Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Repetição e transformação na vida do conjugal

 

Autor do Livro:

Vera Lucia C. Lamanno

 

Editora, ano de publicação:

Summus Editorial, 2001

 

Relação dos capítulos

I - O psiquismo da relação conjugal

II - O Atual e o Virtual fusionados: O universo ilusório da relação

III- Repetição e transformação na vida conjugal

IV - Organização psicótica e organização não-psicótica da relação conjugal

V - O todo, a parte e um todo à parte: Um casamento Compulsivo Perverso

VI - Caçadores de ilusão: Um casamento Narcísico Perverso

VII - A psicoterapia do casal

VIII - Transferência e contratransferência na psicoterapia do casal

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

I-O psiquismo da relação conjugal

A escolha dos parceiros se desenvolve a partir de repetições interns de figuras parentais vividas a partir das relações familiares, tendo como eixo a ilusão original , ou seja a chamada neste livro de Vivência Virtual.

A relação transforma-se então, numa expectativa de realização com consequente engate, desembocando numa harmonia e realização definitiva por pressuposto. Ou seja, um oferece ao outro e engata no que ele espera deste outro. O que acontece é um enredo cujos personagens pertencem ao atual, ao mesmo tempo que reproduzem o que não é mais. Ambos se enrolam num enredo e quando foge deste script, acaba a relação.

No caso de colocar a relação em cheque - vê-se como algo ruim, e não como uma possibilidade de rever, aprender e crescer.

Um padrão relacional específico mantém a relação pobre, não evolui... Ele deveria ser alterado mas a angústia de encontrar o desconhecido funciona como impeditivo de mudança deste padrão.

Para a relação se desenvolver, entra espera, ruptura de crenças, generosidade e tolerância.

Normalmente os casais não reúnem as condições necessárias para transmutar a relação.

 

II-O Atual e o Virtual fusionados: O universo ilusório da relação

Neste capítulo a autora relata um atendimento de casal juntamente com um co terapeuta.

Neste casal a mulher desejava o divórcio em função do aparecimento de um amante , e o homem buscava na terapia um meio para manter o casamento.

Ela alegava ter se casado sem amor e ele dizia que o casamento sempre fora estável até a chegada do amante. Eles queriam que os terapeutas dessem uma solução sem resultados de perdas ou dores.

Neste impasse o co terapeuta sugere que ambos tragam seus pais para a discussão. A partir deste momento fica explicitado a repetição do Virtual no Atual, ou seja: a esposa relembra da relação incestuosa que teve com o pai, traindo a mãe, o que a levou a escolher um parceiro cuja religião impedia o sexo antes do casamento. O pai não exercitou a função de limite.

Ele, por sua vez, por não Ter que experimentar o pecado devido à religião onde existia um Deus que lhe impunha limites.

Então apareceu na sessão, duas crianças assustadas e amedrontadas: o casal.

Fica clara a relação complementar que se estabeleceu durante o casamento: ambos se protegeram do mal, pois o casamento os redimia de suas relações com os pais.

Através das filhas, eles ficaram frente à coisas do passado que tentavam "esquecer" através deste casamento.

Ou seja, o Virtual e o Atual fusionados.

 

III-Repetição e transformação na vida conjugal

Neste capítulo, menciona-se uma casal que se uniu em função do preenchimento do vazio de cada um: Ele buscava alguém que tomasse as decisões, que fosse sábio ( conheceram-se numa situação, onde ele assumiu o lugar dela ao fazer uma prova de matemática na faculdade)

Ela não assumia o papel de mãe nem de mulher. Ele por sua vez, casou-se com ela em função de uma gravidez inesperada. Nesta circunstância ele tomou a decisão de se ter relações mesmo após o aviso de que ela estava em período fértil.

O casal era um colorário de reclamações recíprocas e qualquer tentativa de mudança de ambos voltavam à vivência Virtual.

 

IV-Organização psicótica e organização não-psicótica da relação conjugal

Segundo Winnicott, o indivíduo transita em três mundos: interno, externo e o ilusório.

Ele fala do objeto transiocional como um reviver de uma nova chance de lidar com a presença e a ausência, com prazer e desprazer.

O ser humano vive esta experiência (objeto transicional / mundo ilusório) desde a primeira infância, quando substitui a ausência da mãe , por um cheirinho ou uma chupeta, por exemplo.

Consequentemente o apaixonamento pode ser visto como a primeira expressão das funções ativas e criativas do casal, não sendo o ilusório uma negação do real, mas habitando o real. O casal se une na complementação de suas faltas - Núcleo de Vivência Mútua. Quando percebe que o outro é a extensão dele mesmo, termina em desilusão.

Como solução, segundo Kehl, o casal tem na desilusão a possibilidade de retornar à individualidade e fazer nascer o amor.

O resultado disto é o congelamento do psiquismo conjugal.

Este psiquismo conjugal pode ser de três tipos:

•  Compulsivo Perverso C

Caracterizado pela relação de carater defensivo.Um anula o outro, e a ênfase é no sexo

•  Narcísico Perverso

Caracteriza-se pelo paradoxo de se sentirem casados com a ilusão, tendo que enfrentar a desilusão que resulta na solidão.Cada um reina absoluto e de forma indiscrinativa.

•  Casamento Desafetado

Caracteriza-se na falta de habilidade do indivíduo para reconhecer, conter, agir e atuar seus próprios estados afetivos e os dos outros. Só há um mundo dos negócios. Ataca capacidade de captar afeto. Incapaz de sentir prazer.

Observa-se no início da relação conjugal a formação de dois mundos:

•  Psicótico - ligados às idealizações recalcadas e dissociadas da infância e que inicialmente, na fase de apaixonamento, parecem solucionadas.

•  Neurótico - ligados à exigência do mundo exterior e advindas do psiquuismo mais amadurecido do casal.

Na medida em que os dois universos (psicótico e neurótico) se mantém vivos na relação, é possível que o casal consiga encontrar espaço para a exploração e a criação.

 

V- O todo, a parte e um todo à parte: Um casamento Compulsivo Perverso

Neste capítulo a autora revela um atendimento de um casal compulsivo perverso onde a relação sexual era intensa , mas não havia diálogo. O casamento se resumia na sexualidade e o restante de suas vidas era completamente vazia ( de troca, de companheirismo, etc...).

Somente após um ano de atendimento com o casal, a terapeuta resolveu atendê-los individualmente, gerando tremendo mal estar nos mesmos, o que deixou a terapeuta alerta. Marcou uma sessão para a mulher, aproveitando uma viagem profisional do marido e, surpreendeu-se ao vê-los chegar juntos para o atendimento. Sabendo da existência de gemeralidade tanto na esposa como no marido ( ela gêmea de um irmão e ele com duas irmãs gêmeas), passou a construir hipóteses e foi trabalhando nesta direção. O casal passou a relatar seus desvios sexuais que se relacionavam com as castrações, conflitos de infância projetados no casamento.

O que se observa neste casal é que a atividade sexual é usada como forma de resolver conteúdos mentais recalcados.

 

VI - Caçadores de ilusão: Um casamento Narcísico Perverso

A autora relata um atendimento de casal, onde houve o encantamento no início da relação e depois transformou-se numa sucessão de ataques onde um responsabiliza o outro pelas quebras de encantamento inicial. Ambos partian para idas e vindas na busca do reencontro do encantamento, os dois com outros companheiros. Na impossibilidade de encontrar nos outros companheiros os mesmos processos fantasiosos, eles retornavam à relação na tentativa de reviver a ilusão inicial.Ambos ansiavam que o outro preenchesse o seu vazio diante de desconhecimento dos próprios limites.

O casal quer permanecer na mágica inicial ( Vivência Virtual) e não entrar em contato com a vivência atual. Nisto entram em contato com a raiva, com a inveja e com a agressão mútua, esperando a solução no outro.

 

VII - A psicoterapia do casal

Relato de alguns casos cílinicos onde a autora ressalta o pedido sempre paradoxal do casal, de que quer voltar a Ter um casamento satisfatório, porem sem passar pela dor de perder aquele estado anterior de apaixonamento que os levaria a:

•  Analisar o porque do encontro

•  Porque de quererem conviver com seu parceiro

•  Construir uma família

Esses fatores são levantados atraves da história anterior do encontro, do namoro etc... que se repetem nas crises pós casamento d maneira mais intensa.

O terapeuta precisa cuidar para não incorrer no erro de acreditar que o problema está no outro, ou no casamento, e oferecer soluções. Logo, ele não vai trabalhar nos fatos concretos apresentados pelo casal, mas utilizar intervenções mais ou menos diretivas para possibilitar um convívio ou uma separação menos traumática.. Dar ênfase à razão de ser inconsciente do motivo da escolha do parceiro. Isto tudo implica na disponibilidade do casal em analisar a relação.

 

VIII - Transferência e contratransferência na psicoterapia do casal

Nos casais em crise, existe a crença de que o terapeuta vai trazer a solução , e transferem esta responsabilidade à ele.

Quando o terapeuta não oferece a solução esperada, os casais podem agredí-lo, ( chegando atrasado, não comparecendo etc...) ou acharem que ele sabe tudo e não quer dar-lhes as soluções. Eles usam este repertório de desejos contra o terapeuta para imobilizá-lo, mas é através deste vínculo transferencial, que vai aparecendo o funcionamento do casal: reações defensivas compartilhadas ou não, etc... ë assim que o casal se esconde para não entrar em contato com a realidade e Ter que fazer mudanças.

Transferência e contratransferência no terapeuta pode ser percebida através de letargia, indiferença do mesmo, etc... Podemos sentir que nada estamos fazendo e perceber-se com raiva, dores, tentação de responder de modo diretivo.

Como trabalhar estas questões dependerá do desenvolvimento pessoal do terapeuta, do seu auto-conhecimento,. Racker fala da contratransferência direta, ligada à transformação do paciente, e da contratransferência indireta que traduz as dificuldades próprias do terapeuta, desencadeadas pelo tratamento.

Por que ser psicoterapeuta de casal? É uma tentativa inconsciente de reparar maniacamente o casamento dos pais internalizados. Diante disto percebe-se que em todo ser humano reside aspectos relacionados à angústia depressiva ou angústia esquisoparanóide em maior ou menor grau. Partindo da premissa que todo ser humano tem dentro de si estas características, logo o terapeuta assim se apresenta. Com este quadro, a autora afirma que devemos Ter muito claro a percepção da vivência contratransferencial dessas características, podendo assim ser utilizadas para a compreensão dos processos internos e externos do casal. Caso contrário, o terapeuta entrará numa "foli a trois" a serviço da organização psicótica do casal.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

O livro dá a percepção de como processos vividos na história anterior de cada um se repetem na vida conjugal e também na postura do terapeuta.

A habilidade ou não em lidar com todos estes conteúdos componentes da história de cada um, é que dá a capacitação ou não ao terapeuta , para conduzir de maneira adequada os casais a que atende.

 

Nome do autor da resenha e data: Tais Fittipaldi Bergstein / dezembro 2003.