Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA Famílias Casais Indivíduos Grupos

 

Autor do Livro:

Solange Maria  Rosset

 

Editora, ano de publicação:

Editora Sol, 2008

 

Relação dos capítulos

 

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Apresentação: A autora traz neste livro informações de como se trabalha com terapia relacional sistêmica, quais as posturas, proposta clínica, diferenciando esta abordagem de outras abordagens sistêmicas.

1.Histórico: A terapia Relacional Sistêmica iniciou em 1980, em 1989 recebeu este nome em função do enquadre e proposta serem sistêmicos, relacional pois o foco esta na relação terapêutica e na compreensão do homem como um ser relacional.

As influências mais significativas da terapia relacional sistêmica são a Terapia Psicodramática; Terapia corporal e a Terapia Sistêmica.

Em 1993 a autora encerra o trabalho com o núcleo de psicologia clínica inicia uma reorganização da terapia relacional sistêmica até chegar ao trabalho atual.

2.Pressupostos: os pressupostos básicos apresentados pela autora são: do pensamento relacional sistêmico.  O terapeuta não trabalha com o certo e errado, acredita que as relações são circulares; co-desencadeadoras, que o comportamento de um desencadeia e mantém o comportamento do outro, e que todos são responsáveis pelo que acontece e  portanto  potentes para realizar mudança.

A função do processo terapêutico é flexibilizar, ter consciência e aumentar o número de estratégias funcionais do sistema.

O primeiro passo para trabalhar seu padrão de funcionamento é enxergar o funcionamento e ter controle sobre ele, tendo assim  mais liberdade e mais consciência para fazer  escolhas, e pra se responsabilizar por suas consequências.

3.Padrão de funcionamento

A autora explica o que é padrão de funcionamento como uma  forma repetitiva que um sistema estabelece para agir e reagir as situações da vida, e as situações relacionais. É inconsciente e automático, se mantém através das compulsões relacionais básicas, das defesas automáticas e dos álibis.

Se estrutura na entrada da criança no sistema familiar, a partir da forma como a família atua o seu padrão básico de funcionamento. É passado através do que é dito, do que é evitado, e do que é escondido.

A autora descreve aspectos através dos quais podemos enxergar o padrão de funcionamento e a forma como as pessoas usam estes aspectos nos jogos relacionais. Os principais aspectos são: a comunicação; o lazer; a sexualidade; a profissão; o vestuário; as tarefas comuns; a saúde; o corpo  as mágoas.

Não existe padrão bom ou ruim, a diferença esta em quanto você enxerga do seu padrão de funcionamento, e o quanto você instrumenta seus pontos funcionais e tem controle sobre os disfuncionais.

4.Atendimento clínico Relacional Sistêmico.

Proposta: A proposta do trabalho clínico relacional sistêmico é auxiliar o cliente a ter consciência do seu próprio padrão de funcionamento, auxiliá-lo a realizar as aprendizagens necessárias, e a fazer as mudanças que forem pertinentes.

O cliente precisa ser visto como responsável por sua vida, suas escolhas e decisões.

Enxergar o pedido paradoxalmente, na compreensão dos sistemas, é ter sempre em mente que as forças de mudança e persistência coabitam. Quando o cliente aciona o desejo de mudança aciona o desejo de permanecer igual. Cabe ao terapeuta desenvolver estratégias para lidar com o desejo paradoxal do cliente.

No atendimento clínico o foco segundo a autora não está na interpretação do sintoma, mas no padrão de funcionamento e nas aprendizagens e mudanças possíveis.

Neste capitulo aparece ainda como lidar com as recaídas  e que as mesmas podem ser inevitáveis, desejáveis e  administráveis, e preveníveis.

Para chegar ao objetivo do trabalho terapêutico o terapeuta precisa fazer um programação de cada etapa do processo, além de adequar o que o cliente precisa com o nível de consciência que ele tem de seu padrão de funcionamento, para então  descobrir estratégias e instrumentos que auxiliem aquele cliente. O terapeuta deve respeitar a dificuldade sem ser conivente com os álibis, usando o padrão relacional terapêutico de forma a desencadear novas aprendizagens e não uma repetição do padrão relacional disfuncional do cliente.

A autora explica as etapas do processo terapêutico, a sessão, a pós-sessão, o intervalo entre as sessões e a pré-sessão.

Existem diferentes indicações possíveis de terapia,  terapia familiar, terapia de casal, terapia individual, sessões individuais, sessões de grupo e maratonas de mobilização terapêutica.

Desenvolvimento técnico: O trabalho terapêutico inicia na avaliação do encaminhador, nos padrões repetitivos dos encaminhamentos, podendo assim ser o primeiro levantamento de hipóteses. O pedido de terapia já demonstra, o trabalho, desde o primeiro contato do cliente com o consultório. A autora traz neste capitulo como de ser realizado desde o primeiro telefonema com a secretária até o primeiro atendimento efetivamente.

O terapeuta precisa estar atendo se o padrão de relação que esta se desenhando é repetitiva  ao padrão de interação disfuncional do cliente ou se é terapêutico.

Buscar avaliar sempre se o pedido é pertinente e se o cliente tem pertinência.

Na  primeira sessão o terapeuta precisa vincular, levantar as queixas circular, redefinir, definir os objetivos e contratar.

As redefinições são importantes  para alterar desejos estereotipados que o cliente traz para terapia. Redefinir buscando sempre responsabilizar o cliente pela solução de seus problemas e suas dificuldades.

Instrumentos: Os instrumentos utilizados na terapia relacional sistêmica que instigam o processo de transformação são: o tempo, as tarefas e as técnicas.

Uso de rituais na prática clínica: Os rituais são estratégias ou técnicas terapêuticas, devem ser usadas quando o processo não está se desenvolvendo satisfatoriamente.

Os rituais tem como funções ser um sistema de intercomunicação entre sistemas ou dimensões, para manter dois aspectos da mesma contradição, manejar os paradoxos fundamentais da  vida e morte/ ideal e real/ bem e mal. Os rituais  servem ainda como  um meio de apoio e contenção das emoções fortes, integrar passado presente e futuro e vincular o analógico ao digital.

Trabalho em situações de crise: Quando o cliente vive uma situação de crise o trabalho é específico na contenção, na reorganização, para trabalhar as perdas. Primeiro o cliente precisa se liberar do sofrimento paralisador,  para só depois poder tomar decisões. Trabalha-se com crise em quatro etapas: chorar a dor, expressar a raiva, limpar a culpa e refazer projetos.

O sistema terapêutico: A terapia relacional sistêmica usa a relação terapêutica, o aspecto relacional entre terapeuta e cliente, como um espaço de aprendizagem relacional, por isso se faz importante que o terapeuta conheça bem seu padrão de funcionamento para que possa fazer bom uso no contexto terapêutico.

5.Terapia Individual Relacional Sistêmica.

Posicionamento e enquadre terapêutico: O enquadre terapêutico e o posicionamento, estão focados em auxiliar o cliente a enxergar e ter consciência do seu funcionamento, a realizar as aprendizagens necessárias ( aprendizagens sistêmicas) e as que precisam ser feitas em virtude das contingências da vida, realizando as mudanças necessárias.

No processo individual o foco é trabalhar autonomia (pertencer/ separar), desenvolver consciência das escolhas e responsabilidades, mudanças das pautas disfuncionais, buscar mais estratégias de funcionamento.

 Para Solange Rosset, o “ponto nodal” do atendimento individual é o cliente responsabilizar-se pelo que quer e escolhe construir. A base do trabalho é não deixar o cliente fazer mal uso dos traumas e dificuldades da vida, mas ajudá-los a encarar os bônus e ônus de sua família de origem podendo escolher usar as dificuldades como álibi ou usar as dificuldades como um mapa, um sinalizador do que precisa aprender, mudar e cuidar.

Trabalho clínico: O trabalho clínico inicia-se pelo encaminhador, e pelo pedido. O número de sessões tarefas e objetivos são definidos em função das aprendizagens e mudanças indicadas ou desejadas.

A prioridade do trabalho não é a cura, e sim a possibilidade  de tomada de consciência. A relação terapêutica é um modelo de mudança e relação.

O atendimento de adolescentes é um espaço de aprendizagem e de escolha do adulto que se quer ser.

Para a autora, crianças não devem ser atendidas sozinhas, pois a responsabilidade e energia de mudanças dependem dos pais, caso  aconteça deve-se lembrar que o terapeuta esta assumindo tarefas e funções dos pais.

Compreensão relacional sistêmica dos mitos familiares: Os mitos são definidores e organizadores comuns, cada família define o espaço e o caminho para cada membro se desenvolver. Ele se organizam trigeracionalmente, o conteúdo mítico aparece em geral nos sentimentos, nas proibições, nas vergonhas nos  sintomas e dificuldades. Os mitos estão relacionados a questões de sexo, dinheiro morte e loucura.

O trabalho mítico não se faz no nível racional, o trabalho deve ser energético inconsciente, irracional. É fundamental que o terapeuta tenha experenciado e clareado suas questões míticas.

6.Terapia de Família Relacional Sistêmica

Sobre famílias: olhar a família como um sistema onde todos são responsáveis, onde não existe certo e errado, vítimas ou bandidos. Acreditar que uma história pode ser redefinida a cada passo, que tudo é uma questão de escolha e a diferença esta no nível  de  consciência que se tem dela.

Outra questão importante para o terapeuta é que mesmo que os pais estejam em busca da felicidade de seus filhos é primordial que eles encontrem a sua felicidade, que o foco não deve ser o que fazer pelos filhos, mas o que fazer por suas vidas.

A família é composta por subsistemas conjugal, parental e fraternal que tem funções específicas para a continuidade e desenvolvimento da família. A família tem como funções básicas  a função materna , paterna, de aprendizagem, de historiador. Quanto mais circular estas funções entre os membros, mais funcional é a estrutura familiar.

A família passa por ciclos nos quais busca equilíbrio para novas aprendizagens, referentes a cada etapa, e para sua transformação constante.

Tecnicamente:  No primeiro telefonema definem-se as regras da primeira sessão, que deve ter a participação de toda família, o acordo é feito só para a primeira sessão a demais serão marcadas posteriormente.

Quando o cliente individual quer fazer sessão de família ele fica responsável pela escolha, e responsável por combinar com a família.

Na primeira sessão de família é importante que o terapeuta relacional sistêmico flexibilize as leituras lineares, redefina o sintoma como uma situação familiar, defina as aprendizagens de cada subsistema familiar, e negocie possíveis encaminhamentos.

Situações específicas: Neste capitulo a autora traz situações especificas casos a caso com o terapeuta deve manejar a situação, situações como: terapia de família com adolescentes, as supervisões de pais de adolescentes

Só haverá terapia de família de um adulto, se ele for completamente sem autonomia. Para casos onde os pais são separados o foco do trabalho esta em trabalhar quais as responsabilidades dos pais.

Famílias reconstituídas exigem do terapeuta flexibilidade no olhar para avaliar e tratar as situações, com cuidado para não cair em juízo de valores.

Terapia de Casal Relacional Sistêmica

Pressupostos: A terapia de casal é o local onde aparece o que há de melhor e pior de cada um. Onde as diferenças devem ser usadas como aprendizagem, como uma oportunidade de crescimento e enriquecimento. O padrão do casal modifica-se a partir da tomada de consciência e do controle das compulsões.

A autora aponta características que ajudam o casal a manter uma funcionalidade na relação, entre elas a preservação da feminilidade e da masculinidade, criar momentos românticos para relação, combinar amor erótico com amizade, preocupar-se consigo sem depender do parceiro, aprender com os erros, ficar mais na realidade e saber que o amor só sobrevive com muita dedicação e esforço.

Aspectos técnicos: Na terapia relacional sistêmica primeiramente busca-se desenvolver pertinência para mudanças no casal, focando-se no desejo de cada um mudar seu jeito de ser, para mudar o padrão de interação da relação e não o jeito do outro.

O trabalho com casal tem seu foco  no que esta acontecendo com eles, como acontece e pra que acontece.

Questões técnicas específicas do atendimento de casal: avaliar a disponibilidade e capacidade de mudança de cada um dos membros do casal; compreender o casal como um sistema complementar; defender o espaço terapêutico não permitindo que ele seja usado para queixas e brigas, estar atento as depositações do casal na busca por um juiz ou aliado, evitando por parte do terapeuta que o mesmo tome partido e evite a polarização.

O melhor prognóstico para uma  terapia de casal aparece quando cada um estiver comprometido a fazer suas mudanças nos pontos que atrapalham a vida do casal.

Diferenciar terapia de casal ( quando dificuldades da relação desencadeiam sintomas) , de supervisão de pais( dificuldade nas funções parentais).

Aspectos da relação de casal: Os temas que ampliam o olhar sobre o relacionamento tanto para o terapeuta quanto para o cliente são: provas de amor, comunicação, brigas, funções de casal, se fazem bom uso da relação, recasamento, questões relacionadas ao de ninho vazio.

Terapia de Grupo Relacional Sistêmica

Proposta: O encaminhamento para terapia de grupo é indicada para o cliente poder reprocessar o grupo primário (família), como laboratório de vida, para mobilizar afeto, emoções, posturas que necessitem vir a tona e possibilita o trabalho em níveis mais profundos com necessidade de circulação de energia e certeza de  contenção.

O processo de grupo estimula o cliente o desenvolvimento de suas posturas, de autonomia e responsabilidade.

Aspectos técnicos: O objetivo da terapia de grupo é usar o espaço/tempo/energia para possibilitar desenvolver num ambiente protegido as aprendizagens necessárias, que precisam ser feitas no espaço familiar e social, mas que podem levar a rompimentos familiares.

Neste capitulo a autora traz as fases da terapia de grupo tanto para a teoria sistêmica quanto para a psicodramática.

Tipos de trabalhos e de grupos: Existem vários tipos de trabalho de grupo que são organizados de acordo com os objetivos, possibilidades e disponibilidades dos participantes. Existem grupos de crianças para suprir o que não foi aprendido na família, grupos de adolescentes para ajudar o adolescente a desenvolver suas tarefas e treinar o adolescente para as relações da vida.

 O Terapeuta Relacional Sistêmico

O importante para o terapeuta relacional sistêmico é colocar o que enxerga  como instrumento de auxilio para o cliente.

A relação entre cliente e terapeuta deve ser terapêutica para o cliente, toda  ação do terapeuta deve ser útil para o processo de mudança do cliente.

Os treinos e aprendizagens do terapeuta estão em desencantar-se do conteúdo para poder enxergar o padrão, focar no pra que das situações, das escolhas, e não no por que. A pergunta “pra que” leva para o futuro, para escolhas e conseqüentemente para responsabilidades.

Aprender a ser terapeuta relacional sistêmico, para Solange Rosset, exige do terapeuta  por três fases distintas: a primeira é aprender a fazer o que o supervisor ensina, a segunda fase integrar o que aprendeu com o seu jeito, a terceira fase é  desenvolver seu próprio jeito de ser terapeuta.

No treino de tornar-se terapeuta relacional sistêmico é importante que o terapeuta faça auto-supervisão, na pós-sessão, durante as sessões, e na pré-sessão.

Além da técnica, da teoria e de toda a compreensão o terapeuta relacional sistêmico  a eficiência do trabalho esta na forma como se relaciona com o cliente e como usa-a.

A autora cita as características a serem desenvolvidas no treino do terapeuta relacional sistêmico:

Desenvolver e ater-se ao pensamento sistêmico;Não se prender ao conteúdo;Não ter excesso de curiosidade;Não se prender no porquê;Pensar sempre no pra quê.

Linhas finais: “O pilar básico da terapia Relacional Sistêmica é a consciência do próprio padrão de funcionamento é o primeiro e imprescindível passo para a mudança”. Solange Rosset.

Referências

Anexos: Nos anexos encontramos: Momentos e vetores da programação; Teorias do desenvolvimento, Teoria das colusões, Teoria de Murray-Bowen sobre a diferenciação do ego.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Livro base para todo terapeuta relacional sistêmica ou para quem quiser se aventurar nesta teoria.

 A autora descreve  de forma objetiva e coesa questões importantes da teoria , pressupostos, propostas e  objetivo do trabalho terapêutico.  Ideal para se ter sempre a mão  no dia a dia do consultório.

Um  pocket-book  fundamental para todo profissional relacional sistêmico, pequeno no tamanho mais intenso no conteúdo.

 

Nome do autor da resenha e data: :    Luciana Gomes de Abreu  09/10/2009.