Relação dos capítulos

Capítulo I- Os duplos vínculos recíprocos

Capítulo II- Terapia sistêmica,acaso e mudança

Capítulo III- Auto-referência e psicoterapia de família- mapas à escolha

Capítulo IV- Simulação de uma primeira sessão de terapia de família- Regras intrínsecas e singularidades

CapítuloV- Terapeutas e casais- Duas supervisões

CapítuloVI- Do sistema terapêutica à reunião

Capítulo VII- "Pensar com os pés": a intervenção em psicoterapia de família

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Capítulo I-Os duplos vínculos recíprocos

O que é duplo-vínculo (16)

1.O indivíduo está implicado em uma relação intensa,na qual é,para ele, de uma importância vital determinar com precisão o tipo de mensagem que lhe é comunicada,a fim de responder-lhe de um modo apropriado.

2.Ele é colocado em uma situação na qual o outro emite dois tipos de mensagens nos quais um tipo contradiz o outro.

3.Ele é incapaz de comentar as mensagens que lhe são transmitidas, a fim de reconhecer a qual tipo deve responder,dito de outro modo,ele não pode enunciar uma proposição metacomunicativa.(20- 21)

O principal objetivo da terapia: é não tanto poder compreender o que se passa na realidade mas elaborar uma visão dos problemas que permita às pessoas alargar o campo de suas possibilidades.O terapeuta vai procurar elaborar hipóteses sobre a natureza do duplo vínculo que cada um emite.(23)

Programa Oficial: a solicitação explícita do membro do casal.

Mapa do mundo: mapas construídos a partir de experiências anteriores, são aqueles através dos quais os membros de um casal percebem seu presente.(23)

Por exemplo: no caso relatado entre Anna e Benedetto.

Anna pedia a Benedetto: "Quero que você fique perto de mim"; quando Benedetto respondia a essa demanda, obedecia ao programa oficial de Anna,mas não ao seu mapa de mundo,e ela só podia recusar essa proximidade.Quando ao contrário, Benedetto se afastava de sua esposa,ele obedecia ao mapa do mundo de Anna,mas não ao seu programa oficial e ela então podia apenas suportá-lo e intimá-lo a manifestar mais atenções.Por sua vez, Benedetto pedia a Anna:"Quero ser reconhecido.Quando Anna deixava de excluir Benedetto,ela obedecia ao programa oficial dele,mas não ao seu mapa de mundo e ele só podia recusar essa relação.Quando ela recriava coligações dirigidas contra ele,ela obedecia ao mapa do mundo de seu marido,mas não ao seu programa oficial,e ele poderia então apenas suportá-la e intimá-la a reconhecê-lo.

A hipótese é que esta mulher e este homem estão presos num duplo-vínculo.

Anna deseja que seu marido pare de comportar-se de tal modo que ela só pode rejeitá-lo e,por outro lado,não pode aceitar que ele esteja mais próximo.

Quanto a Benedetto, almeja a ternura, mas teme o apego.

Quando o programa oficial está em contradição com o mapa de mundo, o parceiro fica preso num duplo-vínculo. Se responde à solicitação expressa no nível oficial,ele vai contra o mapa de mundo de seu parceiro. Se responde ao mapa de mundo ,ele só consegue atrair para si as censuras por não ouvir a solicitação explícita.Dessa forma, criaram um sistema que é regido por suas próprias leis,mantendo-os dentro de regras rígidas e ciclos aparentemente insustentáveis.(24 a 26)

Capítulo II-Terapia sistêmica, acaso e mudança

Uma das bases teóricas sobre as quais a maioria dos terapeutas de família parecem estar de acordo é a teoria geral dos sistemas.Foram os membros do grupo de Palo Alto que apresentaram de modo mais estruturado a possível articulação entre essa teoria e os sistemas familiares.

Esses autores definiram certas propriedades para diversos sistemas abertos:

1. A totalidade- do mesmo modo que uma modificação de um elemento de um sistema provoca uma mudança do sistema em seu conjunto ;o comportamento dos outros membros, e aquilo que lhe acontece modifica a família em seu conjunto.(42)
2. A não-adicionabilidade: do mesmo modo que um sistema não é a soma de seus elementos,não podemos reduzir uma família à soma dos seus membros.(42)
3. A igualdade de fins: em uma família, tal como em qualquer sistema , elementos semelhantes podem estar ligados a elementos iniciais diferentes.Por exemplo, não é possível compreender a etiologia de uma "esquizofrenia",remontando-a a um elemento inicial ou mesmo a uma repetição de elementos supostamente causais.Isso não significa que os primeiros anos de vida não tenham um papel primordial para o futuro de um indivíduo, porém as experiências vividas não podem ser reduzidas de uma maneira simplista a causas diretas do comportamento posterior.É preciso, a cada vez,estudar o sistema humano onde surgiu o sintoma em seu conjunto.(42)
4. A homeostase: D.D.Jackson estabeleceu a hipótese segundo a qual a doença do paciente poderia ser compreendida como um mecanismo homeostático com a função de reconduzir ao equilíbrio um sistema familiar em risco de mudança.Nesse sentido, a família age de modo a estabelecer um equilíbrio em suas relações.(42-43)

Funcionamentos dos sistemas em equilíbrio e fora de equilíbrio:

1. Nos estados de equilíbrio ou próximos do equilíbrio: a estabilidade é a regra.(52)

2. Um sistema em equilíbrio ou próximo do equilíbrio retorna ao seu estado inicial,qualquer que seja a perturbação a que esteja submetido.(53)

Reuniões de singularidades (63 a 73)

Reenquadramento:consiste em modificar o contexto de uma situação,a fim de mudar completamente seu sentido.Para Mony ,este tipo de intervenção só tem utilidade se ele oferecer uma outra leitura da situação e abrir outros possíveis.(52 a 63,194 a 197)

Capítulo III- Auto-referência e psicoterapia de família

Mapas à escolha

1. Pareamento circular: significa que se torna impossível descrever uma situação terapêutica qualquer sem aceitar que nela estejamos incluídos.

"Eu construo o que eu digo de uma família, enquanto ela própria me constrói no mesmo processo".(98)

2. Construção do mundo:o que importa é a intersecção dos mapas do terapeuta e dos pacientes.(98)

3. Construção mútua do real : significa que a construção que o terapeuta edificou com os membros do sistema terapêutico é operatória.(98)

4. Múltiplas soluções:significa dizer que não há uma só solução possível,mas múltiplas soluções ligadas à inter-relação entre os membros do sistema terapêutico.

5. O que é dito é sempre dito por alguém: a mudança das regras de um sistema terapêutico passa pelos membros do sistema.(99)

6. Não há transferência de informações: a comunicação efetua-se em um processo de pareamento, de intersecção de construções do mundo.(99)

7. Paradoxo: ele está no centro da vida cotidiana.(99-100)

Capítulo IV- Simulação de uma primeira sessão de terapia de família

Regras intrínsecas e singularidades

Mony Elkaim utiliza para a formação dos terapeutas de família a simulação.Alguns participantes "simulam" os membros de uma família que vêm consultar um psicoterapeuta,e que nada sabe,como regra geral,da situação que os membros da família simulada vão apresentar.

Como exemplo, apresenta uma simulação onde aparecerá a construção mútua do real, pareamentos de elementos singulares e pareamentos de regras intrínsecas.(entre os membros da família e o terapeuta).Além disso, mostra progressivamente amplificarem-se as reuniões auto-referenciadas.(103 a 130)

Capítulo V-Terapeutas e casais

Duas supervisões

Na primeira situação, permitirá ver como o modelo de terapia de casal pode ser aplicado em um contexto que inclui os diferentes membros do sistema terapêutico.

Na segunda situação, trabalhará mais diretamente com o psicoterapeuta.(131 a 162)

Estas situações tratam dos temas: auto referencial, programa oficial,construção de mundo,vínculo entre o passado e o presente,intersecções entre as construções do real do terapeuta,da família e do supervisor.

Capítulo VI- Do sistema terapêutico à reunião

Ressonância e reuniões: A ressonância manifesta-se em uma situação onde a mesma regra aplica-se ao mesmo tempo à família do paciente, à família de origem do terapeuta, à instituição onde é recebido o paciente, ao grupo de supervisão,etc.

O conceito de ressonância é um caso particular de reunião.As ressonâncias são constituídas por elementos semelhantes, comuns a diferentes sistemas em intersecção, enquanto que as reuniões são compostas de elementos diferentes,que podem estar ligados a dados individuais,familiares,sociais ou outros.(17).Essas reuniões, constituídas tanto por regras intrínsecas quanto por singularidades, podem ampliar-se em um momento dado e tomar uma consistência que modificará o destino do sistema terapêutico.(192)

A arte do terapeuta irá consistir em se autorizar a ficar à deriva com a família, para permitir que essas reuniões se constituam mesmo que elas não correspondam ao que ele supõe ser significativo para seus padrões explicativos (192).

Quando se trabalha em grupo de supervisão, os sistemas de ressonância nos quais insistimos são:o sistema familiar do paciente,a família de origem do terapeuta,o sistema institucional e o grupo de supervisão.Tenta-se modificar os diversos sistemas em ressonância.(163 a 174)

Capítulo VII- "Pensar com os pés":

A intervenção em psicoterapia de família

1. Hipóteses:essa fase consiste numa construção comum do terapeuta e dos membros do sistema terapêutico e uma nova visão do mundo são partilhadas .Para que uma hipótese possa resultar em uma intervenção com sucesso,ela deve permitir que se viva a mesma situação de outro modo.(181 a 186)
2. Vínculo e autonomia(187-190)
3. Tempo sistêmico:não é um tempo linear.Para compreender o presente,elementos do passado revelam-se freqüentemente necessários mas não suficientes.Para que um acontecimento traumático continue a exercer um papel importante no presente,é preciso que a manutenção de um comportamento tenha uma função e um sentido importantes com relação ao sistema no qual ele se perpetua.(191-192)
4. Leitura sistêmica dos sentimentos:os sentimentos que nascem em tal ou qual membro do sistema terapêutico(casal,família e terapeuta) têm um sentido e uma função, com relação ao próprio sistema ,onde esse sentimento aparece.(193-194-200)

O trabalho de psicoterapia: consistirá em flexibilizar elementos surgidos na intersecção dos diferentes universos dos membros do sistema terapêutico.(201).

Apreciação pessoal sobre o livro

O autor oferece instrumentos teóricos de análise e de intervenção para o trabalho psicoterapêutico.

Além da importância do tema,sua exposição didática,apoiada em extratos de sessões clínicas e supervisões simuladas,torna este livro um instrumento imprescindível para todos os que são, ou serão terapeutas sistêmicos ,ou terapeutas de família, principalmente,terapeutas de casais.

Nome do autor da resenha e data: Jocemara de Oliveira Garcia Jesus- Novembro/ 2004.