Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
A tática de mudança |
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Autor do Livro: |
R. Fisch, J.H. Weskland Y L. Segal |
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Editora, ano de publicação: |
Editorial Herder - Barcelona /1984 |
Relação dos capítulos
Cap.1- A prática e a teoria
Cap.2- A capacidade de manobra do terapeuta
Cap.3- A fixação do limite do tratamento
Cap.4- A entrevista inicial
Cap.5- A postura do paciente
Cap.6- A planificação do caso
Cap.7- As intervenções
Cap.8- O término do tratamento
Cap.9- Estudo de caso: A adolescente antipática
Cap.10- Estudo de caso: O violinista ansioso
Cap.11- Estudo de caso: A família do hemiplégico
Cap.12- Mais além da psicoterapia
Apanhado resumido sobre cada capítulo
Cap.1-A prática e a teoria
Este é um livro prático que versa
sobre o desenrolar deliberado de uma mudança útil, sobretudo em
psicoterapia. Seu centro de interesse específico consiste em o quê
e como fazer para ajudar a solucionar de maneira efetiva problemas humanos persistentes.
Estes elementos estão relacionados com um a doutrina terapêutica
que há de se conhecer para que ditos procedimentos possam ser entendidos
e valorizados.
Consideremos o seguinte exemplo da 2ª entrevista
com profissional liberal de trinta anos de idade que se declara deprimida e
com dificuldades de ter relações duradouras com homens.
"Terapeuta: Tenho que dizer-lhe que, em realidade,
não lhe será demasiado fácil empenhar-se a sentir-se melhor,
menos deprimida. Vou-lhe explicar a questão, porque se a você pode
parecer-lhe algo contraditório, dado que tem vindo aqui para superar
sua depressão. Veja, você tem outro problema: em certo, ainda não
está claro até que ponto - você não sabe neste momento
como manejar suas relações com os homens de forma que funcionem
de maneira satisfatória para você. Neste terreno em particular
talvez lhe falte um pouco da necessária habilidade social. Por isto,
se sua depressão melhorasse de imediato, antes que você tivesse
tempo para averiguar que é que necessita para manejar melhor as coisas,
correria o sério perigo de comprometer-se com outro homem e acabar mal
em seguida. Em tal caso, se sentiria mais deprimida.
Paciente: Bom, dou-me conta disto, ainda gostaria de sentir-me melhor.
Terapeuta: Claro que sim, porém agora mesmo
é um perigo demasiado grande para você. Preocupa-me que se você
se sente ainda só, tenha a tentação de sair a dar uma volta
e caia em uma relação equivocada, apesar do que antes lhe tenha
explicado. Sugiro-lhe uma forma de evitá-lo. Se sente o impulso ou a
necessidade de sair, de acordo, faça-o. Porém teria que fazer
algo para ser menos atrativa, para impedir, ao menos atrasar, que se comprometa
com demasiado rapidez numa relação, até que saibamos o
que você necessita para que suas relações funcionem melhor.
Não tem que fazer nada de outro mundo."
Dizer a mulher deprimida que não se sinta
melhor e que deforme deliberadamente seu aspecto exterior parece carente de
sentido comum. Continuemos com a entrevista duas semanas depois:
"Paciente: Bom (com voz entusiasta), não
sei se estava no fim de minha depressão, porém a sugestão
que me deu sobre que devia ser muito cautelosa com as relações
porque realmente não sabia o que esta fazendo e inclusive que era necessário
fazer algo para não recair nelas com demasiada rapidez... Bom, não
creio que necessitasse uma "mancha especial" para não entabular
relações porque em realidade não necessito fazer isto para
manter afastada as pessoas. Considero-me capaz de consegui-lo sem preparar nada
intencionalmente. Talvez fosse esse o objetivo, porém eu não o
interpretei assim. De todas as maneiras, precisamente este pensamento, que eu
em realidade não sabia o que fazia, e que teria que ter cuidado - "não
tenho que (risos), bom, encontrar-me com alguém; mão tenho porque
ter esta maravilhosa relação; posso cuidar de mim mesma"
E - oh - é como se fosse uma ordem do médico que eu me mantenha
à margem desse caso. E assim tenho me sentido muito bem durante as duas
semanas passadas. Foi uma surpresa para mim: não me imaginava que teria
esse efeito. Porém, como lhe digo, não sei: talvez me encontrava
ao final mesmo do que ... talvez estava ao finam mesmo da depressão.
Em todo caso, quando pensava nisto, em sua advertência de que "tivesse
cuidado com", de alguma forma me iluminava e não me sentia privada
de nada."
Através desta transcrição
textual conclui-se que a fala do terapeuta na entrevista anterior teve um efeito
positivo, apesar de estranho que era.
É óbvio que devemos considerar a
teoria como algo importante e necessário para a prática terapêutica.
Toda conduta humana intencionada depende em grande medida das opiniões
ou premissas que possuam as pessoas, e que ditas opiniões são
as que regem sua interpretação das situações, os
acontecimentos e as relações. Isto significa que as idéias
ou premissas que defenda uma pessoa com respeito à natureza dos problemas
e do tratamento influirá notavelmente no tipo de dados sobre os quais
se centrará sua atenção, a classe de pessoas que tratará,
o que dirá e fará - e igualmente, o que não dirá
e não fará - com o paciente e as demais pessoas implicadas, e
o que é mais importante, como evoluirá os resultados de tais ações.
Em primeiro lugar, a teoria pode estar elaborada em excesso ou pode tomar-se
com demasiada seriedade a tal ponto de que se torne um obstáculo à
observação direta e a interpretação simples da conduta.
Para evitá-lo, nossa exposição da teoria será tão
breve como seja possível e deliberadamente limitada em seu âmbito
e em sua conceitualização. Limitamo-nos a enunciar nossa concepção
geral sobre a natureza dos problemas que as pessoas trazem aos terapeutas, e
a correspondente concepção acerca do que é uma intervenção
efetiva para solucionar tais problemas, isto é, uma teoria que se encontra
o mais junto possível da prática.
Nossa teoria não é mais que o mapa
conceitual de nosso enfoque para entender e tratar a classe de problemas que
se apresentam aos terapeutas em sua prática cotidiana. Um mapa nunca
deve confundir-se com a realidade, é sempre algo provisório e
há que julgá-lo primordialmente pelo resultado que dê.
Iniciamos o caminho imersos, na teoria psicodinâmica e as práticas
a ela vinculadas. Esta teoria se centra no paciente individual, sobretudo em
estruturas e processos intrapsíquicos. Por isto, não atende a
conduta provocada por um problema, senão a supostas questões subjacentes.
Com respeito à prática a premissa básica é de ordem
intelectual: "o conhecimento fará livre o sujeito".
Todos nós, começamos a participar
do movimento de terapia familiar. Ela se centra no paciente, não em solitário
destino em seu contexto social primário, a família. A atenção
outorgada a comunicação e a interação dentro da
família conduz a uma ênfase maior sobre a conduta real, a que tem
lugar de forma observável no presente, bem mais que no passado, no interior
ou no inferido. A mudança de não considerar isoladamente a conduta
problemática senão em relação com seu contexto imediato,
a conduta dos demais membros da família significa um indicativo de uma
modificação epistemológica geral, passando da busca de
cadeiras lineares causa-efeito a um ponto de vista cibernético ou sistemático:
a compreensão e explicação de qualquer segmento determinado
de conduta mediante sua colocação em um sistema organizado de
conduta mais amplo e em funcionamento efetivo que comporta a utilização
generalizada de retroalimentação e de reforço recíproco.
Este centrar-se na forma em que um sistema está organizado ou em que
funciona erroneamente implicar crer menos nas carências individuais. Esta
visão propõe que a tarefa do terapeuta não se reduza a
compreender o sistema familiar e o lugar que ele ocupa no problema, senão
que também há de tomar alguma medida que mude o sistema disfuncional,
com objetivo de solucionar o problema.
O centro de terapia breve começou a funcionar
havia e quinze anos e nosso objetivo consistia em comprovar que podia conseguir-se
durante um período de tempo estritamente reduzido - um máximo
de dez sessões de uma hora - concentrando a atenção no
principal desenvolvimento atual, utilizando na maior medida possível
todas as técnicas ativas de estímulo para a mudança e buscando
qual era a mínima mudança necessária para solucionar o
problema atual em vez de pretender reestruturar famílias inteiras.
Concedemos importância, na mudança,
a uma clara identificação da conduta problemática: o que
é, em que aspecto é considerada como problema e por quem, ao funcionamento
e a persistência da conduta problemática. Esta não existe
independentemente e por sua conta; está formada por atos que leva a cabo
uma pessoa. E para que constitua um problema, uma conduta tem que realizar-se
de modo repetido.
A conduta de uma pessoa instiga e estrutura a
conduta de outra pessoa e vice-versa. Se ambas se acham em contato ao largo
de certo tempo, surgiram pautas repetitivas de interação. Por
este motivo, concedemos grande importância ao contexto formado por outras
condutas, dentro da qual acontece a conduta que se tem identificado como constituinte
do problema. Quais são essas condutas, do paciente e dos demais implicados,
que podem provocar a conduta problemática e que a fazem perdurar mediante
a reiteração? A interação é basicamente circular,
não uma rua com uma só direção: o marido se afasta
"porque minha mulher rosna" e a mulher rosna "porque meu marido
se afasta"., com o qual se mantém ao longo do tempo uma pauta de
condutas características. Quanto a questão básica da persistência
dos problemas, trata-se de uma conduta indesejada, apesar da insatisfação
que produz e das intenções de mudança. Para que um problema
exista e permaneça como tal, deve haver condutas problemáticas
e que levam a cabo de forma repetida dentro do sistema de interação
social do paciente (problemas = condutas problemáticas persistentes).
Quais são estas condutas que conservam o problema, como aparecem e por
que se persiste nelas, de modo aparentemente paradoxal?
Nas soluções ensaiadas pelas pessoas, nos modos específicos
com que intentam retificar um problema, existe algo que ajuda em grande medida
o sustento ou a exacerbação do problema.
Para que uma dificuldade se converta num problema,
tem que cumprir-se duas condições:
1. que se faça frente de forma equivocada
a dificuldade
2. que quando não se soluciona a dificuldade,
se aplique uma dose mais elevada da mesma solução.
Por que as pessoas persistem nos erros, do ponto
de vista dos autores, eles crêem que a persistência numa atitude
inadequada frente as dificuldades implique necessariamente a existência
de defeitos fundamentais na organização familiar ou um déficit
mental nos protagonistas individuais. Crêem bem mais que as pessoas persistem
por inadvertência em atividades que mantêm vivos os problemas, e
com freqüência o fazem com a melhor das intenções.
Na realidade, as pessoas podem ver-se aprisionadas nesta conduta repetitiva
inclusive quando são conscientes de que o que estão fazendo não
serve para nada. Trata-se de mero erro lógico, no sentido literal. Não
se trata de que as pessoas sejam ilógicas, senão de que seguem
logicamente sendas que procedem de premissas incorretas ou inaplicáveis,
ainda que estas premissas não funcionem na prática. Ajustam-se
com muito cuidado a mapas deficientes, coisa bastante explicável em indivíduos
que se encontram ansiosos em meio as suas dificuldades.
"Se a princípio você não
tem êxito, tente-o uma e outra vez". Nosso ponto de vista: se a princípio
você não tem êxito, pode tentar outra vez, porém se
tampouco então o consegue, tente algo diferente".
Em outras palavras, o que funciona ou deixa de
funcionar, as respostas observáveis - devem Ter precedência sobre
o que no abstrato é lógico ou correto.
Se a aparição e o sustento dos problemas
são considerados como partes de um processo que segue um círculo
vicioso nas bem intencionadas condutas de solução outorgam continuidade
ao problema, a alteração de tais condutas deve servir para interromper
o ciclo e iniciar a solução do problema, isto é, a desaparição
da conduta problemática, que tem deixado de estar provocada por outras
condutas pertencentes ao sistema de interação. (Em alguns casos
o terapeuta pode considerar que é mais adequado tratar de mudar a evolução
negativa da conduta problemática, evolução que constitui
outro elemento da conduta; pode-se considerar que o cliente está convertendo
indevidamente uma questão de escassa transcendência em assunto
de grande envergadura).
O objetivo primordial de um terapeuta não
tem porque consistir em solucionar todas as dificuldades senão em iniciar
um processo de inversão. Deve transformar-se em agente ativo de mudança.
Considerar que em que pode consistir a mudança mais estratégica
nas soluções e dar passos que estimulem ditas mudanças
fazendo frente aos compromissos do cliente para continuá-los.
Cap.2 - A capacidade de manobra do terapeuta
Os pacientes colocam obstáculos ao esforço
terapêutico na maioria dos casos devido a sua angústia ou ao temor
de que o problema chegue a piorar. A capacidade de manobra implica a possibilidade
de empreender ações dotadas de um propósito, apesar dos
obstáculos ou inconvenientes que se apresentem.
Na mudança, a capacidade de manobra implica
a possibilidade de empreender ações dotadas de um propósito,
apesar dos obstáculos ou inconvenientes que se apresentem.
O terapeuta necessita manter aberta sua capacidade
de opção à medida que avança a terapia, modificando
seu curso de forma necessária durante o curso do tratamento. Sobre controlar
o processo de tratamento, é algo eticamente coerente com a opinião
dos autores que a direção do tratamento constitui uma responsabilidade
intrínseca do terapeuta e que se este abdica de tal responsabilidade,
provoca prejuízo ao paciente.
Como obter, pois, a máxima capacidade de
manobra para o terapeuta? Visto que a capacidade de manobra do terapeuta depende
da correspondente ausência de capacidade de manobra do paciente, o terapeuta
necessita conservar suas próprias opções, limitando ao
mesmo tempo as do paciente. A base fundamental de manobra reside em que o terapeuta
sabe que o paciente o necessita mais do que ele necessita do paciente. Qualquer
coisa que faça um terapeuta, ao intervir num problema ao dirigir seu
curso de tratamento, descansa sobre a simples opção de ser capaz
de por fim ao tratamento.
Meios para aumentar a capacidade de manobra.
Oportunidade e ritmo
Depende em parte de que o terapeuta decida retirar-se
da postura que tenha assumido com um paciente ou abandonar a estratégia
que tenha começado a por em prática em vez de fechar-se a elas.
Se ele insiste em utilizar uma estratégia que não funciona, estará
se arriscando a um aumento de resistência a suas sugestões ou a
uma perda de credibilidade aos olhos do paciente. Tem que mudar de rumo apenas
quando aparecem indícios concretos, ainda que pequenos, de que a estratégia
não funciona. O terapeuta há de ajustar a oportunidade e o ritmo
de seus comentários às respostas que manifeste o paciente.
Quando entrevista pela primeira vez a um cliente,
o terapeuta acostuma-se a saber pouco acerca de seus valores, opiniões
e prioridades, todo o qual pode influir na maneira de afrontar o problema que
lhe aflige. Se de modo prematuro se assume uma postura definida, pode reduzir-se
notavelmente a própria capacidade de manobra, resulta que aquela posição
se revela contrária à sensibilidade, os valores ou a algum ponto
de vista muito arraigado do paciente. O terapeuta pode se precipitar a anunciar
sua opinião antes de saber o que o paciente pensa acerca do que necessita
para solucionar seu problema. Quando falamos de oportunidade e ritmo, estamos
nos referindo a "não disparar-se", basta que se hajam comprovado
quais são as opiniões do paciente, e a ir-se dando, no decorrer
do tratamento, pequenos passos enquanto se avalia o modo como o paciente admite
cada passo.
Os procedimentos utilizados para recolher dados
durante a sessão inicial dão a ocasião oportuna para averiguar
qual é a sensibilidade do cliente e para que o terapeuta tenha que tomar
posições prematuramente posto que se limita a fazer perguntas
para estar melhor informado e compreender ao cliente.
Há perguntas que formuladas conforme estas
sugestões podem facilitar explicações acerca da postura
do cliente:
1. Você tem estado me falando do seu problema;
a estas alturas lhe agradeceria que me dissesse por que crê que existe
um problema;
2. Conheço alguns terapeutas que dizem
(isto e aquilo) sobre seu problema. Tem ocorrido a você algo parecido,
ou pensa que todo isso não serve para nada?;
3. Não estou dizendo que isto seja o adequado
para seu problema, porém me pergunto se você tem provado (isto
e aquilo).
Tais perguntas permitem determinar que gama de
condutas ou que enfoque está disposto a por em prática o cliente
ou, pelo contrário, estaria disposto a rechaçar. Essas perguntas
não comprometem o terapeuta e deixam intacta sua capacidade de manobra,
dado que pode dar marcha à ré com facilidade sem acionar resistências
no cliente.
O tempo necessário
A capacidade de manobra do terapeuta também
depende que não ser pressionado para que atue. É preciso salvaguardar
sua possibilidade de ter o tempo necessário para pensar e planificar.
Aos clientes que oferecem informações
vagas recomenda-se a adoção de uma postura de aparente embotamento:
"Não entendo", "estou perdido" "as vezes é
melhor não mover-se com demasiada precipitação em uma situação
complexa" e o terapeuta deve sempre transmitir empatia, receptividade e
compreensão. Em geral deve manifestar, verbal e não verbalmente,
que a falta de compreensão se deve a um suposto defeito do próprio
terapeuta.
Do mesmo modo que estimulamos aos pacientes para
se usem o tempo necessário para solucionar seus problemas, o terapeuta
deve utilizar a seu favor o tempo quando se dispõe a efetuar as tarefas
próprias do tratamento. Sendo o caso, o tempo de consulta precisa ser
esticado um pouco mais.
O uso de uma linguagem condicional
Os pacientes formulam perguntas que convidam o
terapeuta a comprometer-se antes do que deseja fazê-lo, ou a assumir uma
postura que não deseja em absoluto. O terapeuta pode manter intacta sua
capacidade de manobra se responde de uma maneira condicionada, sua liberdade
para manter diversas opções abertas diante de si e ao mesmo tempo
a sensação de haver adotado uma postura concreta. Por exemplo:
"Não creio que meu marido esteja sendo justo comigo". Responder
sim ou não pode ser comprometedor. Uma resposta condicionada seria "Bom,
nunca vi seu marido, porém julgando com base no que você me tem
dito, creio que me inclinaria a estar de acordo com você".
Em muitos momentos do tratamento, o terapeuta
deseja efetuar uma intervenção específica ou encarregar
o paciente de algo, mas não sabe se tal estratégia funcionará.
Então pode dizer: "Gostaria de fazer-lhe
uma sugestão, mas não estou seguro de quanto nos servirá.
Dependerá de sua habilidade para usar a imaginação e, talvez,
de sua disposição para avançar fazendo melhorias".
Ele poderá fazer estes comentários após sugerir, o que
assume então a forma de elogio: "Bem, me preocupava que você
talvez não conseguisse chegar a nenhuma parte com minha sugestão,
porém sem dúvida subestimei sua imaginação e sua
capacidade para utilizá-la.
O terapeuta deve cuidar-se para não assumir
uma postura explícita antes de que tenha tido a informação
e o tempo suficientes para decidir que postura quer assumir e quando. A linguagem
condicional é uma ferramenta importante para levar à prática
esta opção.
O cliente deve condensar, resumir
Da mesma maneira que o terapeuta deve ser capaz
de assumir uma postura não comprometida e fluída, tem que ajudar
ao paciente a assumir posturas comprometidas e bem definidas. A capacidade de
manobra do terapeuta depende da falta de capacidade do cliente. Se dele não
se exige que seja claro e concreto em seus comentários e respostas ao
terapeuta, se não se impede que dê informações nebulosas,
poderá mudar de posição de maneira que mais lhe convenha.
Sempre que surgem estas dificuldades o terapeuta deve solicitar dos clientes
melhores definições: "Poderia esclarecer-me um pouco mais?".
Este aspecto da capacidade de manobra - obter
formulações claras do cliente - afeta em especial a entrevista
inicial, quando o terapeuta deve conseguir a maior parte da informação
que necessita para planificar o tratamento. Pedir dados claros e concretos,
que tratem da descrição do problema, a forma que se tem pensado
afrontá-lo, os acontecimentos que tem tido lugar entre as distintas sessões,
ou a maneira em que têm posto em prática as sugestões formuladas.
Depois de assinalar tarefas para fazer em casa, se o terapeuta descobre que
sua atuação tem se afastado das instruções recebidas,
pode ver-se confundido e o paciente pode subestimar o conselho do terapeuta,
com o que diminui a capacidade de manobra deste. Se há evidência
que o paciente não seguiu as instruções, a capacidade de
manobra do terapeuta não só segue intacta senão que de
fato aumenta, posto que o paciente se acha agora frente a uma maior pressão
que lhe induz a ajustar-se cuidadosamente ao conselho recebido. O que deve ficar
muito claro é como praticou as tarefas para não deixar dúvidas
sobre a capacidade de sugestão do terapeuta.
Atitude igualitária
O êxito do tratamento depende em grande
medida da capacidade do terapeuta para que o cliente lhe comunique informação
estratégica e para que leve à prática as sugestões
ou tarefas encomendadas. Uma posição de poder intimida a muitos
clientes, que podem interpretar esta atitude de superioridade como um sinal
de especial sabedoria e sagacidade do terapeuta. De modo que não lhe
darão a determinada informação ou não a darão
com clareza, posto que supõem que o terapeuta é perspicaz e o
compreenderá de todos os modos. Nós supomos que o paciente já
se encontra motivado por seu desejo de ver-se aliviado das moléstias
provocadas por seu problema e que está preparado para colaborar a menos
que o terapeuta interfira, por exemplo, dando a entender que não tem
conseguido a solução adequada, que toda colaboração
necessária consistirá em cumprir as orientações
recebidas, ou que sua colaboração se realiza em benefício
do terapeuta e não em seu próprio benefício; correndo o
risco de transmitir com isto uma atitude de superioridade. O terapeuta poderá
adotar outras atitudes sutis de superioridade (deixam de falar em tom de conversa,
introduzem pausas significativas antes de formular um comentário, sacodem
a cabeça em tom de astúcia ou adotam uma atitude de calma impessoal
ante a angústia do paciente).
Assumir uma atitude igualitária é
a maneira mais segura de evitar uma atitude de superioridade e de anular a tendência
do paciente de contemplar de baixo o terapeuta. Não basta evitar a atitude
de superioridade para que os pacientes se mostrem colaboradores. O terapeuta
deve usar mesmo a resistência como meio para facilitar a cooperação.
Nas intervenções e atitudes terapêuticas, estas devem adaptar-se
a cada cliente e cada situação no decorrer do tratamento, de modo
que nem sempre será o caso de evitar a atitude de superioridade.
Há duas razões que justificam a
importância da atitude igualitária: são bem mais raros os
pacientes que respondem positivamente diante da autoridade e também que
resulta mais fácil passar do igualitarismo à superioridade do
que o inverso.
Sessões individuais e conjuntas
Um enfoque sistêmico implica basicamente
um marco conceitual. Por exemplo, há terapeutas de família que
realizam sessões conjuntas porém concebem o problema em termos
monádicos, vendo os membros da família como um grupo de indivíduos
e não como uma unidade de interação. Ainda que realizem
sessões conjuntas, a terapia consiste em um tratamento individual.
A interação que tem lugar em torno
da doença e que pretendemos é eliminar dos participantes a conduta
que mantém vivo o problema. Toda alteração na conduta de
um dos membros da unidade de interação - família e outro
tipo de grupo - influirá na conduta dos demais membros desta unidade.
As interações que permitem a persistência de um problema
constituem exemplos de retroalimentação positiva ou de giros de
desviação e ampliação, ou seja, determinada conduta
do paciente suscita em outro sujeito uma conduta de intenção de
solução, porém esta última incrementa a conduta
desviada do paciente, o qual provoca a sua vez um esforço de solução
ainda mais forte e assim sucessivamente. Este ciclo que constitui um círculo
vicioso só pode interromper-se caso se modifique a conduta de um dos
participantes.
A pergunta "qual é o membro da família
que está mais interessado em solucionar o problema?" A resposta
provável indica a pessoa que se sente mais perturbada pelo problema,
o principal afetado e define também, como numa partida de tênis,
quem está mais interessado em terminar o jogo.
As sessões individuais podem também
incrementar a capacidade de manobra do terapeuta quando dois ou mais membros
de família se acham afetados por um problema e estão interessados
em sua solução com um desejo quase idêntico, porém
se encontram em conflito mútuo. A capacidade do terapeuta resulta muito
maior se reúne-se com os membros da família em separado quando
estão em conflito recíproco. Posto que o terapeuta quer a colaboração
dos diversos membros da família, no decorrer de sessões conjuntas,
deve cuidar-se muito para não tomar partido quando se produz um desacordo
entre eles, especialmente quando sério e inflamado. Todos nos sentimos
mais dispostos a colaborar com alguém que se compadece de nós
e o terapeuta se sente mais livre de compadecer-se de cada pessoa se as vê
em separado.
Quando se entrevista os clientes em separado,
o terapeuta possui a liberdade de constituir-se em aberta coalisão com
cada pessoa implicada, podendo obter a cooperação de todos mais
facilmente.
Tática com os pacientes difíceis
Trata-se do cliente que ameaça impedir
que a terapia sequer inicie
1. os pacientes que iniciam o tratamento por coação
2. os pacientes que impõem restrições
inaceitáveis à terapia
O "comprador fingido"
Esta classe de pacientes vem por coação
e não se acha pessoalmente interessada em obter nenhuma mudança
em sua doença. Isto deve ser reconhecido e não se perder tempo
com um tratamento que não começa de fato.
São exemplos: adolescentes enviados pelos
pais, marido "descarado", alguém enviado por alguma instituição,
o paciente que padece de alguma doença e tem o propósito oculto
de conseguir que o terapeuta confirme oficialmente que se acha incapacitado
e deste modo se converta em beneficiário de um subsídio por incapacidade.
O erro principal que cometem os terapeutas em tal situação é
aventurar-se no tratamento, não comprovando os possíveis elementos
coercitivos na motivação do cliente, ignorando-os caso se manifestem.
Quando se apercebe do fato pode negociar de novo o contrato, permitindo ao cliente
deixar de ser comprador fingido para tornar-se cliente, focando o objetivo do
cliente ou outro alternativo (por exemplo, estar ali por coação).
Um segundo âmbito de intervenção
implica trabalhar junto com o cliente. No caso do paciente encaminhado, pode-se
estabelecer contato com o "encaminhador" com a anuência do paciente
e acordar uma entrevista para abordar 3 questões iniciais básicas:
"Que problema existe?", "Como o tem enfrentado?", Qual é
o objetivo mínimo suficiente?"
Uma terceira tática consiste em conseguir
que o "comprador fingido" se decida de fato a comprar, fazê-lo
se interessar pelo tratamento. O terapeuta pode adotar o caminho contrário,
isto é, adotando a mesma postura do cliente, segundo o qual o tratamento
resulta provavelmente desaconselhável (não fazer terapia). Pode
sugerir razões para evitar o tratamento que resultem inaceitáveis
para o "comprador fingido". Caso as táticas sugeridas não
surtam efeito, o melhor é não prosseguir com o cliente em tratamento,
sob pena de frustração, perda de tempo ou que o cliente pode mais
tarde convencer outras pessoas de que tentou o tratamento, porém resultou
infrutífero. Como finalizar a relação terapêutica
nestes casos e de modo a que o cliente não procure outro profissional
e continue o jogo? O terapeuta poderia dar ao cliente um prognóstico
desafiante". Você me disse que está disposto a experimentar
o tratamento, Porém eu sei, o mesmo que você, que não está
decidido a fazer absolutamente nada para solucionar seu problema. Creio que
para você o melhor seria fazer ver que se submete a tratamento, porém
a não deixar que nenhum terapeuta chegue a nenhuma parte com você.
Limite-se a permitir que tentem. Agora, podia deixar que jogasse assim comigo,
porém sucede que não gosto de perder tempo. Muitos não
se importam com isto, você poderá comprovar o que estou dizendo".
O paciente restritivo
Alguns clientes ameaçam sabotar o tratamento
desde o princípio, para o que tentam estabelecer condições
terapêuticas que, se são aceitas, limitariam a liberdade do terapeuta
para atuar de modo construtivo.
Estas condições pertencem a muito
poucas categorias: restringem a liberdade do terapeuta para efetuar comentários,
assinalar entrevistas e marcar um ritmo ao tratamento, ou para ver-se com pessoas
da família ou do sistema problemático.
Uma delas é a conspiração
do silêncio, por exemplo, quando um paciente gostaria de revelar algo
ao terapeuta sem que seja revelado ao outro. Neste caso o terapeuta deve solicitar
a liberdade de decisão acerca do assunto em questão. Ou para restringir
a liberdade do terapeuta quanto a entrevistar-se com outros membros da família
cuja implicação podia resultar decisiva para solução
do problema. O terapeuta pode limitar-se a dar-se por inteirado do desejo do
paciente e pode espaçar mais as sessões visto que não há
pressa de solucionar o problema. O primordial consiste sempre em evitar a conspiração
de silêncio.
Uma restrição mais grave é
quando o paciente trata de intimidar o terapeuta, apelando à explosão
de ira como resposta aos comentários ou perguntas que este tenha formulado.
O terapeuta pode comunicar ao paciente que deve cessar tal intimidação
ou o tratamento será abandonado, o tratamento não pode avançar
debaixo de tais condições. Porém, para não caracterizar
a intimidação, o terapeuta pode suavizar a intervenção
falando de si, do que experimenta, de que diante desta forma de manifestações
de sentimentos ele fica paralisado e limitado na sua atuação,
que esta é sua condição. Finalmente, há outra restrição
por intimidação que consiste em ameaça de agressão
física ou a tensão que também pode afetar a capacidade
de juízo do terapeuta. Como no caso do paciente irado, estes necessitam
ser informados acerca da possibilidade de término do tratamento se continuam
com suas ameaças e intimidações. O erro mais freqüente
que comete o terapeuta consiste em ocultar seu sentimento de intimidação,
pois ele tende a continuar.
Cap.3 - A fixação do limite
do tratamento
As sessões iniciais de diagnóstico
estão separadas do tratamento propriamente dito. Qualquer contato com
o cliente pode afetar o tratamento, fazendo-se necessário planificar
todas as etapas do tratamento.
As entrevistas para terceiros
Uma regra válida na maioria dos casos afirma
que a pessoa mais decidida a buscar uma mudança é aquele membro
do sistema que se acha mais perturbado pelo problema. Em conseqüência
o solicitante é também quem melhor colabora no tratamento.
Um aspecto básico da capacidade de manobra
consiste em utilizar-se o tempo necessário; não há que
resolver tudo de imediato e o tempo joga a favor do terapeuta.
A informação procedente de um terapeuta anterior
A pessoa que chama pode decidir que gostaria de
contratar um entrevista e sugerir na continuação que o terapeuta
entre em contato com seu terapeuta anterior, com objetivos de recolher informações
acerca do tratamento a que havia se submetido anteriormente. Para evitar problemas
potenciais o terapeuta pode adotar uma abordagem no sentido de não conversar
com outro terapeuta antes de ver o cliente e o que ele quer, podendo informar
desta maneira: "Gostaria de conhecer a opinião do doutor X sobre
seu tratamento anterior e ele poderia ser de utilidade. Porém, tenho
descoberto que posso fazer melhor uso desta classe de informação
se primeiro me sento junto com o paciente e formo uma primeira idéia
sobre alguns dados básicos com respeito ao problema. Uma vez feito isto
não tenho inconvenientes em conhecer as observações e as
idéias do doutor X".
A terapia por telefone
Os pacientes que têm estado submetidos previamente
a tratamento, em especial a tratamentos que concedam estreita relação
e apoio do terapeuta, podem tratar de iniciar uma sessão terapêutica
durante a chamada telefônica, para pedir uma entrevista, isto é,
já iniciam aí seu relato e se o terapeuta leva adiante pode caracterizar
que o telefone é um meio legítimo de fazer terapia, quando o objetivo
da primeira chamada é ajustar uma entrevista. Ao assinalar tais questões
o terapeuta marca que é ele que se encarrega basicamente de determinar
qual é o ritmo e o horário apropriado de terapia. Trata-se de
ajustar o cliente a um novo método de terapia diferente do anterior e
o terapeuta pode colocar assim: "Permita-me interrompê-lo. O que
está me dizendo pode ser muito importante, porém tenho dificuldades
para assimilar informações complexas e importantes que me transmitem
por telefone e não estaria em condições de prestar-lhe
a devida atenção. Sugiro que combinemos uma entrevista quando
então poderei conceder a esta informação a atenção
que merece".
Os pedidos de assessoramento familiar
Pode ser desnecessário ou constrangedor
trazer todo o grupo familiar para terapia na primeira sessão. Para evitá-lo
o terapeuta pode perguntar no primeiro telefonema: "Qual é o principal
problema que o preocupa ?". E seguir questionando até formular a
decisão de quem trazer para a sessão inicial, pois se pais se
mostram apreensivos com conduta de filhos, sabemos que não é conseqüência
de que existam problemas mais profundos no sistema familiar, mas que constitui
o resultado de soluções que têm ensaiado os pais em seu
intento de controlá-lo ou ajudá-lo. E também que resultará
mais fácil afrontar a dificuldade de medo efetivo se esta se manifesta
do que se permanece oculta ou velada. Portanto, na sessão inicial o terapeuta
pode obter mais dados que o ajudem a decidir a quem tem que ver na sessão
seguinte e como enquadrar os pais dentro do tratamento, de forma que siga dispondo
da capacidade de manobra para tomar decisões no decorrer das próximas
sessões.
Os pedidos de tratamento específico
Quando o cliente solicita hipnose ou farmacologia
e o terapeuta utiliza várias modalidades terapêuticas, continua
obrigado a configurar o tratamento dentro de um marco no qual, desde o princípio,
conserve sua capacidade de manobra para exercer seu melhor critério no
decorrer do tratamento.
Os problemas de contratar a entrevista
Quando o solicitante tenta fixar a hora da entrevista
de modo imperativo, por exemplo: "Precisa ser hoje" se o terapeuta
concorda estará cedendo a uma situação em que a oportunidade
e o ritmo ficam totalmente ao arbítrio do cliente e tal situação
muitas vezes não permite planificar o tratamento.
Em outros casos a pessoa solicita em função
financeira e neste caso o terapeuta pode contratar um certo número de
sessões de acordo com a disponibilidade econômica do cliente.
Os pedidos de informação
Algumas vezes o solicitante busca informação
do terapeuta e do tratamento e o terapeuta não tem como saber se tais
perguntas acontecem por uma ambivalência ao tratamento ou se o solicitante
as formula por interesse legítimo e pode, ainda que incômodo, responder
de modo direto e sucinto, apenas para começar. Se as perguntas são
pertinentes contrata-se uma entrevista, caso contrário o terapeuta pode
concluir a conversa com a rapidez e cortesia que julgue mais oportunas.
Cap.4 - A entrevista inicial
O objetivo principal do terapeuta no decorrer
da entrevista inicial consiste em recolher adequada informação
sobre os fatores essenciais a cada caso: natureza da enfermidade, como está
enfrentando o problema, objetivos mínimos do cliente e atitude e linguagem
do cliente. Por informação adequada entende-se aquela que é
clara, que se manifesta em termos de conduta, isto é, o que fazem e dizem
os indivíduos quando se dá o problema e quando tentam enfrentá-lo.
A adequada informação constitui requisito imprescindível
para levar a cabo um tratamento breve porém efetivo, posto que serve
de fundamento sobre o qual se planifica e se realiza as intervenções.
É muito mais positivo avançar a princípio lentamente que
apressar-se a realizar uma intervenção ativa - fazer algo - antes
de que o problema e o modo de tratá-lo se tenham esclarecido e explicitado.
Pode-se começar simplesmente perguntando: "Qual é o problema
que o traz aqui?" e ao enfocar o presente, o que está sucedendo
agora, a indagação está centrada na doença ou nas
doenças principais de quem busca ajuda, em termos de conduta: "Quem
está fazendo que isto (o que seja) represente um problema?" "Para
quem é e como constitui tal conduta um problema?". Solicitar um
exemplo do problema tende a ser o melhor caminho para obter informação
concreta e definida acerca da conduta em questão. Se o terapeuta não
pode realizar uma formulação clara e breve que abarque todos os
elementos que intervêm na doença atual (quem, o que, a quem e como),
isto se deve a uma de duas causas: ou não possui a informação
adequada acerca de dita doença ou não tem assimilado suficiente
informação. Continuar avançando sem uma clara formulação
do problema não seria nada conveniente.
"Como se converte em problema a situação
que você menciona?" Esta investigação do "como"
pode resultar decisiva ao menos em três situações muito
comuns, que em parte se encobrem. Em primeiro lugar, trata-se daqueles casos
nos quais o problema declarado não parece ser mais que uma questão
secundária. Em segundo plano, o cliente pode estabelecer como problemas
determinadas dificuldades que, se são graves, outras pessoas considerariam
como vicissitudes da vida impossíveis de modificar e com as quais há
que conviver. Por último, alguns problemas vitais exigem a ajuda de,
por exemplo, um advogado, um médico ou assessor financeiro. A pergunta
"de que forma isto é um problema" ajuda a aclarar este ponto
e "de que forma você crê que posso ajudá-lo a enfrentar
este problema?" O passo seguinte consiste em perguntar que estão
fazendo para solucionar o problema todas aquelas pessoas intimamente ligadas
com o paciente. O que as pessoas fazem e dizem em suas intenções
de evitar que estabeleça o problema, ou de fazer frente quando se apresenta?
Quando se investiga acerca do problema em si mesmo,
alguns clientes estão dispostos a oferecer respostas claras e diretas.
Há outros que são confusos, imprecisos, que escapam pela tangente,
ou que oferecem interpretações e não descrições
da conduta. Nestes casos faz-se necessário efetuar uma investigação
persistente. Antes de cada pergunta oferecer uma explicação que
traga ao terapeuta a responsabilidade de não estar compreendendo bem
as coisas.
A investigação dos objetivos mínimos
do tratamento tal como delineia o cliente pode resultar mais difícil
que informar sobre o problema e seu manejo. Vemos com mais clareza o que não
queremos do que o que queremos. "Se chegasse a produzir-se, que é
que você consideraria como primeiro sinal de que tem ocorrido uma mudança
significativa, ainda que pequena?"
Há muitos clientes que apresentam dificuldades
durante esta primeira etapa do tratamento, dedicada ao recolhimento de informações.
Na pergunta "Qual é o problema?" muitos clientes enunciam uma
formulação causal ou dinâmica acerca do problema, em lugar
de especificar qual é a conduta que o constitui. O terapeuta enfrenta
este tipo de dificuldades manifestando que antes de passar a um nível
mais profundo de causalidades necessita obter uma clara visão com respeito
a como funciona o problema. Pode solicitar que lhe dêem exemplos e detalhes
específicos. Quando o cliente passa de uma a outra questão, a
forma mais simples e talvez adequada na maioria dos casos consiste em que o
terapeuta peça ao cliente que defina quais são suas prioridades.
A melhor maneira de expressá-lo é assumir uma postura humilde.
"Compreendo que sua mente está ocupada por grande quantidade de
problemas, porém minha capacidade de captar as coisas e fazer frente
a elas, é demasiado limitada para tratar de resolver ao mesmo tempo certas
questões. Perco-me. Por isto, podia dizer-me qual é neste momento
preciso seu problema principal, aquele que resulta mais importante mudar se
isto fosse possível?"
Certos clientes podem impedir que se realize todo
o processo de recolhimento de informações. Entre os sabotadores
ativos se contam os esquizofrênicos que dizem coisas sem sentido e as
crianças que gritam ou são difíceis por outros motivos.
Os sabotadores passivos podem limitar-se a indicar que se acham inseguros ou
dominados por uma emoção para contestar certas coisas, podendo
até calar-se. A melhor maneira é deixar de lado o indivíduo
que não se comunica e trabalhar com os membros da família que
se acham preocupados com o problema. Se o terapeuta se vê obrigado a trabalhar
com um cliente que não se comunica deverá manifestar que necessita
determinada informação com objetivo de servir-lhe de possível
ajuda e que depende do cliente para obter dita informação.
Em última instância, a única
maneira de enfrentar este problema comum a todas as formas de psicoterapia,
consiste em ignorar o tema encoberto pela obscuridade e ascender a um nível
mais alto: considerar o problema mais significativo constitui a própria
vacuidade e buscar o modo de mudá-la.
Durante a primeira entrevista também é
importante conseguir ao menos uma certa captação inicial da linguagem
ou da postura do cliente.
Cap.5 - A postura do cliente
A solução que o paciente propõe,
ao que provoca o problema, está determinada pelo que considera como única
coisa razoável, saudável e salvadora que tem que fazer, apesar
de não estar servindo para solucionar o problema. Assim, conseguir que
o paciente abandone sua própria solução e se decida por
outro enfoque é o fator decisivo para realizar com brevidade a terapia.
Para esta tarefa a postura do paciente é de uma importância enorme.
Em essência, a tarefa principal da terapia consiste em influir sobre o
cliente para que enfrente de modo distinto seu problema ou doença. Como
expressamos algo pode resultar convincente para uma pessoa porém não
para outra. Pacientes também são pessoas e possuem seus próprios
valores, crenças e prioridades que estão fortemente consolidados
e que determinam o modo como atuaram ou não atuaram.
A postura representa uma inclinação
interna dos pacientes a qual se pode utilizar para estimular a aceitação
do cliente e por em prática as diretrizes do terapeuta. Postura indica
um valor com o qual o cliente se acha comprometido.
A avaliação da postura do paciente
No recolhimento de dados, a princípio é
importante "escutar" tudo que diz o paciente: as palavras concretas
que emprega e o tom e ênfase com que se expressa. Estar atento à
postura do paciente em relação com sua doença e em relação
com o tratamento e/ou terapeuta. Muitos pacientes possuem determinadas idéias
com respeito à natureza do seu problema e de sua causa presumível,
assim como teorias gerais ou específicas sobre como resolvê-lo.
Com frequência expressam tais teorias enquanto descrevem o problema e
sua história. Se o terapeuta ignora estas declarações de
postura, pode empregar uma estratégia que provoque resistência.
A psicoterapia convencional dá importância
a escutar o significado subjacente do que diz o cliente. Aqui colocamos a importância
de escutar a exata formulação das frases dos pacientes, porque
nesta específica formulação é onde eles assinalam
suas posturas.
Tipos de postura
Há duas basicamente: ou o problema é
manifestamente doloroso, pelo qual a mudança se mostra urgente por necessidade
ou o estado de coisas é indesejável porém não incômodo
em excesso e não se necessita uma mudança, ou pelo menos, não
com urgência.
No que se refere à terapia em si mesma,
os pacientes tendem a assumir uma de três posturas: convertem-se em receptores
passivos da sabedoria e dos conselhos do terapeuta; o inverso, tomam a seu cargo
ativamente o tratamento utilizando o terapeuta como caixa de ressonância
passiva; ou buscam ajuda através de uma atividade (que seria o entendimento
do processo ou ação) e uma responsabilidade recíprocas
entre eles e o terapeuta. Alguns se sentem motivados por desafios, riscos. Outros
preferem tarefas pequenas, discretas. Outros são serviçais, preferem
tarefas que exijam sacrifício pessoal em prol do outro. Um paciente que
expresse pessimismo acerca de seu problema está expressando ao mesmo
tempo pessimismo acerca do seu envolvimento, duração e o resultado
do tratamento, isto é, as posturas acerca do problema podem disfarçar-se
com posturas que façam referência ao próprio processo terapêutico.
A postura principal em relação ao
tratamento consiste em que o indivíduo se declare cliente efetivo ou
não. Cliente é um indivíduo que está buscando ativamente
a ajuda de um terapeuta. É alguém que solicita ajuda. Paciente
é aquele que se define como pessoa desviada ou perturbada, trate-se dela
mesmo ou outra pessoa.
Na definição de cliente, inclui-se três elementos: l. Tenho
estado lutando contra um problema que me prejudica de modo significativo; 2.
Não tenho conseguido solucioná-lo unicamente com meus próprios
esforços ; 3. Necessito que você me ajude a solucioná-lo.
O cliente possui idéias tão sólidas
com respeito à estrutura mais adequada do tratamento que não se
encontra disposto a permitir que o terapeuta tome as decisões fundamentais
para o processo; pelo contrário, impõe ao terapeuta condições
que, se aceitas, impediriam qualquer possível solução do
problema.
A utilização da postura do paciente
Para conseguir brevidade no tratamento, o terapeuta
não fará comentários que provoquem resistência no
paciente, a menos que se integrem em uma estratégia bem planificada.
Em segundo lugar, incrementará ao máximo a disponibilidade do
paciente apelando a sugestões.
Evitar resistências
O terapeuta deve aceitar as afirmações
do cliente, reconhecer os valores que possui e evitar os comentários
provocativos ou desprovidos de credibilidade que possam interferir na colaboração
do cliente. Às vezes uma inclinação de cabeça comunica
a aceitação das idéias do cliente.
Estimular a colaboração do paciente
Na fase de tratamento que estamos analisando o
terapeuta terá formulado alguma tarefa ou alguma atividade que, se são
levadas a cabo pelo paciente, servirão para incrementar as possibilidades
de solução do problema. Porém é preciso que dê
esta tarefa ou atividade ao paciente de maneira coerente com a postura que o
cliente tem transmitido.
Outro ponto importante acerca da postura do paciente
é que tendemos a supor que só se pode motivar útil e efetivamente
a alguém se este adota a atitude correta. Paralelamente se alguém
possui uma atitude equivocada intentamos que a abandone como passo prévio
para que se desenvolva nele a motivação correta. Esta consiste
em tratar de que o cliente fale nossa linguagem, adote nossa opinião
e aceite nossa postura, ao invés de falar sua linguagem e de utilizar
sua postura. O terapeuta não deve descuidar nem sufocar nenhuma motivação
que possa aumentar as possibilidades de solucionar o problema do paciente no
menor tempo possível. O terapeuta utiliza o que o cliente traz consigo.
O difícil não reside na técnica mas em superar a tentação
de enfrentar o cliente, de racionalizar e discutir com ele. Pelo contrário,
há que escutar o que dizem os clientes. As linhas diretrizes são:
1. Qual é a principal postura do cliente (atitude, opinião, motivação) com respeito ao problema?
2. Como conseguir reduzir tal postura do melhor modo possível a seu valor ou impulso essencial?
3. Como eu sei o que quero que o cliente faça para solucionar seu problema, como formulá-lo de modo coerente com tal postura ?
Cap.6 - A planificação do
caso
Planificar é imprescindível para
aplicar com eficiência a própria influência e para resolver
os problemas com rapidez. Se não se dedica a planificação
o tempo necessário diminuem notavelmente as possibilidades de êxito
e o tratamento se converte em uma aventura prolongada e errática que
acaba por definhamento. Ao examinar nossos próprios fracassos descobrimos
que o fator concreto mais decisivo tem sido a falta de uma planificação
do tratamento.
Existem procedimentos característicos para
cada um dos aspectos e fases do tratamento - fixação do marco,
obtenção de dados estratégicos, etc, porém não
se pode utilizar nenhum de tais procedimentos de modo intencional se o terapeuta
se limita a disparar por surpresa, preparando os temas de sessão em sessão,
sem planificar uma seqüência de sessões. Em nosso enfoque
de orientação estratégica a planificação
requer uma precisão, em especial no que se refere aos objetivos, a estratégia
do tratamento e as intervenções necessárias para por em
prática tal estratégia. Não se pode prever tudo, portanto
sugerimos aqui uma planificação geral de tratamento, tendo presente
que qualquer plano que se adote necessitará ser reconsiderado à
medida que o tratamento vá avançando e surjam dificuldades imprevistas
- ou também, mudanças positivas - que obrigam ao terapeuta mudar
de planos.
Estabelecer o problema do cliente
Começar por uma compreensão clara
da doença que trouxe o cliente à consulta. Talvez a afirmação
pareça óbvia, porém em grande quantidade de casos não
solucionados, um estudo retrospectivo havia revelado que nunca havíamos
estabelecido com clareza qual era a doença e que a planificação
do caso resultava inadequada por basear-se em informações insuficientes
ou em formulações errôneas. Quanto mais sofisticado do ponto
de vista psicológico é o cliente menos claro deixará a
natureza da doença. Quando a doença é vaga o terapeuta
deve aclará-la antes de avançar, visto que o objetivo geral da
terapia consiste em eliminar ou reduzir de modo satisfatório a doença
que manifesta o paciente.
Estabelecer a solução projetada
pelo cliente
O problema se conserva graças aos esforços
que o cliente e outras pessoas realizam sobre o mesmo. Então é
necessário compreender de modo completo e exato o que representam tais
esforços sobretudo os usados no presente momento. É importantíssimo
entender qual é o impulso básico dos diversos esforços
realizados. Um cliente pode mencionar grande quantidade de coisas que ele e
outros tenham dito para fazer, porém é provável que todas
estas coisas não sejam mais que variações sobre um mesmo
tema ou impulso central, que o terapeuta pode chegar a descobrir mediante a
reflexão. Nem sempre é possível unificar todos os projetos
do cliente em uma só categoria. A maioria dos esforços realizados,
os que levam a cabo com mais insistência, se agrupam facilmente em uma
única categoria. Quando se identificou o impulso básico dos esforços
do cliente, o terapeuta pode passar a fase seguinte do processo de planificação.
Decidir o que se deve evitar
Deixar bem claro o afastamento do que chamaremos
"campo minado". Que é que mais me interessa evitar?
Se sabe o que há a evitar, o terapeuta
pelo menos não colaborará na manutenção do problema
do cliente.
Formular um enfoque estratégico
As estratégias efetivas podem ser aquelas
que se opõem ao impulso básico do cliente, afastando-se 180 graus
de tal direção. A alguém com insônia o impulso estratégico
oposto seria: "Obrigue-se a permanecer desperto".
Pode afirmar-se que não existem posturas
ou estratégias supostamente neutras que ao mesmo tempo resultem de utilidade.
Podem significar uma continuidade do impulso básico do cliente.
Formular táticas concretas
Ainda que a solução de um problema
exija o abandono da solução ensaiada pelo paciente, este não
pode limitar-se a deixar de fazer algo, sem fazer outra coisa em compensação.
Como no caso de deixar de estar de pé, senta-se, salta, etc. O terapeuta
perguntará: "Qual destas ações será mais eficaz
para impedir a ação anterior?" Quais são as transações
que se produzem com caráter mais repetitivo enquanto está tendo
lugar o problema e se planeja solucioná-lo? Que coisa, dita ou feita
pelo cliente, representaria uma afastamento mais evidente com respeito a sua
anterior atitude? Qual seria a ação que o cliente levaria a cabo
com mais facilidade? Se o terapeuta pode eleger entre uma ação
fácil de incorporar na rotina diária do cliente e outra ação
que exige uma acontecimento especial ou infreqüente, é provável
que se decida pela primeira.
O terapeuta pode conseguir um impacto estratégico
ao solicitar ao paciente que faça o que na aparência não
é mais que uma pequena alteração no manejo do problema,
por exemplo, brigar não na sala de estar mas em outro lugar da casa.
Em muitos problemas, numerosas pessoas podem estar
implicadas na conservação do problema. O terapeuta deve pesar
o seguinte aspecto: entre os indivíduos implicados, qual deles seria
o mais receptivo a mim? O mais provável é que seja o que solicita
ajuda, ou que haja mais de uma solicitante, como sucedem em muitos problemas
conjugais, podem ser ambos.
Enquadrar a sugestão em um contexto:
"vender" a tarefa
Uma coisa é formular uma sugestão
ou uma tarefa e outra muito distinta é conseguir que o cliente a leve
a sério. O terapeuta necessita planejar o modo de induzir este a aceitá-la,
utilizando o marco de referência próprio do cliente e não
do terapeuta. Para uma pessoa sagaz se dirá que: "Sei que você
compreende a importância da tarefa, de modo que não necessito explicar-lhe
algo que é óbvio para você." Para o cliente que subestima
o terapeuta, pode-se adotar uma postura de considerar a tarefa importante, mas
que não é provável que tenha êxito, ou aquele cliente
que pede ajuda mas não aceita qualquer sugestão, não importa
como se formule, o terapeuta adota a metapostura do cliente para brindá-lo
com um conselho negativo. "Agora não me ocorre nada que possa ajudá-lo
a solucionar seu problema. O que podia fazer, no melhor dos casos, seria aconselhar
algo, que se você cumpre, deixará o problema pior". O terapeuta
coloca ao cliente com todo detalhe o que o cliente está fazendo em sua
intenção de resolver o problema e completa: "Se continua
fazendo isto, estará em condições de conseguir que sua
situação deixe de ser lamentável para converter-se em impossível.
Não precisa crer só porque estou lhe dizendo. Prove e verá".
Ao cliente com desafio passivo, talvez se faça necessário expressar
de modo explícito uma atitude de desafio explícito e ao cliente
que não se ajusta a sugestões ou tarefas anteriores, pode-se esquecer
das sugestões, pedir uma lista de todas as manobras evasivas que lhe
ocorram.
A formulação requerida para induzir
ao cliente a aceitar a tarefa não necessita ser sempre complicada. Pode
ser simples como esta: "Vou pedir-lhe algo e gostaria de saber como funciona".
Formular objetivos e avaliar os resultados
Como o objetivo geral é a solução
da doença do cliente, é preciso vincular os procedimentos e os
objetivos do tratamento. Então consideramos
1. sobre que base elegemos o objetivo e
2. Que tipo de dados se manejará para
determinar o êxito ou fracasso em conseguir dito objetivo, ou para determinar
o avanço feito na consecução do objetivo durante o transcurso
do tratamento. O grande perigo consiste em que os critérios próprios
do terapeuta sejam considerados como normas objetivas de saúde mental,
ainda que se limitem a expressar valores meramente pessoais, culturais ou de
classe social.
O indicador mais importante de êxito terapêutico
consiste em uma declaração do cliente segundo a qual se encontre
completa ou razoavelmente satisfeito com o resultado do tratamento. Isto pode
suceder por duas causas: porque a conduta perturbada havia mudado, ou porque
havia mudado sua avaliação de tal conduta, o que faz que ele não
considere como um problema significativo.
Tratamos de comprovar por diversas vias tal informe.
Primeiro, baseando-nos em nossa própria estimativa do impulso inicial
das soluções ensaiadas em cada caso, tentamos determinar um objetivo
concreto de mudança de conduta: em outras palavras, tentamos prever uma
conduta específica cuja realização consideremos incompatível
com a continuidade do problema e que, se é possível , constar
em termos de "sim "ou "não".
Em segundo lugar podemos constatar a mudança
declarada, desde a postura do solicitante de ajuda até a do não
solicitante, interrogando o cliente acerca da base de sua nova postura: "Que
tem sucedido que explique esta mudança? Quando o primeiro critério
de avaliação implicava a previsão de que determinada conduta
seria incompatível com a continuidade da doença, implica em vincular
a mudança da doença com uma mudança de conduta ou de opinião.
No caso do indivíduo deprimido interessaria que comentasse que voltou
a trabalhar mais que uma afirmação de que se sente melhor. Ou:
"Tenho estado me torturando para conseguir um emprego fora de casa. Mas
a verdade é que odeio o trabalho. Sinto-me muito melhor em casa, com
as tarefas domésticas, cozinhando e tendo tempo para mim. Minha esposa
tem uma carreira com a qual ganha muito dinheiro, é feliz exercendo-a
e deixando-me ser o senhor da casa. Quando nos demos conta disso, ficamos aliviados".
Cap.7 - As intervenções
A terapia breve pretende influir sobre o cliente
de modo que sua doença original se solucione com a satisfação
deste. Tal objetivo pode ser obtido por duas vias: impedindo que o cliente ou
quem o rodeia leve a cabo uma conduta que permita a perpetuação
do problema ou, nos casos adequados, modificando a opinião do cliente
acerca do problema de modo que ele não se sinta perturbado e nem com
a necessidade de continuar sob tratamento. Em ambos os casos o terapeuta deve
intervir. Se pode provocar-se uma mudança mediante intervenções
simples e diretas, por exemplo, com uma sugestão direta ou um pedido
de modificar a conduta, tanto melhor. A docilidade do cliente para esta situação
é mais provável se l. o cliente tem expressado com toda clareza
que espera cheio de angústia o conselho e a ajuda do terapeuta e 2. Ele
tenha manifestado antes sua docilidade respondendo adequadamente às perguntas
do terapeuta. E este deve estar disposto a avançar e retroceder conforme
as resistências do cliente.
Existem duas grandes categorias de intervenções
planificadas: intervenções primárias e gerais.
A. As intervenções principais
Após haver
colhido as informações necessárias para planificar as estratégias
de ação.
1. A intenção
de forçar algo que só pode ocorrer de modo espontâneo
O cliente padece
de uma doença relativa a ele mesmo. São problemas de funcionamento
corporal ou de rendimento físico: rendimento sexual, funcionamento intestinal,
função urinária, dificuldades respiratórias, problemas
de apetite, depressões, obsessões e compulsões, bloqueios
criativos e de memória. O paciente potencial define tais flutuações
de atividades humanas como problema e toma voluntariamente determinadas medidas
que sirvam para corrigi-las e evitar seu reaparecimento. Neste tipo de problema
é provável conseguir a solução quando o paciente
simplesmente renuncia a suas intenções de autocoação
e deixa de esforçar-se demais. Porém, limitar-se a dizer a alguém
que abandone determinada conduta só tem como conseqüência
que o sujeito se torne mais consciente dela. Então, como norma geral
pedimos implicitamente a um paciente que renuncie a uma conduta concreta quando
lhe ensinamos explicitamente que leve a cabo outra conduta que por si exclua
a conduta que desejamos eliminar. A estratégia global que utilizamos
para solucionar problemas de rendimento se centra em inverter a intenção
do paciente de superar o problema, para o qual ministramos umas razões
e direções que levem o paciente a fracassar em seu rendimento.
Tais razões podem ser de fazer aparecer o sintoma com propósitos
de diagnóstico, pois o cliente pode subministrar tal informação,
que exige que o cliente exiba deliberadamente o sintoma, porque quando o sujeito
o experimenta de modo espontâneo se encontra demasiado absorto na angústia
de lutar contra o sintoma e não pode observá-lo como convém.
A segunda razão que se diz ao cliente é para provocar a aparição
do sintoma como passo inicial para o controle definitivo e, como exemplo das
razões citadas, pode ser alguém que se queixa de impotência,
o terapeuta pode propor a ele continuar impotente e quando ele consiga chegar
ao fim do coito, não elogiar mas sim reprová-lo por haver fracassado
em sua intenção original e continuar se esforçando para
continuar impotente durante a próxima semana.
Em alguns casos
pode influenciar-se o paciente para que deixe de lutar contra sua atuação
ou seu caráter, se se define o sintoma indesejado como algo benéfico,
ainda de que um modo que o paciente não havia descoberto com antecedência.
Apontar os benefícios da depressão, por exemplo.
No caso de adições,
fumantes por exemplo, o terapeuta reforça a tentação de
fumar como uma necessidade absoluta com o objetivo do controle definitivo, Apelando
para esta redefinição, instrui o sujeito para que se exponha deliberada
e freqüentemente à tentação, porém lhe oferece
ao mesmo tempo um processo ritual que, se posto em prática, lhe permite
resistir à tentação. O terapeuta deve evitar o perigo de
sugerir ao cliente utilizar sua força de vontade par separar-se da substância
que provoca a adição.
Há também
o exemplo dos rituais de aversão: a efetividade da intervenção
se incrementa quando se lhe indica que utilize como fator aversivo uma quantidade
exagerada da substância criadora de hábito, sobretudo se exige
do cliente que tome ou ingira por horas contínuas. O desfrute da substância
proibida se converte então no tratamento (se fumar um cigarro à
noite, terá de fumar todo o maço em seguida).
2. A intenção
de dominar um acontecimento temido retardando-o
Pacientes que se
queixam de estados de terror ou ansiedade, fobias, timidez, bloqueios na escrita
ou outras áreas criativas, bloqueios de rendimento (falar em público,
e outros similares). Estas doenças também são auto-referenciais.
Com grande freqüência as fobias começam de modo inócuo
e, num dado momento, choca-se com inconvenientes inesperados e inexplicáveis
para realizar certas tarefas. O problema pode chegar a níveis fóbicos
ou limitar-se a ser uma reação de ansiedade, porém o futuro
paciente considera que o acontecimento temido é algo que ele não
está em condições de dominar. Em sentido metafórico,
é como se o acontecimento fosse um dragão que o sujeito tem que
matar, mas para o qual não possui a arma secreta que lhe parece, têm
todos os demais. Essencialmente a intenção básica de solução
consiste em preparar-se para o acontecimento temido, de modo que esse acontecimento
possa ser dominado com antecipação. O que se requer do terapeuta
são diretrizes e explicações que exponham o paciente à
tarefa, enquanto se exige uma ausência de domínio ou domínio
incompleto dela.
O fio condutor das
estratégias de solução dos problemas de medo é expor
o paciente à tarefa temida ao mesmo tempo que se lhe impede que acabe
com êxito. O terapeuta persiste em sua atitude restritiva e passo a passo,
todo processo de condução deve formular-se em qualidade de restrições.
3. A intenção
de chegar a um acordo mediante uma oposição
Aqui os problemas
implicam um conflito numa relação interpessoal centrado em temas
que requerem uma mútua colaboração. Contam-se as brigas
conjugais, os conflitos entre pais e filhos, disputas entre companheiros de
trabalhos e entre filhos adultos e pais de idade avançada.
Por norma geral,
quem se põe em contato com o terapeuta é a pessoa que pensa que
a outra parte ameaça ou nega a legitimidade de sua própria posição.
Ainda que quem solicita ajuda profissional tencione obrigar a parte ofensora
a buscar ajuda ou ao submeter-se ao tratamento, estas intenções
tendem a fracassar. A solução ensaiada assume a forma de exigir
a outra parte que os trate como se fossem superiores. Esta forma de solução
serve para produzir a conduta que se deseja eliminar, que a exigência
de superioridade se formule como algo a que se tem direito, sem que se busque
mediante ameaças, violência ou argumentação lógica.
Um modo de impedir
esta solução consiste em fazer que o solicitante de ajuda se coloque
em uma atitude de inferioridade, em uma postura de debilidade., o que é
difícil de obter do paciente, devido à intensidade de luta interpessoal
e porque pode significar o último passo de submissão ou renúncia
de seus direitos. Em linhas gerais, o cliente precisa uma explicação
que lhe permita aprender a efetuar solicitações, em um estilo
não autoritário.
No caso de educação
filial, a intervenção começa quando o terapeuta pede para
reunir-se primeiro só com os pais. Confirma implicitamente que são
os pais que pedem ajuda e coloca-os em situação de consultar o
terapeuta acerca da educação do filho. O terapeuta reestruturará
a situação pais-filho, de uma forma que permita a eles assumir
uma atitude de inferioridade, enquanto crêem estar ocupando uma posição
de autoridade (pode dizer-lhes que o filho jamais presta atenção
ao que lhe dizem, que devem ganhar sua atenção, tornando-se imprevisíveis,
por exemplo). Às vezes os pais não se separam de sua postura de
superioridade porque temem perder todo controle sobre o filho. O terapeuta pode
oferecer-lhes uma espada mágica: indica que eles têm a sua disposição
um meio mais poderoso de conseguir docilidade: o uso de conseqüências
imprevisíveis e não anunciadas. A espada mágica exige uma
atitude de inferioridade para ser efetiva. Esta tática, chamada "sabotagem
benévola", consiste em sugerir aos pais que usem conseqüências
reais em lugar de sermões, as quais devem ser acidentais e os pais devem
desculpar-se por elas. Com alguns pais que estão no fim de sua capacidade
de resistência, a intervenção pode ser algo tão simples
como definir reiteradamente a atitude de inferioridade como a posição
de força.
Em problemas conjugais,
a parte que se considera ofendida trata de obter a consideração
do cônjuge, mediante a queixa e não através de um sincero
pedido. O terapeuta solicita que a parte queixosa faça pedidos concretos
e específicos. Influir sobre o cônjuge cliente para que adote esta
fórmula exige uma preparação adequada: do contrário,
o cônjuge crerá que se trata simplesmente de baixar o pescoço
ou assumir uma postura muito suplicante. A formulação que resulta
mais fácil de aceitar é aquela que permite o cliente tenha a sensação
de que se encontra em uma postura de superioridade com respeito a seu cônjuge.
Há um contexto
especial, de caráter triangular, em que, um dos pais atua como pacificador
e, inconscientemente faz que persista o problema. O elemento pacificador, que
é o principal solicitante de ajuda tende a pressionar o terapeuta para
atue como um pacificador mais hábil, isto é, que siga fazendo
o mesmo, porém melhor. O terapeuta deve fazer caso omisso deste convite
e necessita estruturar o tratamento de um modo que exija a participação
ativa do pacificador, pelo menos a princípio e há que evitar a
tentação de dizer ao pacificador que desapareça da cena
e que deixe que se resolvam sozinhos. O terapeuta promoverá e utilizará
a posição de intermediário do pacificador, de modo distinto,
por exemplo sugerindo que este atue de forma não razoável na negociação,
o que levará as partes a negociarem diretamente entre elas, tornando-as
razoáveis por sua vez. Se o paciente aceita esta redefinição,
pode se ampliar o âmbito da estratégia de modo que mude sua postura
de causar irritação às partes para uma de compaixão
que possui efeitos mais apaziguadores que a oposição.
4. A intenção
de conseguir submissão através da livre aceitação
Esta solução
que é uma imagem reflexa da intenção de conseguir espontaneidade
mediante a premeditação, pode resumir-se à seguinte afirmação:
"Gostaria que o fizesse, porém gostaria mais que quisesse fazê-lo".
Isto reflete uma aversão a pedir a outro indivíduo algo que lhe
desgosta ou que exija demasiado esforço ou sacrifício. Pedir
abertamente o que um deseja é considerado como ditatorial, ou como uma
intromissão perniciosa para a integridade de outra pessoa.
Este doloroso paradoxo
se manifesta em problemas conjugais, problemas infantis e esquizofrenia.
O que pode se constituir
uma simples solicitação de submissão, a qual pode-se responder
com recusa ou aceitação, se transforma em um intercâmbio
gerador de problemas. Ao pedido indireto se responde com recusa indireta e cada
pessoa trata de convencer a outra de que expressar-se de modo direto resulta
inútil.
Em problemas conjugais
o paradoxo mediante a queixa: "Meu marido ignora minhas necessidades. Deveria
ser consciente delas sem que eu precisasse dizer." O fio condutor é
que uma pessoa tenta obter a submissão da outra, ao mesmo tempo que nega
estar pedindo tal submissão.
A estratégia
global para enfrentar estes problemas consiste em conseguir que a pessoa que
solicita algo o faça diretamente, ainda que a solicitação
se formule de modo arbitrário. Em tais casos, o terapeuta tem que solucionar
o problema de encontrar uma forma de influir sobre o cliente com objetivo de
que leve a cabo esta variação. "Não quero que o faça
se não se sente feliz fazendo-o" indica uma postura de benevolência
que o terapeuta pode utilizar para redefinir a benevolência do paciente,
seus pedidos indiretos, como algo inconscientemente destrutivo e ao inverso,
redefinindo como benéfico aquilo que o cliente talvez considere como
destrutivo, as solicitações diretas. De forma similar a renúncia
do marido em pedir favores à esposa pode redefinir-se como uma "privação
da coisa que ela mais necessita de você, uma sensação de
que você está disposto a assumir o mando".
5. A confirmação
das suspeitas do acusador mediante a autodefesa
Nesta classe de
problemas, há alguém que suspeita que outra pessoa realiza um
ato que ambas consideram equivocado: infidelidade, excesso de bebida, delinqüência,
falta de honradez. A formula acusações acerca do sujeito B e este
responde mediante uma negação das acusações e uma
autodefesa, assim sucessivamente.
A esta pauta de interação chamamos "jogo de acusador e do
defensor". O jogo se acabaria se uma das partes abandonasse seu papel repetitivo.
Às vezes isto se pode conseguir entrevistando-se a sós com o defensor.
O terapeuta manifesta que o acusador é a pessoa que está enganada,
o que causa o problema e então o defensor, que também deseja que
acabe o jogo, pode solucionar o problema através de uma ação
unilateral. Tal ação resultará difícil porque, na
opinião do terapeuta, a única forma em que o acusador pode entender
melhor sua errônea acusação consiste em que o defensor aceite
as acusações, sobretudo se tal aceitação chega em
um grau obviamente absurdo.
O jogo do acusador
e do defensor também pode finalizar mediante uma intervenção
chamada "interferência". Trata-se de uma intervenção
desenhada para reduzir o valor informativo da comunicação interpessoal,
convertendo em inúteis os intercâmbios verbais entre duas partes
ao não haver modo de saber se realmente se estão referindo aos
feitos em questão. No exemplo de um caso de problemas de orgasmo, o marido
tenta comprovar o nível de excitação da esposa durante
o coito ou lhe pergunta se alcançou o orgasmo. Estes bem intencionados
esforços servem para pressionar mais a esposa no sentido de que esta
alcance o orgasmo. A interferência pode servir para impedir tais esforços.
O terapeuta em presença de ambos dirá à esposa que um dos
aspectos do problema está relacionado com sua necessidade de fazer-se
mais consciente de seus sentimentos e sensações, sobretudo durante
a relação sexual. Então, como passo inicial para enfrentar
o problema durante os próximos encontros sexuais ela tem que limitar-se
a advertir suas sensações corporais com independência do
muito ou pouco prazer que experimente. E como este processo não deve
ser interrompido, seu marido não tem que perguntar-lhe qual é
seu nível de excitação. Se, por qualquer motivo, é
esquecida esta diretriz e se imiscui no tratamento, ela deve responder-lhe sempre
o mesmo: "Não estou sentindo nada". Este mandato converte em
irrelevante toda comprovação que ele tente fazer, já que
não consegue nenhuma resposta que lhe dê uma informação
real. Ao mesmo tempo libera a esposa das implícitas pressões do
marido com objetivo de que alcance um orgasmo.
B. As intervenções gerais
Quando o terapeuta
quer comunicar alguma postura de tipo geral, com objetivo de preparar terreno
para uma intervenção posterior mais específica. Ou para
averiguar se tal postura é suficiente para solucionar o problema.
1. Não apressar-se
Indicar ao paciente
que não se apresse na solução do problema constitui talvez
a prática que utilizamos com mais freqüência em nossas intervenções.
Ao cliente se diz que não faça nada, nada concreto. Somente se
lhe dá instruções gerais e vagas. "Seria muito importante
que esta semana não fizesse nada que provoque avanços posteriores".
A maior parte da intervenção consiste em oferecer razões
dotadas de credibilidade que justifiquem o não ir depressa: a mudança,
ainda que seja para melhor exige uma adaptação", ou "as
mudanças que se realizam lentamente e passo a passo são mais sólidas
que as que ocorrem de modo repentino", ou "a você seria melhor
uma melhoria de 75% que uma de 100%".
O mandato de não
apressar-se é melhor dá-lo de pronto, com grande chance na primeira
sessão, a aqueles clientes cuja solução ensaiada consiste
em esforçar-se muito, ou a aqueles que fazem pressão sobre o terapeuta
pedindo-lhe com urgência uma ação curativa enquanto eles
se limitam permanecer passivos ou não colaboram. Há que adotar
esta atitude quando o cliente depois de ver-se submetido a uma intervenção
concreta, volta à seguinte entrevista informando sobre uma melhora específica
e desejada. Em tais circunstâncias, ainda que não se utilize concretamente
o mandato de avançar sem pressa, evita-se qualquer indicação
de claro otimismo e de estímulo adicional. O terapeuta pode mostrar-se
intranqüilo com a rapidez da mudança e em alguns casos, até
sugerir que a melhora foi tão rápida que provocou um agravamento
do sintoma. De modo coerente com a estratégia de lentidão, a próxima
entrevista se fixa para além do prazo de costume daquele cliente.
Esta tática
é útil porque descreve o terapeuta como alguém que não
pretende obrigar o paciente a mudar, pelo menos com muita rapidez, o que provoca
no paciente uma implícita necessidade de colaborar com o conselho ou
sugestão que formule o terapeuta em continuidade. Evita que o paciente
tenha uma sensação de urgência, alimentada por suas intenções
de solucionar o problema, pois ele tem exagerado em seus esforços de
solução e é mais provável que abandone esses esforços,
que não fazem mais que perpetuar o problema se se manifesta que a solução
satisfatória da dificuldade depende de que avance com lentidão.
2. Os perigos de
uma melhora
Pode considerar-se
como variação ou ampliação do "não apressar-se".
Aplica-se a certas classes de resistência do paciente. Pergunta-se ao
paciente se acha-se em condições de reconhecer os perigos inerentes
à solução do problema.(Não se pergunta se há
perigos). O terapeuta utiliza esta tática para pressionar o paciente
para que obedeça a novos encargos, depois de não haver cumprido
um que antes se havia formulado. "Não precisa se desculpar por não
haver feito a tarefa. Talvez seu inconsciente esteja querendo dizer algo. Você
vê algum perigo em uma eventual melhoria?" O terapeuta indica implicitamente
que se o paciente descuida de seus deveres este não erguerá um
dedo para ajudá-lo a solucionar seu problema. Não pode remar em
seu lugar, fazer o trabalho sozinho.
Em alguns casos,
este tipo de intervenção provoca mudança significativa,
inclusive chega a ser tudo que necessita para solucionar a doença atual,
em especial quando se trata de problemas de ansiedade, ansiedade de rendimento.
Se o cliente comprova que a melhoria não é um mar de rosas, se
sentirá menos obrigado a pressionar-se para render mais e desta forma
conseguirá uma certa distensão. O cliente modifica sua intenção
de solução consistente em esforçar-se demais e como resultado
de tal mudança cabe prognosticar um minoramento ou desaparecimento de
sua doença.
3. Uma mudança
de direção
O terapeuta varia
de postura, de diretriz ou estratégia e ao fazê-lo oferece ao cliente
uma explicação acerca de tal variação. Se cliente
ou terapeuta se dá conta da direção errada é preciso
inverter o rumo para chegar ao destino desejado. Utiliza-se quando o terapeuta
começa a discutir com o cliente e não se dá conta deste
fenômeno. É observável quando o cliente subestima ou rejeita
o caminho que o terapeuta sugere, ou quando o terapeuta compreende que apesar
de suas sugestões não está havendo avanço na solução
do problema. Se a visão vem do cliente, requer do terapeuta atitude de
humildade e agradece ao cliente por fazê-lo abandonar uma senda equivocada
e conduzí-lo a um caminho melhor.. É mais fácil que o terapeuta
afirme que tem pensado no intervalo entre as sessões e se deu conta de
algum elemento que havia passado por alto, ao qual não havia concedido
importância. Desta maneira obedece ao princípio básico da
terapia breve: aceitar o que o cliente oferece e como utilizar em vez de discutir
sobre. Mostra também que escuta o cliente e a importância de avançar
passo a passo, observando a receptividade do cliente, quando se leva a cabo
uma intervenção complexa e prolongada.
Outra maneira diferente
de mudança de direção consiste em fazer referência
à consulta com outro terapeuta mais experiente, o qual permanece no anonimato,
até por excesso de compromissos. "Sentia-me um pouco perdido e então
consultei um colega muito mais experiente que eu neste assunto que me preocupava.
Ele me explicou algumas coisas que gostaria de repassar a vocês. O expert
disse algo que não consigo entender porém disse que você
o entenderia". Isto gera uma coalisão entre o cliente e o expert.
4. Como piorar
o problema
Pode ser útil
em início de terapia com clientes ambíguos ou que oferecem resistência,
ou cerca já do final para reforçar o progresso obtido. É
possível causar um maior impacto ao se oferecer um sugestão em
qualidade de instrumento para que as coisas piorem. Isto se faz quando o cliente
resistiu a anteriores sugestões ou se mostra indeciso para provar algo
novo. O terapeuta abandona sua atitude "isto podia ser útil"
e sugere o seguinte: "Se você leva a cabo o que estou a ponto de
recomendar-lhe, quase posso lhe garantir que seu problema piorará".
Na continuidade o terapeuta expõe concreta e detalhadamente todas as
coisas que o paciente tem estado fazendo para solucionar seu problema porém
que em realidade serviram para exacerbá-lo. Como conseqüência,
os elementos contrários que o terapeuta espera que o paciente faça
resultam mais fáceis de captar e seguir. Ele apenas os menciona implicitamente,
não diz o que fazer. Desta forma o paciente conscientiza-se de como desempenha
um papel ativo na persistência de seu problema. O terapeuta pode interrogar
ao invés de afirmar "sabe como conseguir piorar o problema?"
Cap.8 - O Término do Tratamento
A brevidade do tratamento e a ênfase na
solução de problemas não favorecem o desenvolvimento de
uma relação entre terapeuta e paciente como em terapias prolongadas,
de modo que não se considera o término um acontecimento especial.
Em terapia breve o terapeuta tem sempre presente qual era a doença original
e o objetivo do tratamento e buscará que ele seja alcançado. Embora
o término não seja destaque aqui, o terapeuta pode formular diversas
posturas e comentários que são de utilidade conforme as circunstâncias.
O término do tratamento quando o problema
foi resolvido
A maioria dos clientes experimenta certa incerteza
acerca da eficácia dos efeitos obtidos do tratamento uma vez que este
tenha terminado e alguns pacientes se mostram bastante explícitos em
relação a isto. Caso se esforce por fazer as coisas irem bem,
é mais provável que se dê um agravamento do problema. Nesta
eventualidade deve o terapeuta deixar de lado suas intenções de
conseguir que o paciente se tranqüilize e pelo contrário defina
o agravamento como um acontecimento esperado e normal, ou inclusive redefina-o
como acontecimento positivo.
Outra tática seria o terapeuta sugerir
que resultaria benéfico que o cliente achasse algum modo de provocar
um agravamento do problema, ao menos temporariamente. Ainda que pareça
negativo há várias características de uma mensagem positiva.
Em primeiro lugar, o cliente está comunicando implicitamente que tem
obtido avanços muito consideráveis durante o tratamento, a ponto
de não ter de conseguir outras melhorias, pelo menos no momento. Em segundo
lugar, ao sugerir um agravamento, ele pensará que se trata de algo que
está sob seu controle. O objetivo de tudo isto é reduzir ao mínimo
o reaparecimento do problema, ajudando que os pacientes se sintam menos preocupados
pelo término do tratamento. No caso de agravamento, sugere-se que sempre
se pode retomar o tratamento; a credibilidade do terapeuta mantém-se
íntegra e deve evitar despedir-se nos seguintes termos: "Concentre-se
no muito que conseguiu; sabia que podia fazê-lo e estou seguro de que
as coisas marcharam perfeitamente".
Outra maneira de transmitir confiança é
marcar outra entrevista para dali a algum tempo, com objetivo de controle.
Na maioria dos casos, é o terapeuta quem
sugerirá o momento adequado para a finalização do tratamento,
esperando que o cliente esteja de acordo. Por outro lado, o cliente também
pode iniciar este processo. "Gostaria de provar por minha conta durante
um tempo e ver o que acontece. O que você acha?" O terapeuta pode
explorar sutilmente razões mas não é adequado pressionar
para que continue o tratamento. É uma pretensão inútil.
Por outro lado, ao aceitar o desejo do cliente
de dar por concluido o tratamento, a despedida se produz em um clima de afabilidade
que facilita ao cliente a retomada do tratamento no caso de descobrir que provar
por sua conta não funciona. Esta continuidade do tratamento fortalece
a capacidade de manobra do terapeuta, visto que o cliente terá reconhecido
que havia subvalorizado o significado do problema que persiste. Pelo contrário,
se o terapeuta dissuade o cliente de suspender a terapia, esta continuará
sobre a base implícita de que o paciente atende ao requerimento do terapeuta
e não porque necessite de fato.
Quando o terapeuta suspeita que o cliente tenciona
abandonar o tratamento sugerindo um espaçamento nas consultas, ao invés
de pressionar, ele oferece uma tempo ainda maior até a próxima
consulta.
Às vezes o paciente diz que o problema
pelo qual iniciou o tratamento foi resolvido a contento, porém gostaria
de trabalhar outro problema, que pode ter sido mencionado no decorrer das entrevistas.
Neste caso, sugere-se um intervalo de tempo e se continua pensando que é
um problema, o intervalo de tempo lhe concederá a oportunidade de realizar
um objetivo específico de tratamento que solucione tal problema.
Quando o paciente coloca o terapeuta em posição
de superioridade, atribuindo-lhe os sucessos pelo resultado do tratamento, talvez
a forma mais simples seja aceitando a gratidão porém assinalando
qual tem sido a contribuição do cliente , a informação
que tem estado disposto a transmitir ao terapeuta e a clareza com que o tem
feito, sua disposição para realizar tarefas e a adotar novas formas
de enfrentar os acontecimentos e haver permitido que outros membros da família
participassem na terapia, etc. "Não se trata de que eu seja mais
inteligente, só me encontro na vantajosa posição de estar
fora do bosque. Isto é tudo".
Término do tratamento sem que o problema
tem sido resolvido
Neste caso, o tratamento pode terminar de duas
formas possíveis: nos tratamentos com limite de tempo, quando foi fixado
um número máximo de sessões (entre seis e vinte na maioria
dos casos). Em alguns casos, o fato de fixar um limite temporal ao tratamento
pode servir para estimular a solução do problema, ao exercer sobre
o cliente uma pressão implícita para que colabore com o terapeuta.
Também o limite temporal é um obstáculo porque ao terapeuta
falta tempo para remodelar sua estratégia. Pode usar a última
sessão como último esforço para solucionar o problema ou
para averiguar o que fracassou na sua estratégia. "Como sabe, esta
é nossa última sessão, seu problema não mudou nada
e creio que não tenho lhe servido para nada". O cliente pode tentar
tranqüilizar o terapeuta que agradece pela generosidade do cliente e continua
na pergunta "em seu critério, o que crê que se tenha feito,
ou não, e que possa haver impedido a solução do seu problema?"
Na maioria dos casos é o cliente quem propõe
o término ou quem insiste no tema, se o problema não foi resolvido.
O terapeuta deve evitar a todo custo a tentação de por em discussão
a postura do cliente e pressioná-lo para que siga o tratamento, principalmente
se ele enxerga mudanças comprováveis na prática. Ao invés
de aceitar esta batalha tão contraproducente, o terapeuta deve aceitar
com prontidão o desejo de por fim ao tratamento que manifesta o cliente
e despedir-se com afabilidade.
Quando o terapeuta mostra-se flexível,
o cliente suaviza sua postura e pede que lhe dê algum conselho, ao que
o terapeuta se esquiva pois como foi mencionado antes, não é oportuno
realizar um esforço de último momento durante a sessão
final. Desta forma, ele coloca que como não foi efetivo durante o tratamento,
não teria confiança em si mesmo para sugerir qualquer outra coisa,
que decerto repetiria erros passados e se o cliente solicita indicação
de outro profissional a linha é a mesma, que acha conveniente receber
ajuda de outro profissional porém se acha influenciado pelo seu próprio
prejuízo até para indicar alguém, sendo melhor que o paciente
comece outro processo com profissional de sua própria escolha.
No caso do cliente ter-se mostrado pouco cooperativo,
a postura do cliente é de aceitar de imediato também porém
com um posicionamento diferente do descrito acima. "É conveniente
acabar, não porque não tenha havido avanços, mas porque
a solução podia trazer uma mudança imprevista que talvez
trouxesse prejuízo, talvez até dando exemplos anteriores de não
colaboração, caracterizando-os como indicadores de sabedoria inconscientes
do cliente que se propõe evitar a mudança.
Finalmente, há pacientes que solicitam
acabar com o tratamento quando o problema não foi solucionado e que,
paradoxalmente se mostram insatisfeitos com este resultado. Não há
forma de saber se o paciente se encontra insatisfeito com o tratamento e se
limita a expressá-lo com cortesia, ou se o paciente se considera suficientemente
satisfeito com o resultado modesto que apareça. Em qualquer caso, não
é oportuno contradizer seu desejo de finalizar.
Cap.9 - Estudo de Caso: A adolescente
antipática
Os pais de uma garota de quinze anos haviam feito
contato com o Centro de terapia breve por sugestão do funcionário
encarregado da liberdade condicional de sua filha. Esta havia fugido de casa
e havia sido internada provisoriamente num reformatório juvenil, mas
agora havia voltado a casa outra vez. Os pais têm pouco mais de quarenta
anos e sua filha Suzie, é a mais velha de quatro filhos. Como é
habitual em nosso método de trabalho, pedimos aos pais que viessem sozinhos
à primeira sessão. Os outros filhos mais jovens não foram
entrevistados em nenhum momento. Paul Watzlawick atuou como terapeuta principal.
No decorrer da entrevista os pais descrevem o
problema com bastante clareza, afirmando basicamente que a conduta de sua filha
na família e sua fuga são muito negativas. Começam dizendo
que não sabem porque ela se comporta assim e comentam que tem "complexo
de sentir-se perseguida", afirmações que indicariam que em
sua opinião está enferma. Na continuidade expressam com mais clareza
uma postura segundo a qual consideram que sua conduta é "má":
"ela se rebela contra tudo, é uma briga constante, discute a mais
pequena coisa que suceda, se mete em um problema atrás de outro".
O pai indica algumas coisas que puseram em prática
para tentar fazer frente à má conduta de Suzie, apelando para
experts: primeiro um pastor protestante amigo seu que trabalha com jovens e
logo com as autoridades. Este segmento de diálogo ilustra também
outro fator da terapia breve: saber o que não nos deve preocupar. A filha
sugere uma aliança com o pai contra a mãe. "Não sei
por que não se divorcia dela e assim você podia viver comigo".
À menção de tal hipotética coalisão podia
fazer o terapeuta tentar comprovar a possível existência de um
conflito conjugal. Porém, como o pai reagiu refugando a proposta e seguiu
adiante com seu plano de deixar a sua filha a cargo da polícia, o terapeuta
decidiu não internar-se por esta senda de possível investigação.
No decorrer do diálogo constatamos um eloqüente
exemplo de "insistir no mesmo, isto é, aferrar-se a uma solução
ainda que não funcione. A mãe interroga Suzie, não obtém
uma resposta satisfatória e continua interrogando-a apesar de tudo, ainda
que se limite a obter respostas de mesma classe. Assim mesmo, trata de intimidar
a filha dizendo-lhe que seu pai a castigará. Como isto não a atemoriza,
afirma de modo muito pouco eficaz: "Eu vou te castigar". Este segmento
também exemplifica parte da solução previamente ensaiada:
enfrentar-se com Suzie e pedir-lhe uma auto-acusação, tratando
de arrancar-lhe uma confissão de que estava atuando mal.
O terapeuta começa sua intervenção
parafraseando as queixas formuladas pelos pais e utilizando seu próprio
vocabulário, por exemplo, quando falam de "vencer resistências".
Ao começar desta forma o terapeuta adquire credibilidade. Logo continua
mediante uma reformulação do problema. Tem advertido que um dos
fatores centrais na solução ensaiada consiste em enfrentar-se
com Suzie e conseguir que seja dócil apelando a sermões e exortações.
O reforço do terapeuta se inicia qualificando o que ela faz como "sem
razão" e não como "rebelião".
Uma vez que o problema foi formulado como atitude
nada razoável de Suzie, atitude que frustra continuamente os esforços
dos pais, o terapeuta avança um pouco mais. Agora lhes pergunta que podiam
fazer para rivalizar com a atitude nada razoável de sua filha. Posto
que eles caminham cheios de incertezas, o terapeuta define a tarefa com mais
precisão: "Em certo modo vocês continuam mostrando-se razoáveis.
Podem pensar alguma forma de deixar de ser razoáveis?" Ao empreender
esta tarefa, os pais estão admitindo que mostrar-se pouco razoáveis
será um método mais eficaz de seu anterior enfoque de confrontação
direta. Neste momento os pais expressam ao terapeuta claras respostas positivas
mediante sinais afirmativos.
O pai capta a mensagem de mudança, por
exemplo, dar respostas ridículas a Suzie, como a que ela dá a
eles. Não se sabe em que medida a mãe aceita esta nova atitude,
porém o terapeuta prefere consolidar o obtido, por limitado que seja,
e não comprometer mais a mãe em sua operação. Num
outro momento, sugere "imaginem, como tratá-la de modo distinto
em certa situação. Por modo distinto refiro-me a um modo menos
razoável possível. Não o façam. Mas, no pior da
batalha, tratem de imaginar como podiam atuar de modo diferente, sem chegar
a fazê-lo. Trata-se simplesmente de exercitar-se, de ensaiar mentalmente.
Ainda que a instrução final do terapeuta
parece restringir em certa medida a prática do novo enfoque, de fato
estimula sua realização. Ao dar a sensação de que
não há que fazer nada, o terapeuta evita o risco de que depois
da sessão eles rejeitem a idéia, risco que se incrementaria se
os pais se sentissem pressionados a atuar assim. Em segundo lugar, ele lhes
disse que pensassem sobre o modo como podiam por em prática a idéia
e que o façam em umas circunstâncias nas quais sentiriam a máxima
tentação de ensaiar tal idéia, isto é, no momento
em que Suzie está se mostrando provocativa.
Na outra sessão Suzie está presente
por indicação do terapeuta. Visto que ela não participa
na terapia por própria vontade, o terapeuta estimula sua participação
perguntando-lhe o que ela pessoalmente gostaria que mudasse em sua família,
em lugar de perguntar-lhe "Qual é o problema?". O terapeuta
deixa de lado temporariamente a queixa de Suzie relativa as brigas e passa a
analisar seu papel provocador, que faz os pais assumirem a típica postura
defensiva da explicação e exortação. Ilustra a situação
mediante exemplos de prováveis diálogos que têm no lar.
O terapeuta redefine tal provocação qualificando-a de "capacidade"
especial, que a coloca em uma postura de força. Na continuidade, ele
insiste em que não abandone esta eficaz atitude e parece subvalorizar
as conseqüências que pode ter que ela se mantenha em uma atitude
de força, como o aumento de brigas. Ao fazê-lo o terapeuta obriga
Suzie a enfrentar-se com a "receita sintomática", isto é,
"provar seu próprio medicamento" de continuar seu comportamento
difícil. Assim evita comprometer-se com uma intenção de
solução que já fracassou: pedir-lhe que se comporte melhor.
Ao mesmo tempo e para que seus pais o ouçam redefine a conduta irritante
de Suzie não como um egoísmo espontâneo mas como um esforço
calculado para controlá-los e pô-los entre a "espada e a parede".
Por último, obriga-a de modo expedito a abandonar a sessão, coisa
que confirma implicitamente sua coalisão com os pais.
O terapeuta está satisfeito com a reação
do pai e agora se dirige à mãe. Em vez de pressioná-la
para que adote a postura não razoável que o pai está disposto
a assumir (Posso comprar isto? Não. Por que não? Porque eu disse
que não ou Porque hoje é Segunda-feira.), reforça o problema
para ela de um modo diferente centrando a atenção no que o terapeuta
qualifica de infrutífera postura de "força". Este tipo
de reforço para a mãe é coerente com o princípio
básico de utilizar o que o cliente oferece, mas lutar por conseguir que
o mesmo mude de estilo ou de valor. À diferença de seu marido,
a mãe não se sente cômoda assumindo uma postura claramente
arbitrária. Ao mesmo tempo atua com aturdimento e passividade. O terapeuta
decidiu utilizar estas características, visto que um aturdimento passivo
também pode servir para evitar um enfrentamento provocador ante sua filha.
Deste modo o terapeuta começa por sugerir que ela abandone sua posição
de "força" e, em compensação, adote uma postura
de aparente debilidade, ao que ela aceita. O terapeuta sugere que quando Suzie
chegar em casa muito tarde e encontrar tudo fechado, baterá à
porta e a levantar-se para abrir depois de deixá-la esperando, que o
faça com uma postura de "sinto muito, por favor desculpe-me"
e sem perguntar onde esteve ou porque chegou a esta hora.
O terapeuta explicita ainda mais o enfoque e,
ao advertir reações positivas - inclinações de cabeça
- expõe com mais detalhe o possível uso da tática brindando
este exemplo, para induzir sobretudo a mãe a deixar de lado sua anterior
postura de enfrentamento inútil e desesperado, adotando um procedimento
que temos chamado "sabotagem benévola". A aparência de
sabotagem desta operação pode servir para dar aos pais certa sensação
de poder e de controle e para reforçar certas conseqüências
efetivas como resultado da má conduta. Tudo isto não tem tanta
importância como a atitude submissa que assumem os pais. Ao evitar uma
atitude dominadora se elimina a conduta provocadora e indutora de rebeldia,
que os pais empregaram de modo involuntário.
O terapeuta indica que a reação
mais conveniente para Suzie seria o desconcerto e qualifica isto de dúvida
e insegurança criativas e como algo que faz falta a um jovem para encontrar
seu próprio caminho na vida. O terapeuta utilizou este marco e as instruções
acerca de assumir uma postura de "inferioridade" como introdução
a outro aspecto do enfoque orientado a evitar os enfrentamentos. Prossegue tendo
em conta que os pais estão pedindo exercer controle sobre uma filha que
eles consideram capaz de superá-los. Ao evitar discussões com
ela manifestam certa possibilidade de assumir este controle. O terapeuta prevê
que necessitariam um sistema mais contundente de controle e os prepara para
os aspectos punitivos da nova estratégia. Porém, os castigos que
vão impor os pais não devem provocar nenhum tipo de enfrentamento.
Como sugestão, ela não cuidou adequadamente dos soutiens que recebeu
e pediu outros à mãe além de outros presentes de aniversário;
eles combinam dar a ela quatro soutiens no total de trinta e dois dólares,
o preço similar da bota que pediu. Ela se irrita mas diante da atitude
submissa da mãe, afinal agradece. E posteriormente compra doces que a
mãe gosta. Uma mudança positiva resulta muito mais positiva que
a maioria de mudanças quantitativas que possam produzir-se.
Como sugestão final, o terapeuta decide
ampliar o enfoque de evitar os enfrentamentos a outra área de problemas:
a tendência de Suzie a desrespeitar sua mãe. Sugere ao pai que
toda vez que isto acontecer, ele lhe dará uma moeda a ela.
Finalmente, diante do êxito obtido, o terapeuta
comenta brevemente qual é o modo mais provável de haver a primeira
recaída. "Como crêem vocês que seja mais provável
que algum de vocês dois sofra uma recaída na pauta anterior?"
O risco se incrementa se o terapeuta se mostra muito otimista e os felicita
efusivamente, tentação freqüente nos terapeutas que começam
a aplicar este enfoque. O terapeuta quer evitar tal risco, e o faz de duas maneiras:
prevê junto com eles, que se produzirá uma recaída; para
eliminar toda suspeita de que ele está prevenindo contrário ao
processo, o terapeuta define como negativo qualquer melhoramento ulterior e
sobretudo um melhoramento acelerado: "Talvez não seja tão
negativo que se produza uma recaída ocasional e que a situação
anterior se reproduza momentaneamente". Ao insistir que assumam uma postura
sem pressa, confirma implicitamente a idéia de que são eles quem
se encontram no comando da situação: podem conseguir que esta
melhore e podem fazer que piore. A possibilidade de uma recaída é
muito elevada. Acontece quando as pessoas começam a sentir-se tão
compelidas e confiadas que deixam de velar pela situação e se
limitam a continuar fazendo o que costumavam antes de dar-se conta de que as
coisas podiam ser diferentes.
Na última sessão, em resumo estão
contentes com as mudanças e todo o desenvolvimento terapêutico
tem servido para inverter a sensação anterior de falta de controle
que tinham os pais e sua desafortunada solução que pretendia estabelecer
um controle através do enfrentamento e dos sermões que induziam
à rebelião.
Também é importante advertir que os pais não se acham convertidos
em partidários servis da sabotagem ou de qualquer outra técnica
manipuladora. Quando a filha formula um pedido razoável - tecido para
fazer um vestido - eles reagem de modo igualmente razoável.
O terapeuta termina o tratamento com duas intervenções.
A primeira - haverá recaídas - e a Segunda - que como combinaram
dez sessões e fizeram seis, podem utilizá-las de modo razoável,
o que as ajuda a lidar com serenidade com as recaídas. Não as
utilizaram e na chamada dos três meses informaram estar indo bem e após
um ano, confirmaram as melhoras.
Cap.10 - Estudo de Caso: O violinista
ansioso
O terapeuta J.H.W. dirigia um seminário
sobre terapia breve em um centro de saúde mental e como parte de tal
seminário aplicou nosso enfoque a uma paciente voluntário, um
homem solteiro, de 35 anos, que estava se submetendo a tratamento neste centro.
Paul Watzlawick fazia parte do grupo e ofereceu algumas sugestões através
do intercomunicador.
O paciente informa que é professor de música,
de violino e que devido ao nervosismo, custa-lhe tocar violino. Após
várias perguntas para clarificar o problema, o terapeuta acha-se satisfeito
e começa a interrogar o paciente sobre a forma como tem enfrentado o
problema e o paciente afirma que é aconselhado a que se exercite mais,
basicamente que se limite a esforçar-se mais por tocar melhor. E que
mostra-se cético com respeito a opiniões positivas que lhe chegam
de estar tocando melhor, pois não sabe de fato os critérios de
juízo objetivos que estas pessoas possuem e acredita estão lhe
dando ânimo de modo fictício.
O terapeuta utiliza esta informação
para assumir uma postura pessimista. Sugere que o paciente deve mostrar-se cético
ante as opiniões alentadoras e se mantém fel a esta postura quando
o paciente reage com observações desqualificadoras. Enquanto o
paciente define sua falta de autoconfiança como algo errôneo, o
terapeuta utiliza sua postura anterior- "Seja cético"- para
redefinir a atitude do paciente como ceticismo saudável. O terapeuta
prossegue sua indagação acerca da maneira pela qual o paciente
e outras pessoas próximas, incluindo o terapeuta com quem se trata e
seu companheiro de moradia, têm enfrentado o problema, posto que esta
informação resulta decisiva para a definição do
problema e constituirá o elo condutor de qualquer estratégia de
intervenção. A reação do paciente confirma que o
que tem sucedido é o conselho: "Pratica mais". A esta altura
o colega observador pede ao terapeuta que interrogue o paciente acerca do final
de sua dedicação à arquitetura. O observador pensa que
talvez o problema atual implique algum tipo de conflito entre o paciente e seus
pais. O terapeuta transmite a pergunta porém conserva sua própria
capacidade de manobra, desconectando-se da pergunta: "Meu colega quer saber
algo, não sei por quê". Os comentários do paciente
acerca de seus pais indicam que estes no momento atual não se acham ativamente
comprometidos com o problema, se bem que a ajuda de sua mãe é
semelhante a de todos que o ajudam. Ao longo da conversa, o paciente assinala
uma postura: contempla sua mãe com condescendência, enquanto que
fala de seu pai com hostilidade. (Mais tarde o terapeuta aproveitará
esta atitude para com os pais).
O problema consiste numa ansiedade de rendimento
e que a solução principal, senão a única, tem sido
de praticar mais; isto é, esforçar-se mais. Começa sua
intervenção com o que parece ser uma observação
incoerente, citando um antigo refrão sobre viajar com esperança
em lugar de chegar. O sentido deste refrão é que um não
deve apressar-se a levar a cabo determinadas coisas posto que é provável
que resultem desanimadoras. A mensagem conduz ao seguinte comentário
do terapeuta, ainda que este o apresente como uma mudança de tema. Coloca
a pergunta acerca dos inconvenientes de melhorar e isto faz que o paciente perca
claramente o equilíbrio. O propósito não consiste em desequilibrar
o paciente, só em assinalar que a melhora não representa uma benção
absoluta e completa. Se o paciente está em condições de
aceitar esta idéia, é provável que avance nesta direção
e considere que seu problema não é algo tão desesperado.
E se chega a esta conclusão, é provável que se sinta mais
solto com respeito à interpretação em público. Deste
modo, o terapeuta terá iniciado uma intervenção que podia
deixar de lado a solução de "esforçar-se mais"
que o paciente ensaiou até agora. O paciente responde à pergunta
"As desvantagens de superar este problema?" e ao fazê-lo aceita
implicitamente a premissa seguinte: de fato, há inconvenientes na melhora.
A única pergunta pendente é: quantos e quais são? Um deles
seria a comprovação de falta de talento.
Quando alguém enfrenta um problema, existe
a tendência natural a ter muito claro as vantagens potenciais, mas isto
implica que não se presta atenção às hipotéticas
desvantagens e, no entanto, nenhuma mudança é positiva cem por
cento. Por isto creio que constituiria uma cautela razoável dedicar certa
atenção às possíveis desvantagens e como resulta
especialmente difícil pensar nas desvantagens, dá-se uma tendência
natural pensar o contrário.
O terapeuta coloca ao cliente que há um
núcleo de dificuldade que jamais se supera de todo. Nunca se deixa de
estar um pouco ansioso em uma situação de interpretação
em público, ante pessoas que contemplam um criticamente. O terapeuta
insiste no tema das desvantagens de uma melhoria, oferecendo outro exemplo de
hipotético problema (atletas) ainda que no caso este paciente possua
muito talento. Assim mesmo, define como normal um certo nível não
especificado de ansiedade.
Uma vez mais o colega observador, solicita uma
clarificação acerca do problema. Limita-se o paciente a supor
que não pode tocar porque a ansiedade o incapacita ou é que experimentou
de fato tal incapacidade durante uma execução em público?
O paciente responde que sim. O terapeuta explica que como se sentiu desmoralizado
por haver fracassado em algo que esperava concluir com maestria, isto sucede
nos acessos de ansiedade e fobia: o fracasso. Adquire-se uma fobia devido a
uma experiência de fracasso em algo que se considera árduo. O terapeuta
continua sua estratégia de "seria melhor não jogar tão
bem", mas muda de tática ao perguntar em que medida uma melhora
pode afetar a relação com seus pais. Após negar a princípio
numa melhoria e o terapeuta insistir em que talvez interfira numa maior independência
em relação à mãe e sobretudo no caso do seu pai.
O terapeuta atua assim para estabelecer que é provável que haja
inconvenientes na solução do problema, e para deixar claro que
o paciente se verá beneficiado por algumas das conseqüências
que não se levaram em conta. Visto que o paciente tem expressado certa
antipatia por seu pai, o terapeuta faz uso desta postura como um estímulo
adicional para o paciente. A mensagem diz o seguinte: "Ao solucionar seu
problema, você pode colocar-se acima de seu pai". O terapeuta lhe
dá ânimo que transforma a oferta em desafio. Isto tende a intensificar
a motivação do paciente, posto que agora tem que demonstrar ao
terapeuta que sabia o que estava dizendo e a única forma de consegui-lo
consiste em solucionar o problema.
Num outro momento, o terapeuta ensaia uma intervenção
diferente, sugerindo ao paciente que pode realizar um esforço deliberado
par tocar mal. Esta jogada tática é coerente com sua estratégia
global: manter o paciente afastado de sua intenção de solução
anterior, consistente em esforçar-se muito para tocar bem. Quando o terapeuta
diz "superar o problema", refere-se a superar a ansiedade verdadeiramente
fora de controle e não a superar todas as ansiedades, pois "você
tem que sentir-se um pouquinho ansioso para conseguir aquilo que está
ao seu alcance e talvez algo relacionado a isto, a este grau de ansiedade, é
o que você pode aproveitar quando se encontra ali, preparado para começar.
O mais importante que quero transmitir, ao aprender a controlar sua ansiedade,
coisa que conseguiria aprendendo a tocar mal deliberadamente, até que
não tenha considerado com mais cuidado as potenciais conseqüências
disto, porque se começa a mover-se nesta linha, seria como uma bola de
neve no sentido de que uma melhoria provoca novas melhorias Á medida
que vai melhorando, vai-se ampliando também suas perspectivas com respeito
ao que pode realizar. Isto tem dois inconvenientes: aumenta a pressão
que provoca a observação e resulta difícil de julgar-se
e como ambas avançaram ao mesmo ritmo. Há o inconveniente de que
alargar os horizontes significa que em sua vida entrou uma quantidade de opções
até agora inexistentes. Então você tem que tomar muitas
decisões neste terreno.
Aqui o terapeuta opta por formular sugestões
implícitas, no lugar de explícitas. Iniciou uma via tática,
os inconvenientes de melhorar e se introduzisse um encargo adicional podia diluir-se
tal impulso.
Finalmente, o terapeuta decide continuar com sua
tática inicial, mencionando outro inconveniente de uma possível
melhora e também fala da normalidade do nervosismo e de seus valores
positivos.
Depois passa a um âmbito diferente: interrogar
o paciente acerca dos objetivos do tratamento. "O que você consideraria
uma melhoria mínima mas significativa?" Neste programa de ação,
o elemento final consiste em que o paciente enuncie os objetivos que pretende.
Ele responde que consistiria em dar-se conta que não está só.
O terapeuta diz: "Suponhamos que não tenha passado a época
dos milagres, coisa que em certo sentido é assim, porque uma das coisas
mais divertidas acerca dos problemas é que não sempre, porém
com freqüência, chegam de forma misteriosa e se vão misteriosamente.
Esta intervenção mantém a linha da estratégia global,
a idéia de que o problema pode desaparecer por si só é
algo que serve para impedir a suposta solução do paciente de esforçar-se
muito para superar o problema. O terapeuta mantém isto num nível
implícito e pergunta como isto podia ser?
O terapeuta observador sugere que, no princípio
do concerto, você pode se levantar e anunciar ao auditório no que
consistiu seu problema e depois começar a tocar. A intervenção
se baseia na idéia de que, se não oculta o próprio nervosismo,
é provável que se sinta mais solto para atuar, dado que as expectativas
se reduzem, tanto as que são próprias do executante como as do
auditório.
Outra intervenção: "Se pudesse
observar-se de fora, qual seria um indicador ou critério de que se produziu
um primeiro passo significativo, ainda que reduzido? Assim o terapeuta reforça
os objetivos e no diálogo entre ambos sugere que "em vez de esquecer
a música, esquecer o auditório", serve para redefinir o problema
de um modo mais otimista, isto é, dá a entender que o esquecimento
do paciente não é um problema, é uma capacidade e que ,
pode conseguir uma modificação do problema mediante o simples
método de efetuar um variação naquilo que se esquece.
O terapeuta retoma pedindo-lhe que liste as desvantagens
da melhora, "qualquer coisa que lhe ocorra, não se limite aquilo
que pareça provável e lógico, mas também ao que
pareça fora de lugar. Posto que a intenção deliberada de
pensar em coisas muito remotas serve para liberar sua perspectiva e sua imaginação
ante qualquer outra coisa".
"Agradeceria que voltasse novamente já
que é algo que redundará em nosso benefício". Esta
atitude de humildade atribui ao paciente certa superioridade e no retorno como
regra geral, quando se encarregam deveres, quase sempre se comprova de um modo
específico se foram realizados e isto se faz habitualmente no princípio
da sessão. Não só queremos saber quais têm sido os
resultados do encargo, mas também transmitir ao paciente que quando,
se colocam deveres, esperamos com toda seriedade que os faça. Portanto,
no programa da sessão se concede aos deveres uma elevada prioridade.
Quando o paciente declara estar tocando melhor,
o terapeuta pronuncia vários oh de surpresa e completa: "Muito bem,
mas em particular". Transmitir otimismo implicitamente enquanto se subtrai
tal otimismo mediante uma declaração pessimista implícita.
Tal pessimismo também é coerente com a atitude prévia do
terapeuta de ir sem pressa. "O que você considera como um primeiro
passo mínimo na superação da dificuldade, ou pelo menos
em fazê-la suportável? O paciente menciona: "mais entusiasmo".
No último diálogo, o terapeuta redefine
a fala do paciente assim: "A atual situação resulta potencialmente
muito negra e a solução de seu problema muito branca, até
chegar ao seguinte: não existe tanta oposição nem uma diferença
tão marcada entre ambas as coisas. As duas têm elementos bons e
maus, portanto não se dá esta enorme diferença que havia
antes".
Pouco a pouco sem um término oficial, o
violinista deixou de submeter-se ao tratamento. Teve êxito numa parceira
com o proprietário da casa em que vivia, no ramo imobiliário e
tocava como prazer pessoal
Cap.11 - Estudo de Caso: A família
do hemiplégico
O paciente é um homem de 58 anos, que havia
padecido dos derrames cerebrais com um intervalo de seis meses entre ambos.
Não era dócil e passava a maior parte do tempo encostado na cama,
contemplando a televisão. Paul Watzlawick, membro do Centro de terapia
breve, conduziu este caso. Na entrevista de avaliação estiveram
presentes o paciente, sua esposa de 56 anos, seus três filhos homens (33,
29 e 27 anos) todos os quais viviam por sua própria conta e mantinham
contato com seus pais. Os membros da família adotam a postura de que
o problema do paciente é basicamente de ordem mental: não está
realizando o esforço necessário para desenvolver mais atividade,
não está tentando com interesse suficiente.
Ao mesmo tempo o paciente insiste que se trata
de problema físico, um problema de incapacidade. Reage ante a pressão
deles mediante uma mescla de irritação e atitude depressiva.
Posto que o paciente se opõe a qualquer
enfoque psicológico de sua situação e visto que cremos
que um enfoque interacional dá a possibilidade de mudar a conduta dos
demais membros do grupo, preferimos não tratar em absoluto o paciente
em questão e trabalhar com os outros membros da família afetados
pelo problema, especialmente com a esposa.
Durante a entrevista inicial, ao referir-se à
preguiça a esposa evidencia que crê que seu marido não manifeste
a atitude mais conveniente com respeito a suas dificuldades. O terapeuta reforça
esta opinião e na continuidade a utiliza como pretexto para passar à
questão da mudança de conduta: em que se moldará o desejada
mudança de atitude? Um dos filhos capta de imediato a idéia. Os
filhos, ainda que se achem menos estreitamente implicados, reagem melhor que
a mãe ante as novas opiniões, mas, em compensação,
resultam menos decisivos para estimular a mudança no paciente.
Quando a esposa oferece um exemplo de conduta
desacostumadamente ativa por parte de seu marido (buscar uma xícara de
café para ele mesmo), seu filho começa por desqualificá-lo
como algo não pertinente, porém o terapeuta acha que vale a pena
aproveitar ainda que seja uma mera aquiescência parcial na esposa e construir
sobre esta base, sempre que possível.
O terapeuta acha que a atitude do marido de buscar
café para si era algo pouco freqüente e apelando à suposição
de que isto deve haver constituído uma reação ante determinada
conduta diferente da esposa, faz apoio na pergunta: "O que você fez
de modo diferente?" A esposa admite que estava cansada e que havia manifestado
abertamente certas limitações em sua capacidade para com o esposo.
Então o filho se une a ela neste tema da "incapacidade" e da
possível reação do marido ante o fato mencionando que um
dia antes sua mãe havia desmaiado; havia tomado certo medicamento por
erro e sofreu um desmaio.
Em resumo, o relato da reação da
esposa por haver ingerido um medicamento por erro serve para confirmar o incidente
do café. Quando ela se mostrou desamparada, o paciente reagiu de modo
ativo e apropriado. Isto implica que qualquer mudança útil na
conduta dela deve avançar na direção do desamparo, abandonando
sua postura prévia de responsabilidade protetora e de sermão.
Voltando a referir-se à entrevista de avaliação,
o terapeuta declara que sua visão objetiva e profissional tem comprovado
a existência de uma clara e definida pauta de ação nos membros
da família e uma determinada ração por parte do paciente:
o fato ocorreu onze vezes. Em que consistia? A esposa responde: "Quando
o pressionamos para que atue, ele diz: "Não posso fazê-lo.""
O terapeuta se apoia nesta resposta e constrói sobre ela. Concede um
crédito absoluto a suas boas intenções mas, ao mesmo tempo,
assinala que "por uma espécie de magia negativa", o que fazem
é contraproducente. Não se trata de culpá-los de nada,
o que sucede é que seus esforços provocam uma reação
estranha e lamentável.
Assim o terapeuta inicia uma intervenção
principal, sugerindo que talvez se requeira um enfoque muito distinto para ajudar
o paciente. Com objetivo de facilitar a aceitação de tal mudança,
que não é algo fácil e simples, que exige sacrifícios
ainda maiores, para sintonizar com a postura da esposa, que ajuda e se esforça
muito. Evita especificar quais são as mudanças que está
propondo. Inicialmente, se limita a formular uma declaração de
tipo geral. Logo, quando um dos filhos, que volta a exercer sua própria
iniciativa, pergunta qual seria o enfoque oposto, o terapeuta assinala que eles
mesmos têm demonstrado o que é que funciona.
A esposa descreve a rotina do desjejum e o terapeuta
propõe que ela se esqueça de chamar seu marido para o desjejum.
Aqui se apresenta a oportunidade, dentro de uma situação de cada
dia, de começar a deixar de lado a atitude de preocupar-se por ele, que
implica dizer-lhe que se levante, e deixar que seja ele quem se decida a atuar.
Se é preciso, explica-se a ele que isto tem sido causado por erro ou
uma incapacidade dela. A esposa está de acordo em seguir a sugestão
de "esquecer-se" de chamar seu marido, porém o terapeuta reforça
sua motivação dando-lhe a entender que talvez fracasse ao tentar
por em prática esta difícil tarefa. Em sua qualidade de auxiliar
cheia de devoção, ela reage afirmando que o fará. O terapeuta
também propõe outras tarefas similares ao desjejum, como pedir
ajuda a ele na sugestão do cardápio para o jantar, alegando sua
incapacidade de planejar coisas diferentes todos os dias.
Na próxima sessão, o terapeuta indaga
acerca da tarefa realizada. A esposa responde que ela fez sua parte mas que
"as coisas seguem aproximadamente igual". O terapeuta sabe por experiência
que as respostas genéricas podem ser enganosas ou inexatas, de modo que
insiste em seu interrogatório e verifica que a conduta do paciente mudou
notavelmente. A esposa explica como sendo algo causado pela teimosia, não
por sua própria influência sobre a conduta do marido, mas se deu
um primeiro passo.
O doutor Weakland entra na sala e se mostra preocupado
pela esposa não reconhecer que o marido reage diante da conduta dela.
Com o propósito de contrabalançar ou deixar sem valor seu ponto
de vista, sugere que a última coisa que ocorreria ao marido seria admitir
abertamente que ela o influencia. E desemboca num aspecto mais geral, reforçando
a idéia de que a esposa necessita ajudar, mas seu marido necessita um
tipo especial de ajuda. Como é um homem teimoso, o conselho direto não
é o melhor modo de influir sobre ele. O desprezo do marido em admitir
que está recebendo ajuda serve de prova de sua teimosia e orgulho e de
indicador de que ela deve ajudá-lo influenciando-o de modo indireto.
Por exemplo, em lugar de pressioná-lo para que se mostre ativo, ela deveria
sugerir que ele descanse mais.
Na última sessão ela informa sobre
novos progressos, que agora se vinculam com ações dela; além
disso, produziu-se outra mudança espontânea: o marido tomou medidas
para obter o que lhe deve seu antigo patrão.
Quatro meses mais tarde, por telefone ela confirma
os progressos e informa que ele teve outro derrame que o enfraqueceu muito e
mais o médico da família informou que ele sofreu um quarto e último
ataque. Foi bom que tivessem tido ajuda nas suas últimas semanas de vida
em comum.
Cap.12 - Mais além da psicoterapia
A base e ponto de partida da psicoterapia, em
cada caso individual e de modo global, consiste em que tanto o cliente como
o terapeuta percebam a existência de problemas, o que significa:
1. A preocupação manifesta por um cliente acerca de determinada conduta própria ou de outra pessoa com a qual se acha significativamente comprometido, porque tal conduta é considerada
2. como apreciavelmente desviada da norma explícita ou implícita e
3. Como real ou potencialmente danosa para a conduta ou para os demais e porque
4. Tem se feito esforços para modificar esta conduta, porém não tem havido êxito
5. Em conseqüência, o cliente busca
ajuda de tipo profissional.
A forma como os problemas perduram estão vinculados a nossa perspectiva básica:
1. os problemas são questões de conduta. Assim, para que exista uma problema tem que dar-se de forma continuada ou repetida; o problema consiste em algo que se faz, não em algo que se é.
2. Esta conduta há de ser continuada,
apesar dos esforços que realiza o sujeito que leva a cabo tal conduta.
Exceto naqueles casos nos quais haja deficiências orgânicas claras
e concretas, se encontra primordialmente configurada e conservada (reforçada)
por outras condutas atuais que a rodeiam, isto é, pela interação
no aqui e agora das relações pessoais significativas. As condutas
que fazem persistir os problemas podem consistir naquelas condutas que levam
a cabo tanto o cliente como os demais sujeitos comprometidos na questão
em sua tentativa de controlar ou de resolver o problema. A persistência
dos problemas se baseia em um círculo viciosos de reforço mútuo
entre a conduta problemática, por uma parte e a conduta aplicada nas
tentativas de solução, por outra.
O perdurar da conduta não produtiva implica
um mínimo de inferências e construções teóricas
baseadas em nossas observações:
1. desde o começo de nossa vida aprendemos soluções culturalmente estabelecidas para os problemas que se acham culturalmente definidos e porque foram aprendidos de forma consciente ou implicitamente, torna-se difícil julgá-las ou alterá-las.
2. Quando uma pessoa se encontra em uma situação de dificuldade, com um problema, sua conduta pode tornar-se mais contraída e rígida.
3. Em oposição à extensa
opinião segundo a qual as pessoas não são lógicas,
consideramos que os indivíduos são muito lógicos. Atual
logicamente, de acordo com premissas básicas e indiscutíveis e
quando aparecem resultados não desejados, apelam a novas operações
lógicas para justificar tal discrepância sem por em discussão
aquelas premissas.
O círculo vicioso se dá entre a
conduta problemática e as soluções inadequadas que fazem
aquela conduta persistir no tempo. Qualquer problema é potencialmente
solúvel, ao se evitar a falsa solução que lhe tem permitido
perdurar. Sempre existe a possibilidade de que, ao interromper o ciclo conservador
do problema e ao iniciar-se uma reação mais adequada ante a conduta
problemática comece um ciclo positivo ou virtuosos. O terapeuta só
precisará iniciar a mudança positiva e não terá
de permanecer comprometido até que se tenham solucionado todas as dificuldades
existentes.
Há dificuldades pois os clientes costumam
expor seus problemas e suas tentativas de solução de forma pouco
clara e às vezes, aferram-se a soluções que consideram
essenciais e, além disso, exercem um poderoso fluxo sobre o terapeuta
para que também adote estas medidas similares.
Para que o tratamento seja efetivo, há
que adotar os princípios de modo que se apliquem aos rompimentos específicos
de cada caso em particular e às particulares situações
que se apresentem em tais casos à medida que se vai avançando.
No decorrer do livro buscamos mostrar que nosso enfoque é imediatamente
aplicável do ponto de vista teórico e potencialmente aplicável
na prática.
Consideramos que os problemas pertencem ao âmbito
da conduta e sempre é compreensível quando se considera um contexto
de interação e desta forma podem ser tratados:
1. as condutas difíceis;
2. Problemas somáticos de ordem clínica e
3. problemas organizacionais.
Considere a situação como uma interação
e busque um novo enfoque.
Apreciação pessoal sobre o livro
É um manual de humildade, sensibilidade, sabedoria e suavidade. É uma obra viva, cheia de entusiasmo.
Nome do autor da resenha e data: Cléia Mara Perez - abril/2000.