Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Sempre pode piorar ou a arte de ser (in)feliz: uma abordagem psicológica

 

Autor do Livro:

Paul Watzlawick

 

Editora, ano de publicação:

E.P.U., 1984

 

Relação dos capítulos

Nota preliminar do editor

Introdução

"Mas, sobretudo, sê leal contigo mesmo..."

Bons tempos aqueles: quatro jogos com o passado

Russos e Americanos

A estória do Martelo

Conversa com o além

Como afugentar elefantes

Profecias que "dão" certo

Cuidado! É perigoso chegar!

Se você me amasse de verdade, você adoraria alho

Seja espontâneo!

Por que alguém iria me amar?

Altruísmo, será?

Confirmado: estrangeiro é esquisito mesmo

A vida é um jogo

"O homem é infeliz porque não sabe que é feliz"

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Nota preliminar do Editor

O novo livro de Paul Watzlawick pode ser lido com um sorriso nos lábios e uma lágrima nos olhos. Cada um dos leitores ver-se-á refletido neste livro. Encontrará nele a sua maneira pessoal de tornar o cotidiano...Insuportável e de agigantar o corriqueiro. Embora o Autor não o admita em parte alguma, este livro é um único e enorme "receituário de sintomas", uma dupla ligação terapêutica.

Introdução

Dizem que sorte, felicidade e prazer são a meta da vida humana. Já é hora de abandonar esses contos de fada. Foi-nos incutido durante muito tempo - e acreditamos cegamente - que a procura da felicidade nos trará finalmente a felicidade. Isto é absurdo. Ainda mais quando sabemos que a felicidade não pode ser definida.

Não vamos nos enganar: o que seria de nós sem a nossa infelicidade?

Nosso mundo, ameaçado de afundar numa onda de conselhos e receitas sobre como ser feliz,não pode ficar privado de uma bóia de salvação para aqueles que procuram a infelicidade.

Todo mundo pode ser infeliz. Mas tornar-se infeliz requer um aprendizado. Um pouco de experiência, somada a alguns momentos pessoais de desgraça, não basta.

"Mas, sobretudo, sê leal contigo mesmo..."

Viver em conflito constante com o mundo, principalmente com nossos semelhantes, é fácil, mas produzir infelicidade por nossa conta, num cantinho tranqüilo de nossa própria cabeça, é muito mais difícil de conseguir e, portanto, de aperfeiçoar.

Quem se mantém fiel a Si mesmo não está disposto a nenhum falso compromisso.

Contudo, o sujeito verdadeiramente genial consegue chegar ao extremo de desaprovar, com heróica determinação, até aquilo que a si mesmo parece ser a melhor decisão - isto é, a voz de sua própria razão.

Bons tempos aqueles: quatro jogos com o passado

Como se diz por aí, o tempo é o remédio para todos os males. Pode ser verdade, mas nem por isso devemos desanimar, pois é possível defender-se desta influência do tempo e fazer do passado uma fonte de infelicidade.

1. A exaltação do passado

Até um principiante pode conseguir, com um pouco de jeito, ver seu passado através de um filtro cor-de-rosa, que reflita apenas as coisas boas e belas. Apenas quem não for bem-sucedido neste truque se lembrará de sua adolescência (sem falar da infância) como um período de insegurança, de angústia e de medo do futuro, e não desejará voltar a um único dia que seja desses longos anos. Porém, o mais talentoso aspirante à infelicidade não achará difícil imaginar sua juventude como a era dourada que não volta mais. Assim, pode explorar um reservatório inesgotável de tristeza.

2. A mulher de Lot

Uma outra vantagem de se agarrar ao passado é que não sobra tempo para se dedicar ao presente. Somente prendendo a atenção ao passado é possível prevenir aquelas mudanças ocasionais e involuntárias de perspectiva - de 90 ou 180 graus - que iriam revelar que o presente não só oferece infelicidade suplementar , mas até mesmo, ocasionalmente, uma super in-felicidade.

3. O copo de cerveja fatal

Neste item o autor revela a decadência de um jovem promissor que não pode resistir à tentação de tomar seu primeiro copo de cerveja. É importante perceber que as conseqüências do primeiro copo de cerveja, ainda que não desculpem todos os copos seguintes, certamente o determinam. Dito de outra forma: Tudo bem - estou arrependido, devia ter percebido o erro, mas agora é tarde demais. Naquela hora eu errei, agora sou vítima do meu próprio erro.

Nas raras ocasiões em que o curso imprevisível dos acontecimentos nos recompensa graciosamente pelas frustrações e privações passadas, o especialista em infelicidade está longe de perder o ânimo.

4. A chave perdida ou "o mesmo purgante de novo"

Ao contrário da técnica anterior de jogar a causa e a culpa de acontecimentos passados em forças ocultas, este quarto jogo requer um rígido apego a soluções que, um dia, foram perfeitamente adequadas, ou até mesmo as únicas possíveis na época. É claro que nenhuma criatura pode comportar-se às cegas em relação ao seu mundo - ou seja, hoje assim e amanhã assado. A necessidade vital de adaptação leva, irremediavelmente, à aprendizagem de determinados modelos de comportamento, cuja finalidade ideal é o sucesso em sobreviver sem sofrimentos.

Russos e Americanos

A antropóloga Margaret Mead é autora desta pergunta em forma de piada: " Qual é a diferença entre um russo e um americano?" O americano, diz ela, inventa uma dor de cabeça para fugir a um compromisso social desagradável; o russo tem uma. O americano consegue seu objetivo, embora saiba que está mentindo. O russo fica em paz com sua consciência. Sem saber como faz isso, ele consegue arranjar uma desculpa plausível, pela qual não sente responsabilidade alguma.

A estória do martelo

Neste item o autor conta a estória de um homem que fica na dúvida de emprestar ou não o martelo de seu vizinho, acaba criando algumas fantasia em sua cabeça, mas mesmo assim resolve pedi-lo emprestado, porém, quando o homem abre a porta antes que ele possa dizer "Bom dia", o nosso homem berrou: "pode ficar com seu martelo, seu imbecil".

Poucos meios são mais adequados para causar infelicidade do que o confronto de um parceiro desprevenido com o último elo de uma longa e complicada cadeia de fantasias, na qual ele representa um papel decisivo, negativo.

O autor ainda descreve alguns exercícios já percebendo a necessidade de atingir aquele estado no qual a mão direita não sabe o que a esquerda está fazendo.

Conversa com o além

Este item conta a história de uma jovem senhora, que antes de morrer pede a seu marido que prometa que nunca vai se envolver com outra mulher. "Se você quebrar a promessa, voltarei em espírito e não lhe darei paz." Após alguns anos o homem se apaixona e acaba se envolvendo com outra mulher e logo em seguida, o espírito começa a lhe aparecer todas as noites culpando-lhe por ter quebrado a promessa. Sendo assim, o homem procura um Mestre Zen , o qual tenta lhe convencer que espíritos não existem, de que tudo era fruto de sua imaginação. O homem acaba seguindo os conselhos do Mestre e comprovando tal fato.

Como afugentar elefantes

Neste item falaremos de como evitar um problema de tal forma que ele se perpetue. O autor conta a história do homem que bate palmas a cada dez segundos. Perguntado a respeito do motivo para um comportamento tão curioso, ele explicou: "Para afugentar elefantes".

"Elefantes? Mas aqui não tem elefante nenhum!"

E ele: "certo! Eu não lhe disse? Eu os afugento".

A moral da história é que fugir de uma situação ou de um problema temido representa, por um lado, a solução aparentemente mais sensata, mas, por outro, garante que o problema perdure.

Mas o aspirante à infelicidade pode, ao contrário, confiar plenamente na eficácia da fuga.

O autor coloca que um grande número de nossos atos mais corriqueiros possui em si um fator de risco. O perigo, porém, é perder o problema de vista.

Profecias que "dão" certo

Aqui o autor pretende tratar de um outro efeito do ato de fuga, ou seja, a capacidade de provocar, sob certas circunstâncias, justamente aquilo que deve ser evitado. E que circunstâncias são estas?

Primeiramente, uma predição, ou seja, qualquer expectativa, preocupação, convicção, ou simplesmente uma suspeita de que as coisas vão acontecer assim e não de maneira diferente.Em segundo lugar, a expectativa não deve ser vista simplesmente como tal, mas sim como algo que vai acontecer de fato e, para evitá-lo, devem ser tomadas medidas contrárias urgentes. Em terceiro lugar, a suposição é muito mais convincente quanto mais pessoas partilharem dela, ou quanto menos ela se opuser a suposições já comprovadas.

Cuidado! É perigoso chegar!

"É melhor caminhar com esperança, do que chegar ao fim do caminho", diz um provérbio japonês. Também Bernard Shaw nos vem à memória com seu aforismo famoso e muitas vezes plagiado: "Na vida há duas tragédias. Uma delas é não realizar um desejo íntimo. A outra é realizá-lo".

Simplificando Adler, as regras deste jogo com o futuro são as seguintes: chegar - significando, literal e metaforicamente, atingir um objetivo - é geralmente usado no sentido de escada para o sucesso, para o poder, para o reconhecimento e para a auto-estima.

Atingir o objetivo mais sublime associa-se a um perigo especial que é o denominador comum das citações no início deste capítulo, ou seja, o desencantamento de uma chegada bem sucedida.

Se você me amasse de verdade, você adoraria alho

O autor até agora se ocupou em abordar a infelicidade provocada por nós mesmos, portanto, chegou a hora de falar sobre relações humanas.

Afirmações a respeito de objetos e afirmações a respeito de relacionamentos precisam ser estritamente diferenciadas. Em cada comunicação humana, existem duas confirmações; em outras palavras, cada mensagem possui um nível de objeto e um nível de relação. Esta diferenciação nos ajuda a entender melhor como é possível arranjar encrenca com um parceiro.

O autor relata a dificuldade em se fazer afirmações quanto ao nível de relacionamento. Ainda cita como exemplo a confusão entre o alho e o amor que serve de título a este capítulo. É fácil falar a respeito de coisas - incluindo-se o alho. Mas, e quanto ao amor?

Da mesma maneira que a explicação de uma piada faz com que ela perca a graça, assim também o palavrório a respeito das formas mais óbvias de relacionamento humano acarretarão, sem qualquer sombra de dúvida, problemas bem maiores.

Ainda neste capítulo o autor relata alguns exercícios para infernizar nossos relacionamentos.

Seja espontâneo!

Entre todos os grilos, dilemas e armadilhas que se encaixam na estrutura da comunicação humana, o paradoxo denominado "seja espontâneo" é, de longe, o mais universalmente utilizado.

Tudo que é livre não sofre influência externas e brota do próprio interior são absolutamente incompatíveis. Ou agimos espontaneamente, isto é, com naturalidade, ou obedecemos a um comando e, portanto, não agimos espontaneamente. Sob o ponto de vista puramente lógico, não podemos fazer ambas as coisas ao mesmo tempo.O autor ainda fala que ser feliz é apenas uma das muita variações do tema básico "seja espontâneo!". E praticamente qualquer comportamento espontâneo é matéria-prima para questões paradoxais.

Por que alguém iria me amar?

O amor, é claro, é um tema inesgotável. A gente só pode amar ao próximo quando ama a si mesmo.

Ser amado é sempre uma coisa bastante misteriosa. Portanto, o autor sugere que a pergunta do porque do amor não é boa sugestão, pois o outro provavelmente não vai saber responder, por isso, pergunte a si mesmo, porque o outro é louco por você. Pois ele deve ter algum interesse velado, ou algum motivo egoísta, que com toda certeza não vai lhe revelar.

Altruísmo, será?

Naturalmente quem ama está disposto a ajudar ao seu amado. Ser prestativo é algo especialmente nobre e bom, mesmo quando não existe nenhum vínculo amoroso, por exemplo, em relação a um estranho. Ajuda desinteressada e, segundo consta, um nobre ideal e traz em si mesma sua própria recompensa. Para começar a ter dúvidas quanto ao desinteresse e à pureza de nossa solicitude, basta perguntar se não temos nenhuma segunda intenção.

O autor fala sobre um modelo de relacionamento chamado de colusão. Ao qual refere-se a um arranjo sutil, um quiprocó, um acordo (sob certas circunstâncias, bem inconscientes) ao nível das relações humanas, por meio da qual eu obrigo o outro a identificar em mim, repetidamente, aquilo que eu mesmo vejo em mim e que eu quero ser. Como cada colusão, necessariamente, pressupõe que o outro tem que ser, em seus próprios termos, exatamente como eu quero que ele seja, o resultado inevitável é um paradoxo do tipo "seja espontâneo!".

Confirmado. Estrangeiro é esquisito mesmo

Nosso mundo é o mundo verdadeiro; maluco, falso, ilusório, esquisito, é o mundo dos outros. Com isto podemos aprender muito para conquistar a infelicidade.

Neste capítulo o autor descreve sobre os costumes e formas de comportamento de alguns povos, o que às vezes é considerado como boa educação entre um povo pode ser considerado desrespeito em outro.

O autor conclui dizendo que devemos supor simplesmente que até que prove o contrário, o nosso próprio comportamento é natural e normal, em quaisquer circunstâncias. Com isto, qualquer outro comportamento torna-se, na mesma situação, maluco, ou no mínimo, idiota.

A vida é um jogo

O psicólogo americano Alan Watts disse uma vez que a vida é um jogo, cuja primeira regra diz: Não é brincadeira, é seriíssimo.

Neste capítulo basicamente o autor faz uma distinção básica entre jogos de somas nulas e jogos de somas não-nulas. No jogo de somas nulas sempre a derrota de um jogador representa a vitória do outro. Já no jogo de somas não-nulas, ambos os jogadores podem ganhar ou perder.

Por exemplo, se a questão é simplesmente saber quem está objetivamente certo ou errado em determinada situação, isto pode ser entendido perfeitamente como um jogo-de-somas-nulas. E muitos relacionamentos também o são. Para torná-los um inferno, basta que um dos dois parceiros veja a vida como um jogo-de-somas-nulas, oferecendo apenas a alternativa entre ganho e perda. Todo o resto virá naturalmente. O que os jogadores do jogo-das-somas-nulas não percebem, obstinados como estão com a idéia de ganhar e superar um ao outro, é o grande oponente que ocupa o terceiro lugar, ou seja, a vida, contra a qual ambos perdem.

"O homem é infeliz porque não sabe que é feliz"

A regra fundamental, segundo a qual o jogo não é uma brincadeira, mas sim algo muito sério, torna a vida um jogo sem fim, que só termina com a morte. A vida nos dá aquilo que nós mesmos estamos dispostos a dar. "Quem semeia ventos, colhe tempestades". Se acreditássemos nisto, saberíamos que nós não apenas somos os responsáveis pela nossa própria infelicidade, mas que também podemos produzir a nossa felicidade.

Tudo é bom...tudo. O homem é infeliz porque não sabe que é feliz. Só por isto. Isto é tudo...tudo. Quem perceber isto será feliz logo, imediatamente, no mesmo instante.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Este livro nos mostra o quanto somos responsáveis pela nossa infelicidade, seja ela de ordem pessoal ou profissional. O preocupante, é que somos capazes de transformar nossa vida no "próprio inferno", porque muitas vezes fazemos tempestades em copo d'água ou vemos o problema maior do que realmente é, até certo ponto é compreensível, pois quando estamos inseridos no problema é difícil ver a solução, isso acontece porque "focalizamos" o que nos interessa e deixamos de ver o restante.

Mas, por outro lado, também podemos ser os responsáveis por nossa felicidade. No entanto, quando ela chega, nunca a aproveitamos em sua totalidade, talvez por medo que acabe ou porque o nosso foco já está em outro objetivo, e aí a felicidade "muda de endereço", e assim, passamos a vida reclamando que não somos felizes.

Particularmente, não acredito que exista felicidade, porém, acredito em momentos felizes, dos quais devemos tirar o máximo proveito, pois nunca saberemos novamente quando eles baterão à nossa porta.

 

Nome do autor da resenha e data: Andreza de Barros Pereira Ivo, novembro/2004.