Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Por trás da máscara familiar: um novo enfoque em terapia familiar.

 

Autor do Livro:

Maurizio Andolfi

 

Editora, ano de publicação:

Artes Médicas, 1989

 

Relação dos capítulos

Introdução

Cap. 1- O indivíduo e a família: dois sistemas em evolução

Cap. 2- O diagnóstico: hipóteses a serem testadas

Cap. 3- A redefinição como matriz da mudança

Cap. 4- A provocação como intervenção terapêutica

Cap. 5- Negação estratégica como reforço homeostático

Cap. 6- A metáfora e o objeto metafórico na terapia

Cap. 7- A família Fraioli: história de um caso

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Introdução

O livro fala sobre a evolução do trabalho do Instituto de Terapia Familiar de Roma, durante um período de oito meses. Foi adotado um modelo teórico estrutural e o modelo de terapia baseou-se nos ensinamentos de Salvador Minuchin, que fala sobre a importância de se observar as ações na medida em que se desenvolvem como parte do cenário terapêutico.

Também será demonstrado como os autores contrapõem cada metáfora ou fragmento ilusório da família rígida com uma metáfora não-racional interativa. Na realidade eles criam uma metáfora viva independente de tempo/espaço e pessoa/ “setting”.

Veremos ainda que o terapeuta pode usar a si próprio como um instrumento provocativo para desestabilizar o sistema familiar com delicadeza. Essa nova crise única permite, o aparecimento de um sistema mais amplo, que inclui a equipe terapêutica.

Cap 1 – O indivíduo e a família: dois sistemas em evolução

Foi observado a família como um sistema relacional que vai além do indivíduo e que articula entre seus membros vários componentes individuais.

Processo de diferenciação dentro do sistema familiar

A família é um sistema ativo em constante transformação, ou seja, um organismo complexo que se altera com o passar do tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes. Esse processo dual de continuidade e crescimento permite o desenvolvimento da família como a unidade e, ao mesmo tempo, assegura a diferenciação de seus membros.

Para atingir a diferenciação – para encontrar o espaço pessoal, a própria identidade – cada pessoa crescerá e se definirá através de trocas com outras pessoas.

A mudança nas funções de um membro do sistema acarreta mudança simultânea nas funções complementares dos outros e caracteriza tanto o processo de crescimento do indivíduo como a reorganização contínua do sistema familiar através de seu ciclo de vida.

Uma hipótese para mudança: flexibilidade e rigidez em um sistema

A família pode ser vista como um sistema em constante transformação, evoluindo graças a sua capacidade de diminuir sua própria estabilidade e, então, recuperá-la através de uma reorganização de sua estrutura com novas bases. A família como um sistema aberto experimenta pressões em direção à mudança tanto internamente, através dos papéis de membros individuais da família satisfazendo as exigências de seus ciclos de vida, como externamente, através das exigências sociais.

Em famílias onde qualquer mudança nas relações é percebida como ameaçadora, é observada uma progressiva rigidez do esquema interacional presente e da função de cada membro.

Pode-se concluir que a patologia do indivíduo pode desenvolver-se em relação a uma pressão intersistêmica (filhos saindo de casa, menopausa, etc) ou intra-sistêmica (transferência no emprego, deslocamento da família) sobre uma entidade particular, correspondendo à fase evolucionária da família. Cada mudança, quer intra-sistêmica ou intersistêmica, abala seriamente o funcionamento da família. A mudança requer um processo de adaptação que pode ser visto como uma modificação nas regras de associação a fim de assegurar a coesão familiar enquanto oferece espaço para o crescimento psicológico dos membros individuais da família.

Cap 2 – O diagnóstico: hipóteses a serem testadas na intervenção

Sistema familiar e sistema terapêutico

Parte do processo de diagnóstico deve ser dirigido à avaliação de onde e como concentrar a intervenção terapêutica e como ela será utilizada pela família. O diagnóstico depende da capacidade do terapeuta avaliar a interação, que o co-envolve-o, como faria um observador externo.

O terapeuta encontra três problemas: necessidade de isolar a função que a família deseja impor a ele; busca de definições e imagens relacionadas às funções de cada membro da família e necessidade de avaliação da intensidade, isto é, o grau de força investido em seu input desestabilizador que irá dissolver os padrões rígidos e ainda será aceitável à família.

Neste item, o autor ainda cita o paciente identificado, representando tanto a impossibilidade de mudança como a única possibilidade de mudança.

A utilização de defesas familiares

Um objetivo da intervenção é fazer com que o problema da família se torne o problema do sistema terapêutico e, conseqüentemente, que o terapeuta compartilhe as dificuldades que anteriormente pertenciam exclusivamente à família.

Um problema do terapeuta é como envolver uma família que apresenta, simultaneamente, solicitações contraditórias, sem enredar-se nos mecanismos paradoxais da família. De fato, a família está preparada tanto para sabotar seus esforços, se ele toma a iniciativa, como para forçá-lo a tentar o impossível, se ele declara que a situação é irremediável.

O terapeuta como diretor do drama familiar

O autor descreve que, o conta não são os fatos em si, mas seu desenvolvimento na interpretação pessoal de cada membro, a forma com que cada um liga a si próprio, sua necessidade, sua função dentro da família e os acontecimentos familiares percebidos como mais importantes ao longo do continuo ciclo da vida.

Se o terapeuta é bem sucedido, a rigidez funcional original da família gradualmente dá lugar à maior elasticidade da atribuição de funções individuais. A estrutura familiar inicial, altamente estabilizada, é gradualmente substituída por uma nova organização, a organização terapêutica, que é instável e provisória. O processo está completo quando os membros da família aprenderam a fazer suas próprias escolhas, livre de modelos rígidos, quando eles desenvolveram a capacidade de aceitar o “imprevisível”, quando o inesperado, em si, forma uma parte de suas regras.

Cap 3 – A redefinição como matriz da mudança

Redefinição da relação terapêutica

A formação de um sistema terapêutico exige continua redefinição da parte do terapeuta. Ele começa com a definição mais ou menos explícita que a família apresenta de si mesma e, então, tenta modificar isso, alterando o significado da interação familiar ou da interação entre os membros da família e ele próprio. O objetivo é tumultuar os padrões de interação entre os vários subsistemas a fim de torná-los insustentáveis e de criar mudanças estáveis e valores de apoio no esquema de relação.

Dada a extraordinária capacidade dessas famílias de assimilar toda nova aprendizagem dentro de seus padrões habituais, cada redefinição corre o risco de ser “engolida” pelos padrões antigos, conhecidos e, portanto, de tornar-se inoperável. A família, então tentará impor suas próprias regras no sistema terapêutico, procurando envolver o terapeuta no seu “jogo”.

Redefinição do contexto

Nós nos definimos não apenas através de nossas palavras, mas também através de nossas ações, através dos instrumentos, objetos e meios que escolhemos, da maneira como os utilizamos e do que eles significam para nós. Todos esses componentes criam o contexto de nossas interações e trocas e são, por sua vez, condicionados por aquelas mesmas trocas.

Na terapia, também devemos observar os comportamentos envolvendo o uso de objetos e atos rituais pessoais ou compartilhados. Esses são usados para qualificar intenções, para comentar o comportamento dos outros e, tomados conjuntamente, para desenvolver o contexto dentro do qual as trocas de relação possam ocorrer. Algumas vezes é suficiente introduzir um novo elemento, tal como o uso de um novo movimento, fazendo alguém trocar de lugar, alterando o ritmo das interações, impondo silêncios ou sugerindo trocas entre certos membros do sistema familiar. Essa mudança de contexto, por sua vez, altera as transações sucessivas. Agindo sobre os elementos e usando-os, o terapeuta pode então redefinir em muitos níveis.

O novo contexto redefine não somente as relações internas da família, desmistificando suas trocas verbais, mas também a relação entre a família e o terapeuta.

Redefinição do problema

A redefinição do problema apresentado pela família com sua solicitação por terapia é possível se consegue mudar o significado atribuído ao comportamento sintomático do paciente. Isso não pode ser feito até que o sistema familiar seja artificialmente removido de seu contexto habitual, onde os velhos padrões “naturais” estão entrelaçados. O objetivo é transferir o sintoma para o plano de relação, fazendo isso de tal forma que se torne claro a todos que ele funciona para manter o “rapport” da família.

Cap 4 – A provocação como intervenção terapêutica

Indução de uma crise

Se o primeiro objetivo é induzir uma crise terapêutica, devemos estar certos de que temos condições de provocá-la e devemos fazer isso de tal maneira que a intensidade da crise seja diretamente proporcional ao grau de rigidez presente no sistema familiar. Nossa intervenção é postulada, portanto, como uma resposta às mensagens enviadas pela família a partir dos primeiros passos da relação que eles procuram estabelecer conosco.

Observando a intensidade e qualidade das comunicações dirigidas a nós pela família, aprendemos a responder quase que por meio de mimetismo. Ou seja, imitamos certas mensagens, acentuando sua intensidade em proporção àquela intensidade que recebemos. Se a intensidade da intervenção está em proporção direta à rigidez do sistema familiar, a qualidade de nossa resposta reflete a mesma intensidade em resposta às comunicações recebidas da família. Uma leitura cuidadosa dessas mensagens permite-nos avaliar aquelas que imporiam maior dificuldade para nós bem como “devolver” á família aquelas mensagens que não os antagonizam naqueles planos, mas que sinceramente escoram sua estrutura.

O autor ressalta que é inútil discutir com a família sobre quem está certo. Nossa estratégia é afirmar que a família, com todas as suas mensagens incoerentes, está sempre certa. Dessa forma, forçamos a família a experimentar a dor de duas contradições.

O paciente identificado: a penetração no sistema

O comportamento sintomático, geralmente considerado uma expressão do sofrimento do indivíduo e de outros membros do sistema familiar, sem dúvida apresenta vantagens para ambos. Freqüentemente cometemos o erro de subestimar o enorme poder ligado à função do “bode expiatório”. A qualidade involuntária do sintoma, de fato, permite ao “paciente” definir e controlar suas relações com os outros, bem como controlar as relações entre os outros membros da família.

A enorme importância da função do bode expiatório explica por que todas as tentativas de deslocar sua centralidade e de ampliar o problema de forma a envolver todas as relações familiares são tão difíceis e geralmente destinadas ao fracasso.

A partir do momento em que a provocação de certas comunicações familiares é perceptível e valiosa de uma forma absolutamente subjetiva, qualquer terapeuta pode responder à família tomando parte dela pessoalmente. Como fruto de uma nova e intensa relação entre “terapeuta” e família “, pode nascer um padrão comunicativo diferente, no qual o terapeuta, embora fazendo parte integral do sistema, é, ao mesmo tempo, aquele que o controla.

Se a família provoca o terapeuta e controla o sistema através do paciente identificado, o terapeuta, da mesma forma, deve tentar provocar a família e controlar o sistema terapêutico usando o mesmo canal.

Da função do paciente identificado à rede de funções da família

A intervenção provocativa deve colocar-nos em comunicação com todos os membros da família por meio da mesma via usada por eles para comunicar-se entre si: o paciente. Para isso é fundamental que seja dada ao paciente uma função diferente, que redefina radicalmente as características do “pobre menino doente” tão querido de toda a família. Juntamente com a definição do aspecto voluntário de seu comportamento, o terapeuta deve dar-lhes uma nova função como controlador oficial da família, sem cuja dedicação os outros não seriam capazes de se controlar.

O paciente identificado é fundamental para a família porque ele voluntária e logicamente comporta-se de formas que são úteis ao funcionamento da família.

O terapeuta deve atribuir ao comportamento sintomático uma função designada para unir os membros do sistema e ativar aquela tensão que até agora estava investida no paciente identificado.

Desafio à função e apoio da pessoa

A dificuldade principal repousa no objetivo de atingir cada membro individualmente e de ajudá-lo a escolher entre aquilo que ele geralmente faz e aquilo que ele gostaria de fazer, em entre aquilo que ele é e aquilo que ele gostaria de tornar-se.

Em seu desafio à função do paciente e, com o tempo, aos outros membros do sistema familiar, ele os conduz a uma definição clara de suas necessidades e de seus potenciais individuais. Se isso começa a ocorrer, a crise profundamente temida torna-se inevitável. Isso é difícil de conseguir com sistemas familiares rígidos devido ao seu controle excepcionalmente firme das emoções individuais, que são habitualmente sacrificadas em nome de alguma emotividade familiar indiferenciada. Nesses casos, acima de tudo, nada se move a menos que se crie tal “stress” que algum membro da família sinta-se pressionado a romper com a “lealdade familiar”. Deve-se fazer alguém sentir que é mais fácil reagir à provocação do terapeuta de uma forma pessoal e diferenciada do que continuar sendo um ator leal ao velho desempenho repetitivo. A primeira alternativa é escolhida não porque o terapeuta suavizou o caminho para isso, mas, ao contrário, porque ele tornou a segunda muito mais difícil de ser mantida.

Cap 5 – Negação estratégica como reforço homeostático

Unir ou separar?

A intervenção provocativa é explicitamente ativa e leva o terapeuta à confrontação direta com a família. Nossa experiência tem nos ensinado que é aconselhável alternar essa abordagem com uma outra que pareça oposta, isto é, antecipar e neutralizar a possível recaída da família.

A formação da relação terapêutica, a melhora do paciente identificado, uma mudança no entrelaçamento funcional dentro da família, o termino da terapia, ou um pedido por terapia novamente após uma interrupção – todos são pontos do processo onde a negação pode ser um catalisador na reconsideração do que tem acontecido. Ela pode ser um ponto de partida para a nova auto-investigação da família.

A negação da terapia ou o objeto claramente atingido permite que o terapeuta afaste-se do que havia ativado, dessa forma dando para a família resolver um problema que não é diretamente mediado por sua presença.

Ele abandona o papel de protagonista para tornar-se um observador das iniciativas que a família toma.

A negação estratégica, com efeito, pode ser comparada ao “largar a corda” pelo terapeuta, que age antecipando os movimentos que a família está se preparando para fazer.

Negação da necessidade de terapia

Quanto mais rígida é a organização familiar, mais útil é a negação quando colocada em jogo no inicio do processo.

Olhando isso de um outro ângulo, se aceitamos as expectativas dos membros da família, estamos reforçando suas tendências a consolidar suas forças em sua condição estática pré-existente.

A recusa do terapeuta em conspirar com a família ou em tentar mudar a situação lança-os em uma encruzilhada: trabalhar verdadeiramente com o terapeuta ou abandonar a sessão.

A negação do progresso

A família reflete seu progresso através da melhora do paciente identificado, seu porta-voz oficial; por outro lado, é impossível para eles admitir essa melhora.

O progresso continuo é redefinido como uma piora da situação, que apóia a idéia de que é melhor não mudar nada.

Tentativa de dissolução do sistema terapêutico

Em um certo momento, a família mostra-se preparada para testar sua autonomia independente do apoio do terapeuta, e o processo terapêutico move-se em direção à resolução gradual.

A coesão foi inicialmente conseguida tendo o paciente como elemento central. Através do curso do processo terapêutico, a coesão foi mantida com o terapeuta sendo o novo regulador homeostático do sistema. Essa é a razão por que, nesse ponto, a família deve aceitar a dissolução do sistema terapeuta-familia e tentar estabilizar sua própria nova organização.

Cap 6 – A metáfora e o objeto metafórico na terapia

Linguagem metafórica

A linguagem cotidiana é rica em metáforas e, por meio de imagens baseadas na similaridade, ela permite reproduzir a realidade e os objetos que nos rodeiam da mesma forma que um mapa reproduz um território. Ao contrário de um mapa, entretanto, o significado da linguagem e de suas imagens metafóricas muda de acordo com seu contexto e de acordo com as conotações que foram sobrepostas às várias circunstancias nas quais essas imagens foram usadas.

A metáfora é transmitida da mesma forma com que o paciente manifesta o sintoma, em um contexto e de uma maneira que permite afirmação e negação simultâneas tanto do conteúdo como do receptor.

A metáfora relativa ao contexto

Às vezes o terapeuta pode usar metáforas continuamente, chegando, finalmente, a uma discussão alegórica. O terapeuta pode relacionar fantasias que lhe vêm à mente ou anedotas sobre outros pacientes, mas ele procura evitar ligar essas com as pessoas diretamente interessadas, prevendo suas possíveis objeções.

O objeto metafórico: a “invenção” do terapeuta

Uma das características do uso da metáfora é que ela possibilita a criação de uma imagem das emoções do comportamento de uma pessoa, de seu caráter, ou de suas relações dentro de um sistema.

Usando o objeto metafórico ao invés de simplesmente a metáfora, o terapeuta pode efetivamente retirar-se do centro. Ele não é mais o centro da atenção, o ponto de referência para o grupo. O ponto focal torna-se aquele objeto, aquele elemento material que é passado de um para o outro, avaliando e examinando, como se escondesse um segredo profundo que deve ser decodificado.

O objeto pode ser extremamente eficaz quando uma situação se torna confusa ou “atola-se” em um impasse. Usando o objeto metafórico o terapeuta é capaz de “devolver a bola” para a família e observar o que acontece da linha lateral. Ao mesmo tempo ele fornece ao terapeuta um sólido ponto de referência ao qual ele pode retornar no final de cada digressão interativa.

O objeto metafórico: o elemento de dramatização

O fato de que a metáfora pode encontrar apoio material no objeto metafórico permite-nos usá-la para dramatizar as relações dentro do sistema. Isso pode ocorrer através do diálogo direto se forem usados bonecos ou um objeto que represente uma pessoa, ou através da passagem do objeto de uma pessoa para outra, onde a ação em si adquire um significado simbólico. O objeto serve como receptor e transportador de todas as conotações sugeridas por cada pessoa, incluindo o terapeuta.

O objeto metafórico: uma “invenção” da família

Uma outra forma de empregar o objeto na terapia é usar o objeto ou objetos que a família traz pra a sessão. Inicialmente, esses têm um significado para a família diferente daquele que o terapeuta atribui a eles. Os objetos podem ser, portanto, conscientemente usados como instrumentos de comunicação.

É muito fácil ver como os elementos bizarros e o humor nos casos relatados podem tornar-se de grande ajuda no obtenção de um maior entendimento. Se a realidade e o senso trágico que freqüentemente a acompanha puderem ser transformados em brincadeira, pode ser possível dissolver as ligações entre as funções estereotípicas de cada membro do sistema, e libertar o potencial criativo inato da família.

Cap 7 – A família Fraioli: história de um caso

Conta a história de um paciente esquizofrênico. A família foi tratada quinzenalmente por 23 sessões.

Giuseppe, de 28 anos. Formou-se em Direito, mas abandonou qualquer esperança de trabalho e passava horas no seu quarto ou andando pela casa obcecado por fantasias de sexo e morte. Masturbava-se abertamente, usando roupas intimas da sua mãe para excitar-se, demonstrando também abertamente o desejo de ter relações com ela.

Numa primeira sessão, o terapeuta abalou e perturbou as expectativas da família de reconsolidar a estabilidade do sistema. Negando estrategicamente a patologia e os aspectos involuntários do comportamento de Giuseppe, embora aceitando seu papel central, o terapeuta bloqueou a tentativa de restauração das velhas regras da relação. Ao oferecer-se como ponto de referência emocional para todos os membros do sistema, o terapeuta comunica sua relutância em envolver-se em seu jogo de relações. Enquanto desafia sua organização disfuncional através da provocação do paciente, ele recusa-se a aceitar qualquer resposta que repita o velho “script” familiar. Ele cria uma ação que conduz à diferenciação entre os membros individuais da família em relação a ele próprio, evitando qualquer comunicação da qual ele não seja o mediador.

A definição do comportamento da paciente como lógico, voluntário e útil para a família abala a estabilidade do sistema. Os outros membros da família serão forçados a mostrar como o paciente identificado não pode, possivelmente, comportar-se de forma lógica, voluntária, muito menos de forma útil para a família.

O terapeuta, então pede a Giuseppe que traga seus irmãos e irmã para a sessão seguinte, alegando que devido à sua condição estar declaradamente pior, seus irmãos devem estar presentes para ajudar a apoiar seus pais. Ampliando o sistema dessa forma, o terapeuta redefine o problema em termos da autoridade parental sobre os filhos. Ele também desloca o foco para o comportamento simbólico do paciente.

Na sessão seguinte, Giuseppe, seus pais, seus dois irmãos e sua irmã estão presentes.

O terapeuta dramatiza a situação familiar:

O terapeuta elabora a diferenciação entre o subsistema. O paciente identificado assume a posição central novamente, falando sobre a situação conflitante que se agiganta sobre ele. A tensão se instalou. O conflito entre os subsistemas dos pais e dos filhos aguçou-se e o paciente identificado está tentando salvar as aparências.

O terapeuta parece inibir o processo de diferenciação como sendo perigoso para o equilíbrio familiar. Após ter revelado as diferenças, ele sublinha o risco da diferenciação. Negando estrategicamente a terapia, ele desloca-os para um pólo homeostático e impele a família para uma posição desequilibrada.

A garantia consiste em manter as coisas como estão. Fazendo disso um ponto fixo, o terapeuta, na sessão, revela o espectro do que poderia acontecer se Giuseppe tivesse que abandonar suas funções. Dessa forma ele introduz o “espectro da mudança”, simbolizado pela morte do paciente. Ele testa os medos e as fantasias existente nos dois subsistemas, parental e filial.

Então, começa uma nova fase que é caracterizada pela progressiva descentralização do terapeuta. Essa culminará na separação do sistema terapêutico. A descentralização continuará até que o espaço interativo da nova estrutura do sistema possa ser verificado e testado.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

É de suma importância ressaltar que, antes de uma intervenção terapêutica efetiva sobre uma família, existe uma necessidade de um tipo de pesquisa ou investigação sobre todo o contexto no qual a família está inserida (social/cultural) e um levantamento de dados sobre o histórico familiar, tanto de indivíduo por indivíduo quanto do grupo como um todo. Em outras palavras, é relevante que se faça uma espécie de coleta de informações a respeito das variáveis que existem em torno de uma relação intrafamiliar.

Este livro também nos mostra como o terapeuta pode utilizar-se como instrumento provocativo e sua importância em uma sessão de família.

Ao se trabalhar com família, é importante ter clareza do pedido da mesma, ( o qual nem sempre vem explícito), evitando assim, ser “engolido” por ela. Durante o processo terapêutico sempre haverá resistência por parte da família, pois o pedido é paradoxal, “querem mudar desde que nada mude”, por isso, é necessário a persistência do terapeuta para que a mesma não abandone o processo.

 

Nome do autor da resenha e data: Andreza de Barros Pereira Ivo - Novembro/ 2004.