Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Os meus, os teus, OS NOSSOS - Lidando com os desafios da família Moderna

 

Autor do Livro:

Gladis Brun

 

Editora, ano de publicação:

Larousse  do Brasil, 2010

 

O tempo,o luto,a saia justa, e o prazer da convivência
PREFÁCIO DA 1ª Edição: Vida em família – Turbulências ,afetos desfeitos ,sonhos e esperanças

 

Relação dos capítulos

Cap. 1 - O amor pode resolver tudo?

Cap. 2 - Casar de novo: somar ou diminuir?

Cap. 3 - Fraldas outra vez?

Cap. 4 - Rituais:vou de “saia justa” ou “à vontade”?

Cap. 5 - Madrasta  ou má-drasta?

Cap. 6 - É feio falar em dinheiro?

Cap. 7 – Avós,linha de frente ou retaguarda afetiva?

Epílogo

Dez anos depois

E viveram ,às vezes felizes,às vezes tristes, para sempre

Apêndice

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

O tempo, o luto,a saia justa e o prazer da convivência

A Autora faz uma reflexão sobre a revisão de seu livro Pais, filhos e Cia, dez anos após sua primeira edição,sinalizando seu medo em função da velocidade das  mudanças nas práticas sociais. Ficou surpresa ao analisar o conteúdo do livro que apesar do tempo, ao contrário que imaginava ,sentia que o texto era atual.

  O divorcio é uma passagem difícil na vida de quem enfrenta esse desafio. Os casamentos que se sucedem a um divórcio enfrentam turbulências significativas: filhos,financeiras,familiares.

  A autora comenta a vontade em “reencontrar” os personagens da historia criada há dez anos, em um caso de recasamento. Repensar nessa história lhe trouxe novos questionamentos e conclusões na maneira de obter sucesso/insucesso no mesmo. Os pontos principais refletidos: a negociação como forma de fortalecer as diferenças entre os casais, o tempo (como forma de novas aprendizagens e forma de elaborar o luto de um processo fracassado – casamento desfeito), a compreensão da inevitabilidade do encontro com as culturas diferentes e as novas regras de convivência.

A autora pretende que seu livro leve a reflexão sobre a felicidade não como receita de bolo,mas como conseqüência da responsabilidade das escolhas. Sinaliza que seu livro poderá ser um bom “mapa” para percorrer o caminho, uma forma de ir em frente.

Vida em família – Turbulências ,afetos desfeitos ,sonhos e esperanças

Como prefácio a autora mostra o objetivo do livro que é um olhar sobre a turbulência decorrente dos afetos desfeitos e surgidos nas famílias de recasamento, sobre a esperança e desafio de enfrentá-lo. Mostra sua contribuição em manter acesa a esperança de felicidade em casais que tentam um novo começo.

GENOGRAMA

Os capítulos que se seguem são todos baseados no genograma que demonstra os vínculos dos personagens de forma mais didática.  Em cada capítulo está descrito o efeito do movimento dos personagens ,seus medos , conflitos, esperanças, padrão de funcionamento. O resumo dos capítulos foi contextualizado sem a exposição da história dos personagens.

Cap. 1 - O amor pode resolver tudo?

No recasamento a crença em que o amor resolve tudo pode gerar muita decepção. O processo da elaboração de luto dos casamentos anteriores vai contribuir de forma significativa na aproximação no espaço afetivo e emocional do novo casal. O tempo e o espaço criado para inclusão de medos e dúvidas serão fatores que influenciarão definitivamente na construção deste novo projeto.O amor é o suporte ao desejo que o novo investimento dê certo. Os desencontros podem ser vistos como parte do processo de criação da nova família e não como obstáculos a esta construção.

O recasamento é uma estrutura familiar muito complexa que engloba maior número de novos parentes,muitas vezes estranhos uns aos outros, que entram na vida do grupo de uma hora para outra. Os novos papéis a serem vivenciados de forma positiva neste novo núcleo familiar levam certo tempo.

O novo casal além de negociar as suas próprias diferenças ,os seus próprios valores ,deve negociar com as outras pessoas da família como filhos,empregadas, avós etc , que são acostumados a funcionar em outro ritmo,durante anos a fio.Tudo que for vivenciado diferentemente a este funcionamento é considerado por estes integrantes contrário ao “padrão aceitável”.

Cap. 2 - Casar de novo: somar ou diminuir?

No jogo da vida há perdas e ganhos ,cada escolha ,cada passo nos leva a perder algumas coisas para ganhar as outras. Desta forma , para conquistar uma nova posição ,elimina-se a possibilidade da anterior.São movimentos não isolados ,alheios  e independentes  que afetam as pessoas  à nossa volta e são por elas afetados.

O divórcio é a ruptura de um projeto,um casamento de grande intensidade emocional oriundo de gerações passadas transmitido a gerações atuais . Cada um dos parceiros é afetado por sentimento de fracasso frente aos projetos e aos sonhos construídos em comum.È uma operação dolorosa cujo anestésico nem sempre é eficiente e varia de acordo com a história de cada parceiro,aquele que recebe o não e aquele que escuta o não.

Quando não há intervalo entre a ruptura e o recasamento ,o novo parceiro recebe uma carga emocional muito “pesada”,que pode prejudicar o novo relacionamento.

No recasamento também existem passado com filhos e negociações permanentes com ex-conjuges. As situações emocionais e financeiras que os envolvem são indícios de uma relação de bigamia em que a presença do ex se fez sentir a cada momento.Até mesmo a ausência completa ou a omissão de um dos parceiros quanto a questões de dinheiro ou de criação dos filhos causam seqüelas no novo grupo familiar.

O recasamento terá sempre tantos desafios a enfrentar quantas forem as narrativas das histórias dos parceiros envolvidos e os questionamentos aparecem de forma pouco precisas.Alguns conflitos podem surgir desses movimentos, indicando a busca de segurança e legitimidade. O fantasma do outro fica assombrando o recasamento e gerando mal entendidos. No caso de viuvez e um novo casamento , o apagar dos registros do progenitor falecido poderá afetar negativamente a fluidez do processo.

A complexidade dos recasamentos de solteiros com conjuges que passaram pelo divórcio ou viuvez ,tem na maior parte dos casos um grande número de variáveis.

O parceiro solteiro deseja ter filhos enquanto o outro não quer ouvir falar de fraldas novamente;os pais do cônjuge solteiro rejeitam a idéia de casamento com uma pessoa divorciada ou viúva e criam muitos obstáculos e pressão;o parceiro solteiro quer viver a vida de casal e rejeita a idéia de incorporar ao seu dia a dia a presença de filhos seus ou de seus cônjuges.

Quanto mais os dois membros do  casal dançam juntos ,mais vão aprender um  sobre  seus movimentos e mais harmoniosamente poderão participar ,como co-autores,do novo lugar que conquistaram na vida. Quanto mais se afastarem um do outro ,mais a coreografia vai evidenciar o descompasso que os distanciará dos projetos comuns que iniciaram.

Cap. 3 - Fraldas outra vez?

A decisão de ter uma criança talvez é um dos temas mais presentes e delicados numa nova união. Muitas vezes as negociações vão confrontar desejos e desencadear afetos não conhecidos, provocando rejeições e cobranças que podem levar a um período de grande desenvolvimento,de estresse,e até mesmo separação.

A entrada de um bebe nesta união vai colocar o casal frente a uma decisão que envolve novas dúvidas sobre o lado afetivo e financeiro do casal,podendo reacender inseguranças aparentemente resolvidas.

Muitas vezes o não querer filhos é assimilado no recasamento como a negação do amor ou da importância ,do privilégio e do status dessa relação perante o casal ,seus familiares e seu meio social mais amplo.

Os filhos nascidos do recasamento são especiais por que são os únicos que não passaram pela experiência de ter pai ou viúvos,ou divorciados. Além disso,chegam após o término de um tempo e inaugura outro.É a metáfora da confiança no futuro,da estabilidade da relação, da esperança de que dias melhores virão. Eles carregam pesada carga de responsabilidades,a casa deixa de se vista como provisória.

Cap. 4 - Rituais:vou de “saia justa” ou “à vontade”?

Os rituais na nossa cultura marcam quem é quem no grupo familiar. Com eles as incorporações ,as divisões ,as negociações e as fronteiras ficam mais claras e mais nítidas entre as pessoa .Revelam quais os laços que unem naquele momento ,a historia de pais,mães, padrastos ,madrastas,enteados,avós postiços,meio-irmãos ou irmãos.Marcam o nosso ingresso em uma das fases da vida.

Num recasamento ,a forma como a festa será organizada vai gerar a maior ou menor segurança e conferir maior ou menor espaço ao casal de recasamento.

Assim como não existem regras para os sentimentos ,as reações decorrentes da organização de um ritual são imprevisíveis e nem sempre coincidem com as expectativas dos envolvidos.Cada um desses momentos vem investido de poder e abrem,em alguns casos, velhas feridas.

Os rituais se revestem de gestos cheios de significado,os quais marcarão padrões de pertencimento e também de não inclusão.

A ausência de rituais que marquem a passagem de um determinado modo de viver para o outro abre um vazio que em muitos casos provoca um sentimento de angústia muito grande.

As famílias reagem de forma muito diferente à entrada e à saída de seus integrantes. Algumas tratam os “ex-marido e ex-esposa como parentes vitalícios e outras famílias como uma espécie de atestado de óbito do ex-conjuge.

As pequenas gentilezas vão firmando os laços de amizade só acontecem se existirem boa vontade em ambos os lados. Existem momentos que só podem ser criados com sensibilidade e delicadeza. Mas estes gestos que constroem só acontecem em clima de respeito mútuo.

No recasamento hábitos e culturas se mesclam em um só cotidiano,em um mesmo espaço. Cada um já viveu uma vida com os outros parceiros e já desenvolveu pequenos hábitos imperceptíveis no dia a dia. A ocupação do espaço e criação de hábitos comuns vai exigir cuidadosas negociações e,muitas vezes pode causar alguns distúrbios e conflitos.

 Cap. 5 - Madrasta ou má-drasta?

A figura da madrasta no imaginário coletivo caracteriza-se por ser uma pessoa má ,da qual os frágeis órfãos devem ser protegidos e salvos. O papel da madrasta ou/e a figura da nova mulher do pai reúne muitos aspectos carregados e difíceis no recasamento até hoje . A mãe biológica influencia as relações estabelecidas entre seu ex-marido , seus filhos e a nova esposa do ex-marido.

Se o luto do divórcio ou da viuvez estiver sido cicatrizado a madrasta entra no recasamento de forma mais leve, sem uma carga tão dramática de negatividade. Caso contrário ,a madrasta recebe uma tempestade de agressões.

  No recasamento ,jovens adolescentes levam sua madrasta a pisar em ovos ,tentando equilibrar a pesada carga que lhe é atribuída pela nossa cultura e ao mesmo tempo compreender o comportamento dual entre a amorosidade e agressividade/rebeldia dos jovens.

Cap. 6 - É feio falar em dinheiro?

Quando o recasamento acontece é muito comum que o novo casal tenha dificuldades em falar sobre dinheiro.No passado de um deles ou de ambos já houve muita dor, muito ódio ,muita decepção e mesquinharia em torno de acordos de pensão ou divisão de bens.

No recasamento falar deste assunto é delicado,principalmente pelo tabu em relação ao dinheiro. Pode sugerir que o parceiro pareça ganancioso e/ou interesseiro.

O valor de cada partilha carrega um valor embutido no preço ,um imposto subjetivo, feito de pequenos sentimentos que no fim formam uma colcha de retalhos de uma vida. Aquele que sai deixa para trás uma bagagem valiosa e aquele que fica tem que digerir aquilo que perdeu.

O tema dinheiro desencadeia e provoca o surgimento das diversas reações.Quando esta dificuldade está associada a direitos e deveres em uma relação amorosa parecem que ganha uma situação paralisante. Conforme a liberdade para falar do assunto que parece “feio”,maior será a dificuldade de enfrentar este assunto em condições desfavoráveis como o divórcio.

Cap. 7 – Avós,linha de frente ou retaguarda afetiva?

Tomar partido abertamente, apoiar nossos entes queridos nem sempre é uma posição equilibrada. A condição de ser avô /avó ,muitas vezes tomando partido dos netos,em sua sensibilidade,acaba ocupando lugares que antes eram de um progenitor ,agora ausente,a fim de evitar o sofrimento dos netos.O papel do  avô/avó neste caso pode agregar ou não, criando um caos.

Outro papel delicado no recasamento é a presença de novos avós ,avós postiços que terão papel de destaque na construção de uma família mais harmônica ou na permanente instigação de times antagônicos.

Nas famílias de recasamento o papel exercido pelos avôs requer uma carga de sensibilidade e compreensão. Evitar sobrecarregar as pessoas diretamente envolvidas no divorcio ou em sua nova união é sempre sentido como uma contribuição positiva que alivia as inevitáveis dores causadas por decisões que nunca são conhecidas de forma completa.

Epílogo

A autora faz questionamento de qual forma pode-se terminar a historia se na vida real tantos acontecimentos ocorrem onde as virgulas, os pontos de exclamação, as interrogações, os parágrafos,deixam que a dança das relações se armam em novas combinações,que às vezes parece que nada de novo vai surgir.

A forma como se lida com o divórcio deixa algumas marcas. Para aqueles que cicatrizaram bem suas feridas, enfrentam as turbulências da vida de forma mais leve ,são estimulados a buscar mais da vida,novos projetos,novas iniciativas.... Para aqueles que continuam com as feridas em aberto,levam mais tempo para recompor sua auto-estima.

A autora pretende que seu livro possa contribuir para cada um dos leitores de forma especial, sendo um estímulo para continuarem a buscar novos projetos que inclua  relacionamentos .

Dez anos depois....

A autora demonstra a evolução dos dez anos da família que sofreu o divórcio...

O desafio dos recasamentos em garantir o amor, os comportamento dos filhos em manter o padrão de funcionamento, a relação amorosa/competitiva com a madastra , as novas parcerias com seus agregados.

Durante os dez anos todos tiveram espaço para mostrar suas raivas e decepções,alguns momentos choraram,acusaram-se,mas nenhuma mágoa foi alimentada a ponto de destruir o que havia sido construído. A reconstrução familiar é trabalhosa.Há aqueles que querem que o projeto dê certo, de forma saudável e feliz.  Os momentos de descontração e união existem, porém também existem os aspectos difíceis e frustrantes. Depende de cada família escolher o que vai enfatizar. Depende como os membros desta família vão lidar com seus próprios fantasmas.Com os pés no chão ou como vítimas da separação?

E viveram ,às vezes felizes,às vezes tristes, para sempre...

A autora relata sobre uma menina chamada Rose na forma de conto de fadas.Rose soube que seu pai iria se casar e resolveu “fugir” de casa em busca de uma família ideal .Na sua fuga viu muitos tipos famílias. Refletindo sobre o que havia visto decidiu contar a seu pai seus medos em ser enteada, e relatou à madastra a forma como gostaria que se relacionassem “E todos viveram para sempre,com momentos felizes e tristes,como todo mundo”

Apêndice

A autora descreve 23 perguntas que podem ajudar cada um a ampliar sua versão e oferece também a oportunidade de pensar sobre novos pontos de vista ,que talvez, possam ser úteis.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

A autora consegue expor um assunto conflitivo e pouco abordado de forma ilustrativa, objetiva e real .Suas colocações trazem ao leitor reflexões sobre formas diferentes de comportamento frente ao conflito de separação/recasamento ,de modo a ampliar a consciência e analisar o tema com uma abordagem mais  profunda ,mas com leveza e bom humor. È uma leitura fácil, agradável e emocionante principalmente para quem já vivenciou os conflitos de uma separação.

 

Nome do autor da resenha e data: Bianca Massucci - Abril 2011.