Resenha de Livro |
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Nome do Livro: |
Terapia de crise |
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Autor do Livro: |
Alfredo Moffatt |
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Editora, ano de publicação: |
Cortez/ 1987- São Paulo |
Relação dos capítulos
Cap.1- A crise
Cap.2- Loucura e sociedade
Cap.3- Modelo teórico e técnico
Cap.4- A temporalidade
Cap.5- Os vínculos
Cap.6- As estruturas
Cap.7- Sistema cultural
Cap.8- A identidade
Cap.9- A psicopatologia
Cap.10- Relações com o modelo psicanalítico
Cap.11- O processo terapêutico
Cap.12- O enquadramento terapêutico
Cap.13- A contenção
Cap.14- A exploração
Cap.15- O projeto
Cap.16- A atividade
Apanhado resumido sobre cada capítulo
Cap.1- A crise
A crise se manifesta pela inversão de uma
experiência de paralisação da continuidade do processo da
vida. Nós nos sentimos confusos e sós, o futuro se nos apresenta
vazio e o presente congelado.
A intensidade da perturbação, resulta
numa crise de crescimento (evolutiva) ou de conseqüência de uma mudança
imprevista (traumática) aí, começamos a nos perceber como
"outro", isto é, temos uma experiência de despersonalização
- Isto provoca uma descontinuidade na vida deixando de ser uma história
coerente, organizada. O que adoece pois, no estado de crise é o "processo
de viver", a história fica descontínua, e portanto, o eu
pode se perceber como sucessão ininteligível e se fragmentar sem
atinar como conceber sua nova situação ( como codificá-la)
e sem saber como atuar; pois as estratégias com que contava já
não se adaptam às novas circunstâncias, com isto entra-se
em crise.
A deteriorização da trama cultural
tem 2 momentos:
1- Momento - a crise (momento agudo instável),
que é tomar consciência da inexistência do tempo como qualidade
objetiva, a construção cultural se desarma e se tem a vivência
do vazio.
2- Momento - é o quadro psicopatológico
( estabilizado), que para sair da vivência insuportável da dissolução
do eu, o paciente constrói.
Crises evolutiva : São as que se produzem
a chegada de novas etapas previstas.
Crises traumáticas: São conseqüência
de um acidente inesperado ( perdas).
Para "percorrermos uma vida" devemos
atravessar muitas crises.
- o parto, o desmame
com um ano;
- o ingresso à
escola ( e simultaneamente a crise edípica aos 05 anos);
- a puberdade -
aos 12 anos;
- a separação
da família (exagamia) mais ou menos aos 20 anos;
- a crise da metade
da vida, mais ou menos aos 40 anos;
- a aposentadoria,
mais ou menos aos 60 anos;
- a decrepitude
e a morte;
- ao se adoecer
- na doença se "entra e se sai com lágrimas";
- crise psicótica
ou neurótica;
- esquizofrenia.
O processo de viver - o lugar do transtorno mental
é o espaço do imaginário.
O imaginário constroí-se porque
o percebido muda, a realidade se transforma, o que ali estava desaparece.
Para que haja vinculação com o que
sucedeu se mantenha, devo imagina-la e substituí-la por uma imagem interna,
estas acumuladas, chamamos de memória. Isto nos mostra a equação
que liga o vínculo (de amor ou ódio) com a transformação
do mundo real; a ação do tempo ou simplesmente o tempo.
Em outras palavras, quando desaparece o que eu
amo ou odeio, aparece o fantasma.
A teoria Freudiana e esta teoria da temporalidade
são: vínculo (sexo) + perda (tempo) = Neurose.
É possível adotar o ponto de vista
da sexualidade ou da temporalidade para configurar uma psicologia ou uma psicopatologia
que trate da doença.
Também se apresenta como elemento chave,
pois este é quem nos leva o que amamos. Para dize-lo com uma metáfora:
"o tempo ladrão fabrica fantasmas".
Cap.2- Loucura e Sociedade
Cada cultura determina seus critérios de
saúde, portanto uma mesma conduta pode ser considerada louca ou disfuncional
numa sociedade e funcional em outra.
Ideologias terapêuticas: para este autor,
existem 03 formas de tratar uma enfermidade psicológica.
a) Terapias repressivas - ( eletro-choque, hospícios)
faz com que o paciente abandone o sintoma porque o temor ao tratamento é
maior.
b) Terapias adaptativas - a psicoterapia normativa
a partir do sistema vigente ( o terapeuta orienta as regras).
c) Terapias elaborativas - ajuda o cliente a chegar
a ser ele mesmo, se responsabilizar pelo que elege.
Cap.3- Modelo teórico e técnico
Esse esquema de abordagem (teoria da crise) é
indicado para as urgências psicológicas, destinadas ao mundo atual,
cujo modelo não é uma perspectiva de doença e de cura e
sim de manobras para ajudar o cliente na mudança da enfermidade para
a saúde.
Cap.4- Temporalidade
O tempo é uma construção
a partir da percepção para não estar no caos, portanto
a percepção define o presente que é só espaço
e por outro lado a memória define o passado. Na contradição
dialética entre passado e presente está a síntese do futuro.
Arborescência do futuro. Os tabus, as leis,
os limites são os "não" que definem os "sim"
e deste modo diminui o caos do futuro.
Os extremos da existência. Estamos condenados
a arrastar nosso corpo através do tempo desde o parto até o fim.
Regra essencial da vida: entramos nela para sair a qualquer momento, quando
se nos apresenta a finitude do desamparo existencial devemos elaborar esses
momentos como terapeutas se quisermos ajudar os outros.
O vazio. Neste ponto o vazio ( o tempo paralisado),
a configuração da figura fundo se desestrutura, pois o fundo da
percepção da figura depende das recordações (estas
são sempre históricas).Assim se produz um presente em branco,
uma percepção sem sentido.
Doença básica e doença como
defesa. A doença básica é uma desorganização
massiva (a paralisação, o vazio) que se encontra como causa última.
Isto nós concebemos como uma defesa ( ineficaz e subjetiva) contra a
vivência primária do vazio e da dissolução do eu.
As psicoses e as neuroses são defesas de algo pior.
Privação sensorial. Uma pessoa que
se encontra em condições experimentais de isolamento acústico,
na escuridão, deitada com mãos inertes, sem nenhum estímulo
externo, por várias horas começa a Ter alucinações
visuais criadas pelo psiquismo para dar continuidade à corrente de consciência.
O grande tempo. O tempo, as vezes, fica retido
não de uma maneira patológica nas situações limites:
nos grandes prêmios, nos acidentes, embriagues, orgasmo, êxtase
religioso, nestes, pode se dizer que se vive um instante de eternidade. São
os instantes em que ficamos fora da trama, dos hábitos que sustentam
a temporalidade da vida cotidiana.
A sucessão. O reverso do vazio consiste
na sucessão e compreensão da totalidade a partir do ângulo
da saúde e não da doença. A interação da
identidade depende de uma cadeia de Eus.
O contrario é fragmentar-se é chegar
a ser muitos. A esquizofrenia vista a partir da histeria. Para os terapeutas
sistêmicos deve-se enfocar o problema de identidade a partir da temporalidade
e não da sexualidade, como é para os psicanalistas.
Corpo e tempo. O corpo (nossa atualidade perceptual)
está encerrado no espaço ( no presente) e a identidade que é
nossa história se encontra no tempo.
O animal e o psicótico. O viver corporificado
da imediata percepção é específico do animal. O
animal não antecipa, vive um presente contínuo, mantém
uma forma primitiva de consciência, graças à programação
do instinto e da aprendizagem. O psicótico vive o tempo deformado a partir
do delírio - que é o seu projeto de vida, não alcança
o presente e não crê na sua percepção atual.
O dependente o hipocondríaco e o psicopata.
Estes três quadros têm comum a renuncia a "o que foi"
e "o que era", o que são seus espaços ansiógenos.
Sempre se escondendo atrás de algo. Ex: drogas, comida, doença
ou perversões.
A expectativa. Em relação ao sentimento
de "estar vivo", só existimos se nos conectarmos com uma expectativa
de existir.
O giro do tempo. Percebemos o giro do tempo com os nossos sentidos. Em relação
a energia psíquica que mobiliza experiências incompletas, recordações,
as utilizamos para construir o futuro ( futuramos recordações)
logo vamos em direção a este futuro, ou este futuro vem até
nós ( depende da maneira de se ler o tempo).
Os ciclos. Os ciclos, especialmente os solares
( o dia e o ano) servem para fazer girar o tempo, para transformar ilusoriamente
um processo linear infinito e irreversível, num processo circular no
qual existe sempre oportunidade para resolver os problemas da vida.
Sonho e tempo. Os sonhos são a tentativa
de organizar projetos, trabalho de ensaio e erro para a configuração
da prospectiva.
Os sonhos convertem as imagens caóticas
em símbolos compartilhados ao serem traduzidos em palavras, inserindo
a subjetividade na objetividade.
A cultura. No curso do crescimento a pessoa vai
passando por sucessivos Eus que se avaliam a si mesmos partindo de perspectivas
diversas. Através do pai organizamos a libido e a simbolização;
e da mãe, o núcleo do Eu. Estas duas funções se
dão simultaneamente, como vínculos que organizam a realidade.
A distinção que fazemos tem por
finalidade discriminar duas partes de um todo - O sistema cultural.
Cap.5- Os vínculos
Função (A) Materna. A origem da
capacidade de se vincular é a percepção, pelo bebe, do
olhar da mãe. Esta lhe serve de sustentação, o que lhe
permite sentir-se existir e ser ele mesmo, apesar da difícil metamorfose
pela qual passa, até afiançar-se do sentimento de ser.
O olhar do outro me devolve a identidade porque sempre me olha, me define.
Cap.6- As estruturas
Função (B) Paterna. A capacidade
de criar estruturas que ordenem o caos da realidade depende da Segunda aprendizagem
infantil, que culturalmente, está em geral a cargo do pai. A capacidade
de criar esquemas a partir dos quais lemos a realidade imprevisível e
mutável possibilidade a predição e, portanto, a capacidade
de enfrentar o futuro. Se a função A constitui o tema do amor,
a função B constitui o tema do trabalho.
Cap.7- Construção da cultura
A construção da cultural é
a história da criação, do conjunto de teorias, normas,
ciclos, símbolos que nos asseguram uma plataforma imaginária que
avança sobre o futuro.
Toda a cultura tem como finalidade a ordenação
da realidade e a defesa da continuidade do Eu.
O esquema em cruz.
Cap.8- A identidade
Integração. O processo de individuação
é uma tarefa de integração. Ë necessário montar
uma história com o que me aconteceu, eu vou ser a soma do que fiz, mas
devo escolher em que sentido vou "ler minha vida". Isto é a
chave de minha história. Percebemos que estamos metidos dentro de uma
vida e que não podemos sair dela. Devemos cumpri-la, inventa-la e encontrar
para ele um sentido, a única possibilidade é conhecer e aceitar
todos os "Eus" que fui, partindo do que eu sou agora e escolher um
"eu que quero ser", para fazer com que meu presente seja permeado
por uma história.
O núcleo do eu enfrenta dois inimigos:
o tempo e o amor. O tempo pela sua capacidade transformadora, e o amor, pelo
seu jogo de identificações.
Cap.9- Psicopatologia
É o resultado do repensar partindo da temporalidade,
no lugar de supô-la centrada na sexualidade. Pensamos que em todos os
transtornos psicológicos intervém ambos os fatores: transformação
e libido, que são válidos simultaneamente.
Cap.10- Relações com o modelo
Psicanalítico
A proposta terapêutica psicanalítica
constitui o marco de referência que prepondera no nosso meio profissional.
Devemos repensar tudo, partindo de outro ângulo ( as hipóteses
básicas) e estas, em geral, depende do novo momento histórico-cultural,
o que exige outra maneira de ler a realidade, ou uma parte dela, neste caso,
o campo das perturbações mentais.
Cap.11- O processo terapêutico
O terapeuta deve levar o cliente da doença
à saúde utilizando-se de manobras terapêuticas que permitirão
ao cliente fazer esse percurso difícil e doloroso em que consiste a mudança,
para chegar a ser o "outro", que ele deseja ser: curado.
Toda a exploração das vivências tem por finalidade que o
cliente possa estruturar novamente seu projeto vital e aceitar-se a si mesmo.
Cap.12- O enquadramento terapêutico
É proposto aqui, três condições
básicas:
1- estar psicologicamente doente;
2- querer curar-se;
3- ser capaz de retribuir.
Cap.13- A contenção
Entra no processo terapêutico. O terapeuta
organiza a sua sustentação para dar suporte ao cliente.
Cap.14- A exploração
A exploração do imaginário
depende da possibilidade de abrir portas de entrada para recriar e reviver o
que foi e o que será.
Cap.15- O projeto
A explicação compartilhada. O terapeuta,
a partir das hipóteses deve ajudar a montar os "quebra-cabeças".
Cap.16- A atividade
A última etapa da terapia ocorre quando
a pessoa chega à vida real. Reorganizando sozinha sua nova maneira de
se posicionar na vida.
Apreciação pessoal sobre o livro
Este livro desenvolve um novo enfoque no campo das terapias breves e de urgência. A terapia de crise, como um modelo de psiquismo estruturado a partir da temporalidade. Vê a enfermidade mental como um momento de descontinuidade do processo de viver. Quando a pessoa está em crise, se vê só e confusa.
Nome do autor da resenha e data: Glaci Maria Afonso Amaral - junho/2000.