Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
Técnicas de terapia familiar |
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Autor do Livro: |
Salvador Minuchin e H. Charles Fishman |
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Editora, ano de publicação: |
Editora Artes Médicas/1990 |
Relação dos capítulos
Cap. 1 - Espontaneidade
Cap. 2 - Famílias
Cap. 3 - Coparticipação
Cap. 4 - Planejamento
Cap. 5 - Mudança
Cap. 6 - Reenquadramento
Cap. 7 - Dramatização
Cap. 8 - Focalização
Cap. 9 - Intensidade
Cap. 10- Reestruturação
Cap. 11- Fronteiras
Cap. 12- Desequilíbrio
Cap. 13- Complementariedade
Cap. 14- Realidades
Cap. 15- Construções
Cap. 16- Paradoxos
Cap. 17- Forças
Cap. 18- Mais além da técnica
Apanhado resumido sobre cada capítulo
Cap.1 - Espontaneidade
Minuchin ressalta a importância do conhecimento
da técnica, mas chama a atenção para o uso que se faz dela.
Devemos preservar a espontaneidade para que não nos tornemos um executor
de técnicas.
Segundo ele, o terapeuta deve dominar as técnicas
e depois esquecê-las. O uso de si mesmo no contexto terapêutico
deve permear o trabalho do terapeuta familiar; ele não pode experimentar
e observar de fora.
O objetivo do trabalho num processo terapêutico é a tomada de consciência e a promoção da mudança, e isto é conseguido, entre outros fatores, como produto do vínculo do terapeuta com a família, mantendo o mais amplo uso possível de si mesmo, desde que seja terapêutico para o sistema a ser trabalhado.
Cap. 2 - Famílias
A família é um grupo natural que precede
nossa entrada na sociedade e que ao longo dos anos desenvolve padrões
de interação que nos são legados. Estes padrões
formam o que se chama de estrutura familiar, que é o que governa o funcionamento
dos membros da família.
Para um terapeuta de família, a rede de transações
aparece em toda a sua complexidade e lança-lhe o desafio de mudar, desde
que nada mude. É o paradoxo que permeia nosso trabalho.
Os membros da família se vêem como uma
unidade, um todo interagindo com outras unidades. Devido à dificuldade
conceitual, Arthur Koesler desenvolveu um termo particularmente útil
para a terapia familiar, que é o holon.
Holon é a unidade de intervenção
terapêutica, seja ele o indivíduo, a família nuclear, extensa
ou a sociedade.
Definiu alguns holons importantes para o ser humano,
entre eles o individual, conjugal, parental e fraterno.
Ainda neste capítulo, Minuchin e Fishman organizaram
o modelo de desenvolvimento familiar, que segundo eles, ocorre em quatro principais
estágios relacionados ao crescimento dos filhos:
- formação do casal;
- famílias com crianças pequenas;
- famílias com filhos em idade escolar;
- famílias com filhos adultos.
Cap. 3 - Coparticipação
O terapeuta deve marcar desde o princípio sua
posição de liderança.
A família tentará convencer o terapeuta
de quem é o portador do sintoma e responsável por toda desorganização
familiar. Cabe ao terapeuta, sempre tendo em vista o paradoxo envolvido, mapear
o funcionamento deste sistema e ir ampliando, alterando a organização
familiar com muita habilidade, pois não pode invalidar a leitura da família,
nem tampouco entrar no jogo.
Esta ampliação e alternância da
organização familiar tende a provocar mudanças sem desafiar
as regras do sistema.
Deste modo, terapeuta e família unem-se num objetivo comum: libertar
o portador do sintoma, reduzir tensões e aprender novos meios de superar
as dificuldades. Assim, família e terapeuta entram em coparticipação
para um propósito comum.
Os autores definem coparticipar com uma família
como sendo mais uma atitude do que técnica. É deixar a família
saber que o terapeuta as compreende e está trabalhando com ele e para
eles.
Associado a isto, trata da questão do uso de si mesmo pelo terapeuta
no processo de terapia. Minuchin defende que isto pode e deve ser feito desde
que o terapeuta sinta-se confortável. Admite que há limitações
determinadas por características pessoais e da família, porém
o terapeuta poderá aprender a usar técnicas que requerem diferentes
níveis de envolvimento.
Alerta que o terapeuta deve estar atento a sua compulsão, pois muitas vezes precisará coparticipar em situações que são contrárias ao que pensa e defende, para que num segundo momento possa modificar este funcionamento.
Cap. 4 - Planejamento
Neste capítulo, retratam o cuidado que devemos
ter ao formular hipóteses, porque por mais informação que
o terapeuta possa ter coletado, a família nunca manifesta num primeiro
momento sua estrutura.
Somente após coparticipar com uma família,
investigando suas interações e experenciando a estrutura que a
governa, pode o terapeuta chegar a conhecer as transações desta
família.
O terapeuta forma uma idéia inicial da família
após o primeiro contato, tendo como base alguns indícios, tais
como, número de membros, idade, quem mora em casa, etc...
Com base nestas informações, Minuchin
relatou diversa configurações familiares.
É fundamental a elaboração de uma primeira hipótese para que se estabeleça um plano de trabalho. Diante disto, no curso da terapia este plano de trabalho será ampliado, modificado ou até abandonado. Não pode haver rigidez quando se fala de formulação de hipóteses.
Cap. 5 - Mudança
Todos os terapeutas de família concordam com
a necessidade de desafiar os aspectos disfuncionais da homeostase familiar.
A técnica é o caminho para a mudança, mas perde seu poder
se não for contextualizada, conforme já vimos em capítulo
anterior.
É fundamental que a técnica sirva a um objetivo e trabalhe para que isto aconteça.
Cap. 6 - Reenquadramento
Toda família imprime em seus membros a configuração
única que os identifica como membros desta família.
Quando algo põe à prova esta configuração,
é visto pela família como sintomático pois questiona uma
continuidade que é vital.
Após todas as tentativas possíveis de
resolver sozinha este problema serem esgotadas, a família busca ajuda
terapêutica.
Quando o fazem trazem seu enquadramento do sintoma
e sua solução ; porém o enquadramento do terapeuta será
outro.
Diante disto, o terapeuta necessitará de muita
habilidade para que na interação, no funcionamento da família
em questão durante o processo terapêutico, ele possa fazer com
que experienciem as mesma situações de maneira diferente e com
isso busquem também alternativas diferentes para a resolução
dos mesmos.
Desta forma, o sintoma e a posição de portador do sintoma na família são desafiados., sem que se desafie a lei, pelo contrário, devemos aumentar e flexibilizar as estratégias.
Cap. 7 - Dramatização
O autor nos apresenta uma das formas de desarmar o
discurso conexo da família, onde o que pode ser dito e como vai ser dito
é bem avaliado.
Na dramatização, onde é pedido
à família que interatuem, seja discutindo um tema escolhido ou
a resolução de uma situação eminente, a família
se mostra e desencadeia comportamentos que escapam ao controle. Prevalecem os
padrões de funcionamento que se manifestam fora do espaço terapêutico.
Outro fator importante nesta técnica é
o fato de possibilitar a intervenção do terapeuta seja para aumentar
a intensidade, prolongar a interação ou até mesmo envolver
outros membros da família.
A dramatização requer um terapeuta ativo que sinta-se confortável e que saiba lidar com respostas que não pode prever.
Cap. 8 - Focalização
No momento em que toma contato com a família
o terapeuta é inundado por informações. Diante destes elementos
o terapeuta deve selecionar um foco, mapear os dados relativos a este foco e
desenvolver um plano de trabalho onde a hipótese será verificada
. Os outros dados coletados ficam disponíveis para que sejam anexados
ao plano de trabalho, ou mesmo para que, se necessário, troque-se o foco
escolhido por outro.
Deve ter sempre em mente que os dados coletados devem
proporcionar um esquema terapêutico que promova a mudança.
É fundamental que o terapeuta avalie constantemente suas hipóteses, focos, planos de trabalho para verificar se o foco selecionado não está conduzindo ao caminho errado.
Cap. 9 - Intensidade
Incorremos muitas vezes no erro de acreditar que o
simples fato de emitir uma mensagem é garantia certa de que será
recebida e compreendida com a intensidade que esperamos.
Devido a questões culturais, educacionais muitas
vezes deixamos de "incrementar" a intensidade de alguma técnica
ou fala por questões de "respeito ao direito das pessoas".
Isto no espaço terapêutico costuma ocasionar "enguiços".
Existem várias técnicas para fazer a família "ouvir"
e intensificar mensagens, sendo que esta última depende do envolvimento
do terapeuta.
Cap. 10 - Reestruturação
A experiência de pertencer é característica
de todas as interações familiares.
Algumas famílias têm uma pertinência
excessiva, o que pode acarretar dificuldades para que seus membros desenvolvam-se
como holons diferenciados, ocasionando crises quando precisam funcionar como
entidades autonômas.
Um dos trabalhos a ser feito em famílias com
este funcionamento é ir diferenciando e delineando as fronteiras dos
holons familiares para dar lugar à flexibilidade e crescimento.
Minuchin coloca que terapia é desafiar como
as coisas são feitas. Implica questionamento, mudança.
No que se refere à estrutura familiar, o terapeuta
deve compreender o poder que as regras dos holons têm no desenvolvimento
das famílias, buscando no sistema terapêutico o aparecimento de
funções que os membros da família desempenham em um holon
e generalizá-los em outros.
Há três técnicas principais que desafiam a estrutura do holon da família. As técnicas de fixação de fronteiras são designadas para mudar a participação dos membros de diferentes holons. Desequilíbrio que muda a hierarquia das pessoas dentro de um holon e complementariedade que desafia o conceito de hierarquia linear.
Cap. 11 - Fronteiras
Um dos elementos que nos ajuda a mapear o funcionamento
de um sistema familiar é a disposição espacial de seus
membros quando reunidos assim como, durante a fala de alguns membros podemos
mapear coalizões, alianças, díades ou tríades em
função de quem interrompe quem, concordam ou não, defendem
ou atacam, etc...
Fronteiras entre subsistemas são necessárias
e caso não existam, diversas técnicas de fixação
de fronteiras que regulam a permeabilidade das fronteiras , separando holons,
podem ser utilizadas.
No processo terapêutico diversas técnicas
diferentes de fixação de fronteiras deverão ser empregadas
e usadas repetidamente até que se consiga a intensidade suficiente para
produzir uma mudança estrutural.
Um fator importante quando se trabalha com fixação de fronteiras é a utilização de tarefas em casa para apoiar o processo iniciado na sessão e aumentar a duração da interação.
Cap. 12 - Desequilíbrio
Nas técnicas de desequilíbrio o objetivo
do terapeuta é mudar as relações hierárquicas dos
membros de um subsistema.
Para que isto seja possível o terapeuta deverá
fazer uso de si mesmo como membro do sistema terapêutico, para mudar e
desafiar a distribuição de poder na família.
Desequilibrar um sistema pode produzir mudanças
significativas pois possibilita aos membros da família experenciar papéis
e funções diferenciadas e com isto produzir novas realidades aos
membros da família.
Usando técnicas de desequilíbrio podem
surgir dois problemas mais significativos:
- problema ético - alianças e coalizões
com membros com escasso poder podem intensificar a tensão familiar e
o terapeuta deve estar atento;
- uso de si mesmo - mesmo usando constructos cognitivos
no uso de técnicas de desequilíbrio, elas exigem demanda pessoal,
requerem proximidade, participação e o terapeuta deve estar atento
para que isto aconteça desde que seja terapêutico para àquele
subsistema naquele momento.
Esta técnicas podem proporcionar novas alternativas
de relacionamento na família que antes, devido a distribuição
de poder disfuncional, não eram possíveis.
Diante da utilização destas técnicas, algumas respostas são dadas pela família. Os membros da família podem unir-se contra o terapeuta mas continuar com a terapia; a família poderá encerrar o tratamento; a pessoa tomada como alvo poderá recusar-se a ir para a sessão ou poderá ocorrer uma transformação na família que abra novas alternativas para resolver conflitos.
Cap. 13 - Complementariedade
As técnicas de complementariedade, assim como
as de desequilíbrio, visam mudar a relação hierárquica
entre os membros da família, porém , desta vez se questiona a
noção inteira de hierarquia.
Para que isto aconteça a família é
questionada em três aspectos:
- o terapeuta desafia o problema( a certeza da família
de que há um portador do sintoma);
- o terapeuta desafia a noção linear de
que um membro está controlando o sistema, quando na verdade um dos membros
serve de contexto aos demais;
- o terapeuta desafia o modo como a família pontua
os eventos, ensinando aos membros da família a verem seu comportamento
como parte de um todo mais amplo.
Cap. 14 - Realidades
Uma família tem uma estrutura e um conjunto de esquemas cognitivos que legitimam a organização familiar.
Qualquer modificação que ocorra em um
dos níveis repercutirá no outro.
Quando uma família vem para a terapia apresenta
somente sua percepção restrita da realidade. Querem que o terapeuta
aceite sua história, modifique o que está divergindo e que não
mude o restante.
O terapeuta, por sua vez, utilizará os fatos que a família reconhece como verdadeiros e com habilidade ampliará estes dados, construindo um ordenamento novo que possa proporcionar uma concepção do mundo mais complexa e que possibilite uma reestruturação.
Cap. 15 - Construções
A família organiza seu funcionamento baseado
em um esquema fixo e rígido. Este esquema pode e deve ser questionado
e modificado, possibilitando novas modalidades de transação familiar,
porém, diante desta tarefa o terapeuta se vê como um agente de
mudança limitado.
O terapeuta utiliza uma variedade de técnicas para transmitir à família e seus membros que dispõem de alternativas diferentes do que as suas modalidades profundas de interação. O objetivo é proporcionar uma concepção diferente do mundo, que subsista sem o sintoma.
Cap. 16 - Paradoxo - Peggy Papp
A autora relata que o uso do paradoxo, no seu ponto
de vista, é baseado em três conceitos:
- a família como um sistema auto-regulador;
- sintoma como um mecanismo para a auto-regulação;
- resistência do sintoma à mudança,
que é um produto dos dois primeiros.
Logo, se o sintoma é usado para regular uma
parte disfuncional do sistema, se o sintoma é eliminado, essa parte do
sistema fica sem regulação.
O uso do paradoxo pode ser utilizado tanto nas intervenções baseadas na concordância com a expectativa de que a família obedecerá, como utilizado nas paradoxais ou baseadas no desafio, esperando que a família as desafiará.
Cap. 17 - Forças
Este capítulo trata da valorização
da força de mudança que existe em cada um e alerta ao terapeuta
para que não entre no jogo da família, que tentará convencê-lo
da psicopatologia existente, quem é o portador e como isto interfere
em todos.
O terapeuta deve deslocar seu foco do disfuncional e trabalhar com todo sistema desafiando a valorizarem atitudes de crescimento.
Cap. 18 - Mais além da técnica
Reflete sobre pontos colocados nos primeiros capítulos,
reforçando a importância da espontaneidade, a necessidade de ter
um objetivo definido para o uso da técnica e torná-la uma extensão
de si mesmo.
Apreciação pessoal sobre o livro
Os autores apresentaram sua teoria e técnica
de modo didático e conciso, fundamentando e exemplificando cada conceito.
Percebo que em vários textos de Minuchin
está presente sua preocupação com a espontaneidade do terapeuta
para que não torne-se um mero executor de técnicas. Ainda com
relação à utilização de técnicas,
deve-se avaliar o objetivo que se quer alcançar e o que isto contribuirá
para aquilo que o cliente precisa aprender.
Concordo com os autores quando colocam que a
utilização que o terapeuta possa vir a fazer de si mesmo deva
deixá-lo numa posição confortável. Dependendo do
padrão do terapeuta, sua história e envolvimento, o uso de si
mesmo pode ser contra-indicado. Devemos também estar atentos à
compulsão, pois em algumas situações teremos que trabalhar
com aspectos que vão contra nossos princípios, mas que naquele
momento é importante para o processo terapêutico.
Outro aspecto que chamou a atenção
no livro, fala da intensidade, onde os autores ressaltam que o fato de emitir
uma mensagem não é garantia de que será recebida e compreendida
com a intensidade que esperava. Isto muitas vezes é atrapalhado por aspectos
culturais e educacionais, que nos bloqueiam de ser mais incisivo em algumas
situações, onde seria mais terapêutico um atitude mais intensa,
agressiva.
O livro também nos leva a refletir que
além de estudar, conhecer novas teorias e técnicas, o terapeuta
tem como reponsabilidade estar sempre em contato com suas reações,
sentimentos, insatisfações e manter claro o que é seu e
o que é do cliente para que o processo terapêutico possa caminhar.
Nome do autor da resenha e data: Leonora Vidal Spiller - fev/2001