Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

The Story of Art

 

Autor do Livro:

Ernst H. Gombrich

 

Editora, ano de publicação:

Phaidon,16ª Edição, 1995. Primeira edição em 1950.

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Preface

O intento deste livro é ser um guia fácil e acessível para leigos que desejam conhecer mais a respeito de arte. A linguagem é clara, direta e simples, o livro foi escrito tendo em foco um público adolescente. Bem articulado, possui imagens de todas as obras a que se refere. No decorrer dos anos, a obra foi incorporada como livro-texto de disciplinas de História da Arte em várias universidades do mundo.

Como conceito principal que sustenta a maneira como o autor conduz ao leitor pelos diferentes períodos históricos, está a idéia de que toda geração encontra-se em algum aspecto contra os parâmetros da geração antecedente, disso toda obra deriva seu apelo aos contemporâneos não apenas pelo que faz mas pelo que deixa sem fazer. A percepção do desejo de ser diferente do artista e a apreciação desta  diferença mostra a abordagem mais simples a qualquer trabalho artístico. Além disso, facilita a compreensão de um continuum entre a produção artística dos povos no decorrer da História, através do olhar de como uma obra se estabelece como imitação ou contradição do que veio anteriormente.

O autor alerta, entretanto, que o perigo da visão de continuum é acreditar que a constante mudança em arte significa um constante progresso. Sem dúvida, o artista sente que ultrapassou os limites da geração anterior e que, de seu ponto de vista, ele realizou um progresso além do imaginável. Não é possível entender um trabalho de arte sem compartilhar essa sensação de libertação e triunfo que o artista sentiu quando viu sua própria realização. Mas precisamos entender que cada ganho ou progresso em uma área traz uma perda em outra, e que esse progresso subjetivo, apesar de sua importância, não corresponde a um aumento em valor artístico.

Introduction – On Art and Artists

Neste capítulo, a autor aprofunda o que ele julga necessário para a real apreciação artística. Começa definindo que Arte, com letra maiúscula, é um conceito inexistente. Só existem artistas. Afinal Arte, com letra maiúscula, tornou-se um fetiche ou um rótulo preconceituoso e confuso, que muitas pessoas começaram a utilizar ao olhar obras, definindo-as como Arte ou não Arte.

Não existem motivos errados para gostar de uma obra de arte. Aí valem todos os fatores que colorem a apreciação subjetiva do observador. Entretanto, existem motivos errados para não se gostar de um trabalho de arte. Beleza é um parâmetro comumente aceito, entretanto a beleza, ao apreciar uma obra, não deve residir tanto no objeto retratado mas na maneira como este é retratado. Um objeto não tido como especialmente bonito pode ser belamente retratado, o que lhe adiciona uma outra perspectiva. Além disso, beleza, seja de um objeto ou de um estilo, é um conceito altamente variável com relação a gostos e  parâmetros.

Tudo isso vale também para a expressividade. De maneira geral, as pessoas preferem quadros cuja expressão seja facilmente compreendida, e que portanto as toque profundamente. A expressão da figura humana em um quadro renascentista, com o advento da perspectiva é, de maneira geral, muito mais óbvia ao olhar do que a expressão da figura humana nas obras medievais, cuja representação é mais contrita e plana. A questão de estilo e métodos de desenho e pintura influencia a expressividade de uma obra, como se o mesmo tema pudesse ser escrito em várias linguagens. Quando se compreende o contexto destas diferentes linguagens, é possível olhar diferentes expressividades e ser tocado pela mesma obra de uma forma radicalmente distinta.

Outro parâmetro procurado costuma ser que um quadro pareça verossímil. Aqui o autor fala da importância de ter-se uma mente aberta para entrar em um outro universo, o universo do artista, no qual o desenho correto não seja necessariamente o desejado. A forma como um objeto é retratado traz dentro de si um tipo de visão ou sentimento que o autor quer que seu quadro transmita, e a distorção do que é visto no real acentua essa visão tornado-a mais convincente. Assim, não devemos julgar um quadro porque ele não está desenhado corretamente, ao menos que tenhamos certeza absoluta que estamos certos e o artista está errado. Aqui, é muito fácil entrar em nosso mundo para definirmos o que parece certo (conhecido) e errado (desconhecido).

Os artistas que quebram com esses preconceitos de pensar dentro da paradigma do conhecimento comum  (o céu deve ser azul, a maçã vermelha, o sol amarelo) são aqueles que geralmente conseguem produzir os trabalhos mais criativos, e que nos ensinam a ver beleza em lugares novos. Não existe maior obstáculo para a apreciação da arte do que a relutância em descartar hábitos e preconceitos.

A narrativa do livro mostra como pode ser prejudicial fixar-se em uma visão preconceituosa especialmente se compreendermos que a maioria das obras de arte do passado, que vemos nos museus, não foi feita para ser mostrada como Arte. Ela tinha objetivos definidos pela ocasião e contexto, que marcavam a maneira como o artista escolheu retratar algum tema; estes objetivos eram muito variáveis de acordo com o período histórico, a maneira como as pessoas de uma época viam uma obra de arte e que tipo de utilidade esta teria.

Além disso, o sentimento de que uma composição está em um equilíbrio perfeito é subjetivo – daí a importância de estarmos abertos para mergulhar no universo do artista, naquilo que ele quis expressar. Este conceito de 'certo' pode ser melhor compreendido com a metáfora de quando arrumamos flores em uma arranjo, o critério de 'certo' é tanto racional quanto afetivo, uma harmonia encontrada, que pode variar bastante de acordo com as flores e o vaso dos quais dispomos, bem como com o tipo de arranjo que temos em mente. É fundamental sabermos apreciar o trabalho e esforço envolvido nesse processo.

Saber apreciar arte reside em compreender aquilo que o artista quis transmitir, ao invés de simplesmente definir se determinado trabalho nos é agradável ou não, dentro da esfera de nossas preferências particulares.
Ninguém pode parar de aprender arte. Existem sempre outros universos a serem explorados através da produção de diferentes artistas. Além disso, as grandes obras-primas parecem diferentes toda vez que nos deparamos com elas. Como se nossos olhos pudessem encontrar novos detalhes antes desapercebidos.

1- Strange Beginnings – Prehistoric and primitive peoples, Ancient America

A expressão artística de povos primitivos tem propósito mágico e não de prazer estético. A arte, nesse período, tem um papel dentro da experiência mística e religiosa, como algo poderoso para ser utilizado, como proteção ou devoção. Seja na confecção de amuletos, vudus, objetos para rituais, e transmissão de conhecimentos. Este é o reino das superstições. É a partir das representações em desenho que a linguagem escrita foi sendo desenvolvida.

2- Art for Eternity- Egypt, Mesopotamia, Crete

Existe uma lacuna em conhecimento acerca da conexão das tradições dos povos primitivos e da arte dos egípcios, a qual data de 5000 anos. A arte dos egípcios está abraçada com sua religião. Como povo que acredita no retorno após a morte do espírito, grande parte da produção arquitetônica – as pirâmides, templos – bem como os processos de embalsamento e mumificação fazem parte da ritualística envolvida na crença do retorno após a morte. As pinturas no interior das pirâmides servem ao propósito de mostrar ao espírito que retorna como fora sua vida e lhe dar orientações do que fazer dali em diante. Muitas das representações são combinações de desenhos e linguagem escrita.

O artista não possui liberdade criativa neste processo, tanto que se percebe pouca mudança nessas representações no decorrer de centenas de anos. Ele é visto como um trabalhador como qualquer outro, e sua tarefa é representar cenas da vida dos faraós dentro de um estilo rígido e estabelecido.

The Great Awakening – Greece, seventh to fifth century BC

A arte, como a temos no mundo hoje, desenvolve-se a partir dos grandes mestres da Antiga Grécia, e estes aprenderam muito com os egípcios. Estes também influenciaram os povos da Mesopotâmia e da ilha de Creta.

Do século VII ao V antes de Cristo, foi a época do grande despertar, uma libertação da arte. No decorrer desse período, existe todo um progresso na maneira de representar a figura humana, de maneira que ela parecesse mais real, menos rígida, em movimento. A arte ainda tem propósito religioso mas começa a entrar na esfera do prazer estético voltado às massas. 

4- The Realm of Beauty - Greece and the Greek world, fourth century BC to first century AD

No final do século V antes de Cristo, os artistas já tem consciência de seu poder e maestria perante o público. Surge competição entre escolas de arte e artistas. Isso leva a representação artística a um outro nível, que chega até nós através das estátuas antigas deste período clássico, bem como no adorno dos templos e estilos arquitetônicos da época.

5- World of Conquerors – Romans, Buddhists, Jews and Christians, first to fourth century AD

Com a conquista das cidades gregas pelos romanos, muito do conhecimento artístico e estético dos gregos foi incorporado pelos romanos em suas tradições. Os romanos possuem uma forte tradição em arquitetura, especialmente com a invenção do arco de sustentação. A arte começa também a ser utilizada para contar os feitos de guerra de seus imperadores.

Essa forma de contar histórias e representar seus deuses foi absorvida por budistas e hindus na representação de suas divindades. Essa influência é percebida também nas representações mais antigas de Cristo.

6- A Parting of Ways – Rome and the Byzantium, fifth to thirteenth century

Este capítulo fala da separação dada na igreja entre Roma e Bizâncio, e os impactos desta separação na arte. As pinturas dentro da igreja tinham o propósito de mostrar para os analfabetos aquilo que a escrita transmite para aqueles que sabem ler. Entretanto, para a igreja bizantina, a arte tem propósito de adoração, e surgem os ícones, dentro de um estilo bem rígido de representação de Cristo, dos apóstolos, da Virgem. 

7- Looking Eastwards- Islam, China, second to thirteenth century

A arte no oriente evolui em seus próprios caminhos. Existe uma proibição no mundo muçulmano de representar a figura humana, o que dá campo para um rebuscamento em detalhes decorativos, e padrões vistos na tapeçaria e arquitetura deste período. Na China, a figura humana é representada dentro do contexto de contar uma história, e o quadro todo é visto como formando uma grande padronagem. Grande valor é dado as detalhes. Os chineses conseguiram dominar, também, a difícil arte de representar movimento.

8- Western Art in the Melting Pot – Europe, sixth to eleventh century

9- The Church Militant – the twelfth century

Este é o período da Escuridão da Idade Média, e grande parte da produção artística está envolvida com a doutrinação, seja em textos religiosos, seja na adornação de igrejas. No século XII surge mais rebuscamento em objetos utilizados em rituais, como candelabros e bacias.

10- The Church Triumphant – the thirteenth century

O século XIII vê o florescimento da arquitetura gótica em igrejas. Os artistas deste período trazem mais vida para suas esculturas – a maioria delas ainda utilizadas na decoração de igrejas, e esse avanço nas esculturas pode ser percebido no desenho de quadros. A temática é em sua maioria religiosa.

11- Courtiers and Burghers – the fourteenth century

A riqueza acumulada nos burgos, a vida nas cidades, traz para a arte um enfoque em refinamento. Esta é uma época de grandes obras folhadas a ouro. A nobreza quer ver demonstrações de luxo e riqueza em suas igrejas.

12- The Conquest of Reality- the early fifteenth century

13- Tradition and Innovation I – the later fifteenth century in Italy

14- Tradition and Innovation II – The fifteenth century in the North

Essa época marca o início do Renascimento, movimento nas artes e na cultura de grande repercussão histórica. Movimento que surge na Itália, e tem como objetivo reviver os valores clássicos 'perdidos' durante a escuridão da Idade Média. É nessa época que se descobre a perspectiva. O olhar dos artistas começa a passar por realizar pinturas, quadros e esculturas que parecessem reais, em composição, desenho e cor. O enfoque na construção de um quadro pelas regras da geometria e da perspectiva foi o enfoque na Itália, esse realismo foi buscado no Norte através de um refinamento na reprodução de detalhes.

15- Harmony Attained – Tuscany and Rome, early sixteenth century

Época de Leonardo da Vinci, Michelangelo e Raphael. É o ápice do Renascimento.

16- Light and Colour – Venice and northern Italy, early sixteenth century

Novas experimentações com o uso de cores, tradição da escola de Veneza.

17- The New Learning Spreads – Germany and the Netherlands, early sixteenth century

Período de integração dos avanços do Renascimento na pintura e na arte no norte da Europa.

18- A Crisis of Art – Europe, later sixteenth century

A crise surge na Itália pelo ápice de perfeição atingido no Renascimento – como seguir a partir daí? E a crise se estabelece no norte da Europa pela Reforma Luterana, que condena a arte religiosa. Período de grande ênfase na reprodução de retratos da nobreza.

19- Vision and Visions – Catholic Europe, first half of the seventeenth century

20- The Mirror of Nature – Holland, seventeenth century

Época marcada por obras que mostram a vida de campesinos, natureza e retratos, bem como cenas mitológicas, e momentos históricos.

21- Power and Glory I – Italy, later seventeenth and eighteenth centuries

Época do movimento barroco.

22- Power and Glory II – France, Germany and Austria, late seventeenth and early eighteenth centuries

Construção do palácio de Versailles, a arte sendo utilizada para criar um mundo fantástico e artificial.

23- The Age of Reason – England and France, eighteenth century

24- The Break in Tradition- England, America and France, late eighteenth and early nineteenth centuries

Época da Razão. São escritos manuais sobre o que faz um bom artista, como este deve pintar, que tipo de objeto retratar. Valoriza-se a razão, os ideais. Época da Revolução Francesa, de cunho libertador para toda a humanidade, em seus ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade.

25- Permanent Revolution – The nineteenth century

26- In Search of New Standards – the late nineteenth century

27- Experimental Art – the first half of the twentieth century

Novas experimentações em temas, com uma grande valorização de cenas na vida cotidiana, arte de cunho político e diversificação em técnicas que leva a múltiplos ”ismos” em arte: Cezánne, influencia a escola Cubista; Van Gogh, o Expressionismo e Gauguin as várias formas de Primitivismo, três dos principais movimentos artísticos da primeira metade do século XX. Este período também é marcado por uma vasta produção artística de sentimentos e do universo subjetivo do artista.

28 – A Story without end – The triumph of Modernism, Another turning of the tide, The changing past

Vários movimentos e modismos no universo da arte atualmente. Um gosto pelo novo, o experimental. Devido ao fato de que, no passado, os críticos falharam em perceber o surgimento de novos movimentos artísticos bem como reconhecer grandes obras, cresceu a descrença nas avaliações dos críticos, e, talvez por isso, nada mais os choque. “A tradição do novo reduziu todas as tradições à trivialidade.”

 

Apreciação pessoal sobre o livro

A “Story of Art” é um livro bem escrito e cativante por sua simplicidade, o que lhe torna bastante agradável de ler. A escolha do título é interessante: ao invés de History, o autor escolhe Story, do que entendemos que ele não se dá a tarefa de realizar um manual absoluto sobre um tema tão vasto. O autor contribui com sua versão, com sua estória, do que ele acredita ser necessário para a apreciação artística no decorrer dos tempos.  No prefácio e primeiro capítulo, o autor explicita qual é a melhor abordagem à arte: uma mente sem preconceitos, sem julgamentos de certo e errado, focada no contexto – para que uma obra foi feita, qual o pensamento daquela época e que grande feito o artista se propôs a realizar.

Basicamente, isso envolve toda uma postura epistemológica: humildade do observador, para colocar de lado seus predicados, um olhar novo e disposto a conhecer e entender. Só assim é possível apreciar. Apreciar o intento do artista, seu triunfo e sua realização.

A aproximação do modelo sistêmico é bastante óbvia, seja na não pretensão do autor de escrever um manual absoluto – não, eu não detenho “ A Verdade” - , seja naquilo que ele julga necessário para a apreciação artística – sua visão de como os preconceitos, gostos e preferências podem nos deixar fechados – e a relevância da compreensão de contexto – como uma obra se relaciona com seus contemporâneos, e especialmente, como sua identidade se estabelece perante à geração anterior (em um desejo de ser diferente).

Independentemente da aproximação ao universo artístico, ler este livro foi muito enriquecedor e me propiciou uma série de reflexões, principalmente porque somos levados a enxergar cada obra como uma expressão do pensamento de uma determinada época. As pessoas e suas vidas, também, refletem os dilemas e conflitos da época a que pertencem. E num continuum de épocas, fica claro um caminhar de consciência humana. Um caminhar de pessoas em sociedades cada vez mais complexas, experimentando liberdades distintas. Um ser humano que se percebe cada vez mais, enxergando-se em sua produção, tomando consciência de sua individualidade, de seu olhar para o mundo e para si. Os valores de seu tempo, como os valores determinam suas identidades, e as possibilidades dessas identidades. O homem que pinta uma parede dentro de um mausoléu egípcio é diferente do homem que pinta o teto da capela sistina que é diferente do homem que desenha um quadro cubista. São todos diferentes, com uma humanidade comum, todos tem seu valor, sua arte tem seu valor, a maneira como vivem suas vidas tem seu valor.

(Este é um grande exercício; não engatar em julgamentos de melhor ou pior. Somos muito acostumados a preferir o que nos é conhecido ou semelhante. Ou aquilo que nos pareça agradável ou belo.)

O livro me trouxe claramente a percepção da intrincada tapeçaria que é a humanidade, como cada fio, cada vida, se relaciona com os fios de sua época, para formar uma padronagem, como cada fio é relacionado com os fios e as padronagens que vieram antes. Principalmente, o livro me fez refletir sobre o conceito de evolução e como tendemos a enxergá-lo de maneira linear – do ruim para o melhor – e pouco  espiralado, como um processo de expansão. Como psicólogos deveríamos ter uma noção de processo, mas até os termos que usamos são de julgamento: sair do ruim para o melhor.

Isso me lembra que a visão de certo e errado é englobada pelo pensamento sistêmico – ela é útil se olhamos algo bem de perto, mas nos limita se a usamos para olhar de longe, para olhar grande. Parece-me que ter um olhar genuinamente sistêmico envolve muito mais ter a disposição de usar várias lentes diferentes para enxergar uma situação do que encontrar um par de óculos definitivo que traz todas as interpretações possíveis do mundo embutidas em suas lentes.

Até onde uma pessoa consegue chegar? Até onde uma pessoa vai querer ir é algo muito determinado pelo contexto em que ela está. O contexto determina os horizontes. E realizar alguma ruptura com a geração anterior torna-se o maior passo -  manter a vida igual à da geração anterior é manter os pés no mesmo lugar. Isso me lembrou a escala de diferenciação de Bowen, que traz a visão de que evoluir é diferenciar-se, tomar mais consciência. Obviamente há a dimensão da escolha, das pessoas sendo sujeitos de suas vidas e determinando que direções querem seguir. Toda essa reflexão é a respeito dos limites dessa escolha.

Eu acredito que refletir sobre os limites de uma escolha é pensar sobre o que define essa escolha, e essa reflexão é essencial para um terapeuta relacional sistêmico. Visto que esse terapeuta usa-se como instrumento de trabalho, e, portanto, precisa ter um excelente grau de auto-conhecimento – até onde eu fui, para que direcionei minha vida dessa forma, como essa forma se relaciona com meu contexto, com meus fios contemporâneos, com meus fios antepassados, o que escolho manter, o que escolho mudar. Saber de si é fundamental para ter clareza do processo, e assim  ajudar pessoas em seus processos. Como o terapeuta é catalisador de mudança, precisa compreendê-la, teórica e existencialmente. Ter olhos pra ver e clareza para comunicar, afinal quem muda é o cliente, e a escolha, portanto, a ele pertence.

Admirar as várias obras de arte cronologicamente possibilita enxergar cada mudança como maior que a vida do indivíduo autor da mudança. Uma mudança se torna mudança de toda a humanidade. Isso fica especialmente claro na vida e obra dos grandes mestres do Renascimento e dos grandes cientistas que, questionando os padrões vigentes, elevaram os parâmetros coletivos de compreensão da vida e do mundo.

 

Nome do autor da resenha e data: Slovia Uhlendorf,  23 de abril de 2010.