexual com ela que a engravidou.

A gravidez de Eva foi tranqüila, ela aceitou seu novo papel com a segurança de uma atriz ( em público) pois em casa quem cuidava de Rosie era Helen.

Helen, já com 25 anos se apaixona por um instrutor de esqui no Canadá e quer namorá-lo. Conrad e Eva não concordam mas vão conhecê-lo. Subornaram o pobre rapaz e ele desistiu do namoro. Helen vai atrás dele , se acidenta e morre.

As aparências, tão importante para os Arnhein, não mudaram, mas a tragédia teve um impacto na vida de Conrad e Eva. Ele passa a beber seguidamente e ela vai consolidando o controle sobre a posição social da família.

Rosie é colocada num Colégio para damas bem caro.

Nos negócios Sidney sai da firma, abre o próprio negócio e Conrad perde 30% do capital e bons clientes.

Rosie desistiu da Escola particular, permaneceu em casa, mas foi para a faculdade que queria: Poesia. Ela não fazia nada que Conrad e Eva gostariam como se casar com alguém de família rica.

Rosie se apaixona por Aron Kayn, um jovem poeta pobre. Quando Aron foi jantar na casa de Rosie Conrad fez muitas perguntas sobre ele e sua família justificando: ÄS famílias importam nesta sociedade."

Depois Rosie vai a casa dos Kayn para os pais dele a conhecerem.

Além de ajudar a mãe dele, Gert, na cozinha, Rosie não agiu como uma "riquinha" e conquistou os pais de Aron. "Além do que estar ligado a uma família de classe alta não faz mal a ninguém"disse o pai.

E assim Aron e Rosie se casaram. Os pais de Rosie deram um apartamento a eles e Conrad tentava convencer Aron a parar de escrever para Revista e trabalhar com ele.

Quando Aron perdeu o emprego ao mesmo tempo que Rosie descobriu que estava grávida ele decide ir trabalhar com o sogro. Rosie enfurece ao saber pois diz que casou com ele para romper com o tipo de mundo que viveu.

Aron se sai bem nos negócios e começa a negar seus pais humildes. E o controle que exercia na Cia Arnheim cresceu ano após ano.

O casamento de Aron e Rosie começou a refletir o estilo de vida que Aron achava apropriado aos negócios.

Quase como um passe de mágica, Aron assumiu o estilo e os modos de Conrad: festas, amantes, brigas com a esposa.....

Conrad, já com 80 anos, nomeou-o presidente da Arnheim e se tornou avô pois Rosie teve um neném.

Aron ao saber que Fundos Mútuos Sidney cresceu bastante propôs uma fusão deles com a Arnheim. Quando Conrad soube ficou tão furioso que teve um ataque e morreu.

E a história termina com uma discussão em que Rosie diz a Aron: "Você não é o homem com quem me casei. Você acha que se tornou Conrad Arnheim? Não, ele era um Arnheim... com classe e dinheiro antigo e você não passa de um judeu de merda com dinheiro, só isso!" Também o acusou da morte do pai , bateu nele e finalizou: "Nós temos um filho e só por isso vamos ficar juntos. Nós não iremos nos divorciar pois nenhum Arnheim fez isso. E vamos fingir que somos um casal feliz na sociedade. E você pode ter o tipo de vida que queria...com as melhores pessoas...mas nos meus termos."

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Will Eisner nos contou esta história que atravessa três gerações de poder e privilégio obtidos através do casamento. Primeiro a família Arnheim acreditava que o casamento com pessoas de "status " manteriam o poder que já tinham, por isso Conrad se casa com Lilli Ober. Depois não admitem que a filha Helen se case com o instrutor de esqui pois ele não tem família conhecida ou rica. Não por acaso que Conrad se casa novamente com a ambiciosa Eva, cujo valor primordial era ter fama e desfilar aparências. E quando este casal teve a filha Rosie educada para pensar da mesma forma, ela primeiro tenta modificar a história casando com Aron que não tinha posição social favorável e aparentemente nenhuma ambição, mas quando o jogo mudou e ele passou a ser como um "Arnheim" ela também passa a dominar a situação assim como sua avó Alva, e sua mãe Eva. E assim estabeleceu-se o mito familiar em que o rico busca assegurar o futuro casando com outros ricos e os menos afortunados o utilizam para obter riqueza e posição social. Esse certamente é o nome do jogo.

Ver este tipo de histórias em quadrinhos é fascinante, daí mais um mérito de Will Eisner, considerado um dos criadores mais habilidosos e criativos do meio.

 

Nome do autor da resenha e data: Gianne Cláudia Gemeli Wiltgen, 02/05/2004.