Resenha de Livro
Curso de Formação em Terapia Relacional Sistêmica
Psicóloga Solange Maria Rosset

 

Nome do Livro:

Terapia Relacional Sistêmica: Famílias; Casais; Indivíduos; Grupos

 

Autor do Livro:

Solange Maria Rosset

 

Editora, ano de publicação:

Editora Sol, 2008

 

Relação dos capítulos

Apresentação; Histórico; Pressupostos; Atendimento Clínico Relacional Sistêmico; Terapia Individual Relacional Sistêmica; Terapia de Família Relacional Sistêmica; Terapia de Casal Relacional Sistêmica; Terapia de Grupo Relacional Sistêmica; O Terapeuta Relacional Sistêmico; Linhas Finais; Referências; Anexos.

 

Apanhado resumido sobre cada capítulo

Apresentação

A decisão de escrever um livro juntando todos os trabalhos clínicos realizados pela Terapia Relacional Sistêmica aconteceu sentindo falta de um material claro e conciso sobre os assuntos. O desejo da autora é levar aos interessados informações a respeito de como se trabalha, as posturas, e a proposta clínica e técnica, como também salientar o que tem de diferente das outras abordagens sistêmicas.

Histórico

A estruturação da Terapia Relacional Sistêmica aconteceu no Núcleo de Psicologia Clínica de Curitiba, PR, na década de 1989. Sistêmica porque o enquadramento, o trabalho com foco e a leitura básica eram realizado dentro do enfoque sistêmico; Relacional porque propunha um trabalho focado na relação terapêutica, na compreensão dos conteúdos relacionais da situação real do cliente, na compreensão do homem como um ser em relação e com possibilidade de perceber e ter mãos controle sobre seus traços de caráter através do trabalho relacional na sessão terapêutica.

Por ser uma síntese de muitos anos de trabalho, várias influências teóricas e técnicas somaram-se à experiência, à reflexão e ao desenvolvimento pessoal das suas sintetizadoras: a Terapia Psicodramática, a Terapia Corporal e a Terapia Sistêmica.

Pressupostos

O certo só é certo, a verdade só é a verdade, se fixarmos um olhar e não mudarmos de ângulo, de contexto, de configuração. Na compreensão linear, cartesiana, o foco ou a preocupação principal na avaliação das situações é descobrir o porquê das reações e dos fatos. Pensar desta forma traz a tona a questão de que não existem vítimas ou bandidos, culpados ou inocentes.Na Terapia Relacional Sistêmica, trabalhamos com padrão de relação, focando nos padrões de funcionamento.

Na compreensão relacional sistêmica, a qualidade de vida de um indivíduo depende do nível de consciência que ele tem sobre suas escolhas e da responsabilidade que tem com suas mudanças. A preocupação é de enxergar o quê e como está acontecendo.

A partir do momento que a pessoa compreende o que são “padrões de funcionamento”, inicia seu processo de mudança. Este processo inicia-se, ao tomar-se contato com a noção de padrão de funcionamento e passa por etapas, que vão dando conhecimento, consciência e compreensão do seu funcionamento. Depois pode-se descobrir como, o quê e quando os fatos, as reações e as emoções acontecem. A partir daí, pode-se passar a trabalhar descobrindo pra quê faz determinada ação ou tem determinada reação. A seguir, surge o desejo de mudar, que implica na energia necessária para o trabalho de mudança.

Padrão de Funcionamento

Padrão de funcionamento é a forma repetitiva que um sistema estabelece para agir e reagir à situações de vida e ao relacionais. Na maioria das vezes, é inconsciente e automático. Engloba o que é dito e o que não é dito, a forma como são ditas e feitas as coisas, bem como todas as nuanças dos comportamentos.

Aspectos que servem para avaliação dos padrões de funcionamento: comunicação; lazer; sexualidade; profissão; vestuário; tarefas comuns; saúde; corpo; mágoas. Formas como as pessoas usam os elementos nos seus jogos relacionais: depositações; o que não é dito; o que “se vê” e “se ouve”; diferenças.

Atendimento Clínico Relacional Sistêmico

O ponto central do trabalho clínico é ajudar o cliente a desenvolver consciência do seu funcionamento, a realizar aprendizagens e a desencadear as mudanças necessárias. O objetivo vai se modificar em cada caso, em função do pedido, dos sintomas, das pessoas envolvidas, dos dados de realidade, do momento, da pertinência do cliente para mudança, do nível de consciência que tem do seu padrão de funcionamento, do contexto em que está inserido e do desejo e da vontade de realizar o processo.

Uma das idéias gerais na Terapia Relacional Sistêmica é que o pedido do cliente sempre é paradoxal, quando o cliente aciona seu desejo de mudança, desencadeia seu desejo de permanecer igual.

A teoria das recaídas explica que as recaídas são: inevitáveis, desejáveis, administráveis, preveníveis.

No trabalho relacional sistêmico, os sintomas são compreendidos com forma de mapear os pontos que precisam ser reorganizados. São usados como rastreadores do processo e vão mostrar o funcionamento do cliente.

O trabalho terapêutico contém: três etapas básicas da sessão – abertura, desenvolvimento e fechamento; uma etapa de pós sessão; uma etapa de intervalo entre sessões; uma etapa de pré sessão. O trabalho inicia-se na avaliação de quem fez o encaminhamento.

Na primeira sessão o terapeuta terá um protocolo com etapas (vincular, levantar a queixa, circular, redefinir objetivos, contratar) que servem como um mapa para encaminhamento e que podem ser seguidos, ou não, dependendo das contingências específicas do momento, da situação, da problemática, da necessidade dos clientes e do terapeuta.

As técnicas são instrumentos úteis para se atingirem os focos e objetivos do processo, mas também no sentido de serem úteis se usadas com parcimônia, lucidez e clareza de intenção.

Algumas vezes, o cliente está vivendo um momento de crise. Num momento de crise, o cliente necessita de contenção e de um trabalho específico para reorganizar-se; trabalha-se a crise em quatro etapas: chorar a dor; expressar a raiva; limpar a culpa; refazer projetos.

Terapia Individual Relacional Sistêmica

O foco da Terapia Sistêmica Individual é o processo de autonomia, que engloba o pertencer/separar-se, o desenvolvimento da consciência, das escolhas e da responsabilidade; a mudança das pautas disfuncionais, adquirindo-se um número maior e mais rico de estratégias relacionais.

Em todos os relacionamentos, as pessoas envolvidas têm alguns “álibis relacionais” que são explicações psicológicas que protegem e dão desculpas para as pessoas evitarem situações e não ousarem fazer diferente.

No processo de estruturação de identidade, o individuo passa por três fases: diferenciação; individuação; integração. Ter sua identidade bem integrada possibilita desenvolvimento de autonomia, que significa saber lidar de forma funcional com a incerteza, a solidão, a liberdade e a rejeição.

Na convivência familiar, toda pessoa deveria aprender as chamadas “funções de vida”. São elas: ser cuidado, cuidar de e cuidar de si.

Outra das aprendizagens básicas na vida de uma pessoa é a de pertencer e separar-se; as pessoas que aprendem uma delas serão, ao mesmo tempo, hábeis na outra.

No desenvolvimento do processo de contenção, passa-se pela fase de perceber que acabou de repetir a compulsão; depois, percebe-se fazendo; depois, percebe-se na eminência de fazer, mas pode se conter e escolher se fará ou não.

Não é rotina incluir a família nos processo terapêuticos de indivíduos adultos. Essa estratégia só será indicada se, apresar de adultos, forem completamente dependentes e sem condições de responderem por seus atos ou estiverem em momentos de vida em que estão todos envolvidos em alguma situação familiar.

A terapia com um processo individual é indicada para adultos e adolescentes maiores. Não é indicada para crianças ou adolescentes menores, pois eles não têm potencia para decisões ou definições sobre sua vida.

Mitos familiares são situações definidoras das relações, do que se pode ou não ser e fazer. Os mitos familiares organizam-se através das gerações, para enxergá-los, é necessário olha pelo menos três gerações da família.

Terapia de Família Relacional Sistêmica

Ao olhar a família como um sistema, um círculo, o terapeuta enxerga que cada um tem a sua participação e responsabilidade, que todos se influenciam reciprocamente, independente da idade que têm. Não é possível conseguir o bem dos filhos antes de ter encontrado seu próprio caminho e seu próprio bem, pois o bem deles depende estreitamento disso.

A família é composta por subgrupos com funções especificas, que são os subsistemas: subsistema conjugal; subsistema parental; subsistema fraternal. No espaço familiar, além das funções dos sistemas, existem funções básicas: função materna; função paterna; função de aprendizagem; função de historiador.

Na primeira sessão, alguns pontos são indispensáveis: flexibilizar as leituras lineares; redefinir o sintoma como uma situação familiar; definir as aprendizagens de cada subsistema familiar; negociar encaminhamentos.

As sessões vão sendo desenvolvidas a partir das necessidades, da disponibilidade dos envolvidos e da aprendizagem que está sendo realizada naquele momento: sessões com toda a família; sessões de pais; sessões só com filhos; sessões individuais; sessões com subsistemas específicos; encaminhamento para terapia de casal.

No trabalho com adolescente e suas famílias, diz-se que a adolescência é a fase de definir que tipo de adulto a pessoa quer ser. A terapia será redefinida, se for mantida a postura de que são tarefas de um adolescente funcional: estudar e/ou trabalhar, ter uma turma e amigos, ter vida afetiva e/ou sexual, tomar parte nas tarefas de casa.

Ao atender uma família com pais separados, é importante focar nas responsabilidades que os pais têm, mas também ensinar os filhos a viverem essa realidade. Ao atender famílias reconstituídas, o terapeuta deverá ser flexível ao olhar, ao avaliar e ao tratar as situações.

Terapia de Casal Relacional Sistêmica

Alguns tópicos norteiam o trabalho com casais na Terapia Relacional Sistêmica: o espaço de casal é o local privilegiado para crescer e aprender; é na relação de casal que aparece o melhor e o pior da pessoa; as diferenças que aparecem entre os membros do casal podem ser usadas como informação e são uma oportunidade de crescimento e enriquecimento.

Algumas características que ajudam os casais a melhorar a funcionalidade da relação: saber preservar sua feminilidade/masculinidade e saber como criar momentos românticos, combinar amor erótico com amizade; preocupar-se em dar coisas a si mesmo; fortalecer-se através das dificuldades do amor e da vida a dois; saber que as relações saudáveis sobrevivem apenas com muita dedicação e que o amor exige esforço contínuo.

O pedido de terapia de casal por surgir diretamente, a partir de uma terapia de família bem sucedida, a partir de compreensões e impossibilidades surgidas na terapia de família ou a partir da terapia individual de um dos parceiros.

Na primeira sessão de casal, vai-se levantar o que está acontecendo, como cada um dos dois vê a situaçãoa que já fizeram para resolver, quais outras dificuldadesexistem, como estão os filhos, quais as expectativas que têm com a terapia.

É necessário fazer sessão individual quando um dos dois ou os dois têm grandes dificuldades emocionais, quando for necessário tomar uma atitude forte com um dos elementos ou quando um dos dois necessitar trabalhar uma questão intrapsiquica que está dificultando a relação do casal.

Terapia de Grupo Relacional Sistêmica

As técnicas usadas na terapia de grupo têm como objetivo auxiliar a integração grupal, facilitar as aprendizagens gerais e desenvolver os aspectos dos processos pessoais.

No trabalho terapêutico em grupo, através da vinculação dos núcleos de saúde dos vários participantes, eles podem se fortalecer através da troca, do compartilhar, do experimentar. Com relação ao nível de consciência das próprias escolhas, o grupo auxilia cada pessoa, através do espelhamento, das experiências compartidas.

No seu desenvolvimento, os grupos seguem os estágios de desenvolvimento do ser humano. A Teoria Relacional Sistêmica, entre outras fontes, usa as propostas de acordo com a teoria psicodramática da matriz de identidade e de acordo com a teoria psicodramática do Núcleo do Eu.

O objetivo da terapia de grupo é usar o espaço/tempo/energia do grupo para possibilitar atingir o objetivo da terapia. Uma das funções principais da terapia de grupo é a possibilidade de desenvolver, num espaço protegido, as aprendizagens que precisam ser feitas e que, no espaço familiar e social, pode levar o cliente a correr riscos relacionais.

Os grupos são estruturados de acordo com o seu objetivo especifico e com as possibilidades/disponibilidades dos participantes. Podem ser abertos ou fechados; podem ser processuais ou de tarefa específica.

Nos grupos de adolescentes e de crianças, um dos focos do trabalho é possibilitar um espaço para compartilhar, complementando o trabalho da família e possibilitando um espaço para viver e aprender.

O Terapeuta Relacional Sistêmico

A tarefa do terapeuta relacional sistêmico é auxiliar seu cliente a ter consciência do seu padrão de funcionamento e, a partir disso, ajudá-lo a desenvolver as aprendizagens necessárias e as mudanças pertinentes. A função básica é enxergar e adequar-se ao que é útil para o cliente naquele momento específico.

A relação que se estabelece deve ser terapêutica para o cliente. A interação do sistema terapêutico deve acrescentar funcionalidade ao padrão da família ou do individuo.

O desenvolvimento do terapeuta passa por três fases, que são desenvolvidas nos estágios de supervisão. No treino de ser terapeuta relacional sistêmico, o mais importante é aprender a fazer auto-supervisão.

Parte-se do pressuposto de que quanto mais o terapeuta for consciente dos seus padrões, mais hábil estará para perceber o padrão de funcionamento dos seus clientes; por conseqüência, poderá se colocar relacionalmente de forma a desencadear relações e movimentos mais funcionais no sistema terapêutico e será um terapeuta hábil em estruturar o padrão de interação do sistema terapêutico de forma a usar o que sabe de si da forma mais terapêutica para o cliente.

Linhas Finais

Uma única questão – o pilar básico da Terapia Relacional Sistêmica – precisa ser reforçada: a consciência do próprio funcionamento é o primeiro e imprescindível passo para a mudança.

 

Apreciação pessoal sobre o livro

Considero este livro uma síntese de toda a Terapia Relacional Sistêmica, equiparado a um guia, contendo os principais elementos utilizados pelo terapeuta Relacional Sistêmico.

 

Nome do autor da resenha e data:Renata Stulp - agosto/2012.