Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
Psicoterapia pelo encontro |
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Autor do Livro: |
Will Schutz |
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Editora, ano de publicação: |
Atlas, 1978 |
Relação dos capítulos
1. Definição de encontro
2. Histórico do encontro
3. Princípios do encontro
4. Bases fisiológicas do encontro
5. Bases psicológicas do encontro
6. Teoria de desenvolvimento de grupo
7. Grupo de encontro
8. Avaliação do encontro
9. Aplicações do encontro
Apanhado resumido sobre cada capítulo
Introdução
Como é comum nos livros de Schutz, ele introduz a obra tornando a bem pessoal e estabelecendo um diálogo direto com o leitor. O livro é todos escrito em primeira pessoa e o leitor é tratado como “você”. Ele contextualiza o nascimento dos grupos de Encontro nos EUA e destaca Carl Rogers como um de seus propulsores. Carl Rogers define o encontro como sendo “talvez a invenção social mais significativa deste século”. Schutz anuncia esta obra como: ”meu livro mais conciso, minha exposição mais completa sobre o encontro”.
Cap1. Definição de Encontro
Neste breve capítulo o autor descreve o que “o encontro é”, abordando desde conceito, aplicação e função, até detalhes de enquadre como quantas pessoas devem participar, como deve ser a sala, onde as pessoas devem sentar-se, tempo de duração e faixa etária.
Cap2. Histórico do Encontro
Para Schutz, o preceito délfico de “conhece-te a ti mesmo” é o princípio fundamental do encontro. Nesta passagem ele promove um resgate que inicia-se em Sócrates e seu estilo de influenciar intelectualmente seus grupos, passando pelas tragédias gregas, teatros medievais e rituais religiosos. Sinaliza precursores da terapia de grupo como Pratt e os expoentes do trabalho com Grupos-T (treinamento) e dinâmicas de grupo. Destaca o psicodrama, a gestalt e os métodos corporais como grande influência no trabalho com Grupos de encontro. Merece destaque a longa menção que o autor faz ao teatro e a dança como os elementos de maior inter-relação com os Grupos de encontros por trabalharem a integralidade do ser humano, a espontaneidade, a busca pelo contato mais íntimo consigo mesmo na intenção de expressar ao mundo o que se é.
Encerra com um “status atual” do campo que corresponde aos EUA nos anos 70.
Cap3. Princípios do Encontro
Neste capítulo o autor lança as bases de sua proposta de Grupos de Encontro. Inicia a passagem lembrando ao leitor que ele “é um todo, corpo, psique e espírito”, e que ele funciona melhor quando todos os aspectos estão integrados e conscientes. As bases fundamentais do Encontro são honestidade e abertura. Nos parâmetros sociais vigentes, “gastamos muita energia procurando esconder quem somos dos outros e de nós mesmos”. Neste sentido, integrando e harmonizando diferentes técnicas e métodos, a “cultura do encontro” como ele a chama, tem o propósito de remover barreiras e obstáculos ao fluir natural da energia vital do ser humano, tanto no nível físico quanto psíquico. Para ele “é melhor determinar as condições em que cada método funciona com mais eficiência do que determinar qual, entre vários métodos, é o melhor”.
Aqui Schutz explicita de forma clara e ilustrada o viés espiritual de sua visão de homem e de mundo, inclusive postulando como uma “questão de relevância para o futuro” tornar conhecidos os efeitos da desonestidade sobre as outras energias do universo.
Ser cônscio de si mesmo, de suas escolhas e responsabilidades também são fundamentos importantes do Encontro. Para o autor, vir a um Grupo de Encontro é um ato voluntário e que independe de rótulos (neurótico, psicótico) ou doença (alcoolista, diabético). Implica simplesmente um desejo de maior alegria, honestidade, auto-aceitação, consciência. Ele reafirma sua crença de que cada um é absolutamente responsável por suas escolhas e, acreditando nisto, ele está potencializando nas pessoas o que elas têm de melhor. Em contrapartida que, ao colocar-se como terapeuta no papel de responsável pela dor do cliente (modelo médico), ele elicia o pior da pessoa e a torna infantilizada.
Cap 4. Bases fisiológicas do encontro
Neste capítulo Schutz contextualiza, de forma impressionantemente sintética, o potencial do corpo (tamanho, crescimento, força, funcionalidade, flexibilidade). Tudo isso sem , nem por um momento, esquecer de mencionar a integridade processo-pessoa-corpo. Num parâmetro ideal, ele afirma que ‘se meus tecidos e órgãos fossem todos empregados de formas tão variadas quanto possível eu realizaria meu potencial totalmente”. Paradoxalmente, o mesmo anuncia a impossibilidade deste acontecimento devido a, principalmente, por traumas físicos, traumas emocionais e uso limitado dos potenciais do ser. Mas isso não se configura algo pesaroso, afinal, crescer sem obstáculos não garante o desenvolvimento completo da personalidade.
Ainda explorando os elementos relativos ao corpo, ele fundamenta-se em autores como Lowen, Rolf, Feldenkrais, Izer, Metzner e muitos outros para fundamentais as influências e o lugar do movimento, da energia, das funções orgânicas superiores e inferiores, do sistema muscular na Psicoterapia pelo Encontro. Schutz afirma categoricamente que, no Encontro, o sistema muscular e a expressão corporal das emoções são elementos prioritários, superando inclusive a importância da palavra falada (tão central em grande parte dos processos de psicoterapia). Para ele (como para tantos autores citados por ele), o corpo traz as informações sobre quem sou, o que vivi, como vivi e vivo. É portanto, um poderoso agente de libertação, consciência e desenvolvimento do potencial humano.
Cap5. Bases psicológicas do encontro
Um dos conceitos-chave fundamentais do Encontro é o auto-conceito, que depende em grande parte das minhas trocas com os outros. Com esta afirmação o autor alinhava a base psicológica do encontro em princípios interpessoais, mais precisamente na teoria desenvolvida por ele sobre as necessidades interpessoais. Inclusão, controle e afeição seriam as três grandes necessidades que movimentam os seres humanos nas relações com seus pares humanos, com a natureza e as instituições que foram e são construídas (também) para permitir a satisfação destas necessidades. Para ele, elas se manifestam nos sentimentos e comportamentos para com os outros, bem como estão na base daquilo que cada um sente por si. Neste capítulo o autor esmiúça as diferentes necessidades e seus aspectos mais subjetivos e orgânicos, além de realizar comparações (bastante inclusivas) com as teorias psicanalíticas de Freud, Jung e Adler.
Cap6. Teoria de desenvolvimento de grupo
A vida em grupo possui uma lógica e uma natureza quanto as fenômenos vividos por seus integrantes. Necessidades interpessoais comuns aos grupos humanos são Inclusão, Controle e Afeição. Sua ordem de aparecimento não é rígida mas as experiências em grupo tendem com freqüência a esta ordem. Isto não quer dizer também que o grupo se encerre ao final da terceira etapa. Dependendo do tempo de duração do grupo e de sua capacidade de resolver adequadamente os problemas de cada fase, as três fases podem se repetir várias vezes com um mesmo grupo. Outro fato importante é que elas existem simultaneamente em todas as fases, ainda que apenas uma necessidade interpessoal destaque-se em cada etapa.
Inclusão, Controle e Afeição não são só experimentadas entre os membros do grupo. A cada fase tais necessidades são também vivenciadas dos membros do grupo para com o líder (terapeuta, coordenador), que está também incluso no sistema daquele grupo.
Quando da separação, o processo do grupo ocorre ao inverso. Ao tomar contato com o fim, ele experimenta primeiramente uma fase de afeição (lida com os afetos), depois o controle (limpa as questões de poder e responsabilidade) e finalmente retorna à inclusão (quem estava dentro, fora, o quanto cada um fez parte, agendam re-encontros futuros).
Cap 7. Grupo de encontro
Neste capítulo Shutz coloca algumas questões estruturais sobre o funcionamento do Grupo de Encontro. Já de início fundamenta sua opção por trabalhar em modelo de workshops intensivos. Segundo ele, sua longa experiência com processos individuais, encontros semanais por tempo indeterminado e outras modalidades terapêuticas o levou a concluir que poucos recursos são mais úteis e eficazes do que encontros intensivos de 5 dias em regime de residência (como uma espécie de retiro onde todos hospedam-se no local dos encontros). “Descobri que uma semana de terapia intensiva equivale a dois ou três anos de sessões de terapia periódica e que, para essa semana, grupos são bem mais eficientes do que sessões individuais. Por isso abandonei praticamente todos os outros esquemas” (Schutz, 1978, p 70). Quanto ao funcionamento, faz menção ao tradicional “contrato de sigilo”, tido como uma espécie de obrigatoriedade no trabalho com grupos. Ele explica que no contato inicial afirma-se que cada um é responsável por si mesmo. A pessoa é colocada numa posição de se responsabilizar por aquilo que mostra de si para o grupo e de confiar no julgamento do grupo. Ainda reforçando a responsabilidade de cada um, não são utilizados processos de natureza seletiva uma vez que os “possíveis perturbadores” podem constituir em fatores de grande crescimento para si e para o grupo.As regras são outro aspecto de grande relevância para o Grupo de Encontro. Três conjuntos de regras são respeitadas, a saber: 1) conjunto que estabelece comunicação aberta e honesta; 2)conjunto que focaliza o corpo e o integra a atividade grupal; 3) conjunto que ajuda a estabelecer sua identidade e encorajá-lo a responsabilizar-se por si mesmo. A metodologia de apresentação das regras ao grupo pode variar de acordo com o padrão do grupo. Pode ser na abertura, por reforço e marcação à medida que situações ocorrem, ou de outras formas.
O papel do líder Ideal para o encontro é de uma pessoa auto-consciente, que cria atmosfera para reconhecimento e expressão de sentimento e que está sensível as necessidades do grupo. No universo técnico do líder, além de técnicas e procedimentos, a questão mais relevante é dar-se conta de que o líder é mais eficiente quando segue o fluxo de energia do grupo e das pessoas. Interações vitais para o crescimento ocorrem quando o trabalho do grupo se orienta para onde está a energia.
O capítulo termina com a narração de um caso de grupo de encontro a título de ilustração do que foi exposto.
Cap 8. Avaliação do encontro
As opiniões sobre os efeitos do encontro, na época em que livro foi escrito, estavam divididas principalmente por não existirem pesquisas consistentes a respeito. Schutz realizou uma pesquisa entrevistando pessoas que participaram de grupos de duração variada e que haviam ocorrido entre dois meses a 10 anos antes da entrevista. Os resultados mostraram que 83% das pessoas afirmaram ter obtido resultados positivos em ter participado. Por outro lado, o autor é também bastante explícito quanto aos riscos que este tipo de trabalho representa. Riscos relacionados à má condução, aos efeitos da má condução (raros, mas possíveis) como doenças, acidentes, suicídios, enlouquecimento. Entretanto, reitera com firmeza o princípio da responsabilidade individual evidenciado e contratado com todos os grupos. Schutz afirma que, após muitos anos utilizando das práticas “tradicionais” de terapia de grupo onde o líder assume responsabilidade por tudo o que ocorre, cerca-se de todos os tipos de cuidados, interpreta e racionaliza muito para manter a emotividade do grupo sob controle, quase sempre terminavam em dependência e fraqueza por parte dos participantes. Sua preferência pelo esquema da auto-responsabilidade fortaleceu-se ao deparar-se com um potencial de crescimento infinitamente maior quando cada um assumia ser dono de seu próprio processo de consciência e mudança.
Cap 9. Aplicações do encontro
Schutz acreditava que os princípios do encontro configuravam numa espécie de cultura que dava sinais de popularização na sociedade americana. Honestidade, auto-responsabilidade, conscientização, compreensão e aceitação do corpo e de si mesmo, apreciação da unidade do organismo são os tais princípios que, além de configurarem cultura podem também ser aplicados em diferentes contextos. A aplicação mais comum e evidente é a da psicoterapia, na qual a tarefa di líder de grupo é “em outras palavras, aprender muitos métodos e por meio da experiência, tornar-se flexível o bastante para tratar qualquer situação com recursos adequados e eficientes” (Schutz, 1978, pg, 103). Outras aplicações para os princípios e exercícios dos Grupos de Encontro são na educação, na indústria, na sociedade, na religião e na vida cotidiana.
Apreciação pessoal sobre o livro
Para um livro escrito em 1978, sua proposta parece bastante congruente com as necessidades e com os desafios deste início de século XXI. O autor, de uma forma simples e explícita, disponibiliza e organiza grande parte das informações necessárias para que até mesmo um leigo possa compreender claramente o que é, como funciona e o que pretende a proposta do encontro. Evidentemente, algumas características da obra estão intimamente ligadas ao contexto no qual o livro foi escrito. Por outro lado trata-se de uma proposta atual, sistêmica e altamente integradora de configurar uma visão de homem, de interpretar o processo grupal e de propor estratégias de promoção do potencial humano. Este livro é essencial à formação de terapeutas sistêmicos, especialmente àqueles que escolhem trabalhar com grupos, seja em qual contexto for.
Nome do autor da resenha e data: Juliana Zilli Bley 19/01/08.