Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

O ser terapeuta

 

Autor do Livro:

Luiz Carlos Prado

 

Editora, ano de publicação:

UFRGS

 

Relação dos capítulos

Cap. 01 Apresentação

Cap. 02 O ser terapeuta

Cap. 03 Integrando teorias e técnicas - construindo o self do terapeuta

Cap. 04 Como a família pode ajudar no alívio das "dores do coração"

Cap. 05 Radiografia do casamento

Cap. 06 As idéias de Gottman sobre o casamento

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Cap. 01 Apresentação

Este pequeno livro reúne trabalhos recentes que foram preparados para o V Congresso de Terapia Familiar, acrescidos de algum material preparado para workshops anteriores. Sua realização foi fruto de um esforço recente, buscando apresentar aos colegas um pouco do que tenho pensado nesta fase de minha vida sobre terapia e terapeutas.

Cap. 02 O ser terapeuta

O ser terapeuta expressa a idéia de gerar alguma mudança, algum movimento, no sentido de melhorar pessoas em sofrimento. Muitas teorias buscam compreender a questão da mudança, o que é fundamental acontecer para que haja movimento, para que a terapia aconteça. Bateson tem uma destas definições, em minha opinião, das mais interessantes: o terapeuta tem de dizer ou fazer algo que contenha diferença. Esta diferença, para que seja útil, não pode afastar-se demasiado da realidade do paciente, pois seria rejeitada. Trata-se de uma diferença sutil, de um toque criativo que acrescente esperança e conduza à mudança. Nisto se diferenciam os terapeutas, entre os verdadeiramente talentosos, que acrescentam algo realmente novo e os que repetem fórmulas, burocraticamente.

O Dr. Jack Micklen, psiquiatra há mais de trinta anos, é um bom exemplo disto. Foi ele quem foi chamado para atender o jovem que se apresentava como Don Juan de Marco e que ameaçava suicidar-se do alto de um imenso painel de propaganda de uma praia espanhola. Chamado no meio da noite, ainda cansado e sonolento, nos seus sessenta e poucos anos de idade, o Dr. Jack precisou de todo seu talento para abordar o jovem suicida. Enquanto era içado pelos bombeiros ao alto do painel, foi pensando como abordar a situação, tratando de retirar dentro de si todo o sono e o cansaço, todos os medos e preconceitos para assumir seu papel de terapeuta por inteiro. Foi surpreendido pela espada de Don Juan em seu peito e por sua convicta afirmação:

-"Onde está Don Francisco da Silva? Não lutarei com nenhum outro!"

Dr. Jack lhe responde:

-"Don Francisco partiu ontem para Majorca. Sou seu tio, Don Octavio de Flores."

Disse isto com sotaque latino, procurando ser o mais convincente possível a seu interlocutor, para com ele estabelecer um contato dentro de sua própria realidade.

A improvisação é tudo em tais situações. Seus trinta anos de terapias, serviram para algo neste momento. Sua sabedoria o ajudaram a encontrar um caminho diferente para comunicar-se com este jovem suicida.

Após algum tempo no hospital, finalmente tendo aceito ser medicado e contado à equipe médica sua verdadeira história de jovem pobre e abandonado por sua mãe, recebe alta. Neste dia, o Dr. Jack o acompanha até a saída do hospital. Fazendo uma pausa e sorrindo, mostrando quanto o humor e a poesia são também aspectos importantes da terapia.

O jovem Don Juan havia salvo da morte e seu terapeuta, também não era mais o mesmo. Reencontrou-se com seus sonhos da juventude e com seus melhores anseios amorosos, que tratou de resgatar com sua esposa. Uma boa terapia modifica o paciente e também o terapeuta, sendo sempre uma construção conjunta que acrescenta riqueza de vida a ambos.

Cap. 03 Integrando teorias e técnicas - construindo o self do terapeuta

Torna-se difícil, hoje em dia, definir a que escolas pertencemos; cada vez mais somos fertilizados pelo pólen de vários referenciais teóricos e técnicos, os quais nos convocam à difícil, mas fundamental, tarefa de integrá-los de alguma maneira. "A melhor forma de terapia é a terapia sem fronteiras e o terapeuta mais eficiente é o que está pronto a abandonar um enfoque ortodoxo para seguir técnicas novas, ainda não exploradas, pelo bem do paciente." (Robles, 2001, pgs 12/13)

Integrar teorias é um desafio fascinante. Jeremy Safran, terapeuta oriundo da área cognitivo comportamental, em seu livro "Ampliando os limites da terapia cognitiva", afirma: "o terapeuta que é capaz de apreciar mais de uma visão de mundo pode alternar entre perspectivas diferentes, ampliando suas opções para ajudar o paciente." (Safran, 2002, pg. 238). Uma pesquisa citada por Safran encontrou que 59 a 72% dos psicólogos clínicos, terapeutas familiares, psiquiatras e assistentes sociais endossam o ecletismo como seu enfoque preferencial. Este autor sugere que se possam experimentar conceitos e técnicas de diferentes orientações, desde que se harmonizem com nossa forma de pensar e trabalhar, levando-nos a ficar com os mais úteis e produtivos e descartar os demais.Todo conceito é uma construção, portanto uma versão de uma determinada realidade. Quando algum novo conceito responde melhor a esta realidade, podemos adota-lo no lugar do que vínhamos utilizando.

A área da terapia familiar tem sido uma fonte inesgotável de novas formas de abordagem terapêutica. Técnicas diversas,tem sido mescladas entre si, desde o início.

Cada terapeuta vai integrando técnicas conforme tenha acesso a elas e de acordo com seu modo de ser, com as características de seu self.

Bradford Keeney escreveu um livro sobre a improvisação em psicoterapia, a terapia deve ser feita sob medida para cada paciente, embrulhando para presente as idéias que se pretende trabalhar. A criatividade é fundamental para os terapeutas. O terapeuta deve ser capaz de criar algo novo, próprio pessoal, manifestação única do seu self singular.

Cap. 04 Como a família pode ajudar no alívio das "dores do coração"

O coração humano é ferido por qualquer perda importante, seja a perda de uma relação amorosa, seja a perda do amor de alguém significativo. Podemos sentir dor por perdas de outras naturezas, ou mesmo por ferimentos em nossa auto-estima, quando não alcançamos alguma meta importante ou nos sentimos frustrados em algum sonho longamente acalentado. Também a violência de outros seres humanos pode ferir o coração, todas as formas de abuso psíquico, físico ou sexual se enquadram nesta categoria, às quais Cloé Madanes se referiu como "feridas da alma".

O terapeuta tem de ser capaz de se deixar tocar pela experiência de dor do paciente, que lembram suas próprias dores. Gilligan afirma que esse sentimento compartilhado é a base da compaixão, sendo fundamental para o relacionamento terapêutico.

São necessárias algumas habilidades, fundamentais para pais e terapeutas:

Escutar em profundidade; Nomear adequadamente; Proporcionar espaço; Expressar emoções; Abençoar; Conectar; Disciplinar; Proteger; Encorajar; Desafiar.

Giglian fala a linguagem do coração, por isso é um terapeuta talentoso e respeitado. O nome de seu livro, "A coragem de amar", ressalta a importância que dá a este sentimento na relação terapêutica e nas relações em geral.

Um outro exemplo de apoio familiar na dor está no livro de Mitch Albom chamado "A última grande lição", no qual descreve seus encontros com um velho professor. Neste encontros, Mitch coversou com o velho Morrie e dele extraiu uma série de ensinamentos que mudaram sua própria postura frente à vida.

Podemos encontrar alguns dos principais atributos necessários para que as famílias auxiliem seus membros a lidarem com as dores físicas e as "dores do coração". São eles:

Ser amorosa, incluindo carinho, respeito e valorização uns dos outros.

Ser capaz de escutar com o coração e expressar emoções com clareza.

Cultivar o bom humor, que sempre ajuda a aliviar tensões.

Ter empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro.

Ter humildade para poder buscar ajuda, quando necessário.

"Sem amor somos pássaros de asas quebradas."Albom, 1998.

Cap.05 Radiografia do casamento

Cada dia mais pessoas têm buscado terapia em função de dificuldades nas relações amorosas, seja através de consultas individuais, seja de casais.

As relações de casal incluem aspectos de simetria e de complementariedade. Alguns se organizam com predomínio da simetria, com muitas áreas de semelhança entre si, o que determina um alto grau de competitividade. Outros são mais complementares: por exemplo, um é mais afetivo e o outro mais racional ou um mais cuidadoso e o outro com mais necessidade de ser cuidado. O ideal é que haja doses equilibradas de aspectos simétricos e complementares nas relações.

Avaliando o casal:

Projetos comuns: Filhos, construções conjuntas, negócios, valores comuns.

Amigos.

Relações familiares: interações passadas e presentes.

Amor: amizade, companheirismo, diálogo, intimidade, capacidade de cuidar um do outro. Admiração e respeito. Carinho.

Sexo: Desejo, performance, capacidade orgástica.

Etapas do ciclo vital.Questões sócio-culturais

Cap.06 As idéias de Gottman sobre o casamento

Este autor tem pesquisado as relações de casais de um modo muito especial.

Mitos sobre o casamento

1.Neuroses ou problemas de personalidade destroem o casamento.

O segredo de um casamento feliz não é ter uma personalidade normal, mas encontrar alguém com quem se entrosar.

2.Interesses em comum mantém o casal junto.

Depende de como os dois interagem quando perseguem seus interesses.

3.Evitar conflitos pode arruinar seu casamento.

Os casais simplesmente têm diferentes estilos de conflitos. Alguns evitam brigas a todo custo, outros brigam muito e outros são capazes de discutir abertamente suas diferenças e chegar a um acordo.

4.Casos extra conjugais são a primeira causa de divórcio.

É o contrário: 80% dos homens e mulheres divorciados disseram que seus casamentos terminaram porque foram se afastando aos poucos e perderam a intimidade.

5.Do ponto de vista biológico, os homens não são feitos para o casamento.

A freqüência de casos extraconjugais não depende tanto do gênero quanto da oportunidade. Agora que tantas mulheres trabalham fora de casa, a taxa de casos extraconjugais por parte das mulheres aumentou vertiginosamente.

6. Homens e mulheres são de planetas diferentes.

As diferenças de gênero podem contribuir, mas não são causa dos problemas conjugais.

7.A verdade sobre os casamentos felizes.

É importante viver um casamento emocionalmente inteligente.

8.Amizade em vez de luta.

Se baseiam numa profunda amizade. Isso significa respeito mútuo e prazer na companhia um do outro. Esses casais são otimistas um com o outro e com o casamento.

9.Acentuar o positivo.

A diferença entre casais e satisfeitos e aqueles profundamente infelizes no casamento é o equilíbrio saudável entre seus sentimentos e atitudes positivos e negativos dentro da relação. Nos casais rumando para o colapso, as atitudes negativas superam ligeiramente as positivas.

10.Tentativas de Reparação.

São uma arma secreta dos casais que utilizam a inteligência emocional, e o que determina o sucesso da tentativa de reparação é a força da amizade conjugal.

Apreciação pessoal sobre o livro

Este livro apresenta uma série de reflexões sobre o ser do terapeuta. Desde a importância de sermos criativos na psicoterapia, de usarmos a integração de novas técnicas compartilhadas por terapeutas de diversas abordagens até a importância das famílias na cura do sofrimento humano e idéias e mitos sobre as relações conjugais.

Nome do autor da resenha e data: Margareth Alves / Fevereiro de 2003.