Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Ser mãe, e a vida continua

 

Autor do Livro:

Rosana Glat

 

Editora, ano de publicação:

Rio de Janeiro: Agir, 1993.

 

Resumo

1ª Parte

Este é um livro sobre mulheres que acabaram de ter bebês. Como elas se sentem, e o que poderiam fazer para se sentirem melhor. A autora diz que este livro surgiu de um desejo de compartilhar experiências, de colocar em aberto aqueles aspectos da vivência da recém - mãe que não aparecem nas propagandas de fraldas descartáveis, nem nas reportagens das revistas sobre bebês.

O livro mostra às mulheres que se sentem sozinhas em suas experiências, que tudo que estão passando é normal, comum, faz parte do processo, e pode ser discutido, compartilhado e superado.

Aborda também a dicotomia entre maternidade e sensualidade, e a ambigüidade de sentir amor e raiva, felicidade e depressão... o que no pós - parto parece exacerbar.

O livro é ilustrado seguidamente com depoimentos de alguns homens e mulheres, na maior parte, que passaram ou estão passando pelo período pós-parto. Segundo a autora o objetivo dessas ilustrações é mostrar que assim como os prazeres de ser mãe são similares, as dificuldades também o são.

"Ser mãe e a vida continua" é composto em 3 partes. A primeira intitulada "E Agora? O que é que eu faço?" trata da maternidade para casa, quando a insegurança do novo papel de mãe se amplia com o desgaste físico e as noites mal dormidas. Nessa fase Rosana sugere que a mãe saiba pedir ajuda, discriminando no entanto, os tipos de ajuda que aparecem. Também discorreu nesta parte do livro sobre o ressentimento da mulher em relação à omissão do marido frente ao cuidado do bebê, não excluindo o fato de algumas vezes a esposa não deixar o marido ajudar. A questão da amamentação como prazeirosa mas difícil também é abordada nesse capítulo.

A segunda parte, "Olha no que eu virei " discute a relação de estranhamento que a mulher sente consigo mesma, que pode ir do descontentamento até a vergonha, e a ambigüidade que ela vive entre o prazer de ser mãe e o isolamento social que esse período freqüentemente acarreta.A autora comenta ainda sobre o processo de reencontro com si própria já que após um tempo a mãe percebe que cuidar de um bebê dá trabalho mas é bastante simples, e então ela pode e deve parar e olhar pra si mesma.

A terceira e última parte, "Quando você vai tirar esse uniforme de mãe? ", a autora discorre sobre tempo em que o neném já está maiorzinho e a mulher começa a se organizar para retornar ao mundo, tendo que conciliar o papel de mãe com a vida profissional e social. Deixando sempre claro que não há "receita de bolo".

2ª Parte

Apreciação Crítica

Rosana parece saber que a criação de filhos é um empreendimento complicado, diferente para cada pai e mãe, exigente em diferentes aspectos de um dia para o outro, impossível de definir com regras rígidas, uma tarefa tão assustadora quanto gratificante.

Este não é o tipo de livro que tenta ensinar vida à alguém, mesmo porque vida não se ensina, não há receita de bolo. Vida se aprende vivendo. No entanto o fato de compartilhar aqueles aspectos "menos bonitos" da vivência da recém-mãe pode ajudar às mulheres a entenderem que o que estão passando é normal e vai passar.

É aí que podemos destacar um dos méritos da autora e de seu livro. Lendo o que ele contém descobre-se alguns aspectos da não originalidade de ser mãe. Melhor: que as angústias não são somente nossas, que por isso não somos melhores nem piores que os demais.

Quanto ao aspecto do homem não partilhar com a esposa os cuidados do bebê, consideramos que a autora abordou dois fatores que abrangem esse problema. Ela cita como primeiro fato de que os homens não foram programados para ser mães, e que não estão envolvidos integralmente com o projeto maternidade, por isso sentem muita insegurança em lidar com o bebê, e que as vezes a esposa não o incentiva mostrando que ele também aprenderá, assim como ela.

O segundo fator seria a própria mãe (esposa) não deixar o marido cuidar, excluí-lo dos cuidados, demonstrando talvez um pouco de onipotência, como se somente ela soubesse o que é melhor pro filho.

Nossa crítica é que não é possível fazer generalizações como se todos agissem assim, bem como existem muitos outros fatores como o cultural, a história familiar, a definição de papéis e de valores em cada família, ..... que contribuem num vai e vem constante,sem ser necessariamente um que influencia ou cause o outro.

Um dos méritos que este livro simples mostra e que nem todas se apercebem, é que o amor não é o oposto do ódio, que a raiva não é sentida por quem não gostamos, que na verdade os dois são complementares e não existe um sem o outro. Enfim, descreve o lado difícil e triste da maternidade que não aparece em novelas e cursos para gestantes.

É importante sentir que as necessidades e desejos do bebê têm lugar e são considerados, mas que os pais existem como gente com necessidades e desejos também e que ambas as partes podem encontrar, no equilíbrio entre as frustrações e as satisfações, a alegria de viver.

Um livro que deve ser lido por todos que querem aprender e principalmente por gestantes e seus companheiros. Um livro que se não ensina vida, já que a mesma não é ensinável, ensina a partilhar dificuldades, a cumplicidade e o respeito. Respeito ao momento de cada um. Respeito a esse mistério maior que é a vida. Seja a nossa. Do nosso companheiro. Do pequeno ser que acabamos de gerar, não importa. Respeito à vida, é o que basta.