Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Pedagogia Dialética: de Aristóteles a Paulo Freire

 

Autor do Livro:

Ola Raknes

 

Editora, ano de publicação:

Summus Editorial / 1988

 

Relação dos capítulos

Reflexões introdutórias à dialética da pedagogia

Sobre a relação da teoria com a prática: uma orientação histórico-sistemática preliminar

Teoria dialética da educação: a dialética da experiência da situação educacional como diretriz para a ação educativa

Teoria dialética da formação cultural: a dialética da determinação de sentido da formação cultural com orientação de sentido da tarefa educacional

Considerações finais sobre a dialética de teoria e prática

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Reflexões introdutórias à dialética da pedagogia: uma orientação histórico-sistemática preliminar

O autor constata que existe uma relação dialética fundamental entre a teoria pedagógica e a prática educativa. A prática é definida como os relacionamentos práticos presentes na educação e a teoria como uma ciência da educação. Tanto teoria quanto prática mantém uma relação de dependência, devido ao fato da prática ser o ponto de partida para que a teoria se oriente e a teoria volta à prática para modificá-la.

O pensamento dialético dominante na pedagogia na década de sessenta foi a dialética compreensiva de Dilthey e discípulos. Nessa concepção a ação educacional é determinada pela pedagogia, na qual o professor precisa tomar consciência da sua responsabilidade, trazendo a consciência os pressupostos ocultos e uma consciência de si mesmo.

As críticas sobre essa abordagem são: um ocultar do âmbito social do ensino, a pedagogia ser visualizada em função do educador, a pedagogia prática impedir a pedagogia científica de tornar-se ciência da educação.

Outra proposta de dialética, por Habermas, denominada ciência da educação mostra a importância da pesquisa educacional dentro da realidade sócio-histórica, de forma crítica, em busca da emancipação e libertação dos educandos. Entretanto, a reflexão crítica é contextual o que dificulta a crença na possibilidade de uma orientação da práxis educacional ao futuro.

Para a pedagogia se firmar como ciência prática, Dietrich e Benner fundamentaram três áreas de objetivos (teoria, fenomenologia e filosofia da educação). Os objetivos são:

  1. como análise situacional dialética para a atividade educacional, que guia o educador a elucidar situações como sendo educativas e a dominá-las educacionalmente sem lhe subtrair, na práxis, a sua decisão educacional;
  2. como interpretação dialética do sentido do empreendimento conjunto da educação, com vistas à formação humana do educando, que orienta a educação para a autoformação deste, sem ao mesmo tempo impossibilitar isto com determinações antecipadas;
  3. como auto-reflexão dialética sobre possibilidades e limitações de enunciados pedagógicos da e para a prática educacional, que constitui a pedagogia enquanto ciência prática cujo sentido não está na compreensão, mas no aperfeiçoamento da práxis.

 

Sobre a relação da teoria com a prática

Existem divergências sobre a ordem entre teoria e prática. Alguns autores preconizam a prática e outros a teoria. Marx, Engels e Lênin, colocam a união entre os dois com o início na prática, em um processo histórico dialético. No qual o homem é o transformador da realidade.

Para Kant há uma situação dialética fundamental na educação, que o homem (professor) educa os homens (alunos) para se tornarem homens (humanização). O que mobiliza a necessidade de uma dialética entre a teoria pedagógica e a práxis. Os alunos são educados para o futuro, porém para isso precisam de educação e educadores com propósitos e propostas que sustentem esse futuro. A meta torna-se o vir-a-ser homem, a humanidade, a humanização. “Por isso a educação é o maior e mais difícil problema que pode ser atribuído ao homem. Porque o juízo depende da educação, e a educação do juízo” (VI, p.702).

Já para Schleiermacher a educação é uma arte que precisa de uma doutrina em constante relação com a ética. A doutrina educacional visa o “como” é para ser e está sendo realizada a práxis. Para isso, a teoria - que dá suporte a prática - busca princípios éticos da sociedade e acredita no desenvolvimento interior do educando, em uma formação humana.

Ao contrário do posicionamento de Kant e de Schleiermacher, Herbart pressupõe a teoria anterior à prática. A teoria mais a prática formariam a ciência da pedagogia e não uma arte. Como ciência possuiria verdades universais as quais a prática dependeria. A Finalidade dos homens e da educação seria a moralidade.

Para Hegel e Marx a dialética é um movimento de vir-a-ser histórico da humanidade, porém as duas teorias são diferentes em vários aspectos.

Hegel em sua teoria afirmativa diz que o caminho é tornar consciente a eticidade existente na prática humana para que progressivamente os sujeitos tornem-se esclarecidos, o esclarecimento da razão que conduz à liberdade. A escola tem a tarefa de formação cultural, preparar ao mundo real não só pelas competências, mas principalmente, para que os alunos se tornem membros do Estado. Desse modo, a educação é reprodutora da práxis social.

Marx expõe que a tarefa da teoria é tornar consciente a contradição em busca de uma práxis social livre e ética. A educação é o momento da prática social, “formação dos indivíduos enquanto portadores da práxis social” por ter a função parcial da produção e reprodução da vida social. Assim, o progresso social traz, de forma interdependente, o desenvolvimento dos indivíduos, no qual as relações sociais geram a liberdade pessoal. 

Teoria dialética da educação: a dialética da experiência da situação educacional como diretriz para a ação educativa

Os teóricos Schleiermacher e Freire têm como princípio similar que a dialética inicia-se pela prática do ato de educar. No qual o professor tem o propósito de obter indicadores para a práxis educacional e que a pedagogia tem como tarefa dar diretrizes de atuação.

Para ocorrer uma ciência da educação é preciso instrumentalizar o educador por uma ciência pedagógica. A teoria pedagógica visa dar o sentido a práxis educacional, fornecendo ao professor esclarecimentos teóricos e capacitá-lo a problematizar na dialética da práxis.

Teoria dialética da formação cultural: a dialética da determinação de sentido da formação cultural com orientação de sentido da tarefa educacional

A formação cultural é passada de uma geração a outra. Dentro da formação cultural tem que se buscar o sentido. Assim, os educando devem renovar o objetivo “de que se desenvolva uma humanidade melhor e mais evoluída a partir da juventude”. Porém para tal, torna-se necessária a valorização desses objetivos pelos educadores. A valorização dos objetivos para a determinação do sentido faz da educação uma educação para a auto-reflexão crítica.

Considerações finais sobre a dialética de teoria e prática

A  proposta principal do livro é mostrar os variados aspectos da abordagem dialética. Mostrando a pedagogia como uma “ciência prática da e para a educação”. Na qual a relação entre a teoria e a prática é fundamental e que ao final da descrição de diversas concepções expõe a mediação entre a teoria e a prática como saída dos problemas educacionais.

O objetivo da educação dialética possui dois focos: a busca de sentido do homem e a emancipação ou libertação do homem. A primeira denomina-se de dialética compreensiva e a segunda de ciência da educação.

Dentro das variadas concepções existe oposição frente ao que vem primeiro, a teoria ou a prática. Uma concepção determina a experiência como foco de conhecimento para a busca de um arcabouço teórico que a partir dessa união transformaria a práxis. Enquanto outras propostas dizem que sem uma teoria não há percepção da experiência, pois se necessita de uma base teórica para o ato de educar.

A conclusão do autor é a necessária unificação da teoria e prática para formar a práxis crítica, contido de um sentido determinado em um contexto sócio-histórico-cultural, no qual o indivíduo precisa alcançar a autonomia.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O livro faz uma alusão à história dialética da educação. Coloca as características teóricas dos autores principais, juntamente com as críticas existentes a essas teorias.

O autor inicia e finaliza se posicionando a favor da união entre a teoria e a prática educacional. Para ele, todo conhecimento para ser vivenciado na relação professor-aluno precisa advir dessa união, visando formar a práxis.

A minha opinião sobre a união da teoria e a prática corrobora com as idéias do autor.

 

Nome do autor da resenha e data: Daianne Brecailo 24/04/2007.